3/11/2008
A internet potencializa as conversas sobre política e facilita a formação de um consenso, e essa é uma tendência irreversível. É o que diz o nova-iorquino Andrew Rasiej, que criou o site TechPresident para “cobrir como os candidatos à presidência estão usando a web e como o conteúdo gerado pelo eleitor afeta a campanha”.
A entrevista é de Camila Viegas-Lee e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 03-11-2008.
Eis a entrevista.
Em 2004, você dirigiu o Conselho para Tecnologia de Howard Dean (pré-candidato democrata), a primeira campanha que usou o potencial da web. Como foi?
Ele era um desconhecido governador de Vermont que deixou um grupo de garotos de 25 anos em seu escritório enquanto levantava fundos. Na época ele era o único democrata que afirmava publicamente que o presidente George W. Bush (depois reeleito) estava errado. Então cidadãos frustrados com Bush ligavam para o escritório de Dean e pediam autorização para criar blogs de apoio. E os garotos diziam “claro!”. Assim surgiram sites como Lésbicas para Howard Dean, Donos de Harley Davidson’s para Howard Dean, Vegetarianos para Howard Dean, etc. Formou-se uma comunidade vibrante de bloggers. Meses depois, Howard foi a Nova York e seu assessor Joe Trippi recebeu uma ligação dizendo que um grupo de amigos queria encontrá-lo.Trippi respondeu que não havia agenda até saber que eram 300 amigos. “300? Vamos mudar nossa programação.” No grupo, havia um jornalista do “NYT” que escreveu sobre como a reunião só tinha sido possível por causa de uma plataforma online chamada Meetup. E assim nasceu o candidato da internet.
Mas ele não foi escolhido candidato do Partido Democrata...
Howard teve dificuldades em delegar. Estava acostumado com “eu sou o candidato e vocês devem me apoiar” e não com “vocês têm o poder”. Mas arrecadou US$ 22 milhões online e hoje é presidente do Partido Democrata.
Qual é a diferença com a campanha deste ano?
Hoje 60% dos americanos têm acesso à banda larga, o dobro de 2004, e 50% dizem procurar informação política na rede. As ferramentas para a organização de grupos estão muito mais poderosas. Se eu indicar um restaurante, você ficará mais inclinada a experimentá-lo do que se lesse no jornal. A opinião política também é formada por pessoas conversando ao redor da mesa, no bebedor, na fila do supermercado, na arquibancada do jogo. É lá que elas mostram seus preconceitos e medos, suas aspirações e, aos poucos, um consenso político se forma. Meu pai tem 82 anos e tem pouca familiaridade com emails, mas já mandou vídeos do Obama a 50 amigos. Teria levado um ano para comunicar sua escolha política aos mesmos 50 amigos. E não teria pego o telefone porque se sentiria muito intrometido. Com o YouTube, tornou-se um panfletário do século 21. A ecologia da mídia política mudou.
Como as ferramentas online ajudaram Obama?
Ele sabe que seus eleitores distribuirão os vídeos para ele e, com isso, ultrapassou as estruturas tradicionais de poder da mídia política. Vivemos em uma economia de escassez, com espaço limitado no jornal e na televisão. Na internet, Obama pode postar explicações detalhadas de suas posições. Seus discursos foram assistidos 8 milhões de vezes no YouTube. Isso além dos comerciais de dois minutos e o infomercial de meia hora a uma semana das eleições. Ele percebeu que os americanos estão famintos por conteúdo e essas diferentes plataformas estão permitindo que ele fale sem parar.
E como está a campanha de McCain na internet?
Ele também está arrecadando fundos e montando uma lista enorme de emails. Seus eleitores também postam vídeos. Há um particularmente impressionante, já visto 15 milhões de vezes, em que um jovem veterano do Iraque diz diretamente para a câmera que Obama não compreende o que é patriotismo. Ao virar as costas para sair, percebe-se que ele tem uma perna biônica. Mas McCain começou tarde, quando Obama já fazia campanha online havia 18 meses. Não separou dinheiro para investir na web, não se cercou de pessoas que acreditavam no meio, não foi capaz de construir uma comunidade online robusta.
Obama anunciou que Joe Biden seria seu vice por mensagem de texto.
Ele também usa twitter. Isso permitiu que ele colecionasse 3 milhões de números de celulares e direcionasse os eleitores para o site. Assim ele obtém ainda mais dados sobre eles e, depois, poderá usá-los para incentivar as pessoas a votar. O cálice sagrado da internet é converter o entusiasmo online em ação offline.
Você tem dito que, independentemente de quem vença, a política nunca mais vai ser a mesma. Por quê?
Se o Obama vencer, poderemos afirmar que foi por causa da internet. Algumas pessoas vão dizer que foi porque a economia está mal, porque ele é carismático ou por outras razões. Há vários fatores, mas, se hoje não se vence só por causa da internet, é certo que não dá para vencer sem ela.
A internet potencializa as conversas sobre política e facilita a formação de um consenso, e essa é uma tendência irreversível. É o que diz o nova-iorquino Andrew Rasiej, que criou o site TechPresident para “cobrir como os candidatos à presidência estão usando a web e como o conteúdo gerado pelo eleitor afeta a campanha”.
A entrevista é de Camila Viegas-Lee e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 03-11-2008.
Eis a entrevista.
Em 2004, você dirigiu o Conselho para Tecnologia de Howard Dean (pré-candidato democrata), a primeira campanha que usou o potencial da web. Como foi?
Ele era um desconhecido governador de Vermont que deixou um grupo de garotos de 25 anos em seu escritório enquanto levantava fundos. Na época ele era o único democrata que afirmava publicamente que o presidente George W. Bush (depois reeleito) estava errado. Então cidadãos frustrados com Bush ligavam para o escritório de Dean e pediam autorização para criar blogs de apoio. E os garotos diziam “claro!”. Assim surgiram sites como Lésbicas para Howard Dean, Donos de Harley Davidson’s para Howard Dean, Vegetarianos para Howard Dean, etc. Formou-se uma comunidade vibrante de bloggers. Meses depois, Howard foi a Nova York e seu assessor Joe Trippi recebeu uma ligação dizendo que um grupo de amigos queria encontrá-lo.Trippi respondeu que não havia agenda até saber que eram 300 amigos. “300? Vamos mudar nossa programação.” No grupo, havia um jornalista do “NYT” que escreveu sobre como a reunião só tinha sido possível por causa de uma plataforma online chamada Meetup. E assim nasceu o candidato da internet.
Mas ele não foi escolhido candidato do Partido Democrata...
Howard teve dificuldades em delegar. Estava acostumado com “eu sou o candidato e vocês devem me apoiar” e não com “vocês têm o poder”. Mas arrecadou US$ 22 milhões online e hoje é presidente do Partido Democrata.
Qual é a diferença com a campanha deste ano?
Hoje 60% dos americanos têm acesso à banda larga, o dobro de 2004, e 50% dizem procurar informação política na rede. As ferramentas para a organização de grupos estão muito mais poderosas. Se eu indicar um restaurante, você ficará mais inclinada a experimentá-lo do que se lesse no jornal. A opinião política também é formada por pessoas conversando ao redor da mesa, no bebedor, na fila do supermercado, na arquibancada do jogo. É lá que elas mostram seus preconceitos e medos, suas aspirações e, aos poucos, um consenso político se forma. Meu pai tem 82 anos e tem pouca familiaridade com emails, mas já mandou vídeos do Obama a 50 amigos. Teria levado um ano para comunicar sua escolha política aos mesmos 50 amigos. E não teria pego o telefone porque se sentiria muito intrometido. Com o YouTube, tornou-se um panfletário do século 21. A ecologia da mídia política mudou.
Como as ferramentas online ajudaram Obama?
Ele sabe que seus eleitores distribuirão os vídeos para ele e, com isso, ultrapassou as estruturas tradicionais de poder da mídia política. Vivemos em uma economia de escassez, com espaço limitado no jornal e na televisão. Na internet, Obama pode postar explicações detalhadas de suas posições. Seus discursos foram assistidos 8 milhões de vezes no YouTube. Isso além dos comerciais de dois minutos e o infomercial de meia hora a uma semana das eleições. Ele percebeu que os americanos estão famintos por conteúdo e essas diferentes plataformas estão permitindo que ele fale sem parar.
E como está a campanha de McCain na internet?
Ele também está arrecadando fundos e montando uma lista enorme de emails. Seus eleitores também postam vídeos. Há um particularmente impressionante, já visto 15 milhões de vezes, em que um jovem veterano do Iraque diz diretamente para a câmera que Obama não compreende o que é patriotismo. Ao virar as costas para sair, percebe-se que ele tem uma perna biônica. Mas McCain começou tarde, quando Obama já fazia campanha online havia 18 meses. Não separou dinheiro para investir na web, não se cercou de pessoas que acreditavam no meio, não foi capaz de construir uma comunidade online robusta.
Obama anunciou que Joe Biden seria seu vice por mensagem de texto.
Ele também usa twitter. Isso permitiu que ele colecionasse 3 milhões de números de celulares e direcionasse os eleitores para o site. Assim ele obtém ainda mais dados sobre eles e, depois, poderá usá-los para incentivar as pessoas a votar. O cálice sagrado da internet é converter o entusiasmo online em ação offline.
Você tem dito que, independentemente de quem vença, a política nunca mais vai ser a mesma. Por quê?
Se o Obama vencer, poderemos afirmar que foi por causa da internet. Algumas pessoas vão dizer que foi porque a economia está mal, porque ele é carismático ou por outras razões. Há vários fatores, mas, se hoje não se vence só por causa da internet, é certo que não dá para vencer sem ela.