quarta-feira, 25 de junho de 2008

O vagar voluntário


(OU DESCOBRIR A MEDITAÇÃO NATURAL EM SUA PRÓPRIA VIDA)

Lama Surya Das


Extrato do livro: ÉVEILLEZ VOTRE SPIRITUALITÉ
As sabedorias orientais do cotidiano
[págs 370-373]
Tradução ao português: Karma Tenpa Dhargye




A mente natural ou inteligência primordial instrui-nos nos instantes em que somos sinceros conosco. De tais ocorrências aparecem instantes que chamaremos de "vagar consciente". Esses vagares dão-nos uma percepção de nosso estado idílico natural, estado que existe agora em nós, e não que deva ser insuflado do exterior.

Eis um exemplo de vagar consciente: a contemplação de um lago, do mar, de um rio, de uma floresta, de um jardim ou do oceano. Alguns se dirão surpresos se digo ter um pendor por uma aspiração natural e instintiva à paz, ao espaço, à solidão e à uma forma natural de suavidade contemplativa. Um matemático, amigo de meu irmão, aficionado por passar longas horas, à noite, na sua banheira compulsando folhas cobertas de equações, empilhadas sobre uma estante articulada. Indo ao correio, me acontece freqüentemente aperceber-me de uma mulher passeando um enorme cão. Um e outro parecem igualmente felizes. O vagar consciente não se parece em nada com uma fuga diante de suas responsabilidades ou de suas preocupações. Seria antes o inverso. O símbolo escolhido por Thich Nhat Hanh para sua ermida no sul da França é uma rede, a qual, melhor que qualquer outra coisa, ilustra a palavra "vagar".

Podemos vagar sós ou acompanhados. "Vamos fazer um passeio", dizemos a um amigo. Depois partimos, sem destino preciso. "Creio que há um concerto no parque. Proponho irmos escutar um pouco de música, a menos que prefiras um passeio de bicicleta". Vagar, é deixar-se levar pela corrente dos acontecimentos, é autorizar-se à vagabundagem espiritual, sentar-se numa espreguiçadeira e olhar o desfile das nuvens. O segredo inerente a uma tal prática caracteriza-se por um renunciar, um abandono à sua natureza confiante. Não é uma grande ocupação, pois que tudo irá bem.

Em que o vagar consciente é uma prática espiritual? Perguntariam vocês. Ela é o que favorece o contato com nossa natureza profunda, com o caractere inato de nossa existência. Permanecer um só minuto sem querer fazer o menor gesto, sem ter o menor pensamento, eis o que substitui a disciplina espiritual. Isso nos impregna da mente do momento, expressão espontânea de nossa unicidade. Estamos no lugar certo e no momento certo, sem que nada seja requerido de nossa pessoa.

Para um Ocidental, isso seria um grande salto para frente ao ver em uma tal espontaneidade um instante de espiritualidade, uma união com o sagrado. Sobre a veracidade de que essa mente natural seja a mente búdhica, o mestre Dzogchen Kongtrul Rinpoche declara: "Isso parece muito bom para ser verdadeiro, também recusamos acreditar. O fenômeno parece-nos tão familiar que nós o ignoramos, tão evidente que nem o notamos. Paradoxalmente, não podemos acessá-lo, porque somos aí como estrangeiros".

Esses mestres Dzogchen afirmam também que esse truísmo ilustra a maneira mais pessoal de nos reaproximar de nossa verdadeira natureza e da perfeição. Entretanto, convém para cada um descobrir por nós mesmos os vagares conscientes que nos sejam próprios. É a maneira natural de reencontrar nosso Budha interior.

Ao final de um retiro Dzogchen, em Santa Rosa, uma praticante trouxe um poema sobre a busca de seu modo de meditação natural. Achei que é um eloqüente reflexo da sabedoria inata, quanto à maneira de ser durante as meditações naturais.



eu Nunca não soube

Põe tua mochila às costas.

Alonga-te na relva verde

Puxa para ti a abóbada celeste.

Entrega-te ao repouso.

Tantos anos do dharma a prática,

As costas retas, aplicada, voltada para a iluminação

Hoje, nada além do flanco da colina.

Alonga-te na relva verde,

Deixa a terra te levar,

Pegadas de gamos, bosta de cavalo,

E o olho no interior do olho móvel e luminoso.

Eu nunca não soube.

Não me disseram nunca?

Lembro-me de meu mestre zen, na sala de entrevistas:

"Tenha fé em ti, disse-me. Seja somente você mesma".

Ele queria sem dúvida me dizer:

Põe tua mochila às costas,

Deita-te na relva verde,

Deixa o céu te levar.

Entrega-te ao repouso.

Respira o espaço do espaço no espaço.

Eu jamais conheci tão grande luminosidade.


Extraído de: http://www.nossacasa.net/SHUNYA/default.asp?menu=1167

terça-feira, 24 de junho de 2008

O novo e viciado plano de energia de Bush


24/06/2008


De Thomas L. Friedman
Colunista do The New York Times

Há dois anos, o presidente Bush declarou que os Estados Unidos estavam "viciados em petróleo" e que faria algo a respeito. Bem, agora ele fez. Agora nós temos o novo plano de energia de Bush: "Fiquem mais viciados em petróleo".

Na verdade, é mais sofisticado que isso: faça com que a Arábia Saudita, nosso principal "traficante" de petróleo, aumente nossa dose por algum tempo e reduza o preço do petróleo apenas o suficiente para que alternativas de energia renovável não possam decolar totalmente. Então tente forçar o Congresso a suspender a proibição de explorar petróleo em alto-mar e no Refúgio Nacional da Vida Selvagem do Ártico.

É como se nosso viciado-em-chefe estivesse nos dizendo: Qualé, pessoal, vocês sabem que querem um pouco mais da coisa boa. Mais uma dose, garota. Só mais uma tragada. Eu prometo que no próximo ano, nós todos estaremos limpos. Eu até mesmo colocarei uma turbina eólica na minha biblioteca presidencial. Mas por ora, me dê esse barato mais uma vez. Apenas mais uma transfusão daquele óleo cru do alto-mar."

É difícil encontrar palavras pra expressar que desculpa patética, imensa e fraudulenta esta política energética é. Mas fica melhor. O presidente de fato teve a ousadia de estabelecer um prazo para este vício:

"Eu sei que os líderes democratas se opuseram a algumas destas políticas no passado", disse Bush. "Agora que a oposição deles ajudou a elevar os preços da gasolina a níveis recordes, eu peço para que reconsiderem suas posições. Se os líderes do Congresso saírem para o recesso de 4 de Julho sem agir, eles precisarão explicar por que uma gasolina a US$ 4 o galão não é um incentivo suficiente para agirem."

Isto vindo de um presidente que por seis anos resistiu a qualquer pressão sobre Detroit para que melhorasse seriamente os padrões de desempenho de seus beberrões de gasolina; isto vindo de um presidente que não fez nada para encorajar a economia de energia; isto vindo de um presidente que neutralizou tanto a Agência de Proteção Ambiental que o chefe desta atualmente parece estar em um programa de proteção de testemunhas. Eu aposto que não há 12 leitores deste jornal que sejam capazes de dizer qual é o seu nome ou identificá-lo em uma fila de reconhecimento policial.

Mas, acima de tudo, este prazo é dado por um presidente que não levantou um dedo para mediar a aprovação de uma legislação que está parada no Congresso há um ano, que poderia de fato ter um impacto imediato no perfil energético americano -diferente do petróleo em alto-mar que leva anos para ser extraído- além de criar bons empregos técnicos.

O projeto é o HR 6049 -"A Lei de Energia Renovável e Criação de Empregos de 2008", que estende por mais oito anos o incentivo fiscal de investimento para instalação de energia solar, estende por um ano o incentivo fiscal para produção de energia eólica e por três anos os créditos para geotérmica, energia das ondas e outras renováveis.

Estes incentivos fiscais críticos para energia renováveis vão expirar no fim deste ano fiscal e, se isso acontecer, significará milhares de empregos perdidos e bilhões de dólares em investimento não feitos. "Projetos de energia limpa nos Estados Unidos já estão sendo colocados em espera", disse Rhone Resch, presidente da Associação de Indústrias de Energia Solar.

As pessoas esquecem que a energia eólica e solar estão aqui, que elas funcionam, que podem ser instaladas no seu telhado amanhã. O que elas precisam agora é de um grande mercado americano, onde muitos fabricantes tenham o incentivo de instalar painéis solares e turbinas eólicas -porque quanto mais o fizerem, mais estas tecnologias avançarão na curva de aprendizado, se tornando mais baratas e capazes de competir diretamente com o carvão, petróleo e energia nuclear, sem subsídios.

Isto parece ser exatamente o que o Partido Republicano está tentando bloquear, já que os republicanos do Senado -lamento dizer, com a ajuda de John McCain- conseguiram derrotar a renovação destes incentivos fiscais por seis vezes diferentes.

É claro, nós vamos precisar de petróleo ainda por muitos anos. Sendo este o caso, eu preferiria -por motivos geopolíticos- ter o máximo possível de poços domésticos. Mas nosso futuro não está no petróleo, e um presidente de fato não estaria intimidando o Congresso a respeito de exploração em alto-mar. Ele estaria dizendo ao país uma verdade muito maior:

"O petróleo está envenenando nosso clima e nossa geopolítica, e aqui está como vamos nos livrar de nosso vício: nós vamos estabelecer um preço mínimo de US$ 4,50 o galão de gasolina e US$ 100 o barril de petróleo. E este preço mínimo estimulará fortes investimentos em energia renovável -particularmente eólica, painéis solares e termo-solar. E também promoveremos um programa intensivo para aumentar nossa eficiência em energia, para elevar a conservação de energia a um patamar totalmente novo e ampliar a energia nuclear. E quero que todo democrata e todo republicano se junte a mim neste empreendimento."

Isto é o que um presidente real faria. Ele nos daria um grande plano estratégico para colocar um fim ao nosso vício em petróleo e formar uma coalizão bipartidária para realizá-lo. Ele certamente não usaria seus últimos dias no cargo para ameaçar os congressistas democratas que, caso não aprovarem a exploração em alto-mar antes do recesso de 4 de Julho, eles serão culpados pela gasolina a US$ 4 o galão. Isso é ridículo. Esta é uma política energética indigna de nosso Dia da Independência.

Tradução: George El Khouri Andolfato

Fonte: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2008/06/24/ult574u8594.jhtm

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Mar esquentou 50% mais que o previsto, diz estudo




CLAUDIO ANGELO
Editor de Ciência da Folha de S.Paulo

Os oceanos do planeta estão esquentando 50% mais do que se imaginava até agora, e isso pode fazer com que as previsões sobre o aumento do nível do mar no fim deste século fiquem mais próximas do pior cenário. A estimativa é de um estudo australiano, liderado por uma oceanógrafa paulista.

A pesquisa, publicada na edição de hoje da revista científica "Nature", afirma que os cientistas estavam subestimando a chamada expansão térmica, o aumento do volume do mar em razão do aquecimento da água.
Ela faz, pela primeira vez, um cálculo preciso do quanto da elevação observada no nível global dos oceanos de 1961 a 2003 pode ser atribuído a essa expansão e o quanto é culpa do derretimento das geleiras causado pelo aquecimento global.

Esse balanço mundial do nível do mar vinha tirando o sono dos oceanógrafos. No famoso relatório publicado no ano passado pelo IPCC, o painel do clima das Nações Unidas, a soma da contribuição do degelo e do aumento de volume eram menores do que a elevação média de fato observada no período.

Isso levou muita gente a desconfiar que os modelos climáticos estivessem errados. Afinal, o que faz a qualidade de um modelo é a precisão com a qual ele consegue reproduzir o clima medido no passado.

Entra em cena Cátia Domingues, da Csiro, organização nacional de pesquisas da Austrália. A cientista e seus colegas John Church e Susan Wijffels descobriram que os modelos estavam certos: erradas estavam as observações.

Os dados de observação usados pelo IPCC se baseavam em estudos do americano Sydney Levitus e do japonês Masayoshi Ishii, que fiaram-se em medições feitas com um aparelho chamado XBT (batitermógrafo descartável, na sigla em inglês).

"O XBT parece um torpedinho que a gente lança ao mar para medir temperatura. O problema é que ele não mede profundidade", diz Carlos Eiras Garcia, da Furg (Fundação Universidade de Rio Grande), ex-orientador de mestrado de Domingues. A relação entre temperatura e profundidade, fundamental para saber o quanto cada camada do oceano aquece, era dada por uma equação matemática. "Essa equação estava errada." diz Garcia. Os XBTs "esconderam" a real taxa de expansão térmica do mar.

E não era só isso: o método usado por Levitus e Ishii para inferir a temperatura da camada mais superficial do oceano (até 700 metros de profundidade) em regiões onde não havia medições feitas, como o hemisfério Sul, também tinha falhas. O grupo australiano descobriu a origem desses dois erros e refez todas as contas.

"Nós já esperávamos alcançar resultados mais precisos, porque fomos os primeiros a corrigir os vieses nas observações de temperatura do oceano", disse à Folha Domingues, 36. "Agora, exatamente qual seria a diferença nós não sabíamos. Quando terminamos os cálculos e comparamos com os resultados de Levitus e Ishii, quase caímos para trás!"

A nova estimativa coloca finalmente os modelos em concordância com as observações, embora a elevação anual do nível do mar estimada por Domingues e colegas (1,6 mm) seja um pouco menor que o estimado pelo IPCC (1,8 mm).

O problema é que, como o mar está esquentando mais rápido do que se pensava, a elevação final em 2100 tende também a ser maior. Os cenários do IPCC indicam uma subida de 18 cm a 59 cm no fim do século. "Este e outros resultados indicam que ela tende ao limite superior", diz a brasileira.


Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ambiente/ult10007u413932.shtml

A casa caiu




Jornalista conta em livro como o aquecimento global já afeta o planeta. A resenha do livro "Planeta Terra em Perigo -O Que Está, de Fato, Acontecendo no Mundo", de Elizabeth Kolbert e pela Editora Globo, é de Cláudio Angelo e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 15-06-2008.

Eis a resenha.

São muito poucas as pessoas que podem dizer que assistiram ao fim do mundo e voltaram para contar a história. A jornalista americana Elizabeth Kolbert é uma delas. E que história ela conta: quem ainda tem uma pontinha de dúvida sobre a dimensão do estrago que o aquecimento global já está causando deveria imediatamente ler "Planeta Terra em Perigo", livro de Kolbert recém-lançado no Brasil.

Quem acha, por outro lado, que a crise climática pode ou vai ser solucionada antes que seja tarde demais talvez não devesse nem abrir o livro: em vez de se render a uma visão otimista do futuro da humanidade, como faz Al Gore, Kolbert prefere se ater aos fatos.

E os fatos são feios.

A americana, que passou anos cobrindo política antes de se debruçar sobre a questão ambiental, foi destacada pela revista "The New Yorker" para correr o mundo atrás de evidências do aquecimento global. Isso aconteceu em 2004, antes de Gore lançar seu filme, quando a sigla IPCC ainda precisava de explicação.

Kolbert viajou da Groenlândia à Antártida, visitou vilas esquimós que precisaram mudar de lugar devido ao degelo marinho no Ártico, viu casas rachadas pela desintegração do permafrost no Alasca. E falou com cientistas, dezenas de cientistas. O resultado foi a série de três reportagens "The Climate of Man", expandida e editada em 2005 nos EUA na forma do livro "Fieldnotes From a Catastrophe" ("Diário de uma Catástrofe" - título inexplicavelmente alterado, para pior, na edição brasileira).

O que a repórter viu foi o começo do fim do mundo como o conhecemos. Talvez a elevação sem precedentes nos níveis de dióxido de carbono na atmosfera não seja o momento final da civilização ou a extinção da espécie humana. Mas certamente o aquecimento global do Antropoceno (Período geológico marcado pela transformação da Terra pelo homem) mudará a face do planeta com uma velocidade jamais observada.

Mudanças climáticas bruscas, explica a autora, sempre fizeram parte da história da Terra. Mas a civilização humana, iniciada com a invenção da agricultura, há 10 mil anos, coincidiu com um período de estabilidade ímpar do clima, após a última era glacial.

Lições dos acádios

Do clima benigno dependeram os assentamentos humanos permanentes que deram origem às cidades e, com o tempo, à sociedade moderna. Ao lançar gás carbônico no ar para gerar energia e mover carros e fábricas, os seres humanos já estão rompendo essa estabilidade. E clima instável significa fome, guerra e morte.

Que o diga o império acádio, criado há 4.300 anos na Mesopotâmia. Kolbert conta sobre as pesquisas científicas que concluíram que os acádios foram extintos devido a uma mudança climática brusca - natural - por volta de 2.200 a.C.

"Pegos de surpresa, os acádios atribuíram sua sorte à vingança divina", escreve. "Por outro lado, as alterações climáticas previstas para o próximo século podem ser atribuídas a forças cujas causas são conhecidas e cuja magnitude pode ser determinada por nós."

Determinar o tamanho do impacto tem sido muito mais fácil do que convencer os governos a agir a tempo de evitá-lo. Em um dos pontos altos do livro, Kolbert descreve em tom de tragicomédia seu encontro com Paula Dobriansky, funcionária da diplomacia de George W. Bush encarregada durante oito anos de bloquear toda e qualquer tentativa de acordo internacional contra emissões.

Dobriansky responde a todas as questões da repórter com a mesma frase: "Nós agimos, aprendemos e depois agimos novamente". Kolbert não precisa de muitas palavras e não usa sequer um adjetivo para qualificar a posição do governo de seu país sobre o tema.

As críticas, no entanto, não se voltam apenas aos Estados Unidos. A expansão das termelétricas a carvão na China, relata a autora, anula "em menos de duas horas e meia" a economia de energia feita em uma década pela cidade americana de Burlington, no ecologicamente correto Estado de Vermont.

Por sua sobriedade, "Planeta Terra em Perigo" aparentemente funciona como uma espécie de antídoto ao alarmismo escatológico das ONGs. Trata-se, no entanto, de mera aparência. Kolbert expressa suas opiniões pela boca de seus entrevistados. Um deles, Robert Socolow, da Universidade de Princeton, dá o recado: "Já trabalhei em vários setores nos quais havia as opiniões dos leigos e opiniões dos cientistas. Quase sempre os leigos são mais ansiosos (...) No caso do clima, os especialistas são justamente os mais preocupados".


quarta-feira, 18 de junho de 2008

Fascismo Social




Entre a repressão do neoliberalismo e a imaginação utópica dos povos.
Entrevista com Boaventura de Sousa Santos


Enquanto os chefes de Estado da Europa e da América Latina se reuniram em Lima, “protegidos” por grades e milhares e milhares de policiais, para a 5ª Cúpula Oficial entre as duas regiões, a Universidade Nacional de Engenharia foi o cenário da Cúpula dos Povos Enlaçando Alternativas 3. Ativistas das duas regiões se reuniram para discutir alternativas ao neoliberalismo, para a criação de um mundo mais justo, democrático e solidário. O ativista-pesquisador português Boaventura de Sousa Santos foi um dos participantes mais conhecidos e queridos.

“A América Latina é uma peça chave nas estratégias econômicas atuais das empresas transnacionais e dos governos do Norte global”, diz Sousa, para em seguida completar: “Este processo de re-enfocar a América Latina foi acelerado pelo fracasso da guerra do Iraque”.

Para Sousa Santos, “o chamado Pós-Consenso de Washington é pós, porque os neoliberais já não confiam somente na economia, e, portanto, aplicam a guerra e a luta contra o terrorismo para manter o sistema de desigualdade a nível global”.

O sociólogo português aposta na radicalização da democracia. “Devemos mudar as lógicas do poder, e para isso as lutas democráticas são cruciais. Estas lutas são radicais, porque estão fora das lógicas tradicionais da democracia. Sustento que devemos aprofundar a democracia em todas as dimensões da vida”.

Sousa Santos teme que a perversão do processo de reestruturação neoliberal desemboque naquilo que ele chama de “fascismo social”, isto é, “o risco de viver em sociedades que são politicamente democráticas, mas socialmente fascistas”.

Boaventura de Sousa Santos é Diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, em Portugal, onde também é professor de Sociologia. Trabalha como Distinguished Legal Acholar na Universidade de Wisconsin, Madison, e integra o Conselho Consultivo do Programa Democracia e Transformação Global, em Lima. Além disso, está profundamente envolvido nos processos do Fórum Social Mundial e da Universidade Popular de Movimentos Sociais.

Foi entrevistado por Raphael Hoetmer, do Programa Democracia e Transformação Global. A entrevista encontra-se no sítio ALAI, América Latina en Movimiento, 9-06-2008. A tradução é do Cepat.

Como caracteriza o cenário atual na América Latina?

As mudanças no mundo são rápidas, e mostram muitas contradições devido à associação de eventos políticos que nos impactaram muito nos anos recentes. Exemplos disso são as mudanças no Equador e na Bolívia, e recentemente no Paraguai. Nestes países ganharam um economista progressista, um camponês indígena e um sacerdote da Teologia da Libertação, materializando a resistência contra as políticas neoliberais das últimas décadas.

Por outro lado, a América Latina é uma peça chave nas estratégias econômicas atuais das empresas transnacionais e dos governos do Norte global. É preciso entender que o sistema capitalista sempre necessita de novos espaços para gerar ganhos econômicos. Desta maneira, a expansão do mercado chegou a converter a água, os serviços de saúde, e a educação em mercadoria. Algo que anteriormente era impensável. Neste momento, a mercantilização dos recursos naturais é a estratégia fundamental para a acumulação de capital a médio prazo, pondo a enorme biodiversidade da América Latina no centro das atenções.

Este processo de re-enfocar a América Latina foi acelerado pelo fracasso da guerra do Iraque. Os Estados Unidos viram que durante sua relativa ausência em sua backyard, se haviam produzido mudanças na América Latina, que apresentaram dois problemas para a sua agenda. Em primeiro lugar, os processos sociais haviam avançado fora de seu controle, e para além de seus planos, resultando em governos progressistas, e em movimentos sociais fortes. Em segundo lugar, estes movimentos chegaram ao poder através da democracia, numa época em que os Estados Unidos estão usando o discurso da luta pela democracia para justificar suas intervenções ao redor do mundo.

Neste cenário se desenvolve uma nova estratégia de contra-insurgência, que consiste numa mescla entre as estratégias da Aliança para o Progresso com uma política consciente de divisão dos movimentos, e especificamente do movimento indígena. Por outro lado, se intensificou nos últimos anos, de maneira brutal, a criminalização dos protestos, como também se aprofundou a militarização.

No cenário que você descreveu, permite dar-se conta de algumas mudanças no paradigma neoliberal. Você acredita que podemos falar de uma modificação deste paradigma para um paradigma de segurança?

Sim, me parece que isto é a perversão final do processo de reestruturação neoliberal. Efetivamente, o neoliberalismo tenta substituir todos os conceitos existentes, como os de desenvolvimento e da democracia, pelos conceitos de controle e de segurança, depois de sua incapacidade de gerar um apoio popular sólido.

Isto é conseqüência do aprofundamento da exclusão social, da miséria e da crescente desigualdade sob o capitalismo neoliberal, que implica a emergência de um fenômeno que chamo de “fascismo social”. Este não é um regime político, mas uma forma de sociabilidade de desigualdades tão fortes, que uns têm capacidade de veto sobre a vida de outros. Corremos o risco de viver em sociedades que são politicamente democráticas, mas socialmente fascistas.

O melhor exemplo desta lógica é o doloroso aumento da fome no mundo, que mostra a contradição entre a vida (a produção de alimentos acessíveis para a população mundial), e os ganhos (a produção dos rentáveis biocombustíveis). A emergência do “fascismo social” mostra que a modernidade como projeto fracassou, porque não cumpriu suas promessas de liberdade, igualdade e solidariedade, e já sabemos que não vai cumpri-las.

Neste cenário, se apresenta então a contradição entre o paradigma da segurança, e da luta contra o território, por um lado, e de outro, os Estados que reivindicam sua soberania, os movimentos sociais, e especificamente as lutas dos povos indígenas. É nos territórios indígenas que se encontra 80% da biodiversidade latino-americana. As organizações, como a Coordenadoria Andina de Organizações Indígenas (CAOI), a Confederação Nacional de Comunidades do Peru Afetadas pelas Empresas de Mineração (Conacami), e a Coordenadoria Nacional de Ayllus e Marqas (Conamaq), são, neste sentido, um perigo para o status quo.

O chamado Pós-Consenso de Washington então é pós, porque os neoliberais já não confiam somente na economia, e, portanto, aplicam a guerra e a luta contra o terrorismo para manter o sistema de desigualdade a nível global. Exemplos claros disto podemos ver em Santa Cruz de la Sierra, onde paramilitares colombianos treinam os grupos privados de segurança da oligarquia cruzenha, que está decidida a defender o status quo.

Nesta reorganização do mapa político continental, que correntes reconhece?

É evidente que emergiram governos com uma lógica diferente ao estado capitalista neoliberal no continente. Em suas gestões econômicas podemos assinalar duas vertentes diferentes. Por um lado, os governos de Lula, Cristina Fernández Kirchner e Michelle Bachelet mantêm a macro-economia neoliberal, mas aprofundam a proteção social nas margens da sociedade. Outros governos, como os de Evo Morales, Rafael Correa e Hugo Chávez, procuram mudar o sistema econômico. A partir de uma lógica de maior soberania, aplicam diferentes estratégias, como a nacionalização, a recontratualização da exploração dos recursos naturais, ou a entrega desta exploração a pequenas empresas nacionais.

Em todos os casos, se vê uma maior sensibilidade em relação à questão social, como também, de maneiras diferentes, um questionamento das empresas transnacionais e suas atividades. A resposta das empresas a isso é a invenção da responsabilidade social. Constroem escolas e hospitais para suas relações públicas para dar a impressão de que elas também estão preocupadas com a desigualdade, em sociedades cada vez mais desiguais. O Tribunal Permanente dos Povos, que aconteceu durante esta Cúpula dos Povos em Lima, evidencia claramente que por trás desta cara humana persistem as violações estruturais dos direitos humanos por parte das transnacionais.

É um processo confuso e contraditório, mas sustento que podemos ver a emergência de uma solidariedade regional, com maior abertura e tolerância para com as diferenças políticas. Não obstante, a maioria destes governos se dirige por conceitos tradicionais do estado e do desenvolvimento, o que efetivamente limita sua capacidade de transformação.

Por outro lado, Peru e Colômbia representam o status quo neoliberal e a agenda dos Estados Unidos na região. Me dá a impressão de que atuam, além disso, desde uma complementaridade. A Colômbia representa a lógica militar, que busca a criação de conflitos e tensões que criam condições para a crescente militarização e intervenção na região. No Peru está se impulsionando uma lógica similar, com a forte criminalização das organizações sociais. Este sempre é o primeiro passo que prepara a militarização posterior. De fato, existem indicações muito claras de que a base de Manta no Equador poderá ser transferida para a Amazônia peruana.

Como já disse, estes processos de criminalização e militarização buscam assegurar o livre acesso e a mercantilização dos recursos naturais. Obviamente, neste modelo econômico, o Peru joga um papel central, devido às suas enormes reservas de hidrocarbonetos, minerais e metais preciosos. E as elites políticas e econômicas do Peru estão muito dispostas a assumir este papel de exportador de recursos naturais na divisão mundial do trabalho, já que eles ganham com isto. Não obstante, a maioria dos peruanos não ganhou nada nos últimos anos de crescimento econômico espetacular, e logicamente buscarão alternativas para o atual governo.

O caso da Bolívia luziu por muito tempo, como o processo mais transformador da região, mas agora entrou em crise. Como você analisa o cenário boliviano e o processo de regionalização subnacional que se está reivindicando no país?

A regionalização subnacional foi promovida pelo Banco Mundial, na forma de descentralização, que apontou para o desmonte do Estado central através da transferência de responsabilidade do Estado central aos níveis locais. Na Bolívia havia uma posição de descentralização dirigida pelas autonomias indignas, desde uma visão política e cultural sólida, que permitiu que os indígenas ganhassem algo com as políticas de descentralização, impulsionadas pelo Banco Mundial.

Mas a bandeira da descentralização foi assumida agora pelas oligarquias, em resposta à sua perda de controle do Estado central. Eles sempre foram centralistas, mas agora tinham que tomar a bandeira da autonomia para defender seus privilégios econômicos. Na minha opinião, a declarada autonomia de Santa Cruz é ilegal, já que não podem fazer isto sob a velha constituição. Na realidade, a decisão das autonomias caberia ao Congresso, depois que se implementasse a nova constituição.

Eu defendi na Bolívia a distinção entre autonomias ancestrais e as da descentralização. Proponho entender as autonomias indígenas como extraterritoriais em relação às autonomias departamentais. Quer dizer, deveriam se basear no controle total de seu território, fora da governabilidade descentralizada, já que são anteriores ao processo de descentralização.

Em todo o caso, o debate atual é sumamente perigoso, já que existem desejos recíprocos de enfrentamento armado. As oligarquias não querem deixar seus privilégios, e os indígenas não vão deixar pacificamente que se divida o país. É muito interessante, já que seriam eles os que defenderiam o país.

Em todo este cenário, qual é o papel da Europa?

Em nível dos contatos entre as organizações sociais das duas regiões há coisas muito positivas. Um processo como o Enlaçando Alternativas mostra a profunda solidariedade que existe entre os povos de ambos os continentes e a vontade das organizações européias de aprender das lutas latino-americanas.

Mas em nível dos governos, vejo algo muito diferente. Crescentemente, a Europa busca seguir as políticas dos Estados Unidos, enfocadas no acesso aos recursos naturais, para manter sua posição competitiva no mundo. Isto me repugna ainda mais, já que a Europa tem uma dívida cultural, social e ecológica histórica muito grande com a América Latina, devido ao saque dos recursos naturais do colonialismo e do genocídio dos indígenas. Portanto, me parece inaceitável implementar na atualidade políticas neocoloniais, que dão continuidade ao mesmo saque. Não obstante, tudo indica que as empresas transnacionais européias atualmente definem a agenda da União Européia, impossibilitando uma posição européia que fortaleceria a democracia, os direitos humanos e a redistribuição social no continente.

Neste mundo tão confuso, no qual parecem se chocar diferentes projetos territoriais, como você vê o futuro?

Está claríssimo que estamos entrando numa fase histórica de polarização. Por um lado, as políticas de mercantilização buscarão o livre acesso aos recursos naturais, e a continuidade dos privilégios econômicos das elites. Por outro lado, existe um imaginário radicalizado nas forças progressistas do continente, que desenvolveram concepções distintas de democracia, de desenvolvimento, dos direitos e de sustentabilidade, que são compartilhadas por cada vez mais pessoas e organizações. Me dá a impressão de que as forças dominantes já não podem cooptar este imaginário radical, com suas propostas de proteção social. E por isto a repressão. Então, vemos a confrontação entre a repressão e a imaginação utópica. É difícil dizer para onde vamos. Como sociólogos prevemos bem o passado, mas não tanto o futuro.

Para mim, o horizonte continua sendo a democracia e o socialismo, mas um socialismo novo. Eu tenho dito, em diferentes ocasiões, que o novo nome do socialismo é democracia sem fim. Minha aposta é na democracia radical, já que ela representa uma alternativa a duas idéias fundamentais. Não creio que se possa mudar o mundo sem tomar o poder, mas tampouco creio que podemos mudar algo com o poder existente. Então, afirmo que devemos mudar as lógicas do poder, e para isso as lutas democráticas são cruciais.

Estas lutas são radicais, porque estão fora das lógicas tradicionais da democracia. Sustento que devemos aprofundar a democracia em todas as dimensões da vida. Da cama até o Estado, como dizem as feministas. Mas também com as gerações futuras e com a natureza, o que nos urge a parar a destruição do planeta que atualmente se está produzindo.

Nosso objetivo é sair de uma democracia tutelada, restringida, de baixa intensidade, para chegar a uma democracia de alta intensidade, que realmente faça com que o mundo seja cada vez menos confortável para o neoliberalismo. Mas a realidade não muda espontaneamente. Em política, para chegar a algo é preciso ter sempre duas condições: é preciso ter razão a tempo, no momento oportuno; e é preciso ter força para poder impor a razão.






segunda-feira, 16 de junho de 2008

Militantes da civilização


Por: MARINA SILVA


NA SEMANA PASSADA o Congresso brasileiro recebeu dois grandes homens: um bengalês e um indiano, ambos cidadãos do mundo. Muhammad Yunus, Prêmio Nobel da Paz de 2006, criador do Banco da Aldeia, que deu aos pobres microcrédito e oportunidade de gerar emprego e renda. Rajendra Pachauri, Nobel da Paz em 2007 como chefe do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, que demonstrou a gravidade do aquecimento global e a urgência de medidas para controlar seus efeitos.
É paradoxal a singeleza com que trazem uma pororoca de desafios que a humanidade não pode banalizar nem deles fugir. Ao lado de seus temas específicos -pobreza e mudanças climáticas-, Yunus e Pachauri são portadores do grande tema oculto de nosso tempo: a coragem, tanto para mudar quanto para manter o que tem que ser mantido.
A sociedade de consumo, amplamente vitoriosa, nos impõe uma derrota acachapante: o fatalismo, a crença de que o mundo é assim mesmo, atracado a um conceito de civilização assustador, cuja medida de avanço é o aumento da capacidade de consumir. Quanto trabalho humano e quanto em recursos naturais e energia são gastos para multiplicar consumo perdulário?
Não fosse nosso insustentável desejo de ter, essa força monumental poderia ser redirecionada para dar habitação digna, saúde, alimentação, educação e meio ambiente equilibrado para todos.
Fatalismo pode ser explicação plausível para tanta inércia diante do que podemos chamar de Consenso dos Insensatos, o conluio de poderes para colocar interesses pequenos sempre à frente quando se trata de combater os impactos da máquina de produzir "civilização" descartável, risco ambiental e exclusão social.
Yunus e Pachauri são pessoas simples, discretas. Ambos se dedicam a levar o extraordinário para o dia-a-dia. Lembram que há espaço para a contribuição de todos, de onde saem as grandes mudanças.
Mostram a conexão inexorável dessa nossa encruzilhada civilizatória: não há soluções isoladas. Os instrumentos são econômicos, tecnológicos, sociais, mas eles serão inócuos sem um redirecionamento de processos e de demandas. Isso implica decisões pessoais e coletivas, culturais e espirituais, éticas e até estéticas. O caminho que leva ao abismo nos dá sinalizações para a volta. Há que fazer escolhas.
Hoje, para quem quiser se engajar, não é mais possível ser só ambientalista, ou só militante de causas sociais, políticas, culturais. É preciso se engajar em tudo, ser militante da civilização.



Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1606200806.htm


A sociabilidade dos vegetais


Alguns vegetais estão em condições de reconhecer os próprios semelhantes, membros da “família”, e de ajudá-los. A descoberta feita por uma equipe de biólogos canadenses reabre velhas interrogações e polêmicas entre os cientistas. “São seres sociais”: agora existem as provas. Mas, o mundo da pesquisa continua nutrindo dúvidas: “Os vegetais não têm o cérebro”. “Assombroso, parecia assistir a comportamentos de animais”. A reportagem é de Carole Kaesuk Yoon e publicada pelo jornal La Repubblica, 11-06-2008

Das minúsculas flores cor de lavanda às hastes sacudidas pelo vento, nada desta erva que cresce nas praias e conhecida como rúcula do mar (cakile edenula), permitira pensar que nos encontramos ante uma maravilha da botânica. No entanto, os cientistas descobriram que esta erva daninha está em condições de fazer coisas que outras semelhantes a elas jamais demonstraram saber fazer. É capaz de distinguir entre plantas aparentadas e plantas não aparentadas. E, uma vez reconhecida a área da família, são capazes de garantir-lhe um tratamento preferencial. Se as plantas próximas a elas não são aparentadas, lançam para fora raízes em abundância para capturar-lhes os elementos nutritivos. Mas, se reconhecem familiares, educadamente se contêm.

É uma verdadeira surpresa, até um pouco um choque, também porque a maior parte dos animais não consta que tenham a capacidade de reconhecer os parentes, não obstante disponham neste campo de vantagens colossais em relação às plantas. Porque, se um indivíduo é capaz de reconhecer os próprios “familiares”, quer dizer que também é capaz de ajudá-los, ação de todo sensata do ponto de vista evolutivo, porque os consangüíneos têm uma série de genes em comum. O mesmo organismo também pode dar vida a um comportamento hostil em confronto com indivíduos não aparentados, contra os quais é mais sensato mostrar as garras (ou os espinhos). “Eis porque estou espantada com o que descobrimos”, diz Susan A. Dudley, ecóloga evolutiva das plantas na Universidade McMaster de Hamilton, no Ontário. “As plantas”, diz Dudley, “têm uma vida social secreta”.


Após a publicação, em agosto passado, de sua pesquisa na revista Biology Letters, Dudley e colegas encontraram as provas de que há outras espécies de plantas capazes de reconhecer os “parentes”. Isto significaria que estes organismos, por muito tempo considerados somente vegetação imóvel e passiva, não só percebem toda espécie de informação referente às plantas que crescem ao seu redor, mas que usem estas informações para interagir com elas. O motivo pelo qual a vida social das plantas permaneceu misteriosa por tão longo tempo talvez seja simplesmente porque o modo de perceber as coisas da parte dos organismos vegetais pode ser muito diverso daquele dos animais. Tem sido demonstrado, por exemplo, que algumas plantas percebem plantas próximas potencialmente concorrentes, explorando sutis mudanças da luz. Isto porque as plantas absorvem e refletem determinados comprimentos de onda da luz solar, criando alterações típicas que outras plantas estão em condições de decifrar. Os cientistas também descobriram plantas dotadas de sistemas que lhes permitem recolher informações sobre outras plantas, baseando-se em elementos químicos deixados no solo e no ar.

É o caso da cuscuta. Não estando em condições de desenvolver raízes próprias ou produzir de maneira autônoma os açúcares através da fotossíntese, uma vez despontada da semente, necessita, em tempo bastante rápido, começar a crescer sobre e dentro de outra planta, para extrair dela os elementos nutritivos dos quais necessita para sobreviver. Mas, até mesmo os cientistas que estudam este vegetal ficaram surpresos pela velocidade e exatidão com que uma plantinha de cuscuta consegue individuar e caçar sua vítima. Em filmagens desaceleradas, viram os rebentos mover-se em sentido circular no interior daquilo que descobriram ser uma amostra dos elementos químicos deixados no ar pelas plantas próximas, um pouco como um cão que fareja o ar em torno de uma mesa posta. Depois, baseando-se somente no cheiro, a cuscuta cresce em direção da vítima pré-escolhida. Em outras palavras, consegue individuar e atacar as espécies de plantas, entre aquelas disponíveis em seu redor, sobre as quais consegue crescer melhor. “Quando se olham as filmagens, se tem realmente a impressão de assistir a um comportamento animal”, diz Consuelo M. de Morais, ecóloga e química da Universidade da Pensilvânia, “é como um vermezinho que se move em direção a outra planta”.

A visão das plantas como organismos sensíveis começa a emergir agora, mas já são vinte anos desde que os cientistas descobrem indícios de interações deste gênero. E, não obstante tudo isso, a descobertas continuam a deixá-los estupefatos. O motivo, segundo alguns, estaria numa radicada incredulidade referente à possibilidade que as plantas, sem o benefício de olhos, orelhas, narizes, bocas ou cérebros, estejam em condições de fazer tudo aquilo que se vê fazerem. Assim, mas só recentemente, o debate entre os pesquisadores voltou a concentrar-se em torno de uma interrogação na realidade de velha data: quais, entre as capacidades e os atributos que os cientistas por longo tempo consideraram serem prerrogativa exclusiva dos animais, como a percepção, a apreensão e a memória, podem ser corretamente transferidos às plantas?

A ala extrema da facção “igualitarista”, em todo o caso sempre no interior da comunidade científica, são os membros da Society of Plant Neurobiology. O próprio nome do grupo basta para fazer saltarem os nervos de muitos biólogos. A neurobiologia é o estudo dos sistemas nervosos presentes, quanto se sabe, somente nos animais. Este fato, para a maioria dos cientistas, torna o conceito de neurobiologia das plantas algo impossível, distorcido e irritante ao mesmo tempo. Trinta e seis estudiosos de diversas universidades, entre as quais também Yale e Oxford, se irritaram a ponto de chegarem a publicar, no ano passado, um artigo na revista Trends in Plant Science, no qual contestam à Society of Plant Neurobiology o fato de levantarem a hipótese de sinapses vegetais, exortando os pesquisadores a abandonarem semelhantes “analogias superficiais e extrapolações discutíveis”. De outra parte, replica-se que há cem anos muitos cientistas estavam convencidos que não existia uma fisiologia das plantas. Hoje, aquela idéia é tão manifestamente antiquada que provocaria uma bela risada nos muitos cientistas que operam no setor.


quinta-feira, 12 de junho de 2008

Como funciona o Google


Sempre tive curiosidade de saber como funciona - e como pode ser manipulada - a página do Google, hoje a principal ferramente de busca e divulgação de informações pela Internet. É simples: buscando-se uma determinada informação ou página, a esmagadora maioria dos usuários preferirão aquelas que figuram no topo da tela. Os demais resultados - salvo se o usuário for obstinado - certamente ficarão perdidas no oceano da Web. Portanto, trata-se de algo não apenas de natureza "técnica", mas sobretudo econômica e, porque não dizer, política.

Extraí abaixo a informação oficial - ou seja, do próprio Google - de como funciona esse instrumento de busca e como fazer com que uma determinada página apareça no topo da página do Google.



Fonte: http://www.googlando.com.br/pagerank/Como-funciona-o-Google.asp



Google é pronunciado como "Gúgol". Quando fazemos uma busca no Google, ele mostra primeiro os sites mais importantes ou seja os que tiverem PageRank maior. Mas o que é PageRank?

Digamos que temos 5 sites A, B, C, D e E. o site B, C, D, E tem um link para o site A.

Cada link é considerado como um voto portanto o PageRank do site A é alto porque recebe quatro votos. O site B recebe links do site A e E portanto esse site tem o PageRank Alto mas, é menor que o site A. O site C recebe links do site D e E, nesse caso seu PageRank é médio (dois votos), apesar de que o site B também recebeu 2 votos, entretanto o Site A é o mais importante porque tem mais links seu em outros site, então seu voto é mais importante. O site D recebe link apenas do site E, seu PageRank é baixo e por final o Site E apesar de votar em todos os outros site não tem nenhum voto, portanto seu PageRank é nulo.

Vamos analisar
O site A tem 4 votos seu PageRank é = 100%.
O site B tem 2 votos e recebeu um voto do site A (mais importante) seu PageRank é=75%.
O site C tem 2 votos. Seu PageRank é = 50%.
O Site D tem 1 voto seu PageRank é = 25%.
O site E não tem nenhum voto seu PageRank é = 0%
Se fizer uma busca no google e todos os sites tiverem a mesma palavra chave, o primeiro lugar fica com o site A, depois o B, então vem o C, e por final em quarto lugar aparece o D. Já o site E não aparece pois não tem PageRank.

O Google tem um robô virtual chamado Googlebot. Ele faz a varredura de algum lugar da Web analisa quantos votos a página tem e através dos links, ele vai passando de site em site. No entanto se algum site na Web não tiver nenhum link para ela, então o google não poderá indexar aquela página. Ou seja, é preciso divulgar primeiro sua página, para depois o Google poder indexa-la. Quanto mais sua página tiver sido divulgada antes de lança-la no Google, mais alto será o PageRank dela.

Como o Googlebot vai analisando site por site através de links, mesmo que sua página não tenha sido varrida, ela pode aparecer no Google, basta que você tenha adicionado em algum site de busca importante e o Google tenha varrido aquela página e encontrado um link para seu site. Então como o Google não varreu a sua página ainda, ela será mostrada apenas o link sem o respectivo título da página ou descrição/conteúdo do site.

Aumentando o PageRank.

Na verdade existe duas formas de aumentar o PageRank da página através de palavras chaves. Uma é através de votos (links) como você ficou sabendo a outra não depende de votos e sim de como o site é construído.


Aumentando o PageRank sem votos:
A palavra chave no título do site

A palavra chave da URL (endereço do site)

Que não tenha elementos oculto tipo texto em branco em fundo branco

O Google parece dar mais importância a web mais antiga.

Se há imagens na página, seria interessante colocar tag alt com descrição mesma

O Google gosta de sites estáveis e url's estáticas, não dinâmicas

O Google gosta de sites com muitas páginas, porém com poucos conteúdo(cerca de 700 a 1500 palavras).

Boa variedade de palavras dentro da página

Se atualiza muito seu site, o Googlebot passa com mais freqüência em suas páginas.

Aumentando o PageRank através votos (links):
O número total de links de outros sites.
Links de sites que estão entre os primeiros resultados para uma mesma palavra chave.
Links de uma página para outra no mesmo site que contenha a mesma palavra chave.
Adicionar seu site em diretórios como o Yahoo, Aonde, Cadê etc.
Conseguir votos de sites importantes.

Qual é o PageRank do meu Site?
Bem, quando vamos fazer uma busca no Google, nós digitamos no nosso navegador www.google.com.br e depois fazemos a busca, só que o google nos dá a opção de baixar uma barra que tem muitas utilidades. Uma delas é a possibilidade de poder ver o Pagerank de cada site que visitarmos que é mostrado através de uma barra verde que vai do 1 ao 10.
Clique aqui para visualizar seu pagerank. Observe que sites muito conhecidos como o www.microsoft.com tem pagerank elevado.

O que não adianta no Google?
Links de sites importantes aumenta o PageRank, porém não significará nada se não combinar com sua busca, isso significa que se tiver um link na página da coca-cola e alguém procurar por Coca-Cola, a segunda página apresentada pode ser seu site, mas se procurarem por Pepsi, um conteúdo que também tem no seu site, mesmo que o seu site tenha um PageRank Alto por causa da Coca-Cola, outros sites poderão aparecer primeiro, principalmente se tiverem um link da Pepsi para seus sites.

Mesmo um site tendo um PageRank de 100% e tivesse muitas páginas falando do Google, ele ficaria em segundo lugar porque antes de tudo, o Google dá primeiro importância a url's. Ex: www.google.com, www.yahoo.com.br ,etc.

Quando temos um site com palavras erradas ou com palavras de vários sinônimos, nós podemos ser prejudicado, por exemplo, alguém procura por "garage" e pelo site todo estiver escrito somente "garagem" então apesar do site falar expressamente sobre o assunto o Google não o apresentará na busca. Nem nas ultimas colocações! Então use a tag de palavras-chaves para otimizar seu site.

Usar fazendas de links. Pegar dois sites e interligarem links entre si. O google reconhece isso como uma formula para burlar o sistema e ter o PageRank alto.

O poder do Google
O Google é a melhor meta buscador na internet. Ele possui um banco de dados com + de três bilhões de páginas e mesmo assim consegue apresenta-las em menos de meio segundo ficando apenas por conta da velocidade da sua conexão com a internet e a velocidade de seu computador.

O Google não apresenta um site que fala daquele assunto, mas sim, a página com os termos digitados. É claro que numa busca, um site importante pode aparecer, mas não mostrar exatamente aquilo que você gostaria de ver, por isso procure dar uma descrição mais detalhada, ponha mais palavras-chave para que o Google possa retornar o assunto desejado.

O Google supera os outros sites de busca em quase tudo, suas páginas são leves praticamente sem imagens, Não tem janelas popup, não precisa fazer longos cadastros, atualizações e outras burocracia que vários sites do mesmo gênero nos pedem.

Caso tenha modificado as suas páginas ou acabado com alguns links (links quebrados), não se desespere, o Google varre a Web diariamente, se o conteúdo foi mudado ou os links foram quebrados o Google os atualizará. E se você divulgou bastante seu site mesmo que não tenha adicionado sua url no Google e ele varreu seu site, numa busca seu site pode aparecer, ou aparecer uma página com aquele site de busca que você adicionou seu site.







Educação e anarquismo em Maurício Tragtenberg




Maurício Tragtenberg (Getúlio Vargas, 4 de novembro de 1929 — São Paulo, 17 de novembro de 1998) foi um sociólogo e professor brasileiro.


Dados biográficos

Seus avós, imigrantes judeus, instalaram-se no interior do Rio Grande do Sul cultivando como unidade familiar uma agricultura de subsistência, e foi lá que Tragtenberg iniciou sua aprendizagem de português, espanhol, esperanto e russo, além das leituras de autores anarquistas russos como Kropotkin, Bakunin, Tolstói. Freqüentou o grupo escolar, em Porto Alegre, mas não foi além da terceira série do primário.

Após a morte precoce do pai, transferiu-se com sua mãe para São Paulo, onde ainda jovem começou a trabalhar. Filiou-se ao PCB, mas foi expulso com base em um artigo que proibia ao militante contato direto ou indireto com trotskistas ou com a obra de Leon Trótski, autor por ele lido e relido.

Trabalhou no Departamento das Águas de São Paulo, onde teve toda a sua experiência prática com a burocracia, posteriormente criticada em seu livro Burocracia e Ideologia. Neste período frequentava a Biblioteca Municipal Mário de Andrade, onde lhe foi possível ler o que lhe interessasse e discutir assuntos diversos com um grupo de intelectuais que também frequentavam a biblioteca, entre eles Antônio Cândido, que o convenceu a prestar vestibular na USP.

Escreveu o ensaio Planificação - Desafio do século XX, que seria posteriormente transformado em livro. Com a aceitação desse texto pela Universidade, habilita-se a prestar o vestibular. Aprovado, começa a frequentar o curso de Ciências Sociais. Um ano depois prestou novamente vestibular - desta vez para o curso de História, que concluiu. Durante a ditadura militar escreveu sua tese de doutorado em Política, também pela USP. Começou então a se dedicar à carreira de professor, lecionando na graduação e pós-graduação de universidades como PUC-SP, USP, UNICAMP e da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EAESP-FGV).

No meio acadêmico, Tragtenberg ficou conhecido como um autodidata (o que era apenas parcialmente verdadeiro, embora ele próprio costumasse alardear, provocativamente, o seu "primário incompleto"). Definia-se como um socialista libertário e detestava ser qualificado como anarquista) e radical. Irreverente com relação aos símbolos e às artimanhas do poder autoritário, foi um intelectual independente e crítico em relação à burocracia acadêmica, que desprezava.






Fumante inveterado e de aspecto desleixado, suas classes eram freqüentadas não só por alunos regulares mas também por numerosos ouvintes não matriculados. Por seu espírito rebelde e senso de humor freqüentemente sarcástico, mas sobretudo por sua profunda generosidade intelectual, Maurício foi amado por seus alunos.

Era casado com a atriz Beatriz Tragtenberg e pai do compositor Lívio Tragtenberg.


Trabalhos publicados

Deixou publicados pelo menos 8 livros e inúmeros artigos em jornais e revistas de grande circulação no país, abrangendo diversos assuntos como educação, política, sociologia, história e administração.

Escreveu por vários anos a coluna No Batente para o jornal Notícias Populares, um tablóide popular de São Paulo.


Sua obra completa que inclui livros, artigos, apresentações, prefácios e textos esparsos está sendo editada pela Editora UNESP tendo sido publicados quatro volumes da coleção Mauricio Tragtenberg - dirigida por Evaldo Amaro Vieira: Administração, Poder e Ideologia, Sobre educação, política e sindicalismo, "Burocracia e Ideologia" e o mais recente A Revolução Russa.


Teoria da Pedagogia Libertária


Através de uma crítica incisiva ao modelo pedagógico burocrático, Tragtenberg chega à teoria da pedagogia libertária, que se expressa pelo questionamento de toda e qualquer relação de poder estabelecida no processo educativo e das estruturas que proporcionam as condições para que essas relações se reproduzam no cotidiano das instituições escolares.

Em sua visão, a própria prática de ensino pedagógica-burocrática permite a dominação na medida em que reduz o aluno ao papel de mero receptáculo de conhecimento e fixa uma hierarquia rígida e burocrática na qual o principal interessado encontra-se numa posição submissa. E nessa ordem o professor é o ‘símbolo vivo’ da dominação.


Tragtenberg critica duramente a realidade das universidades, "a delinquência acadêmica", que a seu ver, acabam exprimindo uma ‘concepção capitalista do saber’ através da busca desenfreada por titulações, publicações, pontos. Paga-se para apresentar trabalhos a si mesmo ou aos poucos amigos que se revezam entre falantes e ouvintes, não interessando o conteúdo e a qualidade do que se publica, mas sim quantos pontos vale; também não importa se alguém lerá o artigo; que seja de preferência uma publicação em algum país vizinho, pois as publicações internacionais valem mais pontos.


Em resposta a tudo isso, a pedagogia libertária propõe uma série de mudanças nas instituições de ensino, fundadas na:


-autogestão, gestão da educação pelos diretamente envolvidos no processo educacional e a ‘devolução do processo de aprendizagem às comunidades onde o indivíduo se desenvolve (bairro, local de trabalho)’;

-autonomia do indivíduo, ‘o indivíduo não é um meio, é o fim em si mesmo. No universo das coisas (mercadorias) tudo tem um preço, porém só o homem tem uma dignidade’; negação total de prêmios ou punições;

-solidariedade, crítica permanente de todas as formas educativas que estimulam ou fundamentem-se na competição;

-crítica a todas as normas pedagógicas autoritárias.

Essa proposta pedagógica pressupõe ainda: educação gratuita para todos, superação da divisão dos professores em categorias; liberdade de organização para os trabalhadores da educação.





Referências


Catálogo Editora UNESP ADMINISTRAÇÃO, PODER E IDEOLOGIA
Catálogo Editora UNESP BUROCRACIA E IDEOLOGIA
Catálogo Editora UNESP REVOLUÇÃO RUSSA, A
SILVA, A.O. "Maurício Tragtenberg e a Pedagogia Libertária: anotações sobre a experiência do fazer a tese" in Revista Espaço Acadêmico nº 36, maio de 2004

Ligações externas



A Delinqüência Acadêmica, por Maurício Tragtenberg
A atualidade de Errico Malatesta, por Maurício Tragtenberg
A educação de Maurício Tragtenberg (depoimento pessoal sobre um método político-pedagógico), por Paulo Roberto de Almeida



Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Maurício_Tragtenberg



quarta-feira, 11 de junho de 2008

O dilema de Barack Obama



Seu discurso realça a luta por direitos para todos na era pós-industrial. Sua história de vida encarna a esperança de outra globalização possível. Suas posições estão bem à esquerda da média do Partido Democrata. Mas como ele enfrentará o desafio da disputa eleitoral, num país marcado pelo conservadorismo?
John Gerring, Joshua Yesnowitz

Além de uma campanha eleitoral clássica, a candidatura de Barack Obama é um movimento, como revelam as multidões eletrizadas que comparecem a seus encontros, as dezenas de voluntários que o apóiam e mais de um milhão de pequenos doadores. Este movimento agregou uma grande quantidade de novos eleitores ao processo de escolha do Partido Democrata, particularmente jovens e independentes [1]. Como resultado deste entusiasmo, o comparecimento às primárias e caucuses do Partido Democrata alcançou um recordes históricos. Aparentemente, Obama injetou nesta disputa um calor que esteve ausente por muitos anos [2].

E no entanto, há enormes diferenças de opinião sobre o significado da candidatura de Barack Obama. Para seus eleitores, ele é uma força fundamentalmente nova para a política norte-americana, já que vai além do partidarismo e convida a ultrapassar um jogo eleitoral viciado. Para seus oponentes no Partido Democrata (aqueles que apóiam a candidatura da senadora Hillary Clinton), ele é um espalhafatoso vulgar, combinando juventude e inexperiência. E para os partidários ao republicanismo, é um sujeito fascinante, mas que não tem nada de misterioso: um progressista ultrapassado, desejoso de redistribuir a renda por meio de impostos, pouco diferente daqueles que o precederam.

Cada uma destas perspectivas contém elementos de verdade. Porém, o que este homem traz de novo, seu ineditismo, e também sua história de vida, têm fornecido um amplo acervo para os diversos palpites. Tendo um pai do Quênia e uma mãe do Kansas, Obama foi criado no Havaí e na Indonésia, para onde sua mãe se mudou a fim de aprofundar suas pesquisas de doutorado em Antropologia (e onde acabou se casando de novo, o que deu a Obama um padrasto Indonésio). Ele freqüentou a faculdade na Califórnia (Occidental) e em Nova Yorque (Columbia), depois mudou-se para o Sul de Chicago, onde foi organizador de comunidades, até receber seu diploma de Direito em Massachussetts (Harvard). Não é de surpreender que Barack Hussein Obama tenha servido como um pergaminho de diversas camadas, sobre o qual o mundo projetou muitos dos grandes temas contemporâneos.

Barack Obama é um mensageiro, mas não um arquiteto do moderno Partido Democrata. Exotismos à parte, a candidatura de Obama está fincada nas questões que agora são tradicionais do Partido Democrata. Do fim do século 19 até a metade do século 20, as causas do partido eram definidas pela oposição à concentração de poder e dinheiro na sociedade norte-americana. Candidatos democratas à presidência – incluindo William Jennings Bryan (em 1896, 1900, 1908), Woodrow Wilson (1912, 1916), Franklin Roosevelt (1932, 1936, 1940 e 1944), e Harrry Truman (1948) – fizeram campanha pelo “povo” e contra os “interesses [privados]”. Eram marcados por uma visão plebiscitária do poder político, em que as pessoas comuns se juntavam para governar diretamente (ou o mais diretamente possível), e conchavos “privados” entre representantes do poder eram considerados corruptos, plutocráticos. Nos discursos, investiam contra o poder concentrado dos capitalistas, referindo-se a eles como trusts e Big Business. Contra os privilégios desfrutados pelas elites, os democratas lutavam pelos direitos do homem comum -– este, assumidamente branco e de origem européia. Assim foi era populista da ideologia do Partido Democrata [3].

Mutações no discurso do Partido Democrata. A luta por um "governo da maioria" e a denúncia do Big Business são substituídas pelos "direitos para todos" — inclusive as minorias
Na Era pós-II Guerra, a começar pelas campanhas de Adlai Stevenson (1952,1956), e depois com as de John Kennedy (1960), Lyndon Johnson (1964) e Hubert Humpphrey (1968), o discurso ácido da era populista diluiu-se. O antagonismo das classes sociais foi deslocado. Em seu lugar, entram os novos objetivos políticos e auto-imagem do partido. Os democratas do pós-guerra defendiam as reformas sociais da era progressista e do New Deal, e de vez em quando buscavam estender o alcance destas políticas (especialmente, as de seguridade social). No entanto, em seu discurso público, todas as conotações ligadas à luta de classes desapareciam. No lugar delas, os democratas adotaram a ideologia do universalismo, em que todas as raças, credos e classes pudessem estar envolvidas.

Essa estratégia retórica tinha como objetivo central o desejo de escapar dos possíveis perigos de um comunismo em ascensão (sobretudo, no auge da Guerra Fria), e da crescente impopularidade do movimento trabalhista. Os democratas do pós-guerra raramente faziam apelos ao governo para regular o setor privado; e nunca atacaram o setor do Big Business. Além disto, a adoção de uma ideologia universalista de união nacional não era somente uma ferramenta retórica, por meio da qual se evitavam acusações de práticas de socialismo e não-americanismo. Ela também articulava um novo objetivo político, fundamental para o Partido Democrata.

A partir de 1948, com a adoção do primeiro modelo de direitos civis, os democratas passaram a apoiar o engajamento ativo do governo na garantia de direitos para as mulheres e minorias. No princípio, o significado de minorias ficava restrito aos afro-americanos. Com o passar do tempo, o precedente dos direitos civis aos negros foi se estabelecendo, e o partido passou a defender, da mesma forma os direitos das mulheres, dos hispânicos, dos homossexuais e uma miríade de outros temas, menos etnicistas e mais baseados em causas. Assim, a filosofia dos direitos foi incessantemente estendida. De fato, o partido ao longo do curso do século vinte passou pelo processo de transformação, da ideologia do “governo da maioria” para a ideologia de “direitos das minorias”.

No entanto, o passo seguinte nesta caminhada para a unidade entre irmãos e irmãs acabou não acontecendo. O padrão dos candidatos do partido à presidência inclui apenas homens e brancos. Mulheres e minorias foram encorajadas a votar para os democratas, mas nunca contempladas com a indicação ao posto (ainda que alguns tenham tentado, como Geraldine Ferraro e Jesse Jackson). Agora, depois de pregar a fala da inclusão por meio século, o partido está sendo induzido a dançar conforme a música. Este ano, não importa qual dos dois candidatos for escolhido, tanto ele (Barack) quanto ela (Hillary) vão encarnar, em suas histórias de vida, a marca do Partido Democrata contemporâneo. O único postulante sério com pele branca e cromossomo Y – John Edwards – suspendeu sua campanha após ser davastado nas primárias, em que não ganhou sequer em um estado. É de notar que Edwards promovia uma campanha populista, focada em disparidades de classe e desigualdade de renda, uma estratégia falida para ganhar força.

Obama afirma-se enquanto o ápice da inclusão democrática. Sua vitoriosa história de vida e sua retórica retumbante captam o clima desta era pós-industrial
Dos dois candidatos-líderes, um colocou o tema universalista com maior força que o outro. Enquanto Hillary Clinton apresenta-se como mestre da política, protagonista dos cuidados com a saúde e co-presidente da administração Clinton, Barack Obama afirma-se enquanto o ápice da inclusão democrática. Não somente sua vitoriosa história de vida, como também sua retórica retumbante captam o clima do partido nesta era pós-industrial.

Apresentado a uma platéia nacional pela primeira vez em julho de 2004, quando se dirigiu à convenção do Partido Democrata, o então candidato de Illinois ao Senado cativou os delegados com seu apelo não-ideológico à comunidade e sua crença cívica. Estas palavras pertencem ao discurso que fez na ocasião, e que se tornou famoso:

Não existe uma América liberal e uma América conservadora: existem os Estados Unidos da América. Não existe uma América branca e uma América negra, uma América latina e uma América asiática: existem os Estados Unidos da América... Nós cultuamos um Deus todo-poderoso nos Estados azuis [democratas], e não gostamos de agentes federais bisbilhotando nossas bibliotecas, nos Estados vermelhos [republicanos]. Nós organizamos campeonatos de basquete nos estados azuis e temos amigos gays nos estados vermelhos. Existem patriotas que se opõem à guerra no Iraque e patriotas que a apóiam. Nós somos um só povo, todos nós prezamos a as estrelas e as listras, todos nós defendemos os Estados Unidos da América.

Nos eventos de campanha – que chegaram a ser comparados, por observadores, a rituais religiosos – Obama relembra seus apoiadores, de forma consistente, que todos os norte-americanos, sem distinção de raça, classe, ou gênero podem prosperar. Seu próprio nome, ele diz, é um símbolo da possibilidade norte-americana de mobilidade e destaque social:

[Meus pais me deram] um nome africano, Barack, ou “abençoado”, acreditando que, em uma América livre, um nome não deve ser uma barreira para o sucesso. Eles me imaginaram freqüentando as melhores escolas do país, mesmo que não fossem ricos, porque em uma América generosa você não precisa ser rico para realizar seu potencial.

Como mostrou no caso do Iraque, ele não evita tomar posições. Mas seus apoiadores as minimizam muitas vezes, em favor da representação de conjunto que ele expressa
Obama promove sua candidatura enquanto um político pós-partidário e pós-racial, buscando construir uma totalidade inclusiva, um consenso para a “mudança”. Isto permite a seus eleitores definir o que Obama representa para eles mesmos, livres das reais posicões políticas que o candidato defende. Não é tanto que Obama tenha evitado tomar posições (ele as assumiu de forma clara, por exemplo, sobre a guerra do Iraque: [4] são seus apoiadores que as minimizam muitas vezes, em favor da representação do conjunto que ele expressa.

Nada expresa melhor a confluência entre forma e conteúdo, na mensagem de Obama, que seu slogan “Sim, podemos” Yes, we can. Ele incorpora temas universalistas de inclusão e tolerância, num estilo em que o orador faz o apelo e espera a resposta, remanescente da tradição participativa da igreja afro-americana (Ver, em “Yes, we can” um exemplo)

Não é de se supreender, no entanto, que as massas do Partido Democrata tenham se unido a este arauto na atual temporada de primárias. Obama reflete o que o partido veio afirmando durante toda a segunda metade do século passado. Ele é a apoteose do universalismo democrático.

Ao longo do curso da campanha, Obama foi atacado repetidas vezes – primeiro por Clinton e agora pelo senador John Mccain, provável candidato republicano. Ambos julgaram-no “meramente retórico” e “eloquente, mas vazio” querendo dizer sem substância, sem estofo. Alega-se que seu conhecimento de política é fraco e que ele não tem uma agenda clara.

A modernidade de Obama não tem nada a ver com a de Bill Clinton. Se escolhido por seu partido, Obama será o mais à esquerda entre os democratas desde George Mc Govern, em 1972
Embora esta linha de ataque expresse uma preocupação legítima, é também necessário apontar que a política é uma arte feita de palavras, o elemento mais forte e sonoro que evoca poesia no léxico político de hoje (“poeta” é outro epíteto, supostamente desqualificador, atirado contra Obama). As palavras e a capacidade de usá-las são habillidades da profissão, visto que a política é essencialmente uma arte retórica. As pessoas ouviam Ronald Reagan e gostavam do que ele dizia. O mesmo não poderia ser dito de H.W. Bush, nem de G.W. Bush.

Da mesma forma, o sinal que distingue Bill Clinton de de quase todos os outros recentes aspirantes a presidente democratas (incluindo sua esposa) é sua maestria na arte de comunicação. Sem isto, Obama (ou Hillary) não podem conseguir grande coisa. O senso comum (repetido incansavelmente na campanha de Hillary Clinton) de que se faz campanha em poesia e se governa em prosa omite que, nesta era de permanente campanha, é preciso dominar ambos os meios, todo o tempo. Não é por acidente que os líderes norte-americanos julgados como grandes são aqueles de cujas palavras podemos nos lembrar.

Assim como Obama hoje, Lincoln foi também acusado, por seus oponentes, de disfarçar sua verdadeira agenda por trás de uma névoa de palavras bem-ditas, mas substancialmente ambíguas. Durante sua campanha para presidente, em 1860, ele foi pressionado várias vezes a tomar partido claro em relação à abolição da escrevatura. Mas a bandeira sob a qual preferiu conduzir sua campanha foi a do nacionalismo. Lincoln autodenominava-se um salvador da União e não o protetor dos homens e mulheres negros. Ele declarou sua repugnância pela escravidão, mas sempre deixou claro que esta era uma opinião pessoal e não partidária, e teria poucos desdobramentos políticos, caso fosse eleito. Neste sentido, a performance de Lincoln poderia ser vista como um dos maiores estelionatos eleitorais na história da política... E, ainda assim, é um dos mandatos que os norte-americanos, brancos e negros, provavelmente defenderiam hoje. Sua estratégia era a única que poderia assegurar sua nomenação como candidato republicano, e — com um pouco de sorte... — a presidência.

Se Obama for escolhido entre os democratas para defender suas cores em novembro, o ponto mais sensível de seu discurso político não será a raça, mas o caráter supostamente progressista de sua candidatura. Seu histórico de votações (como parlamentar no Estado de Illinois e senador em Washington), assim como suas alianças políticas, indicam que ele está na ala esquerda do Partido Democrata, e bem mais à esquerda que a maioria dos candidatos recentes. Neste sentido, a modernidade de Obama não tem nada a ver com a de Bill Clinton, quando eleito em 1992. Se for o escolhido de seu partido, Obama poderá ser classificado pelos historiadores como o mais à esquerda entre os democratas desde George Mc Govern, em 1972. Optará por fazer campanha como um progressista de carteirinha? Ou preferirá aparecer como alguém acima das disputas políticas?




traduções deste texto >> English — Obama: the Democrats in person Esperanto — La aŭdaca veto de Barack Obama français — L'audacieux pari de Barack Obama فارسى — قمار بي باکانه برک اوباما
[1] Cidadãos que optaram por não se afiliar a nenhum dos dois grandes partidos, no momento de sua inscrição eleitoral. A questão sobre seu vínculo partidário lhes é apresentada para determinar de que primárias eles poderão participar. Porque, em muitos Estados, um eleitor inscrito como democrata, ou como republicano, não pode participar da primária de outro partido

[2] Para dados sobre grupos demográficos e participação eleitoral, ver The United States Election Project http://elections.gmu.edu

[3] Este esboço histórico inspira-se em John Gerring, Party Ideologies in America, 1828-1996. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.

[4] Em 2/10/2002, no momento em que uma maioria dos norte-americanos parecia apoiar a política do presidente George W. Bush, Obama participou de uma manifestação anti-guerra e pronunciou um discurso importante.


Fonte: http://diplo.uol.com.br/2008-04,a2352

Hegel problemático


Adepto de algumas releituras do sistema filosófico hegeliano realizado por Cirne-Lima, e contrário a outras, o pensador analítico Paulo Roberto Margutti Pinto afirma, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, que o filósofo “nos convida a repensar e a não a repetir Hegel”. Com isso, avalia, “ele provoca não só os hegelianos tradicionais, que não vêem com bons olhos a lógica formal, mas também os filósofos de tendência analítica, como eu, que não vêem com bons olhos a lógica dialética hegeliana. O resultado é um debate muito estimulante e frutífero em torno do significado da obra de Hegel”. Confira, na entrevista a seguir, as considerações do pesquisador referentes às teorias de Cirne-Lima, especificamente sua crítica à contrariedade.

Paulo Roberto Margutti Pinto é graduado em Filosofia e mestre em Filosofia Contemporânea, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Cursou o doutorado na Universidade de Edinburgh e, atualmente, é docente da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, Belo Horizonte, MG.

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Paulo Roberto Margutti Pinto: Cirne-Lima: defensor de uma posição única no debate filosófico

Por: Márcia Junges e Patricia Fachin, 09/06/2008

IHU On-Line - Como o senhor percebe as ponderações apresentadas por Cirne-Lima aos possíveis “erros de Hegel”?

Paulo Roberto Margutti Pinto -
Como pensador de tendências analíticas que sou, creio que Cirne-Lima tem razão ao criticar certos erros em Hegel. Um deles, em minha opinião, está na idéia de que a tese, em sua evolução histórica, caminhará em direção à sua contraditória, que se expressará na antítese. Ora, não há sistema algum de lógica que seja capaz de gerar a antítese não-A a partir da tese A e permanecer consistente depois disso. O outro erro está em supor que a síntese possa ser formada pela conjunção de A com não-A. Uma vez admitido que a síntese seja formada por essa conjunção, o sistema hegeliano se torna trivial, no sentido de poder provar qualquer coisa. Aliás, esse é um dos maiores problemas da Ciência da Lógica, que, ao fim e ao cabo, prova absolutamente tudo, não deixando coisa alguma fora do sistema. Cirne-Lima tenta superar esses erros, alegando que a oposição entre tese e antítese é por contrariedade e não por contradição. Como duas proposições contrárias podem ser falsas ao mesmo tempo, ele pode, então, construir uma síntese em que a tese e a antítese se tornam simultaneamente falsas, evitando a presença de contradição no sistema e a conseqüente trivialidade. Em meu debate com ele, procuro mostrar que a oposição por contrariedade, embora evite os problemas de Hegel, cria outros. Por exemplo, a contrariedade não tem a força da contradição para impulsionar o movimento histórico; uma síntese em que os elementos contrários da tese e da antítese se tornam falsos certamente constitui uma superação da oposição, mas é incapaz de conservar os elementos contrários que superou, porque esses se tornaram falsos. Em nossas discussões, tentei mostrar-lhe, através de processos formais, que a proposta dele era inconsistente. Esse foi, provavelmente, um dos fatores que levou Cirne-Lima a tentar defender a consistência de sua proposta através da formalização da lógica dialética baseada na oposição por contrariedade. Como se pode ver, tivemos uma rica troca de experiências intelectuais. Espero que ela possa continuar mesmo depois da aposentadoria de Cirne-Lima.

IHU On-Line - Como o meio acadêmico hegeliano vê as empreitadas de Cirne-Lima, como a da formalização da Ciência da Lógica?

Paulo Roberto Margutti Pinto -
Os hegelianos vêem a lógica formal como um mero capítulo de um movimento maior, a lógica dialética. A primeira é estática e não dá conta de explicar os processos históricos, que se desenvolvem no tempo. A segunda é dinâmica e possui a capacidade de explicar os processos históricos. A lógica formal fica paralisada quando depara com uma contradição. A lógica dialética avança justamente quando depara com uma contradição. Nessa perspectiva, qualquer tentativa de formalização da dialética é vista pelos hegelianos como uma diminuição da mesma. É como se estivéssemos utilizando a parte – lógica formal – para explicar o todo – lógica dialética – ou o inferior para explicar o superior. O meio acadêmico hegeliano não vê com simpatia a iniciativa de Cirne-Lima. Para piorar, o meio acadêmico de tendência analítica, ao qual pertenço e que enfatiza a lógica formal em detrimento da dialética, também não vê com bons olhos essa iniciativa, pois considera-a desnecessária e destinada ao fracasso. Isso coloca as idéias de Cirne-Lima numa situação em que se encontram expostas ao fogo inimigo em dois flancos, mas, ao mesmo tempo, lhe confere uma posição única no debate filosófico.

IHU On-Line - Cirne-Lima, ao avaliar o pensamento hegeliano, concorda com duas críticas introduzidas por Schelling. A primeira diz que Hegel não foi suficientemente claro em dar ênfase para a facticidade da história. A segunda é que, para Hegel, a razão funciona e se movimenta mediante a contradição. O senhor concorda com essas posições?

Paulo Roberto Margutti Pinto -
Concordo com a primeira, mas tenho reservas quanto à segunda. No que diz respeito à primeira crítica, reconheço que a ênfase na facticidade da história é indispensável para que a dimensão contingente dos acontecimentos seja devidamente respeitada. Em Hegel, parece valer o seguinte princípio: “Se os fatos não concordam com a teoria, então azar dos fatos”. Ora, essa não me parece uma estratégia acertada para uma teoria científica adequada. Cirne-Lima também está preocupado em recuperar a dimensão contingente dos fatos e, por esse motivo, tenta articular uma dialética descendente que, paradoxalmente, não é determinista. Através dela, ele não faz deduções de acontecimentos necessários no processo histórico, mas admite a presença de acontecimentos contingentes. No que diz respeito à segunda crítica, Cirne-Lima tenta substituir a dialética baseada na contradição por outra, baseada na contrariedade. Como disse, essa última não consegue explicar adequadamente o movimento e não oferece uma síntese adequada dos elementos opostos. Minha proposta alternativa consiste em preservar a contradição e a lógica formal, apesar de reconhecer as limitações dessa última para dar conta de uma realidade muito mais complexa do que ela. Nessa perspectiva, só podemos utilizar a lógica formal para descrever aspectos da realidade, nunca ela toda. Desse modo, a lógica formal poderia ser usada tanto para descrever o aspecto-tese como o aspecto-antítese da realidade. Mas, como esses aspectos são mutuamente excludentes, nunca poderemos descrevê-los simultaneamente e sob o mesmo ponto de vista. Teremos de nos conformar com descrições parciais e complementares da realidade, que nunca poderão ser superpostas, sob pena de inconsistência. Nessa dialética, a contradição ficaria preservada como geradora do movimento e nunca haveria uma síntese, o que evitaria o problema da trivialidade. No entanto, essa é uma outra história, que não me parece oportuno desenvolver em detalhe aqui.

IHU On-Line - Quais são as maiores contribuições desse filósofo para o avanço nos estudos sobre Hegel?

Paulo Roberto Margutti Pinto -
Penso que Cirne-Lima assume uma postura muito diferente daquela dos demais estudiosos de Hegel no Brasil, que se limitam a comentar mais ou menos escolasticamente a obra do grande pensador alemão. Cirne-Lima nos convida a repensar e não a repetir Hegel. Sua proposta não é exegética, mas dialética no sentido mais autêntico da expressão. Como discípulo autêntico de Hegel, Cirne-Lima, embora extraia sua inspiração do mestre, se propõe a superá-lo, utilizando elementos de lógica formal que são caros aos pensadores analíticos. Com isso, ele provoca, segundo mencionei, não só os hegelianos tradicionais, que não vêem com bons olhos a lógica formal, mas também os filósofos de tendência analítica, como eu, que não vêem com bons olhos a lógica dialética hegeliana. O resultado é um debate muito estimulante e frutífero em torno do significado da obra de Hegel para nós hoje, que só não é maior porque, infelizmente, os pesquisadores brasileiros tendem a silenciar sobre aquilo com que não concordam, ao invés de discuti-lo para atingir uma melhor compreensão. Mesmo assim, Cirne-Lima contribuiu inegavelmente para um estudo da obra de Hegel, que se revelou mais independente e capaz de estimular a formação de uma escola de pensamento.

IHU On-Line - De que maneira a obra de Cirne-Lima contribuiu para a construção e consolidação do pensamento filosófico no Brasil?

Paulo Roberto Margutti Pinto -
De diversas maneiras. Em primeiro lugar, pela coragem em apresentar um sistema filosófico próprio, num país em que a pesquisa em nível de pós-graduação está predominantemente voltada para o comentário exegético de autores estrangeiros e em que qualquer iniciativa de elaboração pessoal é vista como um atrevimento imperdoável. Em segundo lugar, por ter tido liderança suficiente para criar o Grupo de Trabalho em Dialética da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (Anpof), através de cujas atividades foi possível divulgar as suas idéias entre outros pesquisadores interessados, gerando um debate frutífero entre eles. Em terceiro lugar, pela formação de discípulos talentosos e motivados, como Eduardo Luft, que nele se inspiraram para dar prosseguimento ao projeto de reforma da dialética hegeliana.

IHU On-Line - Levando em consideração seu contato pessoal com o professor, como o senhor descreveria o educador Cirne-Lima? De que maneira ele ajudou a difundir a Filosofia entre os alunos?

Paulo Roberto Margutti Pinto -
A primeira vez que tive contato com Cirne-Lima foi quando fazia meu curso de mestrado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e assisti a uma conferência dele, que, na época, já era professor renomado, sobre a contradição dialética e a lógica modal. Fiquei fascinado com a clareza da exposição e com a paixão que ele revelava ao apresentar suas idéias. Pessoas assim conseguem despertar e estimular nos outros o interesse pela Filosofia. Penso que as qualidades mencionadas fazem dele um professor excepcional, daqueles que possuem o raro dom de fazer escola. Aqui no Brasil são poucos os que conseguem essa façanha. No momento, só consigo me lembrar do nome de Oswaldo Porchat, que também foi um criador de escola e formador de discípulos. O merecido título de professor emérito que ele recebeu da Unisinos é o reconhecimento mais eloqüente dado a uma pessoa que dedicou a vida à formação filosófica autêntica de seus discípulos.

IHU On-Line - Que aspectos você destacaria na convivência pessoal e intelectual com Cirne-Lima?

Paulo Roberto Margutti Pinto -
Nos seus relacionamentos, Cirne-Lima se revela uma pessoa extremamente gentil e generosa. Lidar com ele é um prazer, pois essas qualidades vêm acompanhadas de uma agilidade intelectual e uma erudição filosófica capazes de fazer inveja a qualquer um. As conversas que tive com ele sempre foram animadas, diversificadas, surpreendentes e ricas em ensinamentos. Cirne-Lima é capaz de tornar o assunto menos interessante numa verdadeira aventura intelectual.

IHU On-Line - Cirne-Lima costuma dizer que os filósofos estão mais habituados a fazer História da Filosofia e da Ciência do que propriamente Filosofia. Ao contrário, ele se destaca justamente por essa posição diferenciada e de ter presente as discussões filosóficas como tema central em sua vida. Como o senhor percebe, assim, o filósofo Cirne-Lima e sua preocupação em explicar os dilemas da contemporaneidade?

Paulo Roberto Margutti Pinto -
Penso que ele tem razão ao dizer que os filósofos estão mais habituados a fazer História da Filosofia e da Ciência, mas acrescentaria que isso acontece principalmente no Brasil. Como já disse antes, a nossa pós-graduação em Filosofia está mais interessada no comentário exegético do que na criatividade pessoal. Até mesmo nossos cursos de graduação em Filosofia padecem desse mal, estimulando explicitamente a leitura dos clássicos, entendida como prática rigorosa da Filosofia, e desestimulando implicitamente as iniciativas de elaboração pessoal, entendidas como formas de “achismo”. Ainda estamos presos de algum modo à velha tendência portuguesa de manter a fidelidade ao comentário exegético de Aristóteles em plena era moderna, quando o cartesianismo se espalhava pelo resto da Europa. Nessa perspectiva, trabalhos como o de Cirne-Lima constituem honrosas exceções numa constelação de pesquisas predominantemente escolásticas. E seu trabalho é não apenas original, mas também ligado à problemática contemporânea, uma vez que ele foi capaz de mostrar diversas analogias e semelhanças entre o hegelianismo de raízes neoplatônicas e a atual abordagem sistêmica de caráter transdisciplinar.

IHU On-Line - Depois de Hegel pode ser considerado a coroação da produção intelectual de Cirne-Lima? Nesta obra encontramos a melhor formulação do seu modo de ver e perceber a Filosofia?

Paulo Roberto Margutti Pinto -
Certamente. Depois de Hegel constitui a formulação mais completa e mais pessoal de Cirne-Lima. Ali vemos como ele foi capaz de remontar a abordagem sistêmica atual, inspirada nos estudos de von Bertalanffy, a suas raízes neoplatônicas, as quais, na opinião dele, estão presentes na dialética hegeliana criticamente reconstruída. Com isso, ele pretende estabelecer uma dialética que não é determinista, que não deduz os fatos, mas explica a partir dos fatos, admitindo a presença da contingência no sistema. Na sua paixão de pensador incansável, Cirne-Lima explica até mesmo os argumentos pró e contra ele como manifestações de uma dialética através da qual as inverdades serão desmascaradas para que possamos continuar avançando assintoticamente em direção à verdade plena.


Nota

Quem é Cirne Lima:

Filósofo brasileiro nascido em Porto Alegre no ano 1931, Cirne-Lima desempenhou uma atividade profissional intensa. Depois de concluir o ensino básico no Colégio Anchieta, na capital gaúcha, o fascínio pela Filosofia e o interesse pelo conhecimento o levaram, ainda jovem, a ingressar nos cursos de grego e latim, do Colégio Santo Inácio, em Salvador do Sul, e do Instituto São José, em Pareci Novo, ambos no Rio Grande do Sul. Nesta mesma época, Cirne-Lima iniciou suas atividades no magistério, onde se destacou por ensinar esses dois idiomas.

Filho de D. Maria Velho Cirne-Lima e do eminente jurista Ruy Cirne-Lima, ex-diretor da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Cirne-Lima ingressou no seminário jesuíta, aos 16 anos. Nas duas décadas em que pertenceu à Companhia de Jesus, ele dedicou-se aos estudos de Filosofia e Teologia, ingressando em 1949 no grande centro alemão, Berchmannskolleg Pullach Bei München. A partir de 1953, o filósofo cursou Teologia em Frankfurt e Innsbruck, Áustria, onde conheceu os professores Karl Rahner e E. Coreth. Na Europa, participou de diversos debates filosóficos, especializando-se em “Tiefenpsychologie”, pelo Institut für Tiefenpsychologie Innsbruck, Áustria, em 1959. Doutorou-se, ainda neste mesmo ano, em Filosofia, pela Universität Innsbruck, Áustria, com o trabalho “Der personale Glaube. Eine erkenntnismetaphysische Studie”. No início da década de 1960, retornou ao Brasil, e em seguida voltou para a Europa, onde lecionou na Universidade de Viena, iniciando, então, sua segunda etapa de formação filosófica. Nesse período, iniciou seus estudos sobre Leibniz, Kant, Schelling e Hegel. Dessas pesquisas, resultou seu trabalho “Analogie und Dialektik”.

De volta ao Brasil, em 26 de julho de 1968, Cirne-Lima faz sua livre-docência na Faculdade de Filosofia da UFRGS. A situação política da época fez com que sua permanência na faculdade fosse abreviada com a imposição de aposentadoria compulsória, decretada pelo Regime Militar de 1969. Proibido de lecionar, ele dedicou-se às atividades empresariais, retornando ao magistério em 1979, após a anistia, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS. Na Universidade Federal, foi coordenador do Programa de Pós-Graduação em Filosofia, entre 1985 e 1986. Após se aposentar na UFRGS, em 1991, tornou-se professor titular na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), onde permaneceu até 1999. Nesta universidade, fundou o grupo de pesquisas Integradas Dialética – Diretórios de Grupos de Pesquisa do CNPq. Em 2000, Cirne-Lima iniciou sua carreira na Unisinos, onde aposentou-se neste semestre, recebendo na última sexta-feira, 06-06-2008, o título de professor emérito.

No decorrer da docência, o filósofo organizou congressos, coordenou pesquisas e publicou várias obras. Em 2006, ele inovou ao editar o CD-Rom Dialética para todos, no qual apresenta, com uma linguagem didática, suas teorias sobre dialética e sistema filosófico. Entre outros livros, Cirne-Lima publicou Realismo e Dialética. A Analogia como dialética do realismo. (Porto Alegre: Globo, 1967), Sobre a contradição (Porto Alegre: EDIPUCRS, 1993), Dialética para principiantes (Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996), Nós e o Absoluto (São Paulo: Loyola, 2001) e Depois de Hegel. Uma reconstrução crítica do sistema neoplatônico (Caxias do Sul: Educs, 2006).










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http://www.unisinos.br/ihuonline/index.php?option=com_tema_capa&Itemid=23&task=detalhe&id=1093




segunda-feira, 9 de junho de 2008

Quanto custa perder a biodiversidade




Por: Washington Novaes

Fonte: http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=14531




"Ao todo, em meados do século poderão estar perdidos 11% dos ecossistemas, por causa de sobrecarga da agropecuária, implantação de infra-estruturas e mudanças climáticas", escreve Washington Novaes, jornalista, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 06-06-2008. Para o jornalista, "o veto do presidente a novos recursos para a área ambiental e a concordância com a exclusão de municípios desmatadores das restrições de crédito, ao mesmo tempo que abre os cofres para conceder subsídios a setores industriais, perdoa parte das dívidas do agronegócio, cancela impostos sobre o consumo de gasolina, entre outras ações, gera o temor de que podem não ser melhores os dias que virão".

Eis o artigo.

Se não estivesse escrito em todos os jornais, não daria para acreditar: o novo ministro do Meio Ambiente estreou no cargo assinando portaria que, "esclarecendo os termos de resolução do Banco Central", permite a concessão de crédito a produtores de 100 dos 527 municípios onde fora registrado forte desmatamento, localizados "na transição entre os biomas amazônico e do Cerrado". Atendeu, assim, a parte das reivindicações do governador Blairo Maggi - a quem vinha quase desafiando. E caberá aos "órgãos ambientais" definir essas áreas excluídas - os mesmos órgãos, extremamente liberais na concessão de licenças para desmatar, aos quais fora repassada essa competência pelo governo federal. Segundo o ministro, a restrição ao crédito "só vale para áreas de floresta" e no bioma amazônico. E o governo federal ainda financiará com juros subsidiados a recomposição das reservas legais obrigatórias pela legislação.

É inacreditável porque faz lembrar episódio já narrado aqui (14/3), de quando o autor destas linhas era secretário do Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia do Distrito Federal. Numa audiência pública, foi perguntado à então presidente do Ibama o que pretendia fazer com o desmatamento e as queimadas no Cerrado. E ela: "Ainda bem que é no Cerrado, não é na Amazônia." O secretário teve de se retirar ostensivamente, para marcar seu protesto, gestor que era de uma unidade da Federação toda ela situada no Cerrado. Mas a presidente explicitava o pensamento de tanta gente que acha o Cerrado um bioma de segunda ou terceira categoria. E sendo tal, não tem importância devastá-lo se com isso se preservar a Amazônia. Esquece-se a inter-relação e interdependência dos biomas; deslembra-se que o Cerrado contribui com parcela significativa das águas amazônicas; que ele detém cerca de um terço da biodiversidade brasileira; que em sua maior parte ocorrem no Cerrado (com desmatamento e queimadas) as emissões de gases, fora da Amazônia (que responde por 59% do total), que intensificam o efeito estufa e mudanças do clima; e ainda que o Cerrado está perdendo 1,1% de sua vegetação, 22 mil km2, por ano, e já perdeu 800 mil no total.

O ministro da Agricultura também deve ter ficado muito satisfeito com a exclusão desse bioma das restrições ao crédito: ele também tem dito que a expansão da agropecuária deve ser feita nas áreas de Cerrado. Mas ele, como outros, deveria ler com atenção alguns dos documentos apresentados na recente reunião das partes da Convenção da Diversidade Biológica, na Alemanha. Seria muito útil para ele e outros que só pensam em termos financeiros. A perda da biodiversidade, diz, por exemplo, o documento oficial alemão (A economia dos ecossistemas e da biodiversidade), poderá vir a custar uma perda de 6% a 7% do produto bruto mundial ao ano, até 2050. Para os países mais pobres poderá significar até metade de seu produto e afetar gravemente as populações mais carentes, que dependem dos ecossistemas naturais para obter alimentos, medicamentos, bioenergias, materiais de construção, etc. - e os muito pobres são quase metade da população mundial.

Ao todo, em meados do século poderão estar perdidos 11% dos ecossistemas, por causa de sobrecarga da agropecuária, implantação de infra-estruturas e mudanças climáticas. Metade das áreas úmidas do planeta estará comprometida. E grande parte dos estoques pesqueiros. Hoje, os países mais ricos, do G-8, somados aos emergentes (China, Índia, África do Sul, Brasil e México), "usam 75% da biocapacidade da Terra", diz o documento alemão. Por essas e outras razões, mais de 80 países assinaram em Bonn um compromisso de chegar a 2020 com desmatamento zero. Que fará o Brasil?

O ministro Mangabeira Unger, responsável pelo Plano Amazônia Sustentável, concorda que precisamos chegar a esse desmatamento zero. Mas, a julgar pelo que está nos jornais, não há razões para ser otimista. Marcelo Furtado, do Greenpeace, por exemplo, diz que "o governo Lula abriu mão da agenda ambiental". Mais grave, João Paulo Capobianco, que foi secretário de Biodiversidade e secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, em entrevista ao jornao O Estado de S. Paulo, (29/5), inclui, entre as razões de sua saída, que "o Ministério não tinha um papel relevante dentro da política do desenvolvimento nacional". E ainda que, "ambientalmente, a sustentabilidade não faz parte da visão do governo. Essa é uma visão secundária."

Ou seja, a "transversalidade" ambiental apregoada pela ex-ministra - para ser parte da visão de todas as áreas do governo - não chegou a se concretizar. Predomina a visão "desenvolvimentista" a qualquer preço, o crescimento do produto bruto como objetivo prioritário e até excludente. Preço que pode ser alto. Como costumava dizer o falecido secretário nacional do Meio Ambiente José Lutzenberger, "nada melhor para o crescimento do PIB que um terremoto: não se contabiliza o prejuízo e as obras de reconstrução fazem crescer as contas do PIB".

Não demorará muito para que se saiba em que compartimento se encaixa o novo ministro, que chega apontado por muitos críticos como "facilitador" de licenciamentos, à custa de prejuízos sérios - na área do petróleo, na dos plantios de monoculturas em grandes extensões, entre outras.

O veto do presidente a novos recursos para a área ambiental e a concordância com a exclusão de municípios desmatadores das restrições de crédito, ao mesmo tempo que abre os cofres para conceder subsídios a setores industriais, perdoa parte das dívidas do agronegócio, cancela impostos sobre o consumo de gasolina, entre outras ações, gera o temor de que podem não ser melhores os dias que virão.

O que será lamentável, diante de diagnósticos tão preocupantes que chegam de reuniões internacionais, como a da Convenção da Diversidade Biológica.