"O agronegócio é insustentável porque começa depredando
a biodiversidade e as fontes da ciência, depende da máquina que compacta o solo
e não respeita os meandros da natureza, envenena e contamina os produtos da
terra, que não visam o bem viver do povo, mas o dinheiro de uns poucos",
escreve Egydio Schwade, um dos fundadores do Cimi e
primeiro secretário executivo da entidade, em 1972. Hoje é colaborador dessa
instituição, residindo em Presidente
Figueiredo, AM.
Eis
o artigo.
Há muito estou intrigado com os altos investimentos do
Governo ao agronegócio através do Ministério da Agricultura. Pois em
primeiro lugar nem agricultura é. Quem se dedica ao agronegócio não se dedica
necessariamente a fazer ciência na terra, ou seja, agricultura. Apenas obedece a um programa pré-fabricado nos
laboratórios urbanos.
O agronegócio ao se instalar destrói a biodiversidade,
fonte da ciência, para produzir em seu lugar o que interessa apenas a quem quer
fazer negócio para alimentar de dinheiro os seus mandantes, o mercado como fim
em si mesmo e o Estado, ficções criadas pelo homem que não comem nem riem, não
sofrem e nem choram. Pouco lhes importa trabalhar com o equilíbrio dinâmico da
natureza para o futuro da humanidade.
Quando vim fixar residência com a família aqui nas
margens da BR-174 comprei um pedacinho de terra que fizera parte de um
agronegócio. Aproximadamente 16% de um hectare, mais precisamente, de um campo
de gado desapropriado pela Prefeitura para a instalação da cidade de Presidente
Figueiredo, ainda inexistente, quando saiu o decreto que criou o
município.
16% de um hectare é algo invisível ou irrisório para um
agronegociante. Para começar, num sistema de criação de gado na Amazônia, os 16%
de hectare sustentavam talvez o rabo, ou uma perna de uma vaca, alguns
canarinhos e formigas que não faltavam quando começamos a arrancar o capim. Para
criar um só bovino nestas bandas necessita-se nada menos que um hectare e meio,
ou seja, dez vezes mais.
Mas para um agricultor este pedacinho de chão é algo
importante. Hoje cultivamos neste terreno, 32 espécies de frutas, 8 espécies de
tubérculos e raízes comestíveis, 5 espécies de abelhas sem-ferrão, além de
hortaliças.
Além disso, a família instalou ainda naquele pedacinho
de terra a sua residência, a Casa da Cultura do Urubuí e uma lojinha para a venda dos
frutos excedentes produzidos no quintal e em sítio mais afastado.
O agronegócio é insustentável porque começa depredando
a biodiversidade e as fontes da ciência, depende da máquina que compacta o solo
e não respeita os meandros da natureza, envenena e contamina os produtos da
terra, que não visam o bem viver do povo, mas o dinheiro de uns poucos. Dentro
do agronegócio tudo está programado contra a vida e não há mais nada para
inventar ou criar a favor dela a não ser o seu fim.
Questione os governos e a mídia que continuam dando
incentivo a essa burrice iniqua!
Algumas
espécies cultivadas nesse quintal
Frutas: Abacate
(Persea americana), Abiu (Pouteria oblanceolata), Açaí (Euterpe oleratia),
Acerola (Malpighia emarginata), Amora (Morus alba L.), Araçá-boi (Eugenia
stipitata Mc Vaugh.), Araçá-do-brejo (Posoqueria calantha), Bacuri (Platonia
insignis Mart.), Banana (Musa spp.), Biribá (Rolinia), Cacau (Theobroma cacau),
Café (Coffeaarabica), Cajá-manga (spondeas dulcis), Carambola (averrhoa
carambola), Coco (Cocus nucifera), Cubiu (Solanum), Cupuaçu (Theobroma),
Figueira (fícus pohliana), Fruta-pão (artocarpus incisa), Goiaba (Psidium
guaiava), Graviola (Annonamuricata), Jambo (Eugenia), Limão (citrus limonum),
Limão-Caiana, Mamão (Caricapapaya), Maracujá (Passiflora edulis), Marmeladinha,
None, Pitangueira (eugenia uniflora), Pitombeira (tal isia esculenta), Pupunha
(Bactrisgasipaes), Puruí, Tamarindo (tamarindos indica).
Tubérculos: macaxeira
(manihot utilissima), cará branco e roxo (deste temos diversas variedades),
cará-inhame (colocasia antiquorum) (7 variedades), gengibre ou mangarataia
(zingiber zingiber) (2 variedades), ariá, araruta, (maranta arundinacea),
araruta Manoki, batata doce, taioba, (xanthosoma violaceum), batata doce
(Ipomea) e açafrão,(crocus sativus L).
Há ainda uma variedade grande de plantas medicinais,
hortaliças, flores como o amor agarradinho: Z(antiginum leptopus), importante
fonte de alimento das abelhas. E temos ainda uma pequena criação de galinha
caipira e garnizé.
Abelhas: Melípona
fulva, moça-branca, raiz, jati e mosquitinho.
Pássaros
que frequentam o quintal: Assanhaçu, pipira, xexeu ou corruíra, aracuã,
um passarinho pequeno amarelinho, beija flor (pelo menos 3 espécies),
pica-pau-do-topete-vermelho, sabiá, papagaio, tucano, arara-amarela, maracanã,
rolinha, coruja, entre outros