A entrevista é de Natalia Aruguete e
Adriana Amado e está publicada no jornal argentino
Página/12, 12-09-2011. A tradução é do
Cepat.
Eis a entrevista.
Por que acredita que hoje se fala tanto de
meios de comunicação?
Os meios de comunicação fazem parte da cultura geral
da sociedade. Antes se falava da chuva porque era o que preocupava o camponês.
Em um mundo hipermidiatizado como o nosso, falar dos meios de comunicação é a
nossa referência cotidiana para poder falar do mundo. Alguém dizia que o
importante de uma sociedade é encontrar as linguagens apropriadas para falar do
mundo. O futebol, os meios de comunicação e, sobretudo, a televisão são
linguagens para falar do mundo. Falamos do mundo através de um programa de
televisão.
Colocado dessa maneira soa
banal.
Não, não. O problema grave da sociedade contemporânea
é que cada vez mais temos menos em comum. Então, que haja alguma coisa comum em
torno da qual nos encontremos e sobre a qual possamos conversar sem
desigualdades, sem ser cultos ou políticas de poderosos, é bom. Sem colocar
termos morais, mas como condição adequada para conversar na vida pública e ter
algo em comum, me parece que os meios de comunicação são maravilhosos. O grande
mérito de governos como o da Argentina, Equador ou Venezuela é que souberam onde
situar uma linguagem comum com a sociedade. Creio que essa é a saúde mental
pública de uma sociedade, ter do que falar, poder criticar. Se que em relação à
democracia ou aos políticos não temos nada a propor, em relação aos meios de
comunicação, todo o mundo sabe como seria um programa de televisão melhor, como
faria um jornal melhor, um programa de rádio melhor!
Os três países que menciona têm suas
particularidades. Acredita que esses governos conseguiram instalar o tema dos
meios de comunicação num cenário social mais politizado?
Creio que tem a ver com um projeto político. A
convivência entre meios de comunicação e poder foi histórica, mas por alguma
razão o que os governantes das sociedades latino-americanas descobriram – e
também Berlusconi e Sarkozy – é que o tema
midiático lhes dá a possibilidade de conexão com a sociedade e de disputar um
relato coletivamente, sem perder legitimidade. É como debater sobre um tema que
é popular, mas que não tem tantas implicações na hora de governar, bem ou mal.
Creio que encontraram um tema que permite exibir-se, mas que é, ao final das
contas, uma forma de não questionar o poder.
Porque não questionaria o poder?
Há três condições para que isso aconteça. Uma é que a
liberdade de informação deixou de ser propriedade dos donos dos meios de
comunicação e dos jornalistas, é um valor social, um direito humano que começou
a ser disputado. Quando se descobre o direito da comunicação, em 2003, todo o
mundo começa a dizer: "Ah, é que o direito à comunicação não pertence aos
jornalistas, nem às empresas, mas à sociedade", ou "O Estado não tem que se
declarar impedido, mas deve fazer com que as pessoas se comuniquem". Esse é um
ganho impressionante que torna o assunto mais político. Por outro lado, as
tecnologias mudaram o mundo e a comunicação não é a mesma de antes. As leis dos
meios de comunicação precisam ser feitas porque o contexto tecnológico mudou e
hoje as pessoas sentem que "já não há o direito de que eu não me expresse".
Contudo, a brecha tecnológica continua sendo
muito grande, porque dizer "todo o mundo" significa, de fato, referir-se apenas
aos que têm voz.
Concordo em que há uma brecha tecnológica, mas minha
discussão vai em outro sentido. Querem nos obrigar a pensar, a partir da agenda
pública ilustrada, que a grande virtude é a internet. Mas a internet é uma
revanche do mundo ilustrado letrado. No letrado vai haver brecha, não apenas
economicamente, mas por alfabeticidade. Onde a brecha está se rompendo é no
celular. Em quase todas as sociedades há mais celulares que televisores. A
internet está acabando com a imprensa escrita, mas o celular está acabando com a
televisão...
Você propôs que a televisão é feita para
imbecis, que não há necessidade de pensar. Qual é a diferença em relação ao
celular?
Mudando de discurso, eu penso os meios de comunicação
a partir das narrativas e do ritual que produzem, mais que a partir dos
conteúdos e das estéticas. O mais importante para poder desenhar um meio é que
ritual associamos a ele. Por que fracassamos em todas as tentativas de fazer uma
televisão inteligente? Por que fracassamos em todas as
tentativas de formar telespectadores críticos e ativos?
Por quê?
Porque o telespectador crítico não está inscrito no
âmbito de ver televisão, não está inscrito no meio. A condição da televisão
não merece estudar telespectadores críticos porque a promessa que a televisão
faz é: "senhora e senhor, jovem e criança, quando você vê televisão prometo que
vai se descontrair". Todos estes teóricos, como não veem televisão, não sabem
que não se quer ser ativo na hora de ver televisão. É aí que fracassam as
alternativas: porque não lutam contra o espaço da descontração do telespectador.
O celular, assim como a televisão, é caseiro, é do mundo íntimo. A internet, ao
contrário, é ativa. Por alguma razão estranha que eu não entendo bem a gente
liga o computador e começa a apertar teclas. O ritual produzido pela televisão é
o da descontração, e quem briga por este lugar? O celular. Você é uma pessoa
estressada, mas nem bem recebe uma ligação e já está sorrindo. E pega o metrô
sorrindo e falando ao celular e ou tira o celular e joga, devolve você a esse
espaço onde não lhe estão exigindo ser produtivo nem eficiente. Me lembro de um
comercial da MTV em que um jovem de 15 anos se encontra com um
de 17 e este último diz: "e quem disse que tudo tem que ter sentido?". E dizia:
"MTV, o significante sem sentido". Creio que é isso: não
queremos significar. Pedem-nos para significar como amantes, como esposos, como
políticos, como professores, cidadãos, o tempo todo somos exigidos e há um ponto
em que queremos nos desconectar.
Como se articula essa função de "conversa
fiada" com o modelo que defende que a televisão existe para
ensinar?
O melhor que aconteceu às pessoas que fazem televisão
é que aqueles que a criticam não a entendem. É grave porque enquanto não
entendemos o que é que a televisão faz, não poderemos transformá-la. Não
gostamos da televisão que assistimos, isso também é verdade. Não podemos
comemorar que se veja um programa de Tinelli durante duas horas
onde a homenagem ao sem sentido é total. Mas eu queria averiguar quem foi que
inventou que a televisão tem que entreter, educar e informar. Por que não se diz
a mesma coisa da escola? Por que não se diz que a escola foi feita para
entreter, educar e informar? E por que a televisão, sim?
O que deveríamos exigir da televisão como
sociedade?
O espaço em que se colocou a televisão, o ritual
social... devemos exigir que nos entretenha na diversidade do entretenimento. O
mais grave é a monopolização do entretenimento, que a forma de ser entretido
seja o circo, a estupidez, o excesso de riso e de gritaria. Um intelectual é
entretido quando seu discurso nos faz pensar, isso é entretenimento para a
cabeça também. Uma boa novela é entretenimento, um bom conto é entretenimento.
Na música, as coisas vão muito bem, porque nunca exigimos da música conteúdo.
Então, quando se é capaz de ouvir "La cumbiera intelectual", de Kevin
Johansen, e ficar bem, e não é que depois se diz: "Que conteúdo mais
banal o desta música". Devemos começar a reivindicar que pensar também é
entretenimento. Milan Kundera critica a televisão porque diz
que é "passar primeiro pelo emocional para depois chegar à cabeça". Eu digo: o
quê, agora resulta que todos tem os que ir pelo mundo com o radar racional para
que seja bom? Temos que interceptar o conceito de entretenimento e não dizer que
para fazer televisão temos que educar, porque para isso existe o sistema
universitário e a escola.
O que está acontecendo com a noção de
entretenimento na sociedade atual?
Chegamos a tal perversão de valores que exigimos à
universidade que seja divertida, que seja como a televisão. Mas claro, a matriz
do entretenimento está atravessando toda a sociedade em todos os espaços, em
todas as coisas. Se realmente queremos fazer algo pela televisão, devemos
interceptar o conceito de entretenimento. Então somos corajosos para falar em
sala de aula, mas inofensivos para o mercado do entretenimento. O admirável da
proposta comunicacional argentina é que está produzindo conteúdos para os
diferentes entretenimentos. Por exemplo, canal Encontro, que é entretenimento
para os ilustrados, e Futebol para todos, que é entretenimento para o popular.
Você tem Incaa TV para o mundo que acredita que o cinema é o máximo, um mundo
muito pequeno, mas com muita incidência política. Você tem outro para as
crianças porque as crianças também estão aborrecidas de ver essas estupidezes da
Walt Disney, não po rque sejam críticas, mas porque estão
aborrecidas de ver três crianças que morrem em todo o filme por um louco, em
troca de ver alguém que fala como lhes parece mais simpático. Têm Futebol para
todos e humor em 6, 7, 8, que é devolver o humor popular e público. E está
fomentando que as pessoas façam conteúdos por todo o país com seus gostos. Isso
como agenda política pode ter problemas, mas é o que deveria ter sido feito.
Agora toda a televisão pública da América Latina quer educar o povo, inclusive
Chávez. Oito canais, todos para educar revolucionariamente. Não
faz sentido.
Você acredita que no cenário atual mudou a
relação entre meio de comunicação, governo e opinião pública?
O que é a opinião pública? Os colunistas que escrevem
nos meios de comunicação são os representantes da opinião pública? Então, a
opinião pública é ilustrada. Se é isso que entendemos por opinião pública, a
opinião pública é contrária a todos os modelos de comunicação, inclusive o de
Cristina, de Uribe... não importa que seja de
esquerda ou de direita. Mas o que creio que está acontecendo é a multiplicação
de pequenas esferas públicas que não se tocam. Aí o jornalismo tem que voltar a
funcionar. Não temos uma opinião pública, mas mil esferinhas públicas que não
dialogam, isso sim é grave para o jornalismo. Neste momento, os que brigam pela
imprensa são um clube privado de ilustrados brigando entre si. Por isso não têm
nada a ver com a opinião pública que ouve rádio e vê televisão, que é a opinião
pública popular, que é a que vota, que decide a democracia. E isso está
demonstrado no caso colombiano.
De que maneira se expressa na
Colômbia?
Se fosse pela imprensa escrita,
Uribe seria o presidente mais impopular da Colômbia, mas como
passa pela foto, tele e rádio, é o presidente mais popular da Colômbia. Se a
isso acrescentarmos que o cenário da internet, Twitter, Facebook e blogs está
criando pequenas esferinhas públicas nas quais se participa apenas no Twitter,
no Facebook e nos blogs das pessoas que pensam como eu, então não estamos
reunindo os que pensam diferente. Ali, o papel do jornalista se torna
fundamental, porque é o que pode torná-lo diferente. Segundo Juanita
León, uma colombiana especialista em internet, é preciso ser um curador
de opinião como um curador de arte. Arma-se um conceito do mundo como um curador
de arte e diz o conceito é um bem público. O novo jornalista é como um DJ que
mistura sons de todo o mundo, um pouco de blog, um pouco de televisão, um pouco
de rádio, um pouco de imprensa e propõe compreender o mu ndo.
Em termos políticos, como é o novo
jornalista?
Hoje vivemos onde todos geram uma experiência de
passagem, então, o jornalista toma a informação do mundo e o leva a outra
experiência. Antigamente, era o que informava e aí terminava. Hoje, uma pessoa
não entra num sítio, nem acessa um jornal apenas para se informar; entra porque
isso o conecta com um grupo humano, o leva a uma experiência. O político é a que
experiência quero chegar? Sempre digo: "As pessoas não vão a uma conferência
apenas para ouvir conceitos, também vão porque o conferencista lhe parece
agradável, porque vão se encontrar com amigos, porque dão um refrigerio
maravilhoso, vão por um valor agregado".
O jornalista pode deixar de tomar posição no
cenário político-comunicacional que se está conformando na América do
Sul?
Não pode deixar de tomar posição, é impossível. O
triste é que para quase todos os estudantes de jornalismo, os jornalistas são de
esquerda e os meios de comunicação de direita. É ridículo. Se fizer uma
pesquisa, a maioria dos jornalistas se acha "progressista", ao passo que
trabalham em meios de comunicação "retro". Eu não insistiria tanto em que tenham
ou não tenham posição política, mas em que façam bem o ofício, com qualidade
jornalística, que é a invenção mais clássica que há de todos e é elementar. Eu
tenho maior qualidade jornalística se tiver mais de uma fonte. Simples. Se a
minha nota tiver contexto, tenho qualidade sobre uma nota sem contexto. Si, além
disso, narro bem, uso bem o gênero e a linguagem, tenho maior qualidade. E se
ofereço critérios para compreender a realidade, sou ainda melhor jornalista. O
ofício do jornalismo é muito simples.
Esses aspectos que menciona para fazer um
jornalismo de qualidade supõem também uma posição ideológica e política. Não me
refiro apenas à questão das fontes, contextualizar ou não fazê-lo supõe uma
decisão política.
Oxalá fosse por posição política, uma conspiração. Eu
creio que os jornalistas não fazem bem seu ofício por ignorância ou preguiça.
Porque a posição política estaria em qual contexto coloco a notícia, aí sim há
posição política. Em relação às fontes, posso entrevistar três fontes de
esquerda, três de direita e uma de centro. Pode ser que eu escolha as três mais
asquerosas da esquerda e eu as julgue politicamente, mas as coloquei. Há um
juízo de interpretação, isso dou para o mundo. Se narro com uma linguagem
elitista ou não, também é uma posição política. Conseguimos um jornalismo tão
mau que a melhor forma de ler uma notícia é de baixo para cima. Lemos de trás
para frente porque no último parágrafo o jornalista se atreveu a dizer algo. Uma
coisa que me parece malíssima do jornalismo é que chegaram muitos "opinadores
profissionais" que colocam sua opinião sem nenhum dado, sem nenhuma
referência... e opin am. Por que sua opinião deve me interessar?
Por que acredita que é dessa forma que
acontece?
99% das opiniões não têm nenhum fundamento. Ao
contrário, se ofereceram dados, deram contexto, se poderia dizer que lhe
interessa... as melhores opiniões, geralmente, são as dos jornalistas porque
fazem o ofício. O jornalismo não foi feito para os especialistas, o último
humanismo que nos restava é para compreender o mundo, não para os especialistas.
Mas nos deixamos tomar por eles. Aqui, na Argentina, tudo está baseado no
popular e o que eu menos vejo é o popular.
A que se refere com "o popular"?
Vemos o popular usado como critério de variedades
ilustradas, mas não há estéticas populares, não há reconhecimento do popular de
verdade, com suas estéticas, suas morais, suas formas de pensar. Então, será
preciso fazer novamente uma descrição do popular, da opinião pública, da esfera
pública, porque estamos dando goles muito fortes em nome da opinião pública, em
nome da sociedade civil.
Como se observa esta tendência que você
descreve nos meios de comunicação com maior capacidade de fixar
agenda?
Estes novos debates desmascaram o interesse
genuinamente empresarial dos meios de comunicação. Isso que antes era evidente,
mas não se debatia publicamente. Agora, quando todos saem para defender que
liberdade de empresa é igual a liberdade de informação, assumem posturas
contundentes frente a isso. Creio que nisso os meios de comunicação estão se
dando conta de duas coisas: que é um negócio e que, nesse negócio, nunca foram
tão bem sucedidos quanto agora. Nunca tiveram tanta pauta porque há uma
solidariedade do grêmio empresarial. Então, em nome da crise política demitem os
melhores jornalistas, contratam jornalistas pobres, os tornam multimídia e tudo
fica mais barato. Pensa-se: "Por que não mudam de programação e experimentam?".
Porque o negócio vai bem, o que vai mal é o jornalismo.
E a legitimidade?
A legitimidade não importa, eles não estão
interessados na legitimidade, mas no negócio. O problema foi que perderam o
aspecto clássico de um jornalismo que apostasse na democracia, isso já não
importa. Os meios de comunicação devem voltar a ser planejados por jornalistas,
porque caso contrário, seguirão sendo manipulados por empresários que só querem
aumentar a produtividade sem se importar com a qualidade jornalística ou por
políticos que só querem defender os interesses partidários. Se olhamos
historicamente, quando houve diretores ou presidentes de companhias de meios de
comunicação que foram jornalistas, a qualidade aumentou politicamente. É mais
fácil que um jornalista aprenda gerência do que um gerente aprender
jornalismo.
Você acredita que a lei dos meios de
comunicação argentina pode contribuir para reverter este cenário midiático que
você descreve?
Muitas pessoas veem com muita alegria os meios
cidadãos, comunitários. A sociedade não vê com grande agrado que se faça tanto
para os meios públicos, porque não demonstraram ser eficientes em nenhuma parte
do mundo, pareceriam ser governamentais. Na perspectiva de responder às
tecnologias, ao direito à comunicação e aos direitos cidadãos é muito boa. Creio
que a lei dos meios de comunicação da Argentina tem dois problemas: um, que não
se pode resolver, que é o da implementação. O outro, o da autoridade
regulatória. Você pode blindá-la: três da sociedade civil, três da academia,
zero do governo. Mas para que funcione dependem dos seres humanos com saberes;
quem tem dinheiro sempre vai manipular. Na Argentina cometeram o mesmo erro que
na Colômbia.
Qual?
Pensar que pelo fato de virem como representação de
setores sociais são automaticamente bons. Uma figura mais interessante para a
América Latina seria, por exemplo, um fiscal nomeado para ser a autoridade dos
meios de comunicação para a Argentina, mas que não tivesse responsabilidade
política. Então, caso se equivocarem, em quem vamos jogar a culpa? A
responsabilidade se dilui. Ao contrário, se se elege o fiscal ou a autoridade
dos meios de comunicação do povo por uma terna de acadêmicos, meios de
comunicação, etc. e se erige em público diante do Senado. Que tenha
responsabilidade política, e caso exercer mal a sua função pode ser preso.
Até a implementação desta lei tínhamos uma
única autoridade e alguns especialistas diziam que não é a mesma coisa negociar
e cooptar uma pessoa do que duas.
Mas você está pensando em um sistema democrático que
nós não temos. Como dizemos na Colômbia, nós criamos leis para a Dinamarca
quando estamos em "Cundinamarca". É que fazemos leis sem ver como nos
comportamos politicamente. Temos que criar leis que estejam de acordo com a
nossa cultura política, é péssimo importar leis porque não vão funcionar. Na
Colômbia, a Comissão de Televisão tinha cinco membros: dois eleitos pelo
presidente da República. Já existe 15 anos e nunca os governos escolheram uma
pessoa que saiba de televisão ou de comunicação. Temos um representante dos
canais regionais de televisão, nunca se elegeu ninguém que soubesse de televisão
nem de canais regionais. Temos um escolhido pelas faculdades de ciências sociais
e comunicação, que também não escolheram um especialista em comunicação. E um
dos telespectadores, dos críticos de TV, que também não elegeram uma pessoa que
fizesse isso. Me parece que ne ssa ilusão que há sobre a autoridade está grande
parte da frustração da lei atual. E o outro elemento para pensar no futuro está
relacionado aos meios comunitários.
Por quê?
Com o que vão financiar tudo isso? Em um sistema
econômico, eu ponho alguém para produzir que sabe ganhar dinheiro e com seus
impostos faço produzir o resto. Conclusão: a lei argentina coloca o que é
preciso colocar: soluções que na maioria dos casos me parecem corretas, creio
que é a lei modelo a partir da qual pensar outras leis. Mas cada sociedade pode
converter essa lei em uma possibilidade de futuro ou esse ilusionismo midiático
que não leva a lugar nenhum.
Como vê o fato de produzir uma multiplicidade
de canais que não necessariamente terão audiência?
Na televisão vai ocorrer o que acontece com o
jornalismo: que o valor da comunicação está em se expressar, não em vê-la. O
grande gargalo que houve historicamente é que alguns poucos liam, alguns poucos
falavam e muitos viam. Agora acontece que muitos emitem e ninguém vê. É o
direito a se expressar. Cada vez lemos menos e cada vez escrevemos mais. Está
bem que as pessoas estejam escrevendo, o ato de comunicação humana é
expressar-se, não que seja lido por alguém. As boas notícias são a multiplicação
das vozes, a diversidade de expressão, mas a má notícia que tenho é que não
temos mais tempo para ver televisão, não temos como ler tanto. Vamos chegar ao
momento da comunicação expressiva massiva, não há audiência massiva, mas
expressão massiva. Outro momento da história.
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