Nem quando vem ao Brasil o Butão fica perto
O primeiro-ministro do Butão esteve no Brasi. "Ele veio ao Brasil ensinar como se administra um país pelos preceitos da Felicidade Interna Bruta (FIB)", escreve Marcos Sá Corrêa, jornalista, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 25-11-2009.
Eis o artigo.
O País perdeu tanto tempo vendo os presidentes Lula e Ahmadinejad torturarem intérpretes para abrir a conexão português-inglês-farsi que não deu a mínima a um visitante muito mais exótico, que andou por aqui quase ao mesmo tempo que o iraniano. No caso, o primeiro-ministro do Butão, Lyongpo Jigme Thinley.
Ele, sim, tinha assunto para encher jornais, pelo menos nos segundos cadernos. Convidado a testar em Foz do Iguaçu um carro elétrico desenvolvido pela Fiat em parceria com Itaipu, pegou o volante na sede da usina e só o largou na sede do hotel.
Em outras palavras, sem ter nada a esconder, divertiu-se escancaradamente. Almoçou no bandejão da empresa. Adorou o canal da piracema, que promove a migração de peixes através da barragem. Passeou pela hidrelétrica, alegando que, dispondo de água a rodo, um dos pratos fortes da exportação butanesa é a energia que vende à Índia e à China.
Mas ele veio ao Brasil ensinar como se administra um país pelos preceitos da Felicidade Interna Bruta (FIB). A ideia brotou anos atrás de uma das monarquias mais isoladas da terra. O Butão não passa de um país com pouco mais de 38 quilômetros quadrados, enrugado por montanhas com mais de 7 mil metros de altitude e coberto de florestas originais em quase 65% de seu território. É habitado por raridades, como o leopardo das neves, elefantes asiáticos, mais de 50 espécies de rododendros e 700 de pássaros e orquídeas inumeráveis. Mas tem menos de 700 mil habitantes.
É o cenário da moda. O livro Buthan, a Visual Odyssey, de Michael Hawley, mereceu uma edição de luxo com 58 quilos de peso, 40 mil fotografias e as dimensões de uma mesa para seis comensais. Sai por US$ 30 mil. Mas tem uma versão menor e barata, por US$ 50. Dizem que foi de lá que, no século passado, o escritor inglês James Hilton tirou a ideia de Xangri-Lá.
O fato é que tudo o que se imagina do Nepal o Butão tem. Menos turismo de massa. Em 2008, ele acolheu 21 mil turistas, que só podem visitá-lo pelas mãos de um guia da agência oficial. A televisão e a internet só entraram legalmente no país há uma década e com recomendações de uso moderado. Sua economia não é lá essas coisas. A moeda local se ancora na rupia indiana. Sua principal indústria é a produção artesanal de peças religiosas. Suas relações diplomáticas com os Estados Unidos, a Rússia e outras potências são feitas via Nova Délhi, na Índia.
O Butão tem uma longa história de guerras, golpes e até impeachments monárquicos. Mas anda cada vez mais quieto. Sua Felicidade Interna Bruta está entregue a um rei que ainda não fez 30 anos.
O novo Rei do ButãoO primeiro-ministro do Butão esteve no Brasi. "Ele veio ao Brasil ensinar como se administra um país pelos preceitos da Felicidade Interna Bruta (FIB)", escreve Marcos Sá Corrêa, jornalista, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 25-11-2009.
Eis o artigo.
O País perdeu tanto tempo vendo os presidentes Lula e Ahmadinejad torturarem intérpretes para abrir a conexão português-inglês-farsi que não deu a mínima a um visitante muito mais exótico, que andou por aqui quase ao mesmo tempo que o iraniano. No caso, o primeiro-ministro do Butão, Lyongpo Jigme Thinley.
Ele, sim, tinha assunto para encher jornais, pelo menos nos segundos cadernos. Convidado a testar em Foz do Iguaçu um carro elétrico desenvolvido pela Fiat em parceria com Itaipu, pegou o volante na sede da usina e só o largou na sede do hotel.
Em outras palavras, sem ter nada a esconder, divertiu-se escancaradamente. Almoçou no bandejão da empresa. Adorou o canal da piracema, que promove a migração de peixes através da barragem. Passeou pela hidrelétrica, alegando que, dispondo de água a rodo, um dos pratos fortes da exportação butanesa é a energia que vende à Índia e à China.
Mas ele veio ao Brasil ensinar como se administra um país pelos preceitos da Felicidade Interna Bruta (FIB). A ideia brotou anos atrás de uma das monarquias mais isoladas da terra. O Butão não passa de um país com pouco mais de 38 quilômetros quadrados, enrugado por montanhas com mais de 7 mil metros de altitude e coberto de florestas originais em quase 65% de seu território. É habitado por raridades, como o leopardo das neves, elefantes asiáticos, mais de 50 espécies de rododendros e 700 de pássaros e orquídeas inumeráveis. Mas tem menos de 700 mil habitantes.
É o cenário da moda. O livro Buthan, a Visual Odyssey, de Michael Hawley, mereceu uma edição de luxo com 58 quilos de peso, 40 mil fotografias e as dimensões de uma mesa para seis comensais. Sai por US$ 30 mil. Mas tem uma versão menor e barata, por US$ 50. Dizem que foi de lá que, no século passado, o escritor inglês James Hilton tirou a ideia de Xangri-Lá.
O fato é que tudo o que se imagina do Nepal o Butão tem. Menos turismo de massa. Em 2008, ele acolheu 21 mil turistas, que só podem visitá-lo pelas mãos de um guia da agência oficial. A televisão e a internet só entraram legalmente no país há uma década e com recomendações de uso moderado. Sua economia não é lá essas coisas. A moeda local se ancora na rupia indiana. Sua principal indústria é a produção artesanal de peças religiosas. Suas relações diplomáticas com os Estados Unidos, a Rússia e outras potências são feitas via Nova Délhi, na Índia.
O Butão tem uma longa história de guerras, golpes e até impeachments monárquicos. Mas anda cada vez mais quieto. Sua Felicidade Interna Bruta está entregue a um rei que ainda não fez 30 anos.
E a um conselho que aplica a receita da FIB a partir de 72 indicadores sociais, onde têm peso o tempo de lazer de cada cidadão e sua bem-aventurança ambiental. Lá, o noticiário policial, por falta de assuntos mais trepidantes, registra queixa de vizinhos por briga de cachorros.
Quando o FIB surgiu, o jornal Financial Times tratou-o como uma viagem mística em marcha a ré. Mas ultimamente as pesquisas de opinião pública atestam que só 3% dos butaneses se declaram infelizes. Há três anos, a revista Business Week, apoiada numa enquete da Universidade da Califórnia em Berkeley, pôs o Butão num honroso oitavo lugar entre os países mais felizes de todo o mundo. Perdia para a Dinamarca, a Finlândia e a Suécia, sem dúvida. Mas, até na categoria dos reinos encantados, ganhava de Luxemburgo. As grandes economias do mundo vinham muito atrás, na poeira do crescimento econômico.
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