sábado, 30 de maio de 2009

Obama terá "ciberczar" para "guerras virtuais"





Após dizer que as redes digitais dos EUA são "bens nacionais estratégicos", o presidente Barack Obama anunciou ontem a criação de um departamento específico na Casa Branca para ação em "guerras virtuais". O órgão será coordenado por um "ciberczar", cujo nome ainda não foi selecionado.

A reportagem é de Andrea Murta e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 30-05-2009.

O novo cibercomando conduzirá não apenas operações de segurança mas também ofensivas contra "computadores inimigos". Membros do governo não quiseram detalhar as potenciais operações ofensivas, mas afirmaram ver o ciberespaço como algo comparável a campos de batalha tradicionais.

Obama disse que tecnologias virtuais já são usadas em conflitos reais. "No ano passado, vislumbramos a próxima face da guerra. Enquanto tanques russos entravam na Geórgia, ciberataques prejudicaram sites do governo georgiano; os terroristas que semearam tanta morte e destruição em Mumbai se apoiaram não apenas em armas e granadas, mas também em sistemas GPS e telefones que usavam voz pela internet."

Hoje, ações de segurança virtual nos EUA estão descoordenadas e distribuídas entre vários órgãos, como a Agência Nacional de Segurança (NSA) e o próprio Pentágono. Para Obama, o status quo não é eficiente: "Não estamos tão preparados como deveríamos, nem como governo nem como país. O ciberespaço é real, assim como as ameaças que derivam dele". O novo "ciberczar" integrará as políticas governamentais de cibersegurança e coordenará respostas a eventuais ataques virtuais.

"A Al Qaeda e outros grupos terroristas já falaram de seu desejo de lançar ataques virtuais aos EUA. Atos de terror podem vir não só de extremistas suicidas, mas também de toques em um computador - uma arma de abalo em massa."

A Casa Branca estima que nos últimos dois anos a atuação de criminosos virtuais custou mais de US$ 8 bilhões aos americanos. Só em 2008, dados digitais roubados somam valores de até US$ 1 trilhão em todo o mundo. O próprio presidente sofreu consequências dos ataques - sua campanha à Casa Branca teve os computadores invadidos e espionados.

Suspeita-se que parte dos ataques não seja ação de hackers isolados, mas sim espionagem por parte de governos estrangeiros, como o da China.

"Por todas essas razões, está claro que a ameaça cibernética é um dos mais sérios desafios econômicos e de segurança nacional que nosso país enfrenta", resumiu Obama.

Escalada

Obama se esforçou para apaziguar temores de que abusará das liberdades civis e privacidade digital no país. Ele afirmou que impedirá o governo de monitorar regularmente "redes do setor privado" e que haverá um cargo no novo departamento específico para essa proteção.

Esse é um ponto delicado, principalmente após polêmicas do governo de George W. Bush relacionadas a escutas de comunicações sem mandato judicial e espionagem de e-mails.

Além da questão da privacidade, a iniciativa de ontem do governo gerou também temores de respostas externas agressivas. "Sem dúvida, a ação vai levar a uma escalada de estratégias para ataques e incidentes por adversários, incluindo Rússia e China, que verão a política dos EUA como um aumento de ameaças e legitimação dessas táticas", disse ao "New York Times" Ron Deibert, cofundador do relatório Monitor de Guerras de Informação e diretor do Laboratório Cidadão da Universidade de Toronto. "Podemos esperar ataques mais debilitantes em serviços e sites."