quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Na trilha de Deleuze e Guatari





Em nova iniciativa supreendente, o Google sugere interconectar as redes sociais como Orkut, Facebook e Ning. A proposta realça o sucesso dos sistemas que promovem inteligência coletiva e convida a refletir sobre o papel da individualidade, na era da colaboração e autorias múltiplas. A iniciativa é comentada por Dalton Martins e Hernani Dimantas para o sítio do Le Monde Diplomatique Brasil, 11-11-2007.


Dalton Martins é designer de redes sociais e colabora com a Coordenadoria de Tecnologia Social da Escola do Futuro e desenvolve o Projeto Ecommunita.


Hernani Dimantas é coordenador do Laboratório de Inclusão Digital e Educação Comunitária da Escola do Futuro - USP. Articulador do MetaReciclagem e do comunix.org.


Eis o artigo.


Sou um dos caras que assinam esse artigo. Na verdade, não importa se sou um ou o outro. Tanto faz. Escrevemos em dupla, e isso significa que existe uma autoria compartilhada. O processo de criação emerge de uma dinâmica de generosidade.

Como isso se dá?

Antes de qualquer informação é necessário entender como a rede funciona. A rede reage como um organismo. Formado de diversos nós que se comunicam. Esses nós se conversam pelos diversos meios de comunicação. Blogs, fotologs, Orkut, Facebook e todos os aplicativos que têm como função ou derivada juntar pessoas.


Dessa forma, recebi o link, peguei a dica do meu parceiro e co-autor desse texto. O link me remeteu a um ótimo artigo.


Open Social é um conjunto de aplicativos desenvolvidos pelo Google para catalisar os relacionamentos entre e intra as redes sociais disponíveis. Isso significa que o garoto que está isolado no Orkut poderá conversar ou trocar informações com a menina que participa ativamente no Ning. Bem, será que isso faz sentido? Achamos que sim. Pois, o valor da rede está na sua abertura. Adicionar valor à internet reduz o seu valor. Parece estranho, mas é verdade. Se você otimiza uma rede para um tipo de aplicação, você está desotimizando-a para outras. Logo, o Open Social possibilita otimizar todas as redes.


Essa onda é sobre conectar um aos outros e nossas atividades online com nossos amigos. Essa é a web 3.0.


No entanto, uma lacuna de idéias se forma. Não podemos falar de redes sociais sem contextualizar o ambiente. Fica a pergunta: Como fica a autoria, quando na rede o fluxo contínuo de informações não tem dono? O Gtalk - Comunicador instantâneo do Google, semelhante ao msn e yahoo - se faz presente. E, continuamos a escrever conjuntamente. O eu e o outro, cada qual em sua máquina, cada qual em seu canto... Refletindo a sensibilidade do estar junto, de pensar em como podemos nos integrar nesse processo de compor esse artigo, de refletir a rede social que se inicia nessa vontade, nessa disposição do estar conectado.


A escrita em rede, através de uma janela-porta do Gtalk, é a experiência da sincronicidade no processo autoral. Estamos aqui, como se estivéssemos diante um do outro, pensando, linkando, expressando uma forma de construção de um artigo que avança a sensibilidade do estar em rede. Não importa o espaço. Pouco importa o tempo. Aliás, esse último só se torna importante quando o prazo de entrega aperta. A rede se faz pelos links.


Essas características das redes podem ser aplicadas aos organismos, às tecnologias, aos dispositivos, mas também à subjetividade. Somos uma rede de redes (multiplicidade), cada rede remetendo a outras redes de natureza diversa, em um processo auto-referente.


Deleuze e Guattari apontam para o rizoma. Esse rizoma se regenera continuamente por suas interações e transformações. A subjetividade é como a cognição, o advento, a emergência de um afeto e de um mundo a partir de suas ações no mundo.


Pensamos rizomas. Não só nas raízes que se bifurcam, crescem aleatoriamente sem comando e controle. O rizoma nos mostra o comportamento das redes, onde a trama de nós não mais identifica o ser, o corpo, o autor. Somos um produto rizomático. Multidões dentro de todos nós. Dentro e fora, fora e dentro. O corpo não tem limite. Distende-se para o infinito e para o além.


É complicado? Bem, esqueça aquilo que te faz se enxergar como ser humano. Estamos nos referindo a uma outra tradição filosófica. Isso implica na maneira de sentirmos a vida. Para que tanto racionalismo? Por que pensar no homem como centro do mundo? E para que tanto esforço? O corpo se distende para um todo. As relações corpo- máquina (e todas as relações que derivam dessas aproximações) nos fazem entender que não mais importa diferenciar as partes. O ser natural, aquele desprovido dos males tecnológicos, jamais existiu. Ou melhor, não existe desde que as funções do homem se distendem na relação com o ambiente. E isso data da idade da pedra lascada.


Seres humanos vêm se organizando em redes colaborativas desde o começo dos tempos. Há muito que este tipo de organização permite que sejamos capazes de transformar o mundo ao nosso redor, criando conhecimento e cultura de maneira coletiva.


A produção coletiva e descentralizada de bens criativos não se aplica somente ao software. Já começam a aparecer reflexos dessa nova forma de produção em diversas áreas do conhecimento. Um ótimo exemplo é a Wikipedia, uma enciclopédia construida coletivamente na web.


Mas o que significa colaboração? Ou, melhor, projetos colaborativos? Bem, colaboração é um modo de produção. Diferentemente das idéias tradicionais, a colaboração tem vida própria. Nasce num ambiente caótico, como a internet, e emerge num movimento de baixo para cima, alcançando um nível razoável de organização. As pessoas têm na internet mais do que uma ferramenta. Utilizam-na como uma aliada. E, desta forma, catalisam a conversação entre pessoas comuns. E neste ambiente de burburinho muitos projetos são desenvolvidos. Muitas vezes chamamos isso do efeito-puxadinho, da sensação de que o link nos puxa para um lado, nos leva para outro e através do linkar encontramos pessoas, formas de compreensão do viver em sociedade, necessidades de expressão, linhas de ação.


O melhor exemplo do funcionamento do sistema colaborativo está na experiência dos grupos. Funciona muito bem quando podemos utilizar a ferramenta colaborativa no seu potencial. Seja esta ferramenta um computador, um caderno de anotações, um lápis ou apenas uma boca falante. E, nesse sentido, temos que nos valer de tempo para destrinchar os projetos. E tempo, muitas vezes, é um fator limitante.


É aqui que faz sentido o Open Social. Ele permite que diversas redes sociais se cruzem no ciberespaço, e que os usuários de múltiplos ambientes possam se conectar sem ter de entrar em novos sites, sem precisar mudar de casa. É um avanço rumo à integração das linhas que nos desenham em rede. O imaginário dessas possibilidades está lançado... Falta agora nos reconhecermos em outros níveis, aprofundarmos nossos próprias necessidades e desenharmos nossas próprias conexões. A apropriação social dessa tecnologia é um dos caminhos para a ampliação de nossa capacidade de interação humana.