Abaixo, três matérias recentes e que, lidas em conjunto, parecem oferecer algum sentido comum.
Deixo para a inteligência e imaginação do leitor do Blog estabelecer as possíveis conexões...
Internet das coisas: uma revolução na web
O nome já diz tudo. “Internet das coisas” é aquela que irá se conectar à objetos físicos: de um talão de cheques à uma bicicleta. A transição para a web 3.0 cobrirá toda a infra-estrutura necessária (hardware, software e serviços) para suportar esta rede de conexão de objetos. O professor e pesquisador do PPG em Design da Unisinos, Gustavo Fischer, conversou com o IHU sobre o assunto. Em outubro do ano passado a Comissão Européia lançou uma consulta pública que propunha ações para que a região lidere esta “passagem”. As previsões da Europa são de que as primeiras soluções estarão no mercado em cinco anos.
Esta conexão de objetos permite que eles próprios tenham um papel ativo no processo de informação, já que além de fazerem a troca de dados, terão a capacidade de comportarem sua identidade, com as propriedades físicas e informação sobre o ambiente. Será possível, por exemplo, o uso de sensores para o controle de energia e temperatura nas residências, ou a captação de informações sobre os produtos em exposição nas lojas.
Do ponto de vista sociológico, o uso de objetos com essas características possibilita a redução de uma visão inicial e preconceituosa que “divide” o mundo em ambiente real e virtual, segundo o professor. Para ele, ao tornarmos os objetos mais “clicáveis” estaremos tornando a idéia de rede de dados menos submissa às lógicas de um aparelho preso à mesa, ou mesmo a dispositivos móveis convencionais. “A idéia apressada de entender a internet como potencializadora do isolamento e do individualismo ficará ainda mais relativizada. Por outro lado, há sim que se ter uma preocupação com o quanto que esse processo tensiona o campo das privacidades individuais e/ou coletivas. A internet foi fundada na dicotomia entre liberdade e proteção e parece que a cada nova "onda" de soluções advindas dela, essa lógica ou dicotomia se renova”, afirma Gustavo.
A “internet das coisas” permite, ainda, uma integração entre objetos, fazendo com que eles “saibam” a localização uns dos outros e se comuniquem. Para o professor ainda é prematuro tecer afirmativas definitivas sobre como essa prática pode modificar nosso cotidiano, mas a primeira idéia a ser pensada é a de que passaremos a visualizar o espaço e os objetos ao nosso redor com um conjunto de lentes distintas que poderão ser usadas isoladamente ou em conjunto. “Por exemplo: ao dotar um parque com diversos dados (histórico das manifestações que ali já ocorreram) passamos a passear por um território informacional e, eventualmente, poderemos não apenas "ler" os dados previamente colocados ali ligados a serviços, mas quem sabe acrescentar nossas próprias narrativas das cidades (imagens, histórias)”, explica.
Carne para todos: surge na Holanda o bife hi-tech
É a descoberta que potencialmente poderia abrir a porta para a solução do problema da fome no mundo: carne artificial, produzida em laboratório. Pode-se produzir quanto for necessário, sem limites e até sem o carregamento de emissões de gás nocivos que acompanha os métodos tradicionais usados até hoje, durante milhares de anos, para colocar na mesa essa comida fundamental, isto é, a criação de bovinos ou de outras espécies.
A reportagem é de Enrico Franceschini, publicada no jornal La Repubblica, 01-12-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Já haviam sido feitos outros avanços, mas agora, pela primeira vez, os cientistas anunciaram que a experiência foi realizada perfeitamente: pesquisadores da Universidade de Eindhoven, na Holanda, anuncia o jornal londrino Daily Telegraph, "criaram" um bife de porco fazendo-o crescer a partir de um tecido, um músculo de suíno, imerso em uma espécie de caldo derivado do sangue de fetos animais.
"Perfeitamente" obtido, exceto por uma particularidade de uma certa importância: ninguém submeteu o primeiro bife artificial da história a um teste, ou seja, ninguém o provou. A opinião dominante é que não teria sido acolhida com críticas entusiásticas, mas os especialistas estão convencidos de que o produto é rapidamente melhorável e que poderá ser comestível, de modo a ser lançado no mercado, colocado em venda nos supermercados e lojas de produtos alimentícios dentro de cinco anos.
"O que temos neste momento é o equivalente de um tecido muscular de descarte", diz o professor Mark Post, professor de fisiologia da Universidade de Eindhoven e principal autor da descoberta. "Temos que encontrar a forma de melhorá-lo, mas acreditamos que podemos chegar a isso em tempos relativamente breves. Esse produto fará bem ao meio ambiente e reduzirá os sofrimentos dos animais. Se tiver o aspecto e o gosto da carne, as pessoas irão comprá-lo e comê-lo".
A equipe de pesquisadores liderada pelo professor Post extraiu células do músculo de um porco vivo para depois submetê-lo aos procedimentos de laboratório necessários para fazer com que crescesse um pedaço de carne artificial. As células se multiplicaram no "caldo" de sangue de fetos animais e criaram um novo tecido muscular. O projeto, que tinha o apoio do governo holandês e de uma empresa produtora de salsichas, segue a criação de filés de peixe obtidos de células musculares de pequenos peixes.
As primeiras reações, porém, são discordantes. Na Grã-Bretanha, um porta-voz do Peta, um grupo que luta pela defesa dos direitos dos animais, comenta: "No que se refere a nós, se a carne não é mais um pedaço de animal morto, nós não temos nenhuma objeção de caráter ético". Mas um comunicado da Vegetarian Society, a associação britânica dos vegetarianos, se questiona como "é possível garantir que aquilo que se está comendo é carne artificial em vez de ser carne de um animal mandado ao açougue".
O surgimento da carne crescida em laboratório, indica o Daily Telegraph, poderia reduzir os bilhões de toneladas de gases nocivos emitidos a cada ano pelos animais de criadouros e, ao mesmo tempo, poderia ajudar a satisfazer o constante crescimento da demanda mundial de carne que, segundo estimativas das Nações Unidas, irá dobrar até 2050.
Críticas ao experimento chegaram também do lobby antialimentos geneticamente modificados. Justamente na semana passada, o príncipe Charles, da Inglaterra, um tenaz opositor dos alimentos geneticamente modificados, declarou que iniciativas desse gênero criam um problema, porque "tratam os alimentos como uma mercadoria e não como um precioso dom da natureza ao homem". Sobre o tema, registram-se reações semelhantes também em outros países.
E enquanto isso uma pesquisa divulgada no Reino Unido indica que os homens são mais carnívoros que as mulheres: comem o dobro de carne e são menos conscientes dos riscos para a saúde de uma alimentação à base de gorduras animais.
Nano-agricultura: efeitos gigantescos sobre o crescimento das plantas
Os nanotubos de carbono vêm ocupando os dois lados de uma polêmica no mundo científico há vários anos: de um lado, eles são vistos como um dos materiais mais promissores já encontrados pela ciência, com utilizações possíveis que vão da eletrônica até materiais super-resistentes e ultra leves.
A reportagem é do sítio Inovação Tecnológica, 03-12-2009.
No outro lado da polêmica estão os eventuais efeitos que os nanotubos podem ter sobre a saúde humana. Sendo menores do que as células, alguns estudos apontam que eles possuem uma toxicidade potencial que supera largamente a do já quase totalmente banido amianto.
Nanotubo, hipercrescimento
Mas, de acordo com uma pesquisa feita na Universidade do Arkansas, quando se trata de células vegetais, mais especificamente de sementes de tomate, os nanotubos têm efeitos que podem revolucionar a agricultura, com um potencial gigantesco de elevação da produção.
Os cientistas descobriram que as sementes de tomate expostas aos nanotubos de carbono de parede única - tubos de carbono cuja parede tem um único átomo de espessura - germinaram mais rapidamente e geraram mudas muito maiores e mais fortes do que as sementes da mesma linhagem que não passaram pelo tratamento.
Segundo os pesquisadores, esse efeito de incremento no crescimento dos vegetais pode representar uma revolução na produção de biomassa, seja de alimentos, seja de vegetais para a produção de biocombustíveis.
Nano-agricultura
A descoberta inaugura o campo da nano-agricultura, a aplicação da nanotecnologia ao cultivo industrial de vegetais.
A análise das sementes indica que os nanotubos de carbono penetram na camada externa mais dura das sementes, eventualmente elevando a capacidade de absorção de água, o que poderia explicar o estímulo ao crescimento da planta.
"Os efeitos positivos dos nanotubos de carbono sobre a germinação das sementes poderão ter importância econômica significativa para a agricultura, a horticultura e para o setor de energia, na produção de biocombustíveis," afirmam os pesquisadores.
Os resultados ainda são primários e a interpretação das razões que levaram ao maior crescimento das plantas ainda deverá ser objeto de novos estudos. A seguir, os cientistas deverão avaliar o destino dos nanotubos de carbono depois que as plantas crescem.
Fontes:
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=28029
e
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=27992
Deixo para a inteligência e imaginação do leitor do Blog estabelecer as possíveis conexões...
Internet das coisas: uma revolução na web
O nome já diz tudo. “Internet das coisas” é aquela que irá se conectar à objetos físicos: de um talão de cheques à uma bicicleta. A transição para a web 3.0 cobrirá toda a infra-estrutura necessária (hardware, software e serviços) para suportar esta rede de conexão de objetos. O professor e pesquisador do PPG em Design da Unisinos, Gustavo Fischer, conversou com o IHU sobre o assunto. Em outubro do ano passado a Comissão Européia lançou uma consulta pública que propunha ações para que a região lidere esta “passagem”. As previsões da Europa são de que as primeiras soluções estarão no mercado em cinco anos.
Esta conexão de objetos permite que eles próprios tenham um papel ativo no processo de informação, já que além de fazerem a troca de dados, terão a capacidade de comportarem sua identidade, com as propriedades físicas e informação sobre o ambiente. Será possível, por exemplo, o uso de sensores para o controle de energia e temperatura nas residências, ou a captação de informações sobre os produtos em exposição nas lojas.
Do ponto de vista sociológico, o uso de objetos com essas características possibilita a redução de uma visão inicial e preconceituosa que “divide” o mundo em ambiente real e virtual, segundo o professor. Para ele, ao tornarmos os objetos mais “clicáveis” estaremos tornando a idéia de rede de dados menos submissa às lógicas de um aparelho preso à mesa, ou mesmo a dispositivos móveis convencionais. “A idéia apressada de entender a internet como potencializadora do isolamento e do individualismo ficará ainda mais relativizada. Por outro lado, há sim que se ter uma preocupação com o quanto que esse processo tensiona o campo das privacidades individuais e/ou coletivas. A internet foi fundada na dicotomia entre liberdade e proteção e parece que a cada nova "onda" de soluções advindas dela, essa lógica ou dicotomia se renova”, afirma Gustavo.
A “internet das coisas” permite, ainda, uma integração entre objetos, fazendo com que eles “saibam” a localização uns dos outros e se comuniquem. Para o professor ainda é prematuro tecer afirmativas definitivas sobre como essa prática pode modificar nosso cotidiano, mas a primeira idéia a ser pensada é a de que passaremos a visualizar o espaço e os objetos ao nosso redor com um conjunto de lentes distintas que poderão ser usadas isoladamente ou em conjunto. “Por exemplo: ao dotar um parque com diversos dados (histórico das manifestações que ali já ocorreram) passamos a passear por um território informacional e, eventualmente, poderemos não apenas "ler" os dados previamente colocados ali ligados a serviços, mas quem sabe acrescentar nossas próprias narrativas das cidades (imagens, histórias)”, explica.
Carne para todos: surge na Holanda o bife hi-tech
É a descoberta que potencialmente poderia abrir a porta para a solução do problema da fome no mundo: carne artificial, produzida em laboratório. Pode-se produzir quanto for necessário, sem limites e até sem o carregamento de emissões de gás nocivos que acompanha os métodos tradicionais usados até hoje, durante milhares de anos, para colocar na mesa essa comida fundamental, isto é, a criação de bovinos ou de outras espécies.
A reportagem é de Enrico Franceschini, publicada no jornal La Repubblica, 01-12-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Já haviam sido feitos outros avanços, mas agora, pela primeira vez, os cientistas anunciaram que a experiência foi realizada perfeitamente: pesquisadores da Universidade de Eindhoven, na Holanda, anuncia o jornal londrino Daily Telegraph, "criaram" um bife de porco fazendo-o crescer a partir de um tecido, um músculo de suíno, imerso em uma espécie de caldo derivado do sangue de fetos animais.
"Perfeitamente" obtido, exceto por uma particularidade de uma certa importância: ninguém submeteu o primeiro bife artificial da história a um teste, ou seja, ninguém o provou. A opinião dominante é que não teria sido acolhida com críticas entusiásticas, mas os especialistas estão convencidos de que o produto é rapidamente melhorável e que poderá ser comestível, de modo a ser lançado no mercado, colocado em venda nos supermercados e lojas de produtos alimentícios dentro de cinco anos.
"O que temos neste momento é o equivalente de um tecido muscular de descarte", diz o professor Mark Post, professor de fisiologia da Universidade de Eindhoven e principal autor da descoberta. "Temos que encontrar a forma de melhorá-lo, mas acreditamos que podemos chegar a isso em tempos relativamente breves. Esse produto fará bem ao meio ambiente e reduzirá os sofrimentos dos animais. Se tiver o aspecto e o gosto da carne, as pessoas irão comprá-lo e comê-lo".
A equipe de pesquisadores liderada pelo professor Post extraiu células do músculo de um porco vivo para depois submetê-lo aos procedimentos de laboratório necessários para fazer com que crescesse um pedaço de carne artificial. As células se multiplicaram no "caldo" de sangue de fetos animais e criaram um novo tecido muscular. O projeto, que tinha o apoio do governo holandês e de uma empresa produtora de salsichas, segue a criação de filés de peixe obtidos de células musculares de pequenos peixes.
As primeiras reações, porém, são discordantes. Na Grã-Bretanha, um porta-voz do Peta, um grupo que luta pela defesa dos direitos dos animais, comenta: "No que se refere a nós, se a carne não é mais um pedaço de animal morto, nós não temos nenhuma objeção de caráter ético". Mas um comunicado da Vegetarian Society, a associação britânica dos vegetarianos, se questiona como "é possível garantir que aquilo que se está comendo é carne artificial em vez de ser carne de um animal mandado ao açougue".
O surgimento da carne crescida em laboratório, indica o Daily Telegraph, poderia reduzir os bilhões de toneladas de gases nocivos emitidos a cada ano pelos animais de criadouros e, ao mesmo tempo, poderia ajudar a satisfazer o constante crescimento da demanda mundial de carne que, segundo estimativas das Nações Unidas, irá dobrar até 2050.
Críticas ao experimento chegaram também do lobby antialimentos geneticamente modificados. Justamente na semana passada, o príncipe Charles, da Inglaterra, um tenaz opositor dos alimentos geneticamente modificados, declarou que iniciativas desse gênero criam um problema, porque "tratam os alimentos como uma mercadoria e não como um precioso dom da natureza ao homem". Sobre o tema, registram-se reações semelhantes também em outros países.
E enquanto isso uma pesquisa divulgada no Reino Unido indica que os homens são mais carnívoros que as mulheres: comem o dobro de carne e são menos conscientes dos riscos para a saúde de uma alimentação à base de gorduras animais.
Nano-agricultura: efeitos gigantescos sobre o crescimento das plantas
Os nanotubos de carbono vêm ocupando os dois lados de uma polêmica no mundo científico há vários anos: de um lado, eles são vistos como um dos materiais mais promissores já encontrados pela ciência, com utilizações possíveis que vão da eletrônica até materiais super-resistentes e ultra leves.
A reportagem é do sítio Inovação Tecnológica, 03-12-2009.
No outro lado da polêmica estão os eventuais efeitos que os nanotubos podem ter sobre a saúde humana. Sendo menores do que as células, alguns estudos apontam que eles possuem uma toxicidade potencial que supera largamente a do já quase totalmente banido amianto.
Nanotubo, hipercrescimento
Mas, de acordo com uma pesquisa feita na Universidade do Arkansas, quando se trata de células vegetais, mais especificamente de sementes de tomate, os nanotubos têm efeitos que podem revolucionar a agricultura, com um potencial gigantesco de elevação da produção.
Os cientistas descobriram que as sementes de tomate expostas aos nanotubos de carbono de parede única - tubos de carbono cuja parede tem um único átomo de espessura - germinaram mais rapidamente e geraram mudas muito maiores e mais fortes do que as sementes da mesma linhagem que não passaram pelo tratamento.
Segundo os pesquisadores, esse efeito de incremento no crescimento dos vegetais pode representar uma revolução na produção de biomassa, seja de alimentos, seja de vegetais para a produção de biocombustíveis.
Nano-agricultura
A descoberta inaugura o campo da nano-agricultura, a aplicação da nanotecnologia ao cultivo industrial de vegetais.
A análise das sementes indica que os nanotubos de carbono penetram na camada externa mais dura das sementes, eventualmente elevando a capacidade de absorção de água, o que poderia explicar o estímulo ao crescimento da planta.
"Os efeitos positivos dos nanotubos de carbono sobre a germinação das sementes poderão ter importância econômica significativa para a agricultura, a horticultura e para o setor de energia, na produção de biocombustíveis," afirmam os pesquisadores.
Os resultados ainda são primários e a interpretação das razões que levaram ao maior crescimento das plantas ainda deverá ser objeto de novos estudos. A seguir, os cientistas deverão avaliar o destino dos nanotubos de carbono depois que as plantas crescem.
Fontes:
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=28029
e
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=27992