Por: VINICIUS TORRES FREIRE
Mundo esteve à beira de uma catastrófica Segunda Grande Depressão, mas reações à crise se mostram conservadoras
A GRÉCIA foi para o vinagre na sexta-feira. No mesmo dia, os países do G20, reunidos em Washington, falavam de planejar o fim dos estímulos fiscais e monetários que evitaram a Grande Depressão. Isto é, um plano para reduzir gastos dos governos e, talvez, tirar os juros do nível zero.
Em suma, a conta da crise está chegando. Serão anos de arrocho e baixo crescimento no mundo rico, na Europa em particular. Apesar de algumas falências bancárias, do processo contra o bancão Goldman Sachs ou do reconhecimento de que as agências de risco foram cúmplices da bandalha da banca mundial, o custo do "ajuste" vai cair mesmo é no lombo do cidadão comum. Por ora, a reação política "popular" é entre nula e escassa.
Mesmo mudanças políticas conservadoras, que mal arranham o "establishment", estão atoladas. Na quinta-feira, Barack Obama fez mais um discurso pela mudança das leis do sistema financeiro americano, novas normas apenas prudentes.
Mas Obama "pediu" que os banqueiros se juntassem a ele, em vez de combatê-lo com lobbies. De resto, o presidente americano começou a fazer tais discursos "populistas" porque sua popularidade baixou e há um difuso sentimento "antielite" nos EUA (política e financeira).
Obama quer surfar nessa onda, que, no entanto, é uma onda conservadora. Os EUA estão entre a onda de conservadorismo popular, "antielite", e o castelo de conservadorismo da elite financeira.
Na Europa, o roteiro escrito para a Grécia mostra que a "grande crise do neoliberalismo", no dizer tolo do que se ainda chama de esquerda, vai sendo resolvida na base do "business as usual".
A Grécia, na prática, quebrou. Está pedindo até US$ 20 bilhões ao FMI e US$ 40 bilhões aos primos da União Europeia, pois estava à beira de dar um calote, em maio. A condição para que os gregos levem o empréstimo é arrocho duríssimo. Corte de gastos com saúde, aposentadorias, salários de funcionários públicos, além de liberalização do mercado de trabalho.
Em suma, a Grécia terá de arrochar o consumo, baixando salários reais, o que não pode fazer via desvalorização da moeda, pois não controla o euro. O caso grego é um aviso para Portugal, Irlanda, Espanha e Itália: comecem logo seus arrochos.
Alguma mudança política pode ocorrer no governo europeu. Viu-se agora claramente que é difícil administrar uma união monetária (o euro) sem que exista um governo europeu, com um Tesouro unificado: como um país, de fato. Isso, porém, é mudança de longo prazo.
Mas isso seria uma mudança "por cima". Nem de longe são visíveis uma revolta popular na Europa ou mudanças partidárias importantes: não há praticamente partidos alternativos, afora os quase fascistas.
Difícil imaginar até mesmo alternativas para a política econômica do Ocidente rico, da Europa em particular. A ascensão da Ásia emparedou a Europa, presa entre custos crescentes do seu sistema social e a necessidade de conter salários para se manter "competitiva" no mercado mundial.
O andar da carruagem da política mundial parece andar no ritmo da mudança gradual -parece que chegamos ao fim da história rápida.