quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Vidas revolucionárias: Leon Tolstoi



Todos nós sabemos quem é Leon Tolstoi, autor de obras conhecidas (talvez não tão lidas) como A morte de Ivan Ilitich, Anna Karenina e Guerra e paz. Mas o que quero ressaltar aqui não é o gênio literário, pra que chover no molhado. Meu interesse é pelos rumos que Tolstoi tomou em sua vida, principalmente em sua fase final, colocando em prática, vivendo, tudo aquilo que escreveu.

Tolstoi nasceu em berço nobre, numa família de proprietários de terra, em 1828. Cresceu nesse meio aristocrático, mas já na juventude começou a mostrar-se preocupado com temas como a justiça e a liberdade e com as conseqüências do estilo de vida burguês, materialista, utilitarista e egocêntrico. Essa preocupação agravou-se após as viagens pela Europa que realizou no começo da década de 1850 e novamente no começo da década de 1860.
Suas primeiras obras lhe renderam fama junto à boemia literária russa, mas Tolstoi era avesso à badalação e ao assédio. Apesar da influência do agito social de São Petersburgo na sua trajetória intelectual, Tolstoi preferiu recolher-se em sua propriedade na província de Tula.
Preocupado com a precariedade da educação no meio rural fundou, no final da década de 1850, uma escola para camponeses cujas concepções já antecipavam ideais da educação progressiva moderna como os de Summerhill school. Movido por esse novo interesse, publicou, em 1862, uma revista pedagógica na qual afirmava que os intelectuais deveriam aprender com os camponeses, e não o contrário.
Tolstoi atormentava-se com questões sobre o sentido da vida e, após desistir de encontrar respostas na filosofia, na teologia e na ciência, deixou-se guiar pelo exemplo dos camponeses, que lhe diziam que o homem deve servir a Deus e não viver para si mesmo. Convencido de que uma força inerente ao homem lhe permite discernir o bem, formulou os princípios que doravante norteariam sua vida.
Recusou a autoridade de qualquer governo organizado e da Igreja Ortodoxa russa (que o excomungaria em 1901), o direito à propriedade privada e, inclusive, no terreno teológico, a imortalidade da alma. Para difundir suas idéias dedicou-se, em panfletos, ensaios e peças teatrais, a criticar a sociedade e o intelectualismo estéril.
A crônica autobiográfica Uma confissão, de 1882, descreve seus tormentos naqueles anos e como os superou mediante um cristianismo evangélico e peculiar. A negação de toda autoridade e do Estado o aproximou dos anarquistas, embora não concordasse com aqueles que pregavam o uso da força para transformar a sociedade. O reino de Deus está em ti, de 1891, expõe sua crença na não-resistência ao mal e de não-violência. Esse texto seminal influenciou homens como Martin Luther King e Mahatma Gandhi, com quem trocou correspondências nos seus últimos anos de vida (1908 a 1910). Nesse texto afirma que os governos existem para o bem dos ricos e poderosos, que, pela força, exploram a humanidade e a matam em guerras.
Tolstoi dedicou-se a uma vida de comunhão com a natureza. Deixou de beber e fumar, tornou-se vegetariano e passou a vestir-se como camponês. Convencido de que ninguém deve depender do trabalho alheio, buscou a auto-suficiência e passou a limpar seus aposentos, lavrar o campo e produzir as próprias roupas e botas.
No final da vida quis doar todos seus bens e propriedades, mas foi impedido pela família. Num rasgo final de independência, aos 82 anos de idade, Tolstoi abandonou a casa em busca de um lugar onde pudesse sentir-se mais próximo de Deus. Dias depois, em 20 de novembro de 1910, morreu devido a uma pneumonia na estação ferroviária de Astapovo, província de Riazan.

Filme: Zeitgeist, o Filme



(*) Agradeço a Luís Barreiros por ter-me apresentado/recomendado o filme



Trata-se de um documentário produzidos nos EUA em 2007, sem fins lucrativos, podendo inclusive ser ("oficialmente") assistido pela Internet, por meio do YouTube, por exemplo.


O link do filme com legendas em português segue abaixo:






(Fazendo um pequeno parênteses, trata-se aqui de mais um exemplo da face "Janus" do atual sistema, (majoritariamente) fascista e, ao mesmo tempo, (minoritariamente) anárquico. No caso, aproveita-se a inserção criada pelo próprio "sistema" hegemônico - a Internet e suas funcionalidades - para uma finalidade "contestatória-anárquica").

Introduzo a apresentação do filme com esse pequeno texto extraído da Wikipedia, para, ao final, tecer alguns comentários pessoais:

"Zeitgeist, the Movie é um filme estadunidense de 2007 sem fins lucrativos produzido por Peter Joseph que pretende, segundo o autor, inspirar as pessoas a investigarem o mundo de uma perspectiva diferente.


O filme é dividido em três seções:

Primeira parte: "The Greatest Story Ever Told" ("A maior história já contada")
Segunda parte: "All The World's A Stage" ("O mundo inteiro é um palco")
Terceira parte: "Don't Mind The Men Behind The Curtain" ("Não se preocupe com os homens atrás da cortina")
Uma versão deste filme foi apresentada no 4th Annual Artivist Film Festival & Artivist Awards.[1]

Desde que a versão online deste filme foi lançada ao público em Junho de 2007, este filme já foi visto mais de seis milhões de vezes, contando somente a versão integral em inglês disponível em Google Vídeo. Na realidade esse número de telespectadores é referente ao final do mês de novembro, quando a contagem de visualizações fora misteriosamente suprimida do site. Especula-se que esse número já tenha superado largamente os dez milhões, visto que "Zeitgeist, the movie" tem sido, dia após dia, desde o mês de outubro, o vídeo on-line mais assistido em todo o mundo.[2]

Estrutura do filme

Primeira Parte: The Greatest Story Ever Told
A primeira parte do filme é uma avaliação crítica do cristianismo. O filme opina que Jesus é um híbrido literário e astrológico e que a bíblia se trata de uma miscelânea de histórias baseadas em princípios astrológicos pertencentes a civilizações antigas. A atenção do filme foca-se inicialmente no movimento do Sol e das estrelas, fato este que é uma das características das religiões pré-cristãs.

Segunda Parte: All The World's a Stage
A segunda parte do filme foca-se nos ataques de 11 de setembro de 2001. O filme opina que governo dos Estados Unidos tinha conhecimento destes ataques e que a queda do World Trade Center foi uma demolição controlada. O filme assegura que a NORAD, entidade responsável da defesa aérea dos Estados Unidos, tinha sido propositadamente baralhada no dia dos ataques com exercício simulado em que os Estados Unidos estavam a ser atacados por aviões seqüestrados.

Terceira Parte: Don't Mind The Men Behind The Curtain
A terceira parte do filme defende que o sistema bancário mundial tem estado a conspirar para obter uma dominação mundial total. O filme opina que a Reserva Federal dos Estados Unidos da América foi criada para roubar a riqueza dos Estados Unidos. O filme demonstra, como exemplo, o lucro que foi obtido pelos bancos durante a Primeira Guerra Mundial, Segunda Guerra Mundial, Guerra do Vietname, Iraque, Afeganistão, e a futura invasão à Venezuela para obtenção de petróleo. O filme descreve a conspiração destes banqueiros, argumentando que o objetivo deles é o controle sobre toda a raça humana. Criando um só governo, uma só moeda.

O filme também aborda, a sociedade humana sendo microchipada. Para transações bancárias, passe de identidade, localização, sem alusão a ficção.

Referências
↑ News Blaze (November 10, 2007) 4th Annual Artivist Film Festival & Artivist Awards "Merging Art & Activism: Saturday Night Film "Zeitgeist"
↑ Google Video ZEITGEIST, The Movie - Official Release - Full Film

Ligações externas
Zeitgeistmovie.com website oficial
Zeitgeist - Legendado em Português
Obtido em http://pt.wikipedia.org/wiki/Zeitgeist,_o_Filme "




Meus comentários




Inicialmente, devo dizer que não obtive maiores informações sobre o filme além daquelas expostas acima e daquelas disponíveis no excelente site oficial. De fato, nada mais detalhado pude encontrar acerca do suposto produtor do filme, Peter Joseph, o que é no mínimo curioso, pois estamos aqui tratando de um filme extremamente bem realizado e que deve ter contado com uma equipe técnica e de pesquisa razoavelmente bem estruturada. Em alguns sites sobre teorias conspiratórias traçam-se ligações com os Iluminati etc. De qualquer forma, este Blog está devendo a seus leitores informações detalhadas e confiáveis. Espero poder complementá-las em breve.


Além disso, o filme é, por si só, um dos maiores fenômenos de "mídia independente" que se tem notícia, suspeitando-se que se trate do vídeo mais assistido na Internet, não obstante ter menos de 1 ano. (Digo "suspeitando-se" porque, mesmo em relação a esse aspecto, encontramos informações difusas, pois parece que o YouTube suprimiu inexplicavelmente o contador de acessos quando o filme já se encontrava na marca de 6 milhões).


Em relação ao conteúdo propriamente dito, achei as duas partes finais mais interessantes que a primeira, que trata da "desmistificação" do cristianismo, mais especificamente do texto bíblico.


De fato, a impressão das cenas iniciais é de que iria se tratar de mais um panfleto "cientificista" e anti-religião, como uma espécie de libelo positivista. Se era essa a intenção, não creio que tenha funcionado, pois, para aqueles que já entendiam a Bíblia cristã dentro de uma linguagem metafórica, as "revelações" do filme não apenas não abalam suas crenças, como as instigam ainda mais...


Penso então que essa primeira parte tem um "alvo certo": o público protestante norte-americano acostumado às interpretações literais do texto bíblico e, ainda, o fundamentalismo neo-con norte-americano que pretende, inclusive, ressuscitar o criacionismo. Mesmo assim, a primeira parte traz inúmeras informações sobre as origens egípcias e astrológicas de passagens fundamentais da Bíblia.


Na minha opinião, o filme melhora a partir de segunda parte, atingindo seu climax ao final da terceira parte, quando trata do neo-fascismo, assunto inteiramente pertinente a este Blog.



Por fim, peço que quem tiver informações mais aprofundadas acerca dos produtores do filme, poste seus comentários.



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Comentários de u.s.w., 19/01/2008 – 16h49


Comecemos pelo banal: adorei Zeitgeist, the movie! Por vários motivos, mas o principal, ele é provocador. Acho que a frase que melhor descreve o espírito do filme está no final da declaração no suposto site oficial do filme (notem que grifei a palavra suposto): “...It is my hope that people will not take what is said in the film as the truth, but find out for themselves, for truth is not told, it is realized”. Mas prefiro falar disso mais adiante. Primeiro gostaria de comentar duas colocações do Zé.

“De fato, a impressão das cenas iniciais é de que iria se tratar de mais um panfleto ‘cientificista’ e anti-religião, como uma espécie de libelo positivista”.
Eu não tive essa impressão, mesmo porque existe a abertura do filme, que evoca a existência de algo “divino”. O processo na primeira parte do filme não foi de “desmistificação” mas ao contrário, de “mitificação”, não só do cristianismo, mais de toda tradição judaico-cristã. Acredito que o objetivo era “universalizar” a verdade, religando os mitos à tradição pagã, mas não para no fim “desbancar” toda tradição mítica, mas sim para resgatar as tradições pagãs que conectavam os homens ao mundo (ou à natureza) e entre si e criticar a apropriação política desses mitos com o objetivo de dominação. É por isso que o filme “para aqueles que já entendiam a Bíblia cristã dentro de uma linguagem metafórica, ... não apenas não abala suas crenças, como as instigam ainda mais...”.

“Na minha opinião, o filme melhora a partir de segunda parte, atingindo seu clímax ao final da terceira parte, quando trata do neo-fascismo, assunto inteiramente pertinente a este Blog”.
De fato o filme vai num crescendo vertiginoso de revelações. Mas não acho que mostre um “neo-fascismo”, na verdade afirma que o mundo vem sendo fascista desde muito, e que a lógica foi, tem sido e continuará sendo a mesma se nada fizermos.

Volto agora ao que coloquei no início desse comentário. O filme é provocador. Digo isso porque, por um lado, devemos imaginar quão chocante e desestabilizador deve ser para um americano médio, ou mesmo para qualquer cidadão médio no mundo, ver, de forma que parece absolutamente convincente, que o governo americano matou 3000 de seus cidadãos e que os governos, no mundo, vêm usando tal lógica genocida há muito tempo. Por outro lado, para aqueles que adoram uma teoria da conspiração, pouca coisa no filme será novidade. Entretanto, para esses últimos, o suposto produtor afirma: “espero que as pessoas não tomem o que é dito no filme como verdade”.
Isso porque não é intenção do filme não falar de crença ou de verdade, mas de liberdade. O que importa não é se tudo o que foi dito é a mais absoluta verdade, mas que ao assistir tais “revelações” despertamos de um sono e voltamos a sentir aquele descontentamento que fazemos questão de deixar encoberto pelo nosso cotidiano. O que importa é que tais “revelações” desconcertam, trazem desconforto, desacostumam.
Não estou dizendo que não acredito nas revelações do filme, assino em baixo de todas elas. Mas não é preciso acreditar exatamente no que nos diz o filme para sentir sua verdade, a perda de liberdade. Daí vem o desconforto, pois se olharmos com cuidado poderemos ver que o mundo caminha inexoravelmente para o controle “consentido” pelo medo.
Nesse sentido, acho cruciais os minutos finais do filme, que terei a paciência de transcrever quase que inteiramente.


1:49:39 – O aspecto mais impressionante de todos: esses elementos totalitários não serão impostos sobre as pessoas, as pessoas irão desejá-los. Pois a força da manipulação da sociedade durante gerações, através do medo e da divisão desligou completamente os homens de seus sentimentos de poder e realidade. Um processo que vem agindo por séculos, senão milênios: religião, patriotismo, raça, riqueza, classe, e todas as outras formas arbitrárias de identificação separatista até agora concebidas têm servido para criar uma população controlada, totalmente manipulável nas mãos de alguns. “Dividir e conquistar” é o modelo. E enquanto as pessoas continuarem a se verem separadas de todo o resto, viverão na escravidão. Os homens por trás da cortina sabem disso. E eles também sabem que se as pessoas descobrirem a verdade de sua relação com a natureza e a verdade de seu poder pessoal, o Zeitgeist por eles maquinado cairá como um castelo de cartas.

1:50:54 – O sistema todo em que vivemos nos levam a crer que somos impotentes, fracos, que nossa sociedade é má, que é cheia de crimes etc. Tudo é uma grande e gorda mentira. Somos poderosos, belos, extraordinários. Não há razão para não entendermos que realmente somos, para onde estamos indo. Não há razão para que o indivíduo médio não seja forte. Somos seres incrivelmente poderosos.

1:51:25 – E pensar que eu gastei 30 anos da minha vida, os primeiros 30, tentando me tornar alguma coisa. Eu queria me tornar bom nas coisas, eu queria jogar bem tênis, ir bem na escola. E tudo que eu conseguia vislumbrar dessa perspectiva é que eu não estava bem com o que eu era, mas se eu fosse bom nas coisas... Mas percebi que eu tinha entendido errado o jogo, que o jogo era descobrir que eu realmente era.

1:52:09 – Na nossa cultura fomos treinados para que nossas individualidades se destacassem. Olhamos para outra pessoa imediatamente como mais esperta, mais burra, mais jovem, mais velha, mais rica, e fazemos todas essas distinções, colocamo-na em categorias e a tratamos dessa forma. E chegamos ao ponto em que vemos os outros como separados de nós mesmos. E uma das experiências mais dramáticas e repara em uma pessoa aquilo na qual ela se assemelha a você e não naquilo que a faz diferente. A experiência de que aquilo que é essência em você e essência em mim é uma coisa só, compreender que não há outro. Tudo é um.

1:53:13 – Citação de Jimi Hendrix “Quando o poder do amor superar o amor pelo poder o mundo conhecerá a paz”.


E as maravilhosas palavras finais, que sucedem imagens de “vidas revolucionárias” (Gandhi, Martin Luther King, Lennon): “... olha minhas preocupações, minha grande conta bancária, minha família, isto tem que ser real... é só uma viagem... não importa, porque é só uma viagem. E podemos mudá-la no momento em que quisermos. É so uma escolha, sem esforço, sem trabalho, sem poupança. Só uma escolha agora mesmo. Entre o medo e o amor.


O filme acaba com as palavras:
“The revolution is now”.
O que imediatamente me remeteu a letra de Guerilla radio, de Rage against the machine:
“It has to start somewhere,
It has to start sometime
(…)
It starts right here
Right now!”.

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Comentário de u.s.w. , 20/01/2008 - 19:02


O que vou colocar aqui deve estar longe de representar o gosto de todos aqui do Blog, mas desde que vi o final deste filme, Zeitgeist, não consigo parar de ouvir Guerilla radio, de cantá-la.

Segue a letra e o link para o vídeo, se quiserem ouvir o barulho (http://br.youtube.com/watch?v=bv3xM3v4-rI&feature=related)


Transmission third world war third round
A decade of the weapon of sound above ground
No shelter if you're lookin' for shade
I lick shots at the brutal charade
As the polls close like a casket
On truth devoured
A Silent play in the shadow of power
A spectacle monopolized
The camera's eyes on choice disguised
Was it cast for the mass who burn and toil?
Or for the vultures who thirst for blood and oil?
Yes a spectacle monopolized
They hold the reins and stole your eyes
Or the fistagons
The bullets and bombs
Who stuff the banks
Who staff the party ranks
More for Gore or the son of a drug lord
None of the above fuck it cut the cord
Lights out
Guerrilla Radio
Turn that shit up
Contact
I highjacked the frequencies
Blockin' the beltway
Move on D.C.
Way past the days of
Bombin' M.C.'s
Sound off Mumia guan be free
Who gottem yo check the federal file
All you pen devils know the trial was vile
An army of pigs try to silence my style
Off 'em all out that box
It's my radio dial
Lights out
Guerrilla Radio
Turn that shit up
It has to start somewhere
It has to start sometime
What better place than here, what better time than now?
All hell can't stop us now