A reportagem é de Maurizio Ricci, publicada no jornal La Repubblica, 22-12-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
É um corte a ser visto com temor, um remédio necessário mas muito amargo? Os passos a serem dados nós os conhecemos: diminuir o consumo de combustíveis fósseis, como o petróleo, o carbono, o gás, expandir maciçamente as centrais de energia limpa (sol, vento, energia nuclear).
Trata-se de investimentos enormes. Além disso, todas as indústrias que emitem CO2 deverão pagar pelos direitos às emissões e descarregarão os custos maiores sobre os preços. Uma avalanche que arrasará o nosso estilo de vida, obrigando-nos a renúncias e penitências? A resposta é não. Reduzir as emissões pela metade não significa que seremos obrigados a andar por aí de sandálias e lã crua. Pelo contrário, os efeitos sobre a vida cotidiana são extraordinariamente limitados.
Os modelos econométricos têm um valor de predição necessariamente limitado, ainda mais quando se trata de prever o comportamento dos preços daqui a 40 anos. Se dermos fé aos exercícios mais recentes dos economistas, porém, menos emissões não significam desastres à vista.
Segundo um estudo realizado no último verão [europeu] pela Northwestern University, cortar as emissões em 50% comportaria, nos EUA, um aumento geral dos preços ao consumo não superior, em média, a 5%. É verdade, porém, que, para chegar a um corte global de 50% das emissões, os países industrializados teriam que reduzir as suas emissões (como Obama já anunciou querer fazer) em 80%. Mas esse corte também não teria efeitos dramáticos, segundo o Pew Center on Global Climate Change: "Cortar as emissões em 80% no arco de quatro décadas também teria, na grande parte dos casos, um efeito muito limitado sobre os consumidores".
O mesmo vale para a Europa. A revista New Scientist pediu à Cambridge Econometrics – uma sociedade de consultoria que regularmente fornece modelos econométricos sobre as mudanças climáticas para o governo britânico – uma previsão do impacto sobre os preços para os consumidores ingleses de um corte das emissões até 2050 de 80% com relação a 1990. Os pesquisadores chegaram à resposta, tendo como referência a experiência histórica. Isto é, quanto as mudanças do custo da energia influenciaram os preços de 40 produtos diversos de consumo no passado. O resultado? O impacto sobre os preços de grande parte dos produtos de consumo é modesto: 1-2%.
O preço dos alimentos aumentaria, em média, 1%, assim como o das roupas e dos automóveis. Uma garrafa de cerveja custaria 2% a mais, um laptop de mil euros passaria a custar 1.020 euros. Uma lava-roupas ou uma geladeira também custariam só 2% a mais. Isso ocorre porque a energia necessária para produzir esses bens representa exatamente 1-2% do preço final. Os bens e produtos em que a energia mais pesa sofreriam um impulso mais forte, mas são relativamente poucos. A conta de luz, por exemplo, encareceria 15%. E ainda mais as viagens aéreas, nas quais a energia representa mais de 7% do preço final. Dado que as companhias aéreas, neste momento, não têm uma alternativa de baixo conteúdo de gás carbônico como combustível, pagar os direitos às emissões seria um custo pesado. A Cambridge Econometrics prevê um aumento de 140% do preço das passagens aéreas.
Com efeito, os cálculos do modelo pressupõem duas hipóteses. A primeira é que o governo forneça incentivos aos cidadãos, para que, em vez do gás, usem a eletricidade para a cozinha e, principalmente, para o aquecimento. A segunda é que o próprio governo invista maciçamente nas infraestruturas necessárias para os carros elétricos.
Para daqui a 40 anos, não são, porém, hipóteses remotas. E, portanto, diz outro estudo realizado por uma gigante mundial da consultoria como a McKinsey, têm um preço relativo: "Quatro quintos das reduções nas emissões – defendem os analistas da McKinsey – podem ser realizados explorando tecnologias que já existem hoje em escala comercial". Bastaria, dizem, um preço dos direitos às emissões de 50 dólares por tonelada de CO2. "E 40% das reduções – acrescentam – de fato permitem que se economize dinheiro".
Mas e as previsões catastróficas como as de uma autoridade de Yale, William Nordhaus, segundo o qual estabilizar o clima e as temperaturas custaria, só para os EUA, 20 trilhões de dólares? É preciso entender. Stephen Schneider, da Stanford, refez os cálculos de Nordhaus. Os 20 trilhões de dólares, de fato, não são o custo imediato, mas para 2100. Se assumirmos que, daqui até então, a economia norte-americana crescerá em média 2% ao ano, um ritmo muito ordinário para o gigante EUA, o preço a ser pago para salvar o planeta não parece muita coisa: "Só quer dizer – segundo Schneider – que os norte-americanos terão que esperar até 2101 para serem ricos tanto quanto teriam sido em 2100, sem tocar nas emissões".
Fonte:
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=28625