Por: Henrique Cortez
(coordenador do EcoDebate)
"Se realmente acreditamos no desenvolvimento sustentável, se apoiamos e defendemos um outro modelo de desenvolvimento, então devemos nos preparar em enfrentar restrições, limites e o condicionamento de nossos interesses individuais aos interesses de toda a sociedade, nacional e planetária.
Caso contrário, continuaremos meramente discursivos. Ou, dizendo de outra forma, seremos tão hipócritas quanto os políticos que elegemos…"
(Henrique Cortez)
Já sabemos que o planeta passa por uma grave crise sócio-ambiental, mas nem sempre é claro que o ambientalismo também se debate com diversas questões conceituais, éticas e pragmáticas.
Desde a Conferencia de Estocolmo, em 1972 (leiam a Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano em http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/doc/estoc72.htm ), inúmeras transformações sociais e econômicas, com destaque à globalização, também afetaram os militantes ambientais.
No Brasil atual, vivemos um momento estranho e, em certos momentos, esquizofrênico. Talvez porque existam muitas questões em aberto e com inúmeras respostas possíveis. Afinal, não existem soluções simples para temas complexos.
Não tenho a pretensão de ter as respostas e, pessoalmente, não creio que alguém tenha, mas acho que devo colocar em debate algumas destas questões, para que possamos refletir, discutir, questionar e, se possível, encontrar as melhores alternativas possíveis. Colocado o desafio, vamos lá…
• O ambientalismo é um movimento social? Se for, por que não consegue integrar-se na agenda comum dos demais movimentos sociais e populares?
É evidente que é um movimento social, mas creio que herdamos um equivoco de origem a partir do ambientalismo europeu, muito próximo dos movimentos pacifistas, mas sem ligação com as questões de cidadania.
A Europa já não precisa discutir os temas essenciais de cidadania, tão presentes nos paises em desenvolvimento. Precisamos nos preocupar com exclusão social e econômica; educação; saúde; emprego/renda; trabalho escravo/degradante; desenvolvimentismo predatório; direitos indígenas; quilombolas; populações tradicionais; reforma agrária, etc.
Raras ONGs ambientalistas conseguem traçar uma agenda comum com os agentes sociais e os movimentos populares como a CPT, o MST, o MAB, as organizações de defesa dos direitos humanos, dos indígenas, dos quilombolas.
Reafirmo que isto pode ter sentido na Europa, mas no caso do Brasil e demais paises em desenvolvimento isto é ilógico.
Felizmente a imensa maioria dos militantes ambientais já superou a fase inicial do movimento, baseado na defesa “das plantinhas e bichinhos”, mas acredito que precisamos dar um passo além de nossos companheiros europeus, que não precisam e não querem questionar o modelo de desenvolvimento de seus países.
No Brasil e nos demais países em desenvolvimento, adotamos um modelo de desenvolvimento socialmente injusto, economicamente excludente e ambientalmente irresponsável e este é o grande tema que nos aproxima de todos os demais movimentos sociais. Pelo menos deveria nos aproximar.
Se não questionarmos o modelo de desenvolvimento, ficaremos presos a temas meramente acessórios, em um ambientalismo de butique que não vai muito além de discutir as sacolinhas de supermercado ou fazer a separação do lixo reciclável.
Também não podemos deixar de lado o atual padrão de consumo, que é evidentemente insustentável. Consumo sustentável supõe grandes mudanças culturais, com significativos impactos sociais e econômicos.
Sugiro uma visita ao Relógio da Terra (http://blog.ecodebate.com.br/relogio-da-terra/ ) para uma compreensão do atual “andar da carruagem” do planeta.
Ainda sobre sustentabilidade de consumo, um exemplo simples, mas significativo, está na produção de automóveis. Uma agenda eficaz de combate ao aquecimento global exigiria que atual frota mundial de 800 milhões de automóveis fosse, no mínimo, reduzida à metade.
Mas isto traria um grande impacto econômico, com a redução da capacidade de produção da industria automotiva, e impactos sociais, com a redução de dezenas de milhares de empregos e uma grande redução na arrecadação de impostos.
Assim, evitamos o tema, simplesmente propondo automóveis mais eficientes, menos poluentes, com combustíveis “verdes” (se é que isto realmente existe). Enquanto isto, em 2007, serão produzidos mais de 25 milhões de automóveis.
Defendemos os agro-combustíveis de forma veemente, mas não questionamos o modelo oligarca de produção, a exploração de mão-de-obra e o aumento da fronteira agrícola. Em nenhuma hipótese os fins justificam os meios e com os agrocombustíveis não pode ser diferente.
Uma agenda ambiental, minimamente coerente, resultará em impactos sociais e econômicos em escala global. Se não compreendermos isto, continuaremos tratando câncer com aspirina. Ou pouco mais que isto.
Estas questões sem resposta são fortes argumentos para que nos aproximemos dos movimentos sociais e populares, que questionam e lutam contra estas seqüelas do modelo de desenvolvimento e de consumo.
A única diferença é que eles estão tratando dos temas e agindo em escala local e o ambientalismo deve agir em escala global porque a crise ambiental não reconhece fronteiras.
Reafirmo que não tenho as respostas, mas também reafirmo a minha convicção pessoal de que precisamos de uma ampla reflexão, de uma severa autocrítica no que fazemos ou propomos e de humildade para nos integrarmos aos demais movimentos sociais, companheiros de jornada por um outro mundo possível.
Ou, então, assumimos um mero e decorativo ambientalismo fashion, fazendo de conta que é o suficiente.
Desde a Conferencia de Estocolmo, em 1972 (leiam a Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano em http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/doc/estoc72.htm ), inúmeras transformações sociais e econômicas, com destaque à globalização, também afetaram os militantes ambientais.
No Brasil atual, vivemos um momento estranho e, em certos momentos, esquizofrênico. Talvez porque existam muitas questões em aberto e com inúmeras respostas possíveis. Afinal, não existem soluções simples para temas complexos.
Não tenho a pretensão de ter as respostas e, pessoalmente, não creio que alguém tenha, mas acho que devo colocar em debate algumas destas questões, para que possamos refletir, discutir, questionar e, se possível, encontrar as melhores alternativas possíveis. Colocado o desafio, vamos lá…
• O ambientalismo é um movimento social? Se for, por que não consegue integrar-se na agenda comum dos demais movimentos sociais e populares?
É evidente que é um movimento social, mas creio que herdamos um equivoco de origem a partir do ambientalismo europeu, muito próximo dos movimentos pacifistas, mas sem ligação com as questões de cidadania.
A Europa já não precisa discutir os temas essenciais de cidadania, tão presentes nos paises em desenvolvimento. Precisamos nos preocupar com exclusão social e econômica; educação; saúde; emprego/renda; trabalho escravo/degradante; desenvolvimentismo predatório; direitos indígenas; quilombolas; populações tradicionais; reforma agrária, etc.
Raras ONGs ambientalistas conseguem traçar uma agenda comum com os agentes sociais e os movimentos populares como a CPT, o MST, o MAB, as organizações de defesa dos direitos humanos, dos indígenas, dos quilombolas.
Reafirmo que isto pode ter sentido na Europa, mas no caso do Brasil e demais paises em desenvolvimento isto é ilógico.
Felizmente a imensa maioria dos militantes ambientais já superou a fase inicial do movimento, baseado na defesa “das plantinhas e bichinhos”, mas acredito que precisamos dar um passo além de nossos companheiros europeus, que não precisam e não querem questionar o modelo de desenvolvimento de seus países.
No Brasil e nos demais países em desenvolvimento, adotamos um modelo de desenvolvimento socialmente injusto, economicamente excludente e ambientalmente irresponsável e este é o grande tema que nos aproxima de todos os demais movimentos sociais. Pelo menos deveria nos aproximar.
Se não questionarmos o modelo de desenvolvimento, ficaremos presos a temas meramente acessórios, em um ambientalismo de butique que não vai muito além de discutir as sacolinhas de supermercado ou fazer a separação do lixo reciclável.
Também não podemos deixar de lado o atual padrão de consumo, que é evidentemente insustentável. Consumo sustentável supõe grandes mudanças culturais, com significativos impactos sociais e econômicos.
Sugiro uma visita ao Relógio da Terra (http://blog.ecodebate.com.br/relogio-da-terra/ ) para uma compreensão do atual “andar da carruagem” do planeta.
Ainda sobre sustentabilidade de consumo, um exemplo simples, mas significativo, está na produção de automóveis. Uma agenda eficaz de combate ao aquecimento global exigiria que atual frota mundial de 800 milhões de automóveis fosse, no mínimo, reduzida à metade.
Mas isto traria um grande impacto econômico, com a redução da capacidade de produção da industria automotiva, e impactos sociais, com a redução de dezenas de milhares de empregos e uma grande redução na arrecadação de impostos.
Assim, evitamos o tema, simplesmente propondo automóveis mais eficientes, menos poluentes, com combustíveis “verdes” (se é que isto realmente existe). Enquanto isto, em 2007, serão produzidos mais de 25 milhões de automóveis.
Defendemos os agro-combustíveis de forma veemente, mas não questionamos o modelo oligarca de produção, a exploração de mão-de-obra e o aumento da fronteira agrícola. Em nenhuma hipótese os fins justificam os meios e com os agrocombustíveis não pode ser diferente.
Uma agenda ambiental, minimamente coerente, resultará em impactos sociais e econômicos em escala global. Se não compreendermos isto, continuaremos tratando câncer com aspirina. Ou pouco mais que isto.
Estas questões sem resposta são fortes argumentos para que nos aproximemos dos movimentos sociais e populares, que questionam e lutam contra estas seqüelas do modelo de desenvolvimento e de consumo.
A única diferença é que eles estão tratando dos temas e agindo em escala local e o ambientalismo deve agir em escala global porque a crise ambiental não reconhece fronteiras.
Reafirmo que não tenho as respostas, mas também reafirmo a minha convicção pessoal de que precisamos de uma ampla reflexão, de uma severa autocrítica no que fazemos ou propomos e de humildade para nos integrarmos aos demais movimentos sociais, companheiros de jornada por um outro mundo possível.
Ou, então, assumimos um mero e decorativo ambientalismo fashion, fazendo de conta que é o suficiente.