segunda-feira, 10 de setembro de 2007

PREZADO AMIGO, CAMINHANDO COM HANNAH, CAMUS E SARTRE

por: Alexandre Vivaqua
extraído de: http://vivacqua.blogspot.com/





Veja esta citação de Hannah Arendt:"Até nos tempos mais sombrios temos o direito de esperar ver alguma luz. É bem possível que essa luz não venha tanto das teorias e dos conceitos como da chama incerta, vacilante, e muitas vezes tênue, que alguns homens e mulheres conseguem alimentar."


Será?De qualquer forma, ela aí está.


Temos pouco tempo para uma nova configuração de vida ("breve é o dia, longa é a jornada") -, a que aguarda uma solução de coisas essenciais, em estado de pendências. Hoje é um dia 23, em dias assim temos que continuar conversando com nossos sonhos e propostas concretas.
Um dia escrevi ao amigo que um desânimo tinha baixado, perdas físicas e outras, ação do tempo e do próprio viver-com, o que afinal somos. Mas, "quem não o tem", uma resposta direta. Depois dissertada: "a vida, amigo, corre no leito de perdas e ganhos, acredito, até mais, nas águas penosas das perdas". Comprendi, então, que há que se preparar para isso, mas ainda achamos que só aprendemos português e matemática. Falhamos, então, no repetido refrão popular, o "dar a volta por cima", conselho muito longe do precário saber que ainda não aprendeu coisas da alma humana, apenas um saber técnico-operativo - indicado para o mundo da coisa, insuficiente para o mundo da idéia.
Caso, nada aconteça de valor, um conselho de Camus é a desistência final. Ele assim pensou, e sua morte terá sido um mero acidente? Estava ele equivocado? Não sei, é bem provável que seja um modo legítimo de se posicionar frente ao que nada mais vale.
Os antigos gregos falavam de aporia, momento sem caminho, não porque não houvesse nenhum, mas porque haviam sido lançados numa encruzilhada, numa forquilha, a vida se chocando nos extremos, o tal de tudo ou nada, o famigerado oito ou oitenta. Tendo chegado a esse ponto, resta-nos querido amigo, a todos nós, a invenção dos dias - o que, juntos, devemos procurar.
Um empenho em que não valem mais a restrição dos fatos e as paralisantes intimidações internas e censuras alheias. Conheço-lhe, você tem a fala envolvida e o gosto estético. Não ceda nisso, cultive-os. São seus, pertencem-lhe em alma.


Desfazer nós, o que é estreito não mais serve. Nos extremos a vida concede.


Alexadre Vivacqua
Filósofo