terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Na Europa, o poder é do Goldman Sachs



Na Europa, o poder é do Goldman Sachs


Eles pertencem à rede que o Goldman Sachs teceu no Velho Continente e, em diferentes graus, participaram da mais truculenta operação ilícita orquestrada pela instituição americana. Além disso, não estão sozinhos.

A reportagem é de Eduardo Febbro e publicado pelo Página/12, 23-11-2011. A tradução é do Cepat.

Os adeptos das teorias conspiratórias estão vendo suas expectativas se cumprirem. Onde está o poder mundial? A resposta cabe num nome e num lugar: na sede do banco de negócios Goldman Sachs.

O banco americano consegui uma façanha rara na história política mundial: colocar os seus homens à frente de dois governos europeus e do banco que rege os destinos das políticas econômicas da União Europeia. Mario Draghi, o atual presidente do Banco Central Europeu; Mario Monti, presidente do Conselho italiano, que substituiu Silvio Berlusconi e Lucas Papademos, o novo primeiro-ministro grego; todos pertencem à galáxia do Goldman Sachs.

Estes governantes, dois dos quais Monti e Papademos, são a ponta de lança da anexação da política pela tecnocracia econômica, pertencem à rede Sachs e participaram das mais truculenta operação ilícita orquestrada pela instituição americana. Além disso, eles não estão sozinhos. Pode-se também mencionar Petros Christodoulos, hoje à frente do organismo que administra a dívida pública grega e ex-presidente do Banco Nacional da Grécia, a quem Sachs vendeu o produto financeiro conhecido como swap e com o qual as autoridades gragas e Goldman Sachs orquestraram a maquiagem das contas gregas.

O dragão que protege os interesses de Wall Street conta com homens chaves nos postos mais decisivos, mas não apenas na Europa. Henry Paulson, ex-presidente do Goldman Sachs, foi nomeado secretário do Tesouro americna, enquanto que William C. Dudley, outro das altas esferas do Goldman Sachs, é o atual presidente do Federal Reserve de Nova York.

Mas o caso dos líderes europeus é mais paradigmático. O lugar de honra cabe a Mario Draghi.

O hoje, presidente do Banco Central Europeu, BCE, foi vice-presidente da Goldman Sachs para a Europa entre 2002 e 2005. O título de seu cargo era “empresas e dívidas públicas”. Precisamente nessa cargo, Draghi teve como missão vender o incendiário produto swap. Este instrumento financeiro é chave na ocultação da dívida pública, ou seja, na maquiagem das contas gregas. Foi essa ardilosa armação que permitiu a Grécia se qualificar para fazer parte dos países que entrariam no euro, a moeda única europeia. Tecnicamente, e com o Goldman Sachs como operador, transformou-se a dívida externa da Grécia de dólares para euros.

Com isso, a dívida grega desapareceu dos balanços negativos e Goldman Sachs (GS) levou uma suculenta comissão. Logo depois, em 2006, Goldman Sachs vendeu parte desse pacote de Swaps ao principal banco comercial do país, o National Bank of Greece, liderada por um outro homem da GS, Petros Christodoulos, um ex-corretor da Goldman Sachs e atual diretor do órgão de gestão da dívida da Grécia que ele mesmo e, os citados anteriormente, até então ajudaram esconder.

Mario Draghi tem uma história pesada. O ex-presidente da República Italiana, Francesco Cossiga acusou Draghi de ter favorecido Goldman Sachs na adjudicação de grandes contratos, quando era diretor do Tesouro da Itália e estavam em pleno processo de privatização. A verdade é que agora o diretor do Banco Central Europeu, aparece como o grande vendedor de Swaps em toda a Europa.

Neste emaranhado de falsificações aparece o chefe do Executivo grego, Lucas Papademos. O primeiro-ministro foi o governador do banco central grego entre 1994 e 2002. Esse é precisamente o período em que Sachs foi cúmplice na ocultação da realidade econômica grega. Papademos, responsável pela entidade bancária nacional, não podia ignorar a armação que estava sendo montada. As datas em que ocupou o cargo fazem dele um operador da montagem.

Na lista de notáveis segue Mario Monti. O atual presidente do Conselho italiano foi conselheiro internacional do Goldman Sachs desde 2005. Em síntese, muitos dos homens que fabricaram o desastre foram chamados agora para tomar as rédeas de postos chaves, com a missão de reparação às custas dos benefícios sociais do povo, conseqüências que eles mesmos criaram. Não há dúvida de estamos vendo o que os analistas chamam de "um governo Sachs europeu”.

O Português Antonio Borges dirigia até pouco tempo – acaba de renunciar - o Departamento Europeu do Fundo Monetário Internacional. Até 2008, Antonio Borges foi vice-presidente do Goldman Sachs. O sumido Karel Van Miert – Bélgica –, foi comissário europeu da Competividade e também um quadro do Goldman Sachs. O alemão Ottmar Issing foi sucessivamente presidente do Bundesbank, conselheiro internacional do banco de negócios americano e membro do Conselho de Administração do Banco Central Europeu.

Peter O'Neill é outro homem do emaranhado: presidente do Goldman Sachs Asset Management, O'Neill, apelidado de O Guru do Goldman Sachs, é o inventor do conceito Brics, o grupo de países emergentes composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Acompanha O'Neill outro peso pesado, Peter Sutherland, ex-presidente da Goldman Sachs International, membro da seção Europeia da Comissão Trilateral, assim como Lucas Papademos, ex-membro da Comissão de Competividade da União Europeia, fiscal-geral da Irlanda e influente mediador do plano que desembocou no resgate da Irlanda.

Alessio Rastani é que tem toda a razão. Este personagem que se apresentou diante da BBC como um trader disse faz poucas semanas: "Os políticos não governam o mundo. Goldman Sachs governa o mundo". Sua história é exemplar do duplo jogo, como as personalidades e as carreiras dos braços mundiais do Goldman Sachs. Alessio Rastani disse que ele era um trader londrinense, mas logo depois descobriu-se que nada tinha de trader e que fazia parte do Yes Men, um grupo de ativistas que, através da comédia e da infiltração nos meios de comunicação, denunciam o liberalismo.

Ficará para as páginas da história mundial a impunidade desses personagens. Empregados por uma empresa americana, orquestraram uma dos maiores golpes já conhecidos, cujas conseqüências estão sendo pagas hoje. Foram premiados, agora, com o leme da crise, planejada por eles mesmos.