O hábito não faz o monge, certamente, mas uma bela aparência inspira o respeito. É por isso que é tudo, menos anedótico que a ideia do decrescimento, tão alegremente injuriada pelos adeptos do dogma do "crescimento", tenha sido acolhida em um lugar impregnado de ideias. Entre os dias 26 e 29 de março aconteceu, na bela Universidade de Barcelona, a segunda Conferência sobre o Decrescimento Econômico.
A reportagem é de Hervé Kempf e está publicada no Le Monde, 30-03-2010. A tradução é do Cepat.
Aberta pelo reitor e organizada pelo Instituto de Ciências e Tecnologias Ambientais (ICTA) da capital catalã, o evento reuniu mais de 500 pesquisadores e ativistas procedentes de numerosos países europeus e americanos. Sabe-se agora que o decrescimento se diz degrowth em inglês, decrecimiento em espanhol, decreixement em catalão, decrescita em italiano.
Por que esta palavra suscita tanto interesse? Porque coloca as questões radicais que estão no centro da ecologia e que as lógicas do desenvolvimento sustentável e do crescimento verde apagaram.
Na tentativa de se tornaram "realistas", muitos ambientalistas são tentados a pintarem com um tom verde um sistema econômico que não muda sua lógica de destruição do ser humano e da biosfera. Radicais, os objetores do crescimento afirmam que a crise do começo do terceiro milênio não pode ser resolvida pelos caminhos adotados desde o século XIX.
Sob a bandeira desta postura pode-se reorientar a liberdade de pensamento contra o dogma, cujo programa outra importante conferência em Paris, em 2002, havia definido: "Desfaça o desenvolvimento, refaça o mundo".
Seria difícil resumir aqui o leque de possibilidades de pesquisas apresentadas em Barcelona e a vivacidade das discussões que ali aconteceram. O programa, que pode ser consultado no sítio Degrowth.eu, dá uma noção. Duas ideias emergem. A preocupação com a justiça social está no centro do projeto de refundação ecológica, e Barcelona prosseguiu no caminho aberto em Copenhague pelos movimentos da sociedade civil com a reivindicação da justiça climática: “Mudar o sistema, não o clima”. E para os “objetores do crescimento”, o sistema é o capitalismo.
Outro elemento novo, a palavra dos movimentos do Sul, que dizem que também entre eles o desenvolvimento, da forma como é implantado pelos governos, é destruidor. Eles trazem conceitos novos, como o de “bem-estar” oposto ao de “viver melhor”.
A conclusão do economista Juan Martinez-Allier: “O decrescimento vai se tornar a corrente majoritária da economia”. Em Barcelona, as colunas do dogma foram quebradas.
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