"Em
2013, o desmatamento aumentou 29% na Amazônia e não há indícios de que
voltará a cair em 2014. Ao contrário, dados preliminares do INPE indicam
até a possibilidade de um novo crescimento, coerente com a alta
observada também no desmatamento em outros biomas, como o Cerrado e a
Mata Atlântica", escreve Marcio Santilli, sócio-fundador doInstituto Socioambiental - ISA , em artigo publicado pelo Instituto Socioambiental - ISA, 24-09-2014.
Eis o artigo.
No momento em que se intensificam as negociações internacionais sobre a mudança do clima,
o Brasil retoma a velha diplomacia defensiva, se recusa a renovar
compromissos com a redução do desmatamento e aumenta as suas emissões de
gases do efeito estufa em 2013, após um período de sete anos em que
havia conseguido reduzi-las.
O
mundo espera que os governos cheguem a um acordo para iniciar um
processo de redução global nas emissões desses gases, até o final de
2015, quando se realizará uma conferência da ONU, em Paris, com a presença de chefes de Estado. Até março, os países deverão apresentar perante a ONU os
seus documentos oficiais reportando o que pretendem fazer para garantir
que essa redução global ocorra. O(A) presidente(a) que será eleito(a)
no próximo mês e empossado(a) em janeiro, terá pouco tempo para definir a
posição brasileira a respeito.
Não
se trata de qualquer assunto, pois a mudança do clima constitui a maior
ameaça produzida pela humanidade contra ela mesma e contra a própria
possibilidade de vida na Terra.
A concentração crescente dos gases de efeito estufa na atmosfera está
provocando o rápido aumento da temperatura na superfície do planeta, com
o derretimento das geleiras nos polos e nas regiões de altitude, o
aumento dos níveis dos oceanos, alterações nos regimes de chuva e
tempestades catastróficas em várias regiões do mundo, anunciando muito
sofrimento, prejuízos econômicos gigantes e pior qualidade de vida para
as próximas gerações.
Não
é mais possível adiar as providências de todos os países para diminuir a
poluição provocada pelas indústrias, pela profusão de veículos
automotores e pelo consumo excessivo de energias fósseis, como o carvão,
o petróleo e o gás natural, que produzem cerca de 80% das emissões de
gases estufa. Mas também contribui para agravar o problema o
desmatamento e o uso inadequado das terras, que provocam a maior parte
das emissões brasileiras e cuja redução constitui a maior e mais urgente
contribuição que o país pode dar para se evitar mudanças mais drásticas
do clima.
Porém, em 2013, o desmatamento aumentou 29% na Amazônia e não há indícios de que voltará a cair em 2014. Ao contrário, dados preliminares do INPE indicam
até a possibilidade de um novo crescimento, coerente com a alta
observada também no desmatamento em outros biomas, como o Cerrado e a Mata Atlântica.
Ainda que a taxa amazônica em 2014 permaneça nos níveis de 2013, estará
se caracterizando que as emissões florestais brasileiras subiram para
um novo patamar. Não se trata de uma retomada dos escandalosos picos de
desmatamento ocorridos entre 1995 e 2005, mas tampouco de um
“aumentozinho”, como disse a presidente Dilma Rousseff em conferência da ONU ocorrida nessa semana, ou de um “ponto fora da curva”, como acreditava a ministra do meio ambiente.
Pior: apesar de dispor de uma matriz energética considerada
relativamente limpa, se comparada com a dependência de carvão e de
petróleo de várias das grandes economias mundiais, ela está se sujando
rapidamente através do uso intensivo de termoelétricas devido aos
efeitos da própria crise climática sobre os reservatórios das
hidrelétricas, do aumento exponencial da frota automotora movida a
petróleo, tendo como pano de fundo a falência da produção de etanol e a
emergência do Pré-Sal como referência estratégica do setor energético, numa inflexão carbonífera das políticas de governo.
Significa
dizer que após a contribuição notável em reduzir o desmatamento e as
suas emissões de gases estufa entre 2006-12, o Brasil voltou a
aumentá-las, sem que disponha de alternativas estratégicas de política
energética para reverter essa situação nos próximos anos. E isto ocorre
quando outros grandes emissores desses gases, como a China e osEstados Unidos, além de vários países da União Européia,
vão avançando nas mudanças de suas matrizes energéticas e criando
condições econômicas objetivas para reduzir as suas emissões.
Infelizmente, o Brasil vai
perdendo a condição de protagonista que havia conquistado em tempos
recentes no âmbito dessas negociações internacionais. Estamos entrando
na sua fase decisiva pela contramão, reforçando as piores posições e
funcionando como freio para as mudanças que a humanidade exige e que não
podem mais esperar. Mas tomara que as eleições gerais possam gerar
outro clima, de seriedade e de engajamento do governo brasileiro nos
esforços que mais interessam aos nossos filhos.
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