Cientistas iniciam travessia para estudar a ''sopa de plástico'' no mar
A poluição marinha por plásticos é um problema global crescente, mas é especialmente grave na região do Pacífico Norte.
Cientistas marinhos iniciaram no último dia 08 de janeiro o lançamento transatlântico do primeiro estudo de poluição marinha por plásticos que é largamente conhecido como prevalecente somente no Oceano Pacífico Norte, a “Grande Marca de Lixo no Pacífico”.
A notícia é da Agência Envolverde, 12-01-2010.
“Este é um problema global, temos visto evidências de poluição por plásticos por todos os lugares do mundo e isto está piorando,” diz o capitão Charles Moore, fundador da Fundação de Pesquisa Marinha Algalita (AMRF), que em janeiro foi enfocado no programa de TV “The Colbert Report” (O Relatório Colbert) para discutir o problema que ele mesmo colocou no mapa pela primeira vez.
A viagem inaugural do estudo, de St. Thomas, Ilhas Virgens, EUA, até o Mar de Sargaço, é parte do Projeto 5 Gyres (giros), que realizará uma segunda travessia no Atlântico Sul em agosto próximo. Participam diretamente do projeto os pesquisadores Dr. Marcus Eriksen e Anna Cummins, que têm trabalhado com Moore, documentando a acumulação crescente de poluição por plástico no Giro do Pacífico Norte.
Eriksen e Cummins, casados em junho de 2009, trabalharão com a AMRF para aprofundar o foco da sua pesquisa anterior, a qual tem sido quantificar os plásticos flutuantes, incluindo fragmentos de micro-plásticos consumidos pelos peixes. Agora eles buscam entender como esses detritos afetam os peixes, para entender melhor o efeito humano do que o Los Angeles Times chama de “um dos segmentos da esteira de lixo tóxico da civilização que mais cresce”.
“As partículas de plástico no mar agem como magnéticos para químicos tais como DDT, PCB, retardadores de chama e outros poluentes,” diz Cummins. “O Projeto 5 Gyres está trabalhando agora para avançar nossas pesquisas anteriores com os testes buscando determinar se esses químicos se acumulam nos peixes, navegam ao longo da cadeia alimentar e terminam em nossos pratos de jantar.”
“Há cinco giros no mundo,” informa Cummins, “mas a poluição por plásticos não está confinada em um somente. Planejamos agrupar dados de todos os cinco.”
O Projeto 5 Gyres é uma colaboração entre a AMRF, onde Eriksen é diretor do programa de desenvolvimento, a Livable Legacy e a Pangaea Explorations. Um dos patrocinadores do projeto é a Blue Turtle. A Pangaea Explorations está fornecendo o veleiro de 72 pés Sea Dragon, no qual o casal velejará para coletar amostras da superfície do oceano, do fundo do mar e do conteúdo do estômago e dos tecidos de peixes para análise. Outros velejadores são voluntários para contribuir com suas pesquisas com equipamentos emprestados pelo Projeto 5 Gyres.
Acompanhe o progresso do Sea Dragon através da tecnologia GPS fornecida pela Blue Turtle.
Na última primavera, Eriksen e Cummins completaram um tour de 2.000 milhas de bicicleta para gerar conscientização do problema no Giro do Pacífico Norte, onde o próprio Eriksen velejou a bordo do JUNKraft da AMRF construído com 15.000 garrafas de plástico. O problema do plástico no oceano tem sido referido como a Marca de Lixo, mas que é muito mais difusa do que uma simples “marca”, a qual Eriksen e Cummins chamam de sopa de plástico.
Durante a sua viagem transatlântica de seis semanas — a primeira desse tipo — o casal fará uma parada nas Bermudas para palestras e para encontrar-se com o Cônsul Geral dos Estados Unidos Grace Shelton. Em 28 de janeiro eles velejarão aos Açores através do Mar de Sargaço, uma região alongada no meio do Atlântico Norte circundada por correntes oceânicas que formam outro giro oceânico. Eles esperam retornar para Santa Mônica em meados de fevereiro.
Em agosto, eles cruzarão o Giro do Atlântico Sul, indo do Rio de Janeiro à Cidade do Cabo, na África do Sul. Esta será a primeira travessia desse tipo nos últimos 30 anos no hemisfério sul.
Os pesquisadores enfatizam que, desde que a poluição do mar por plásticos não pode ser limpa por qualquer meio, a sociedade deve parar o problema na sua fonte. Eles defendem legislações que demandem das empresas tomarem para si a responsabilidade de recuperar e reutilizar os seus produtos, incluindo incentivos econômicos para promover a recuperação e a extinção dos produtos descartáveis. Legislações responsáveis irão criar, também, uma tremenda oportunidade para produtos inteligentes e inovadores.
“Não podemos sair desta sujeira pela reciclagem, nem podemos limpar o que já está lá fora,” diz Eriksen. “Não estamos olhando para uma grande acumulação de pedaços visíveis de plásticos, mas para uma sopa difusa de micro-partículas.”
Enquanto os efeitos potenciais à saúde humana permanecem desconhecidos, cientistas já estimam que perto da metade de todas as espécies de pássaros marinhos, todas as espécies de tartarugas marinhas e 22 espécies de mamíferos marinhos ferem-se ou morrem por causa do lixo plástico, seja pela ingestão, enredamento ou estrangulamento, antes que os detritos sejam quebrados (pela fotodegradação) em minúsculos fragmentos.
Eriksen e Cummins mantêm um blog sobre suas travessias.
Eles continuarão sua segunda viagem no Atlântico com um projeto de conscientização de duração de um ano chamado “O Último Canudo.” Este projeto inclui um tour de 2.000 milhas para ciclo de palestras na Costa Leste e a construção, em Paris, de um barco com 250.000 canudos de plástico. Neste barco, chamado de “STRA,” em homenagem à expedição RA feita por Thor Heyerdahl no final dos anos 1960, eles velejarão o Rio Sena e cruzarão o Canal Inglês.
O patrocinador do Projeto 5 Gyre Blue Turtle, baseado em San Francisco, é uma organização social que visa soluções completas e longevas para a poluição dos oceanos mundiais através da educação, de fontes de eliminação e limpeza. A Pangaea Explorations, outro patrocinador importante, é dedicada à descoberta de bases verdadeiras sobre o meio ambiente, envolvendo pessoas e as questões ambientais, e ensinando a próxima geração a respeitar e proteger o seu meio ambiente. Patrocínios chave adicionais são fornecidos por Ecousable, Quiksilver Foundation, Surfrider Foundation, Keen Footwear, Patagonia e Aquapac.
Veja ainda, neste Blog: A Bolha Assassina