terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Filme: "A Concepção", de José Eduardo Belmonte


Acabo de assistir ao filme "A Concepção" de Eduardo Belmonte. Recomendo. Não me deterei nos detalhes técnicos, nem nas questões relacionadas aos aspectos puramente "fílmicos".
O filme trata de um grupo de jovens de Brasília que, entendiados com suas vidas pequeno-burguesas, decidem se aventurar em experiências existenciais e produzir suas próprias histórias, ou seja, tornarem-se livres.
Logo surge um novo personagem, "X", assim conhecido porque ninguém sabe ou virá a conhecer seu nome (não por acaso, lembrei-me de "Velvet Goldmine" - sobre o também camaleão David Bowie - nas cenas de apresentação de "X").
Em meio a intermináveis orgias, muita droga e rock´n roll, "X" introduz tais jovens na filosofia-existencial "concepcionista" (a referência ao Situacionismo é explícita e algo caricatural).



Nesse universo, as referências identitárias se esvaecem, tudo é possível e tenta-se a todo instante dissolver o Ego. Dar nascimento a uma nova identidade a "cada dia". As experiências concepcionistas buscam a dissolução de toda e qualquer referência, seja sexual, econômica, jurídica etc.

" O concepcionista é uma fraude que dura 24 horas".

Como é de se esperar, a "experiência" foge do controle, ou melhor, envereda por caminhos inesperados. Não contarei, claro, o final do filme.
Como disse, o ponto de partida é Maio/68 e o Situacionismo, com claras referências a Deleuze (para não deixar dúvidas, um personagem grita - enquanto perseguido pela polícia - "Somos todos máquinas !") e ao xamanismo, havendo inclusive uma alusão a Carlos Castañeda e ao "despertar" nos sonhos lúcidos, bem no final do filme, quando um dos personagens diz que "olhará para as mãos"...
O "sentido" final não é unânime: para mim sua mensagem é otimista, embora não da forma em que os concepcionistas-situacionistas desejavam.