"Por mais que encontremos na história uma autonomização do simbolismo, esta não é um fato último, e não se explica por si própria. Existe um utilização imediata do simbólico, onde o sujeito pode se deixar dominar por este, mas existe também uma utilização lúcida ou refletida. Mesmo se esta última nunca pode ser garantida a priori (não se pode construir uma linguagem, nem mesmo um algorítmo, no interior do qual o erro seja "mecanicamente" impossível), ela se realiza, mostrando assim a via e a possibilidade de uma outra relação onde o simbólico não é mais autonomizado e pode adequar-se ao conteúdo. Uma coisa é dizer que não podemos escolher uma linguagem em uma liberdade absoluta, e que cada linguagem se apodera do que "deve ser dito". Outra coisa é acreditar que somos fatalmente dominados pela linguagem e que só podemos dizer o que ela nos leva a dizer. Não podemos jamais sair da linguagem, mas nossa mobilidade na linguagem não tem limites e nos permite tudo questionar, inclusive a própria linguagem e nossa relação com ela. O mesmo ocorre em relação ao simbolismo institucional - exceto evidentemente que o grau de complexidade é neste caso incomparavelmente mais elevado. Nada do que pertence propriamente ao simbólico impõe fatalmente o domínio de um simbolismo autonomizado das instituições sobre a vida social; nada, no próprio simbolismo institucional, exclui seu uso lúcido pela sociedade - sendo também neste caso evidente que não é possível conceber instituições que impeçam "por construção", "mecanicamente" a sujeição da sociedade ao seu simbolismo."
(In, A Instituição Imaginária da Sociedade, pags.152/153)
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