Provocamos várias calamidades ao longo da nossa existência, mas sempre houve fenômenos limitados. Os mamutes foram extintos há 11 mil anos também por causa do homem. E esse é só um dos danos ao ecossistema. Com o caos climático produzido pelo uso dos combustíveis fósseis, tudo muda: a ameaça se torna global.
A reportagem é de Antonio Cianciullo, publicada no jornal La Repubblica, 09-11-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O mamute, o tigre dente de sabre, o uro [touro selvagem], o leão das cavernas: todos desaparecidos há 11 milênios em coincidência com a afirmação, em um mundo que estava mudando de clima, de um formidável predador, o homem. É esse o núcleo ao redor de uma das mostras em cena, entre os dias 12 a 28 de novembro, na Città della Scienza de Nápoles.
Mas podemos realmente atri buir à espécie humana responsabilidades tão antigas na distorção dos ecossistemas? Ou a capacidade de competir com a natureza no desenho dos limites dos habitats e do equilíbrio do planeta deve se limitar ao período pós-revolução industrial, concretizando-se plenamente no século XX?
"É preciso distinguir entre os desastre que se limitaram no tempo e no espaço e um desequilíbrio profundo que ameaça o conjunto dos ecossistemas", responde Mario Tozzi, divulgador científico, apresentador de TV e autor de vários livros, dentre os quais um sobre as catástrofes.
"Os seres humanos provocaram várias calamidades ao longo da sua existência: mas sempre foram fenômenos limitados. Talvez causaram a extinção de alguns grupos ou de algumas espécies, mas jamais comportaram um risco em nível planetário. Com o caos climático produzido pelo uso dos combustíveis fósseis, tudo muda: a ameaça se torna global".
Em níve l local, o pesadelo já se realizou. Em "Collasso" [Colapso], o biólogo Jared Diamond descreve, por exemplo, a catástrofe que atingiu a Ilha de Páscoa, submetida a um desequilíbrio crescente por causa do progressivo corte de florestas. O desmatamento foi causada pela construção de um enorme número de estátuas aos deuses, construídas inexplicavelmente de modo sempre mais grandiosos e imponente, mesmo que os recursos à disposição continuavam diminuindo. E Diamond se pergunta o que pensou o homem que estava cortando a última árvore de palma, tornando assim irreversível a degradação que, ao longo de poucos anos, levaria à extinção de todas as espécies arbóreas, à impossibilidade de construir canoas para a fuga e à morte de todos os habitantes: "Talvez gritava, como os modernos lenhadores: não árvores, mas postos de trabalho? Ou: a tecnologia resolverá todos os nossos problemas".
As capacidades de adaptação do planeta permitiram durante muito tempo que se absorvesse o impacto desses episódios de desequilíbrio local, mas, defende o historiador John McNeill, ao longo do século XX, assistiu-se a um "golpe de Estado" biológico da espécie humana: a população se multiplicou por quatro, o consumo de energia por 16 e o de água por nove, obrigando 700 milhões de pessoas à sede e outras 24 milhões a se transformarem em refugiados climáticos.
A pressão nos ecossistemas assumiu, assim, uma dimensão planetária, e muitos biólogos consideram que essas foram as premissas para a sexta extinção de massa da história do planeta, a primeira criada por uma única espécie: o "homo sapiens". Nas projeções do quarto relatório do IPCC, a força tarefa de cientistas da ONU que venceu o Nobel para a Paz e para as Pesquisas sobre o Clima, também se prevê o desaparecimento de uma em cada quatro espécies no caso de um aumento de temperatura de dois graus (e se poderia chegar a seis até o final do século).
"Por milhões de anos, a Terra conseguiu se autorregular, reduzindo ou eliminando as presenças que perturbavam o seu equilíbrio", conclui Tozzi. "Agora, nós vencemos um tempo da partida, impondo uma situação desequilibrada, mas, se não corrigirmos a rota, corremos o risco de perder a partida".
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