domingo, 3 de outubro de 2010

WikiLeaks




A organização de denúncias WikiLeaks, que divulgou relatos da guerra do Afeganistão esta semana, transformou a publicação de segredos do governo em sua missão. Muitos veem seu fundador Julian Assange como um herói, mas outros, incluindo o Pentágono, consideram-no uma ameaça à segurança nacional.
Ele entra rapidamente, quase num salto. Antes de cumprimentar qualquer pessoa na sala, procura uma tomada para seu pequeno computador preto.
É um notebook simples e barato, mas as agências de inteligência do mundo pagariam muito dinheiro para terem a chance de ver o que há lá dentro.
O nome dele é Julian Assange. Ele acabou de voltar de Estocolmo, depois de uma breve estadia em Bruxelas. Antes disso, ficou fora do radar por algumas semanas.
Assange é praticamente um homem procurado hoje em dia. É quase como se ele estivesse em fuga.
Cinco agentes do Departamento de Segurança Interna dos EUA tentaram visitá-lo há duas semanas, pouco antes de uma conferência em Nova York da qual ele deveria participar. Mas seus esforços foram em vão. Assange decidiu ficar na Inglaterra depois que seu advogado disse que várias outras agências do governo também estavam muito interessadas em falar com ele. O secretário de Defesa Robert Gates recentemente caracterizou Assange e seu trabalho como “irresponsáveis”.

Fórum para denúncias anônimas


Assange é o criador da plataforma wikileaks.org na internet. Junto com um punhado de funcionários em tempo integral e muitos voluntários, ele opera o site desde 2007. O WikilLeaks reúne e publica material que empresas e agências do governo classificaram como secreto. O site funciona como um fórum para informantes e publica apenas documentos originais – em outras palavras, nada de rumores nem material escrito pela equipe do WikiLeaks.

No passado, o WikiLekas já publicou e-mails escritos pela ex-candidata à vice-presidência dos EUA Sarah Palin, relatórios sobre as atividades corruptas do ex-líder queniano Daniel Arap Moi e documentos secretos do campo de detenção norte-americano na Baía de Guantánamo. Nessa época, o site era visitado principalmente por pessoas da área, mas ganhou atenção internacional em abril, quando Assange convidou um grupo de jornalistas ao Clube Nacional de Imprensa em Washington para assistir a um vídeo.

O filme mostrou o ataque fatal, em 2007, de um helicóptero Apache norte-americano contra um grupo de cerca de doze civis em Bagdá, dois deles funcionários da agência de notícias Reuters. As vozes da tripulação do helicóptero também eram audíveis, seus comentários cínicos acrescentavam horror às imagens do vídeo. Desde o incidente, a Reuters havia tentado, em vão, obter uma cópia do vídeo. Assange, entretanto, conseguiu uma. Foi seu maior furo jornalístico até hoje.





Uma ameaça à segurança nacional


Para alguns, Assange e seus colaboradoras são heróis lutando pela liberdade total de informação e contra qualquer forma de censura. Mas, para outros, eles são traidores.

Do ponto de vista das autoridades norte-americanas, o australiano é uma séria ameaça à segurança nacional – algo que o Pentágono até mesmo colocou em palavras. Já em 2008, os militares norte-americanos classificaram o WikiLeaks como um sério problema de segurança e discutiram qual era a melhor forma de combater o site. Esse documento também vazou para Assange – e foi publicado no wikileaks.org.

Desde então, alguns expressaram preocupações com sua segurança, e até mesmo com sua vida. Mas não está muito claro se o homem que agora estava ligando o seu computador em Londres é perigoso ou está em perigo. Ele certamente chama a atenção: um homem alto e magro com cabelo branco e uma pele que parece pálida demais para o verão – em parte porque passou as últimas semanas preparando seu novo projeto e quase não saiu ao ar livre durante o dia.

Numa sala do quinto andar do prédio que abriga os escritórios do “Guardian”, ele está dando ao jornal britânico, ao “New York Times” e à “Spiegel” uma prévia de um conjunto de mais de 90 mil relatórios individuais sobre a guerra no Afeganistão, a maior parte deles marcados como “secretos”.

“Brutalidade cotidiana”


A publicação desse arquivo, diz Assange, não só mudará a forma como o público vê a guerra, ela também “mudará a opinião de pessoas que ocupam posições influentes na política e na diplomacia”. De acordo com Assange, os documentos “revelam a brutalidade cotidiana e a sordidez da guerra” e “mudará nossa perspectiva não só sobre a guerra no Afeganistão, mas sobre todas as guerras modernas.”

O arquivo contém informações de inteligência, avaliações e muitos nomes, tanto de oficiais militares quanto de fontes. A publicação de documentos militares secretos de uma guerra, que nunca foram pensados para o público, levanta novas questões. Será que isso é jornalismo e está dentro do direito do público à informação? É um olhar legítimo por trás da máquina de propaganda de guerra? Ou é um ato de espionagem, e Assange e seus colaboradores são culpados por revelar segredos do governo? E eles estão no fim das contas prejudicando as tropas internacionais e os informantes afegãos que as ajudam?

Uma base de dados num pen drive


O WikiLeaks e sites como ele já mudaram a forma como governos e corporações lidam com informações delicadas.

Sempre existiram informantes, empregados de companhias ou agências do governo que deixam vazar informações confidenciais para a imprensa para chamar atenção para acontecimentos indesejáveis e corrupção, ou para expor abusos de poder. Mas uma base de dados tão extensa sobre a guerra, que cabe num único pen drive USB e portanto pode ser facilmente publicada na Internet, é um novo fenômeno.

Será que o WikiLeaks é o novo farol do esclarecimento? Ou o site representa uma ameaça às nações democráticas, porque permite que um ex-hacker e alguns colaboradores próximos decidam que peça de informação explosiva revelarão na sequência – sem dar à outra parte a chance de contar seu lado da história ou tomar medidas legais para impedir o vazamento? “Essas pessoas podem publicar o que bem entenderem e nunca são responsabilizadas por isso”, disse o secretário de Defesa Robert Gates, em resposta à divulgação do vídeo sobre o caso do helicóptero em 2007. Raras vezes um membro do governo dos EUA pareceu tão impotente.

O problema começa com o fato de que o WikiLeaks, até hoje, continua sendo muito mais uma ideia brilhante do que uma organização no sentido convencional. Ele não tem uma sede e nem mesmo um endereço, apenas uma caixa posta anônima na Universidade de Melbourne. Até agora Assange e um colega alemão, que se apresenta como Daniel Schmitt, são as duas únicas pessoas envolvidas com o WikiLeks que mostraram seus rostos em público. Do contrário, a operação consiste em pouco mais do que o próprio site, alguns endereços de e-mail e uma conta do Twitter que os organizadores usam para relações públicas. Os servidores, que estão distribuídos pelo mundo todo em lugares com leis que fornecem proteção extensiva a informantes, são o cerne da operação. Doações cobrem os custos anuais de cerca de US$ 258 mil, e Assange e Schmitt nem mesmo recebem um salário.

Altamente inteligente


Na reunião em Londres, logo ficou claro a forma como o WikiLeaks depende dos ativistas – e, em grande parte, do pequeno laptop preto de Assange. Também ficou claro que os adversários de Assange têm nesse homem confiante e altamente inteligente de 39 anos de idade um oponente a ser levado a sério.

Assange trabalha obsessivamente na base de dados com a qual o WikiLeaks pretende tornar a guerra no Afeganistão mais tangível. Ele usa uma combinação estranha de jaqueta amassada, camiseta, calças cargueiras e tênis gastos. Ele não fez a barba e tem a aparência de quem não dorme há duas noites. Pessoas bem intencionadas e próximas dizem que ele precisa urgentemente de algumas semanas de férias.

Assange discorda. Seus dedos voam pelo teclado, e vez ou outra ele para e diz alguma coisa. “Precisamos de uma função que relacione os incidentes de acordo com sua importância relativa”, diz ele em sua voz profunda e sonora. Não demora muito e ele instala um filtro que permite aos usuários do site buscarem os milhares de incidentes individuais de acordo com sua “importância”. Assagne escolheu o número de mortes de civis como principal critério. Também é possível buscar por data e região na base de dados, e todos os incidentes estão ligados a um mapa que mostra exatamente em que lugar do Afeganistão aconteceram. É a guerra na forma de uma apresentação multimídia.

“Rá”, diz ele de repente. “Inacreditável”. Ele descobriu outro exemplo grotesco do jargão que os militares usam para descrever a realidade no campo de batalha. O termo é: “ausência de sinais vitais” - em outras palavras, morto. A linguagem da guerra o fascina, o que explica porque o WikiLeaks chamou o vídeo de Bagdá de “Collateral Murder” [“Assassinato Colateral”]. Sua intenção ao escolher o título, diz Assange, era expor o termo cínico “collateral damage” [“dano colateral”] e tornar impossível seu uso.

“Nosso critério é claro como água”


Quando Assange fala sobre esse projeto – ao longo do jantar, por exemplo, durante o qual o australiano pediu apenas duas bolas de sorvete de cardamomo – ele tem a intenção de passar a ideia de que o WikiLeaks é um projeto radical, cuidadosamente concebido. Assange toma bastante tempo para refletir antes de responder às perguntas, e insiste em dar a resposta completa. Ele não gosta de ser interrompido.

Assange diz que teve a ideia básica nos anos 90, e em 1999 reservou o domínio leaks.org. Para Assange, a regra fundamental nas sociedades abertas deve ser a de que todos sejam capazes de se comunicar abertamente sobre tudo. A experiência, diz ele, mostra que onde quer que existam segredos, costuma haver irregularidades, porque pessoas em posição de poder tendem a usar segredos em sua vantagem.

Se esta visão estiver correta, algumas pessoas poderosas no mundo provavelmente deveriam ficar muito preocupadas, porque o WikiLeaks tem supostamente muito material ainda não publicado. Quem decide o que é publicado, e quando?

A fonte, diz Assange. Sempre que recebe uma denúncia anônima, o WikiLeaks pergunta ao informante se ele ou ela acreditam que o material tem relevância política ou moral. “Nosso critério é claro como água, e se ele é atendido, nós publicamos”, diz Assange.

Quem é “nós”? “No final, alguém precisa estar no comando, e essa pessoa sou eu”, diz Assange. “E quando fico em dúvida, sempre publico.”

Vivendo como um nômade


É uma posição notável para uma organização que não divulga nem mesmo os nomes dos cinco funcionários que supostamente emprega – e para um homem que tenta evitar questões sobre sua própria vida. Alguns fatos básicos, de qualquer forma, parecem claros.

Assange nasceu em 1971 numa família de artistas em Queensland, Austrália. Seus pais eventualmente se separaram. Sua mãe se casou novamente, mas o relacionamento também fracassou. Foi tão desastroso, que a mãe o pegou e fugiu do segundo marido, chegando até a viver com um nome falso por algum tempo.

Já nesta época ele já tinha uma vida de nômade, e teria frequentado quase 40 escolas diferentes.

Nos anos 80, a Idade da Pedra da internet, quando o computador pessoal era um Commodore 64 e os modems eram conhecidos como “conectores acústicos”, Assange desenvolveu uma paixão por computadores e redes. Mais tarde ele ganhou renome na comunidade de hackers de Melbourne, depois de entrar em redes corporativas e do governo, incluindo computadores militares dos EUA.

“Era Deus Todo Poderoso andando por aí fazendo o que gostava”, disse um promotor público alguns anos depois. O grupo de hackers ao qual Assange pertencia monitorava até a investigação da polícia federal sobre eles mesmos online. Assange foi eventualmente multado e condenado a um período de liberdade condicional. Uma reportagem de televisão sobre o caso mostra Assange de casaco e óculos escuros, com seus cabelos longos e castanhos presos num rabo de cavalo. O grupo de hackers se autointitulava “Subversivos Internacionais”.

Assange já tinha um filho pequeno quando foi condenado. Ele também era novo quando se tornou pai, e logo se envolveu numa complicada e amarga batalha pela custódia da criança, que durou vários anos – e levou a novos desentendimentos com agências do governo.

Uma tentativa de se vingar?


Será que o WikiLeaks é simplesmente a forma que um hacker magoado e gênio não reconhecido da computação encontrou para se vingar? Por causa de sua história pessoal, será que Assange quando Assange fala sobre o “inimigo” ele não está de fato falando sobre o governo?

É esse tipo de pergunta que os jornalistas costumam fazer a Assange. Ele os odeia com a mesma intensidade com a qual despreza o carimbo de “secreto” nos documentos oficiais. Para ele, o WikiLeaks também é um projeto para transformar a mídia tradicional. Ele quer que os usuários formem suas próprias opiniões com base nos documentos originais, sem nenhum viés jornalístico. Mas com o vídeo “Assassinato Colateral”, o WikiLeaks violou seus próprios princípios por acrescentar um título editorializado, pelo qual Assange recebeu algumas críticas.

O problema, diz o australiano, surge na cabeça do repórter. Ele prefere revistas científicas, com suas notas de rodapé e listas de referências. Embora descreva a si mesmo como um jornalista investigativo, seu trabalho é na verdade mais parecido com o de um arquivista e bibliotecário. Não é nenhuma acidente o fato de ele ter registrado o WikiLeaks como uma biblioteca na Austrália.

Assange e seus colegas podem estar muito satisfeitos com o andamento do WikiLeaks no momento. Há alguns dias, o australiano deu uma palestra para jornalistas investigativos em Londres, enquanto seu colaborador alemão Daniel Schmitt falava em Hamburgo – ambos foram aplaudidos com entusiasmo. Eles receberam o prêmio de mídia da Anistia Internacional no ano passado.

Sob tensão


Mas o projeto está sob tensão desde 29 de maio. Nesse dia, Bradley Manning, soldado norte-americano de 22 anos, foi preso na Base Operacional Hammer no Iraque e levado a uma prisão militar no Campo Arifjan no Kuwait.

Os militares norte-americanos tornaram públicas as acusações contra Manning, um ex-analista militar. Eles alegam que entre 19 de novembro de 2009 e a primavera deste ano, ele baixou o vídeo de Bagdá publicado pela WikiLeaks, assim como 150 mil mensagens diplomáticas secretas do Departamento de Estado norte-americano e uma apresentação secreta em PowerPoint.

Os militares acusam Manning de ter passado o vídeo e 50 relatórios para uma “pessoa que não estava autorizada a recebê-los”. De acordo com um porta-voz do Exército dos EUA, se for condenado, Manning poderá receber até 52 anos de prisão.

Parece que Manning acabou se entregando sem querer. Em 21 de maio, ele teria começado uma série de conversas pela internet com um hacker norte-americano chamado Adrian Lamo. A revista norte-americana “Wired” publicou trechos das conversas.

Dublando Lady Gaga em silêncio


Um dos lados da conversa, que as autoridades norte-americanas acreditam que seja Manning, abriu o coração para Lamo, um completo estranho para ele até então. Ele descreveu como era capaz de acessar as redes secretas SIPRNET e JWICS através de dois computadores, e que também encontrou material desprotegido num computador da Central de Comando norte-americana (CENTCOM). “Não acredito que estou confessando isso a você”, disse ele.

Nas conversas, ele até revelou como teria retirado o material de seu local de trabalho. Ele disse que colocou CDs virgens em seus computadores de trabalho no Iraque, CDs que ele havia intitulado antes de “Lady Gaga”, para criar a impressão de que ele estava levando CDs de música para casa. De acordo com as conversas, Manning disse que “ouvia e dublava em silêncio a música 'Telephone' de Lady Gaga enquanto filtrava o que talvez fosse o maior vazamento de dados da história norte-americana.”

Ele fez várias referências ao WikiLeaks e a Assange, com quem dizia estar em contato. E também sugeriu que estava motivado por uma profunda insatisfação com a situação local e os militares norte-americanos.

Lamo informou o FBI e entregou o registro de suas conversas. Em entrevistas para a mídia norte-americana, ele tentou justificar suas ações dizendo que temia que a segurança nacional estivesse ameaçada. Manning foi preso pouco tempo depois.

Entregando os informantes


O caso de Manning se transformou numa situação delicada para o WikiLeaks e Assange. Ela lembra misteriosamente um cenário montado para prejudicar o WikiLeaks que os militares norte-americanos criaram num documento secreto em 2008. De acordo com esse cenário, a identificação bem sucedida, o julgamento e a revelação de indivíduos que passam informações para o WikiLeaks prejudicariam e possivelmente até destruiriam o site, e impediriam que outros tivessem atitudes semelhantes.

Como o fundador do WikiLeaks se sente com a suposta autoincriminação do soldado norte-americano?

“Se acreditarmos na alegação, Manning foi traído por um jornalista e hacker norte-americano que não tem nada a ver com o WikiLeaks”, diz Assange. “Não podemos salvar as pessoas delas mesmas, infelizmente.”

Não temos a mínima ideia se Manning era nossa fonte”


Manning pode também ter sido a fonte do material sobre o Afeganistão, como alguns observadores estão especulando agora? “Não temos a mínima ideia de quem era nossa fonte”, diz Assange. “Estruturamos nosso sistema de forma que não sabemos a identidade de nossas fontes.”

E por que o WikiLeaks quer dar assistência legal a Manning, se o site de fato instalou dispositivos técnicos de segurança para tornar impossível saber quem enviou o material?

“Temos que ajudar todas as nossas supostas fontes”, diz Assange. “Devemos lembrar que independente de Manning ser ou não a fonte do vídeo “Assassinato Colateral” ou de ele estar diretamente ou acidentalmente envolvido com qualquer material que publicamos, ele é um jovem que está preso no Kuwait por ter sido acusado de ser nossa fonte.”

Ficando na casa de apoiadores no mundo inteiro


Depois da prisão de Manning, Assange também desapareceu por algumas semanas, e seus advogados o aconselharam a não viajar para os Estados Unidos. “Um de nossos contatos informou que estavam considerando me acusar de conspirar para a espionagem”, diz ele.

Este é o motivo pelo qual ele se registrou num hotel em Londres com um nome falso e depois desapareceu rapidamente para ficar na casa de um de seus apoiadores, como aconteceu frequentemente nos últimos anos. Ele ficou em vários lugares em todo o mundo, do Quênia à Islândia, onde ele e uma equipe de voluntários preparavam-se para publicar o vídeo de Bagdá.

As precauções valem para todos em seu grupo. Quando Jacob Appelbaum, um conhecido programador da comunidade da internet, defendeu Assange numa convenção de hackers em Nova York há dois fins de semana, ele até mesmo contratou um dublê para se passar por ele depois de dar sua palestra. O próprio Appelbaum foi direto para o aeroporto, levando apenas seu passaporte, algum dinheiro e uma cópia da Constituição norte-americana, e tomou um voo para fora do país.


Cada vez mais cauteloso

Daniel Schmitt, o representante alemão do WikiLeaks que é, ao lado de Assange, a segunda voz mais importante do site, também se tornou mais cauteloso.

Durante um encontro com a “Spiegel” num café de Berlim, Schmitt olha ao seu redor para ver se não há ninguém ouvindo a conversa. Ele também diz que não quer que tirem fotos na sua presença.

A Alemanha é um dos locais mais importantes para o WikiLeaks, e serve como um dos pilares da organização relativamente dispersa. O WikiLeaks recebe muitas denúncias em alemão, recebe assistência técnica de pessoas associadas ao Clube de Computação Chaos, uma influente organização alemã de hackers, e os apoiadores alemães são responsáveis por uma grande parte das doações.

Schmitt, 32, é magro, usa barba e óculos. Ele estudou ciências da computação e trabalhou com segurança de TI antes de se dedicar totalmente ao WikiLeaks. Ele parece comum se comparado ao excêntrico Assange, que era conhecido por andar por Londres de meias e saltar e virar estrela de repente.

Só o começo

Uma fundação chamada “Amigos do WikiLeaks” deve ser lançada na Alemanha este ano. Schmitt está trabalhando num panfleto designado a encorajar as pessoas a revelarem informações, que ele quer que os voluntários entreguem em frente ao Reichstag, onde fica o parlamento alemão, e o Ministério da Defesa. Ele também considerou colocar anúncios no metrô.

Os dois homens, Assange e Schmitt, dizem que o WikiLeaks tem uma montanha de documentos não publicados à sua disposição – e que isso é só o começo.

“Se quisermos usar uma metáfora de alpinistas, estamos apenas no acampamento base”, diz Assange.

Então ele fecha seu pequeno laptop preto, guarda-o dentro de sua mochila de nylon cinza-grafite, e sai da sala.


Tradução: Eloise De Vylder




Fonte:

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2010/10/03/o-wikileaks-e-bencao-ou-maldicao-para-a-democracia.jhtm