Capital financeiro e mudança climática
“Estamos diante de um conflito de dimensões históricas: de um lado, a
comunidade científica advertindo para que não se queime as reservas de combustíveis fósseis, do outro, as empresas e investidores que
possuem interesses em realizar seus ativos (extrair e usas essas reservas). Quem
prevalecerá?”, interroga-se Alejandro Nadal, em artigo publicado no
jornal mexicano La Jornada, 06-02-2012. A tradução é do
Cepat.
Eis o artigo.
As forças do capital financeiro tornarão muito difícil frear a mudança climática. Alguns dizem que a estr utura do setor financeiro não facilitará a transição para uma economia de baixo carbono. O problema é mais grave: o sistema financeiro é um potente obstáculo para prevenir uma catástrofe derivada do aquecimento global.
Para estimar os alcances do perigo é importante relembrar alguns dados. Na atualidade, a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera chega a 394 partes por milhão (ppm). O CO2 é o gás de efeito estufa mais comum (não é o único, nem o mais potente). Os modelos mais desenvolvidos sobre mudança climática apontam que somente abaixo de 450 ppm de CO2 existe uma alta possibilidade de manter o aumento de temperatura dentro da casa dos doi s graus centígrados. Os cientistas consideram que esse limite não deve ser ultrapassado caso se queira evitar uma mudança climática catastrófica.
Estudos científicos consideram que para aumentar significativamente a probabilidade de permanecer abaixo desse limite mundial, é necessário limitar suas emissões, no período 2000-2050, para 886 gigatoneladas de dióxido de carbono (GTCO2). Na primeira década do século, foram emitidas 321 GTCO2, dessa forma, fica-nos disponível apenas um volume de 565 gigatoneladas para o período de 2010-2050.
Dados da organização “Carbontracker Initiative” revelam que se fossem extraídas e queimadas as conhecidas reservas mundiais de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás), teríamos emissões superiores a 2.795 GTCO2. Isto quer dizer que estas reservas possuem cinco vezes mais carbono do que o limite acima mencionado, que é de 565 GTCO2. Extrair e usar reservas poderia levar a concentração de CO2 na atmosfera para 700 ppm, o que mudaria o planeta da forma como o conhecemos.
As reservas de combustíveis fósseis das 200 empresas mais importantes de carvão, petróleo e gás no mundo (empresas que negociam nas bolsas de valores) possuem reservas com um potencial de carbono de 745 GTCO2. Ou seja, caso estas empresas extraiam e queimem suas reservas, estaríamos ultrapassando em 180 GTCO2 o volume que está disponível para o período de 2010-2050 (as 565 GTCO2 mencionadas acima).
O problema é ainda mais sério porque estes números não incluem as empresas estatais e muito menos consideram as gigantescas reservas de gás natural dos xistos nos Estados Unidos e em numerosos outros países.
A questão é que as reservas nas mãos dessas companhias se encontram assentadas em seus livros e balanços, com um enorme valor monetário. Uma avaliação destas empresas admite que tais reservas serão efetivamente utilizada s, o que significa que haverá extração. Do ponto de vista contábil, não importa para ninguém se a utilização dessas reservas é suficiente para ultrapassar os perigosos limites dos dois graus centígrados. A mudança climática não é um conceito contábil. Dizendo de outra forma, caso existisse uma autoridade capaz de aplicar a restrição das 565 GTCO2, nos próximos quarenta anos, estas companhias poderiam queimar apenas 150 GTCO2. O restante, o carbono não injetado na atmosfera, seria ativo sem valor e se traduziria em perdas colossais para os investidores que comprometeram investimentos nessas empresas.
Essas 200 empresas do mundo da energia fóssil possuem um valor equivalente a 7,42 bilhões de dólares na bolsa. Os países com maior potencial de gases estufa, nas reservas de companhias que negociam na bolsa, são Rússia, Estados Unidos e o Reino Unido. E nas bolsas de valores de Londres, São Paulo, Moscou, Toronto e do mercado australiano até 30% da capitalização do mercado está vinculada a combustíveis fósseis.
Estamos diante de um conflito de dimensões históricas: de um lado a comunidade científica, advertindo para que não se queime as reservas de combustíveis fósseis, do outro, as empresas e investidores que possuem interesses em realizar seus ativos (extrair e usas essas reservas). Quem prevalecerá? Nos últimos 30 anos, o setor financeiro do mundo foi capaz de dominar a política macroeconômica. As prioridades da política monetária e fiscal do mundo inteiro respondem, atualmente (inclusive em meio à crise), às necessidades do capital financeiro. Por que seria diferente no âmbito da política sobre a mudança climática?
No momento atual, carecemos de um regime regulatório internacional, que permita pensar que a economia mundial pode reduzir sua pegada de carbono na atmosfera, dentro da velocidade que se requer. O Protocolo de Kyoto é uma quimera, e a única coisa que estabelece é um “compromisso” para chegar a um acordo em 2015, que deverá entrar em vigor em 2020. No setor financeiro, abrigam forças que objetarão fortemente a um acordo que evite o perigo da mudança climática catastrófica.
Eis o artigo.
As forças do capital financeiro tornarão muito difícil frear a mudança climática. Alguns dizem que a estr utura do setor financeiro não facilitará a transição para uma economia de baixo carbono. O problema é mais grave: o sistema financeiro é um potente obstáculo para prevenir uma catástrofe derivada do aquecimento global.
Para estimar os alcances do perigo é importante relembrar alguns dados. Na atualidade, a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera chega a 394 partes por milhão (ppm). O CO2 é o gás de efeito estufa mais comum (não é o único, nem o mais potente). Os modelos mais desenvolvidos sobre mudança climática apontam que somente abaixo de 450 ppm de CO2 existe uma alta possibilidade de manter o aumento de temperatura dentro da casa dos doi s graus centígrados. Os cientistas consideram que esse limite não deve ser ultrapassado caso se queira evitar uma mudança climática catastrófica.
Estudos científicos consideram que para aumentar significativamente a probabilidade de permanecer abaixo desse limite mundial, é necessário limitar suas emissões, no período 2000-2050, para 886 gigatoneladas de dióxido de carbono (GTCO2). Na primeira década do século, foram emitidas 321 GTCO2, dessa forma, fica-nos disponível apenas um volume de 565 gigatoneladas para o período de 2010-2050.
Dados da organização “Carbontracker Initiative” revelam que se fossem extraídas e queimadas as conhecidas reservas mundiais de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás), teríamos emissões superiores a 2.795 GTCO2. Isto quer dizer que estas reservas possuem cinco vezes mais carbono do que o limite acima mencionado, que é de 565 GTCO2. Extrair e usar reservas poderia levar a concentração de CO2 na atmosfera para 700 ppm, o que mudaria o planeta da forma como o conhecemos.
As reservas de combustíveis fósseis das 200 empresas mais importantes de carvão, petróleo e gás no mundo (empresas que negociam nas bolsas de valores) possuem reservas com um potencial de carbono de 745 GTCO2. Ou seja, caso estas empresas extraiam e queimem suas reservas, estaríamos ultrapassando em 180 GTCO2 o volume que está disponível para o período de 2010-2050 (as 565 GTCO2 mencionadas acima).
O problema é ainda mais sério porque estes números não incluem as empresas estatais e muito menos consideram as gigantescas reservas de gás natural dos xistos nos Estados Unidos e em numerosos outros países.
A questão é que as reservas nas mãos dessas companhias se encontram assentadas em seus livros e balanços, com um enorme valor monetário. Uma avaliação destas empresas admite que tais reservas serão efetivamente utilizada s, o que significa que haverá extração. Do ponto de vista contábil, não importa para ninguém se a utilização dessas reservas é suficiente para ultrapassar os perigosos limites dos dois graus centígrados. A mudança climática não é um conceito contábil. Dizendo de outra forma, caso existisse uma autoridade capaz de aplicar a restrição das 565 GTCO2, nos próximos quarenta anos, estas companhias poderiam queimar apenas 150 GTCO2. O restante, o carbono não injetado na atmosfera, seria ativo sem valor e se traduziria em perdas colossais para os investidores que comprometeram investimentos nessas empresas.
Essas 200 empresas do mundo da energia fóssil possuem um valor equivalente a 7,42 bilhões de dólares na bolsa. Os países com maior potencial de gases estufa, nas reservas de companhias que negociam na bolsa, são Rússia, Estados Unidos e o Reino Unido. E nas bolsas de valores de Londres, São Paulo, Moscou, Toronto e do mercado australiano até 30% da capitalização do mercado está vinculada a combustíveis fósseis.
Estamos diante de um conflito de dimensões históricas: de um lado a comunidade científica, advertindo para que não se queime as reservas de combustíveis fósseis, do outro, as empresas e investidores que possuem interesses em realizar seus ativos (extrair e usas essas reservas). Quem prevalecerá? Nos últimos 30 anos, o setor financeiro do mundo foi capaz de dominar a política macroeconômica. As prioridades da política monetária e fiscal do mundo inteiro respondem, atualmente (inclusive em meio à crise), às necessidades do capital financeiro. Por que seria diferente no âmbito da política sobre a mudança climática?
No momento atual, carecemos de um regime regulatório internacional, que permita pensar que a economia mundial pode reduzir sua pegada de carbono na atmosfera, dentro da velocidade que se requer. O Protocolo de Kyoto é uma quimera, e a única coisa que estabelece é um “compromisso” para chegar a um acordo em 2015, que deverá entrar em vigor em 2020. No setor financeiro, abrigam forças que objetarão fortemente a um acordo que evite o perigo da mudança climática catastrófica.