sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Lula, desmatamento zero e os carecas


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou estar pouco familiarizado com o conceito de desmatamento zero ao afirmar, durante a Cúpula entre Brasil e União Européia em Estocolmo, na Suécia, que “nem que fosse careca o Brasil pode assumir uma meta de desmatamento zero, porque sempre vai haver alguém que vai cortar alguma coisa”.

A análise é do sítio Greenpeace, 08-09-2009.

A afirmação do presidente contraria o entendimento de importantes setores da economia nacional – como o do agronegócio, representado pela indústria da soja e os maiores frigoríficos do país – que já incorporaram o esforço de acabar com o desmatamento em suas cadeias de produção.

O desmatamento zero busca assegurar a conservação da floresta amazônica devido à sua crucial importância na manutenção do equilíbrio climático, da conservação da biodiversidade e na preservação do modo de vida de milhões de pessoas que dependem dela para sobreviver. Uma política de desmatamento zero não impede que árvores sejam cortadas, desde que de forma sustentável.

Ao contrário do que imagina o presidente, o desmatamento zero pretende acabar com o corte raso e a degradação de grandes extensões de mata e deve preocupar igualmente carecas e cabeludos. Aliás, quanto menos cabelo, mais cuidado deve ser dado a ele. O objetivo de uma política de desmatamento zero é dar corpo a uma gestão cuidadosa da floresta que ainda existe, com o estabelecimento de todo o remanescente como reserva florestal nacional, com exceção das propriedades particulares e em casos que envolvam populações tradicionais e indígenas.

A meta de obter uma redução de 80% do desmatamento até 2020, com relação à média do corte registrado entre 1996 e 2005, prometida pelo presidente no mês passado, é insuficiente. À luz da atual crise climática global, permitir a derrubada de 20% de mata em relação à média do período significa muito mais do que “ter sempre alguém cortando alguma coisa”. O presidente precisa botar seus assessores para fazer contas. Estima-se que em cada quilômetro quadrado da floresta amazônica, existam entre 45 mil e 55 mil árvores com mais de dez centímetros de diâmetro*.

A lógica presidencial, que admite que o Brasil continue derrubando cerca de 3.900 km2 de suas matas em 2020, significa que o país perderá, apenas neste ano, entre 175 milhões e 215 milhões de árvores. Isto está longe de ser um pauzinho qualquer. A diferença entre a proposta do Greenpeace e de outras organizações – Instituto Socioambiental, Instituto Centro de Vida, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, The Nature Conservancy, Conservação Internacional, Amigos da Terra, Imazon e WWF-Brasil – de zerar o desmatamento em 2015 e a de Lula, de permitir 20% de desmatamento em 2020, equivale aceitar que nesse intervalo de cinco anos o Brasil perderá entre 800 milhões e 1 bilhão de árvores na Amazônia. Francamente, é um número inaceitável. Como por sinal parecia ser inaceitável para o próprio Lula há alguns meses.

Em junho desse ano, em Alta Floresta (MT), Lula disse que “se houve um momento em que a gente podia desmatar, agora desmatar joga contra a gente e vai nos prejudicar no futuro. Hoje, em vez de dizer que não pode cortar árvore, nós temos de incentivar e pagar para as pessoas plantarem árvores”, afirmou. Além de ser a forma mais barata e rápida de combater as mudanças climáticas, zerar o desmatamento é fundamental para o desenvolvimento econômico do país no longo prazo, já que as chuvas produzidas na Amazônia são importantes para a geração de energia, a produção de alimentos e o abastecimento de água nas regiões Centro-oeste, Sul e Sudeste do Brasil.

Ter como meta resguardar o que ainda nos resta de matas é buscar um futuro melhor para as gerações de brasileiros que virão. O Greenpeace se coloca à disposição do presidente para esclarecer quaisquer dúvidas que ele tenha sobre o conceito de desmatamento zero, a fim de construir um Brasil mais sustentável, justo e de fato inserido no esforço global contra as mudanças do clima. E, apenas para ajudá-lo na sua reflexão sobre esse futuro, não custa lembrar que o Brasil já perdeu 700 mil quilômetros quadrados de floresta amazônica nas últimas quatro décadas. Nesse espaço de tempo e de área, entre 33 bilhões e 41 bilhões de árvores viraram fumaça, ajudando a transformar o Brasil no quarto maior emissor mundial de gases que provocam o aquecimento global.

Agrotóxicos no seu estômago





"Na safra passada, as empresas transnacionais, e são poucas (Basf, Bayer, Monsanto, Du Pont, Sygenta, Bungue, Shell química...), comemoraram que o Brasil se transformou no maior consumidor mundial de venenos agrícolas. Foram despejados 713 milhões de toneladas! Média de 3.700 quilos por pessoa. Esses venenos são de origem química e permanecem na natureza. Degradam o solo. Contaminam a água. E, sobretudo, se acumulam nos alimentos", escreve João Pedro Stédile, economista e integrante da coordenação nacional do Movimento dos Sem Terra (MST), em artigo publicado no jornal O Globo, 24-09-2009.

Eis o artigo.

Os porta-vozes da grande propriedade e das empresas transnacionais são muito bem pagos para todos os dias defender, falar e escrever de que no Brasil não há mais problema agrário. Afinal, a grande propriedade está produzindo muito mais e tendo muito lucro. Portanto, o latifúndio não é mais problema para a sociedade brasileira. Será? Nem vou abordar a injustiça social da concentração da propriedade da terra, que faz com que apenas 2%, ou seja, 50 mil fazendeiros, sejam donos de metade de toda nossa natureza, enquanto temos 4 milhões de famílias sem direito a ela.

Vou falar das consequências para você que mora na cidade, da adoção do modelo agrícola do agronegócio.

O agronegócio é a produção de larga escala, em monocultivo, empregando muito agrotóxicos e máquinas.

Usam venenos para eliminar as outras plantas e não contratar mão de obra. Com isso, destroem a biodiversidade, alteram o clima e expulsam cada vez mais famílias de trabalhadores do interior.

Na safra passada, as empresas transnacionais, e são poucas (Basf, Bayer, Monsanto, Du Pont, Sygenta, Bungue, Shell química...), comemoraram que o Brasil se transformou no maior consumidor mundial de venenos agrícolas. Foram despejados 713 milhões de toneladas! Média de 3.700 quilos por pessoa. Esses venenos são de origem química e permanecem na natureza. Degradam o solo. Contaminam a água. E, sobretudo, se acumulam nos alimentos.

As lavouras que mais usam venenos são: cana, soja, arroz, milho, fumo, tomate, batata, uva, moranguinho e hortaliças. Tudo isso deixará resíduos para seu estômago.

E no seu organismo afetam as células e algum dia podem se transformar em câncer.

Perguntem aos cientistas aí do Instituto Nacional do Câncer, referência de pesquisa nacional, qual é a principal origem do câncer, depois do tabaco? A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) denunciou que existem no mercado mais de vinte produtos agrícolas não recomendáveis para a saúde humana. Mas ninguém avisa no rótulo, nem retira da prateleira. Antigamente, era permitido ter na soja e no óleo de soja apenas 0,2 mg/kg de resíduo do veneno glifosato, para não afetar a saúde. De repente, a Anvisa autorizou os produtos derivados de soja terem até 10,0 mg/kg de glifosato, 50 vezes mais. Isso aconteceu certamente por pressão da Monsanto, pois o resíduo de glifosato aumentou com a soja transgênica, de sua propriedade.

Esse mesmo movimento estão fazendo agora com os derivados do milho.

Depois que foi aprovado o milho transgênico, que aumenta o uso de veneno, querem aumentar a possibilidade de resíduos de 0,1 mg/kg permitido para 1,0 mg/kg.

Há muitos outros exemplos de suas consequências. O doutor Vanderley Pignati, pesquisador da UFMT, revelou em suas pesquisas que nos municípios que têm grande produção de soja e uso intensivo de venenos os índices de abortos e má formação de fetos são quatro vezes maiores do que a média do estado.

Nós temos defendido que é preciso valorizar a agricultura familiar, camponesa, que é a única que pode produzir sem venenos e de maneira diversificada. O agronegócio, para ter escala e grandes lucros, só consegue produzir com venenos e expulsando os trabalhadores para a cidade.

E você paga a conta, com o aumento do êxodo rural, das favelas e com o aumento da incidência de venenos em seu alimento.

Por isso, defender a agricultura familiar e a reforma agrária, que é uma forma de produzir alimentos sadios, é uma questão nacional, de toda sociedade.

Não é mais um problema apenas dos sem-terra. E é por isso que cada vez que o MST e a Via Campesina se mobilizam contra o agronegócio, as empresas transnacionais, seus veículos de comunicação e seus parlamentares, nos atacam tanto.

Porque estão em disputa dois modelos de produção. Está em disputa a que interesses deve atender a produção agrícola: apenas o lucro ou a saúde e o bem-estar da população? Os ricos sabem disso e tratam de consumir apenas produtos orgânicos.

E você precisa se decidir. De que lado você está?