segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Brasil copia o anti-ambientalismo chinês


Governo Lula e Congresso Nacional copiam modelo (anti) ambiental chinês


"O cenário ideal de crescimento econômico para o Brasil, imaginado por economistas desenvolvimentistas ou liberais dos governos petista-tucano, reside na conjuntura atual de crescimento da China (casa dos 11% em 2008) e seus investimentos privados impulsionados por megaprojetos industriais e infra-estruturais com regras de licenciamento ambiental e compensação de danos propícias ao empreendedor", escreve Kenzo Jucá, especialista em Desenvolvimento Sustentável e Direito Ambiental (UNB) e assessor da liderança da bancada do PSOL na Câmara dos Deputados. em artigo publicado no Correio da Cidadania e reproduzido por EcoDebate, 24-08-2009. Segundo Jucá, "não há mais espaço no Planeta Terra para que Brasil, China e Índia “tenham o direito” de se desenvolver nos patamares imperialistas de EUA e Europa do passado, linha defendida pela social-democracia ambiental. O tempo histórico não o permite mais.

Eis o artigo.

Na volta do recesso parlamentar em agosto, o Congresso Nacional – através do governo e sua bancada – retoma um dos pacotes de reforma constitucional mais danosos para as presentes e futuras gerações do Brasil e do mundo: o rebaixamento da legislação ambiental brasileira, que era uma das mais avançadas do Planeta Terra desde o fim dos anos 1980 até a era Lula.

Desde o segundo semestre de 2008, foram aprovadas ou editadas uma série de medidas articuladas no pacote de reformas anti-ambientais de Lula. Muitas outras estão tramitando ou prontas para votação em plenário ou nas comissões temáticas do Congresso Nacional. Possuem apensados projetos de lei pertencentes ao pacote de medidas do PAC, como o PLP 12/03 (Sarney Filho) e o PLP 388/07 (do Executivo), que estabelecem novas regras de licenciamento e responsabilidades ambientais e estão juntos na mesa do plenário. Ou ainda o Novo Código Florestal dos ruralistas – PL 5367/09 de Valcir Colatto (PMDB/ SC) – em discussão nas Comissões de Agricultura e de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados.

O atual modelo brasileiro de reforma ambiental e seus projetos de lei e emendas constitucionais são coordenados pelo governo com papel decisivo de sua base parlamentar ruralista e empreiteira do Congresso Nacional. Pretende criar um “ambiente favorável” à nova realidade de crescimento econômico vertical das obras do PAC e ao incremento no avanço do agronegócio sobre a Amazônia. O cenário ideal de crescimento econômico para o Brasil, imaginado por economistas desenvolvimentistas ou liberais dos governos petista-tucano, reside na conjuntura atual de crescimento da China (casa dos 11% em 2008) e seus investimentos privados impulsionados por megaprojetos industriais e infra-estruturais com regras de licenciamento ambiental e compensação de danos propícias ao empreendedor.

Na China, estudos demonstram que 67% das cidades apresentam índices extremos de poluição atmosférica, cerca de 59% dos seus rios possuem alta degradação e 54% dos lençóis freáticos estão bastante abaixo do critério de água potável estipulado pelo Estado da China. O país que mais cresce no mundo sofre séries sucessivas de pequenas e mega-catástrofes ambientais associadas, desde a hidrelétrica Três Gargantas que atinge 116 cidades e desloca 2 milhões de pessoas, até o elevado risco das mais de 20 mil infrações mensais por despejo irregular de dejetos químicos industriais no ambiente. Isso sem falar nas emissões de carbono por queima de florestas e combustíveis. Talvez toda a cadeia ecossistêmica dos seres vivos na China e sua complexidade ambiental estejam comprometidas, devido à relação de interdependência sistêmica existente entre as cadeias, tudo com importante repercussão no ambiente global.

O modelo econômico de crescimento capitalista altamente agressivo (típica herança do autoritarismo estalinista), adotado pela China no último período e que torna o PAC de Lula fichinha, combinado a regras ambientais quase inexistentes, estão possibilitando esse desastre global. A última grande “campanha ambiental” promovida pelo governo chinês, em 2005, acabou desmoralizada com a multa de 200 mil yuans aplicada a uma usina poluidora do rio Jinsha, quantia irrisória diante dos bilhões de yuans em investimentos do empreendimento e da gravidade dos impactos gerados. Anualmente, 20 mil casos de crimes ambientais sérios escapam da justiça chinesa impunemente. E quando não escapam as empresas poluidoras não temem governo, justiça, multas ou legislação ambiental na grande China pós-Mao.

No Brasil, hoje, empreiteiras e ruralistas ainda mantêm certo respeito e temor à legislação ambiental, conseqüência da própria lei e por serem submetidos muitas vezes a exigências e negociações sob pressões do movimento de massas e ações do Ministério Público. Com o PAC e a reforma ambiental, o que o governo pretende é que não haja mais isso. O que está acontecendo é que o processo democrático de licenciamento ambiental previsto atualmente – que deveria envolver MMA, IBAMA, estados, municípios, CONAMA, conselhos locais e regionais, sociedade civil, comunidade científica etc. – está sendo desarticulado definitivamente, assemelhando-se ao da China.

Os líderes do governo na Câmara dos Deputados, Henrique Fontana (PT/RS); Sarney Filho (PV-MA); o presidente da Comissão de Meio Ambiente, Roberto Rocha (PSDB/MA); o coordenador da bancada agropecuária, Valdir Colatto (PMDB/SC) e o ruralista Onyx Lorenzoni (DEM/RS), compõem o comando da reforma anti-ambiental em curso na Câmara dos Deputados. Falam em desjudicialização do licenciamento ambiental. Falam em agilização do processo. Na prática, querem impedir que questionamentos técnicos e/ou da sociedade civil ganhem dimensão legal capaz de interferir e democratizar o projeto original do empreendedor privado-estatal.

Esse entendimento “chinês” é a base principal dos projetos aprovados: MP 458/09 da grilagem na Amazônia e Decreto-Lei 6848/09 que limita a compensação ambiental em 0,5% do custo da obra. Também orientam os projetos em tramitação os PLP 12/03 e PL 5367/09, os próximos a serem votados após o recesso do Congresso Nacional. Esses últimos determinam que um único ente federado seja responsável pelo licenciamento ambiental, o que hoje é responsabilidade concorrente e complementar entre União, estados e municípios, reforçando os princípios da precaução e da prevenção ambiental. Também acabam com o Estudo Prévio de Impacto Ambiental junto ao órgão licenciador estadual, peça inicial e elementar de qualquer processo técnico sério e consubstanciado de análise de riscos e gestão ambiental. O estudo prévio é o início do dimensionamento da extensão do impacto. Como diz o ditado, pau que nasce torto, nunca se endireita.

O Brasil possui algumas das maiores empreiteiras do mundo, que adquiriram excelência em grandes obras de engenharia e acumularam patrimônios bilionários (Odebrecht, Camargo Corrêa, Engevix-Themag) notadamente a partir dos anos 1950 e do milagre econômico dos 1970 – das três maiores hidrelétricas do mundo, duas são brasileiras. Os Estudos e Relatórios de Impactos Ambientais (EIA/ RIMA) dessas grandes obras só começaram a ser adotados no Brasil no início dos anos 1980, apesar de serem conhecidos no mundo desde os anos 1960.

A Constituição Federal de 1988 e as legislações complementares do CONAMA consolidaram o arcabouço legal sobre meio ambiente existente hoje no Brasil, uma referência internacional. São fruto das mobilizações sociais e conquistas populares das Diretas Já. Esse processo gerou a regulamentação da obrigatoriedade de relatórios e estudos de impactos ambientais e políticas de compensação e mitigação de danos sócio-ambientais com participação da sociedade. É o arcabouço legal que perdurou até o desmonte atual de Lula e seu escudeiro fiel Carlos Minc.

Formam um conjunto de princípios e procedimentos legais e institucionais que eram adotados até há alguns meses atrás, quando começaram a cair com o ataque recente do Congresso, através da frente governo/ruralistas/empreiteiros. É o caso do Decreto 6848/09, que fixa o teto de 0,5% para compensação sócio-ambiental, independentemente do grau de prejuízo à sociedade e ao ambiente causado pela empreiteira e seu projeto. Esse decreto contraria até jurisprudência e decisão do STF, que vincula o valor da compensação ao grau do impacto causado. Contraria também a Conferência Rio-92 e o princípio jurídico do poluidor-pagador, onde prejuízos ambientais são reparados integralmente pelos causadores. O decreto dissocia dano e reparo. É um dos marcos da aliança ambiental Brasil-China. Basta lembrar das multas em yuans. A partir de agora, os símbolos do ridículo anti-ambiental podem ser yuans e reais.

As Resoluções N° 01 e N° 06 de 1986 do CONAMA e outras que seguiram são o marco da normatização e da efetividade da legislação ambiental brasileira após a redemocratização, definindo o conceito legal de impacto ambiental e compensação. A reforma ambiental em curso no Congresso Nacional propõe redefinir os princípios e as regras dos estudos de impacto e compensação ambiental, estabelecidas e adotadas por Poder Público e empreendedores desde os anos 1980.

Sob alegação jurídica de conferir consistência constitucional à normatização ambiental (competência legal que de fato o CONAMA não possui), promove um retrocesso de no mínimo 30 anos, pois a tendência é que se volte a patamares de permissividade ambiental anteriores aos anos 1960. Os investimentos do PAC em infra-estrutura são os maiores feitos no Brasil desde JK e dos governos militares em volume de recursos financeiros. Esquecem apenas que a humanidade evoluiu mais de meio século desde então e descobriu o aquecimento global e as tecnologias limpas. Não há mais espaço no Planeta Terra para que Brasil, China e Índia “tenham o direito” de se desenvolver nos patamares imperialistas de EUA e Europa do passado, linha defendida pela social-democracia ambiental. O tempo histórico não o permite mais.

Lula e o Congresso resolveram abrir definitivamente as alas para empreiteiras executarem os R$ 506 bilhões do PAC e para ruralistas executarem a Amazônia. Ainda há tempo de resistir, unificando a luta de indígenas, ribeirinhos, atingidos por barragens, castanheiras, extrativistas do açaí, seringueiras, parteiras, trabalhadores urbanos etc. Essa população está ameaçada, bem como está o Código Florestal, a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, entre outros marcos da legislação ambiental brasileira.
(...)

As soluções a essa crise ambiental devem partir da negação dos modelos neoliberais que promovem catástrofes humanas e ambientais e às ditas políticas de desenvolvimento sustentado ou eco-sociais e seus eco-procedimentos, que se inscrevem nas vias de ajuste da economia neoliberal aos processos de degradação ambiental e aquecimento global.

A construção de abordagens teóricas e políticas adequadas a esta problemática passam pela afirmação de outra racionalidade de mundo, pela construção da teoria da Racionalidade Ambiental, que Enrique Leff define como o complexo processo de formulação epistemológica interdisciplinar, que habita a visão materialista da história de Marx; o naturalismo dialético de Bookchin; a retórica pós-moderna de Baudrillard; a lei da entropia de Georgescu-Roegen; a termodinâmica dissipativa de Prigogine; o pensamento da complexidade de Morin; a racionalidade comunicativa de Habermas; e a ontologia de Heidegger. É um difícil caminho científico e político, que somente pode ser trilhado por socialistas revolucionários a partir do conhecimento tradicional de populações exploradas ou autóctones.

Quando o gargalo se estreita: manipulação, conflito, e radicalização no coração do Império



Sistema atual americano de saúde deixa 46 milhões de fora


Cerca de 46 milhões de pessoas nos EUA não têm plano de saúde. Como não existe um Sistema Único de Saúde (SUS) no país, significa que, se essas pessoas ficarem doentes, precisarão vender o carro ou hipotecar a casa para pagar as contas do hospital. Despesas médicas são o principal motivo de falências pessoais no país.

A reportagem é de Patrícia Campos Mello e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 23-08-2009.

Parte dos americanos com mais de 65 anos ou portadores de deficiências está coberta por um sistema chamado Medicare, no qual o governo paga os hospitais e médicos que atendem o beneficiário. E parte da população de baixa renda entra no Medicaid, outro sistema bancado pelo governo. Mas grande parte da população - esses 46 milhões - está em um buraco negro. Muitos estão em uma faixa intermediária - não são tão pobres para receber o Medicaid, nem tão idosos para o Medicare -, não têm plano de saúde no emprego e não conseguem pagar um privado..

Os segurados ou têm dinheiro para pagar um plano privado ou têm um emprego que oferece um plano de saúde. Nos EUA, as empresas podem despedir grávidas e até pessoas com câncer. Ter um plano de saúde tampouco garante que a pessoa não terá de pagar por seus tratamentos médicos.

A maioria dos planos estabelece um limite de gastos anual e, em seguida, uma franquia que o seguro só começa a reembolsar depois que o paciente paga sua contrapartida. Os planos também podem se recusar a fazer seguro para pacientes com histórico de doença crônica ou pré-existente.

Para completar, o sistema de saúde é uma bomba-relógio para as contas públicas. O Medicare, por exemplo, vai se tornar deficitário em oito anos.Os gastos com saúde crescem a uma taxa superior à inflação. Os EUA são o país que mais gasta com saúde - US$ 7 per capita, ou 16% do PIB -, mas está em 37º lugar em qualidade de atendimento, ao lado da Eslovênia, segundo o ranking da Organização Mundial de Saúde.

Para que os 46 milhões de cidadãos sem plano de saúde passem a ter um, o governo precisará gastar US$ 1 trilhão ao longo de dez anos. O dinheiro viria de uma gestão mais eficiente do Medicare e do Medicaid e de um aumento de impostos sobre quem ganha mais de US$ 250 mil por ano.

O presidente americano, Barack Obama, quer criar um mercado de trocas de planos de saúde, onde seguradoras privadas competiriam com a seguradora estatal ou cooperativas. Todos os americanos seriam obrigados a ter um plano de saúde e o governo subsidiaria aqueles que não pudessem pagar. A competição reduziria os preços. As seguradoras privadas estariam proibidas de fixar tetos para gastos e franquias, além de não poderem discriminar pacientes. Também haveria painéis para julgar a eficiência de tratamentos de saúde como forma de cortar custos.

Muitos acham, porém, que esses painéis resultarão em um racionamento de assistência médica, que um grupo de burocratas poderá negar os tratamentos mais caros aos segurados. Os idosos são especialmente resistentes às reformas, porque a maioria já está coberta pelo Medicare.

Além disso, as seguradoras e os defensores do livre mercado temem que a concorrência com o setor estatal ponha os preços tão baixos que levariam os planos privados à falência.







Reforma do sistema de saúde desperta o extremismo racial nos EUA


Na segunda-feira passada, dois homens foram vistos carregando armas semiautomáticas diante do local onde o presidente pronunciava seu mais recente discurso sobre a reforma da saúde. Questionado sobre o porquê das armas, um dos homens respondeu: "Porque eu posso fazer isso. No Arizona, ainda tenho algumas liberdades." Essas observações somam-se a uma série inquietante de gestos extremistas que exprimem repulsa pelo presidente. Como um manifestante em Maryland que segurava um cartaz com os dizeres: "Morte a Obama" e "Morte a Michelle e a suas duas filhas idiotas".

O artigo é de Michael Jeffries, professor de estudos americanos do Wellesley College, em Massachusetts, publicado pelo jornal inglês The Guardian e reproduzido pelo jornal O Estado de S. Paulo, 23-08-2009.

Obama terá muita dificuldade para se concentrar na política e, ao mesmo tempo, em repelir uma série de ataques da direita. Desde o começo, ele reconheceu que há necessidade de um debate legítimo sobre a melhor maneira de reformar o sistema de saúde, argumentando que seu plano pretende oferecer a máxima eficiência e estabilidade ao maior número possível de americanos. Ele menosprezou as farpas desonestas e incendiárias dos que querem pintá-lo como o diabólico conspirador do "painel da morte".

O presidente chegou a ressaltar o componente emocional das recentes flechadas e a destacar a propensão da imprensa a dar mais atenção a episódios de ira e radicalismo do que a episódios de diálogo educado. Embora se refira ao extremismo exagerado com o qual é recebido a toda hora, ele se recusa a analisar diretamente seu teor ou a especular sobre sua fonte.

Em um artigo publicado no jornal Observer, o comentarista político Michael Crowley argumenta que o extremismo manifestado nas multidões iradas e nos homens armados nas reuniões de Obama nas cidades visitadas representa a última fase da Revolução do Branco Irado na política americana.

Segundo Crowley, esse arquétipo político foi cunhado na década de 90, quando os brancos que elegeram Bill Clinton, em 1992, votaram no Partido Republicano nas eleições legislativas de 1994. Na era Obama, o irado homem branco apareceu como "Joe, o Encanador" na campanha presidencial, protestou contra a nomeação de Sonya Sotomayor para a Suprema Corte e acusou Obama de racismo por seus comentários sobre a prisão do professor Henry Louis Gates.

Crowley faz bem em ligar os pontos entre as manifestações anteriores de ira politizada e as de hoje. Mas é importante reconhecer que, atualmente, a intensidade da raiva que estamos testemunhando difere da de tempos passados em razão da raça de Obama.

Nos piores casos, sentimentos conscientes de medo e ameaça que empurram cidadãos descontentes para uma ira descarada são intensificados por sentimentos subjacentes de ameaça e repugnância pela ideia de que outra pessoa, que não um branco, passe a ser a personificação e o representante da nação.

Se for preciso encontrar um culpado, segundo o conceito do branco irado, Crowley argumenta que a melhor maneira de derrotar esses guerreiros da cultura será reerguendo a economia e destruindo a ira em suas raízes - nas estruturas econômicas, e não em patologias culturais.

O debate sobre a reforma do sistema de saúde é, literalmente, uma questão de vida ou morte, de dor e sofrimento e da proliferação de práticas imorais adotadas pelos planos de saúde. Assim como é importante falar de controle de qualidade e de eficiência, é fundamental definir a reforma da saúde como uma obrigação moral - como algo que devemos uns para com os outros, como americanos e pais das futuras gerações.




''Indústria promove campanha de medo''

As seguradoras estão usando táticas de medo para impedir a aprovação da reforma de saúde, repetindo um padrão já usado durante a tentativa de aprovação da reforma no governo de Bill Clinton (1993-2001). A afirmação é de Wendell Potter, ex-executivo e porta-voz da Cigna, uma das maiores seguradoras de saúde dos EUA. Ele depôs na Comissão de Comércio, Ciência e Transporte do Senado americano em junho e afirmou que, desde os anos 90, as seguradoras ganharam fôlego e poder para dominar o mercado. "O que temos é um sistema de saúde subordinado a Wall Street", disse.

A entrevista é de Janaína Lage e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 23-08-2009.

Eis a entrevista.

Por que o sr. abandonou a carreira nas seguradoras de saúde?

Percebi que as práticas adotadas estavam quebrando o sistema de saúde. As leis não protegem o consumidor o suficiente. Deixei meu emprego em maio de 2008, não queria mais ser um porta-voz da indústria. Decidi falar sobre o tema em junho deste ano.

O que são as táticas de medo das seguradoras?

A indústria financia "grupos independentes". Oferece dinheiro para que eles atuem e assustem as pessoas espalhando que o governo vai assumir o sistema de saúde, que a reforma significa socializar o serviço de saúde e a medicina. Isso já aconteceu.

Quando?

Em 2007, a indústria se mobilizou para desacreditar o filme "Sicko", de Michael Moore. Usou um grupo chamado Health Care America. A ideia era mostrar que os problemas apresentados não eram verdadeiros. Lançaram ainda a Health Benefits Coalition que, no início da década, tentava desviar a atenção de projetos de leis para direitos dos pacientes.

Qual é a diferença entre a ação agora e no governo Clinton?

A estratégia é a mesma: usar aliados em negócios, na mídia conservadora e no Congresso para espalhar desinformação. Uma das diferenças é que eles têm atuado de forma mais covarde. Em 1993, eles assumiam que financiavam parte da campanha de "Harry e Louise" [propaganda que ajudou a afundar a proposta de reforma de Clinton, em que um casal de classe média se desesperava com a burocracia do plano e encorajava o povo a ligar para os representantes no Congresso].

Quem tem interesse em vetar ou interferir na reforma?

Fabricantes de remédios, de equipamentos, membros da comunidade médica, seguradoras. Quem ganha dinheiro com o sistema atual.

Mas há propaganda a favor paga pelas farmacêuticas...

Porque de um lado eles pagam pelos anúncios para passar uma imagem de que apoiam a reforma. De outro, atuam por meio de lobistas e grupos "independentes" para influenciar a opinião pública.