quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Milho transgênico invade campo brasileiro




Das 261 novas cultivares de milho registradas no Ministério da Agricultura desde 2008, mais da metade são transgênicas. Gabriel Fernandes, da AS-PTA, avalia que maioria das cultivares deve ser comercializada até a próxima safra. Contaminação genética e dependência às multinacionais serão sentidas pelo agricultor.

A reportagem é de Raquel Casiraghi e publicada pela Agência de Notícias Chasque, 10-02-2009.

Levantamento da Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA), com base em dados do Ministério da Agricultura (MAPA), mostra um cenário nebuloso para o campo brasileiro já na próxima safra. Das 261 novas cultivares de milho registradas no MAPA entre 2008 e janeiro deste ano, 146 são transgênicas. Ou seja, 56% das novas sementes que estão entrando no mercado são geneticamente modificadas.

O assessor técnico da AS-PTA, Gabriel Fernandes, estima que boa parte das cultivares já esteja à venda na próxima safra. Ele prevê que as empresas do setor forcem a substituição do milho convencional pelo transgênico mais rápido do que ocorreu com a soja.

"A informação que mais chama a atenção é que, como existe uma concentração muito forte no mercado de sementes, são quatro, cinco empresas que controlam o setor, o que achamos é que em pouco tempo essas empresas irão tirar do mercado as variedades não-trangsênicas. E vão deixar somente as transgênicas. Acho que este é o grande sinal de alerta", diz.

Fernandes analisa que a principal disputa deve se dar na fase da comercialização, já que muitos países, principalmente europeus, têm resistência ao milho transgênico. No Brasil, como as indústrias que usarem o geneticamente modificado deverão rotular os seus produtos, a população poderá rejeitar a semente.

Para os agricultores, a situação é mais grave do que no plantio de soja transgênica. Como o milho tem polinização cruzada, o perigo da contaminação é bem maior. O milho transgênico também deverá ser suscetível às estiagens e à criação de resistência a pragas, como já ocorre com a soja.

"O grande problema agora é a contaminação que vai ocorrer. Esse milho, uma vez plantado, vai se espalhar seja pelo pólen, seja pela mistura dos grãos, e vai contaminar qualquer tipo de milho que não seja transgênico. O grande desafio hoje é saber como vai ser possível manter o cultivo convencional ou agroecológico sem a contaminação", diz.

A comercialização do milho transgênico foi liberada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) em 2008.



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13/2/2009

Nova tentativa de reabilitação do milho transgênico na França


Estariam os OGM sendo reabilitados? A Diretora-geral da Agência Francesa de Segurança Sanitária dos Alimentos (AFSSA), Pascale Briand, teria, segundo o Le Figaro desta quinta-feira, 12 de fevereiro, assinado um parecer relativo ao milho geneticamente modificado, o Monsanto 810. A reportagem é de Hervé Kempf e publicada no jornal francês Le Monde, 13-02-2009. A tradução é do Cepat.

O parecer, datado em 23 de janeiro e que era “mantido em segredo” até agora, retoma na essência as conclusões da Autoridade Europeia de Segurança Alimentar de 31 de outubro de 2008 e que dizia que “não foi fornecida nenhuma prova científica, em termos de riscos para a saúde humana ou animal ou ambiental para justificar a invocação de uma cláusula de salvaguarda”.

O parecer da AFSSA faz menção ao relatório redigido pelo professor Yvon Le Maho cujas conclusões, contrárias às da EFSA, levaram a direção geral da Saúde a frear a Agência Francesa. O governo francês tomou o relatório Le Maho para justificar a sua decisão de proibir o plantio do milho transgênico invocando a cláusula de salvaguarda junto à Comissão Europeia.

A questão, pois, é saber se o governo manterá a sua posição apesar desta contundente advertência. Ao saber que o Ministério da Ecologia também fundamentou seu argumento sobre critérios não apenas sanitários, mas também ambientais, está em condições de solicitar o prolongamento da cláusula de salvaguarda.

Desaceleração no mundo

É neste contexto que novamente vem à tona a questão da área real que as culturas transgênicas ocupam no mundo. O organismo que anualmente publica a avaliação desta estatística, o ISAAA (International Service for the Acquisition of Agro-Biotech Applications), vê seus resultados fortemente contestados pela rede internacional dos Amigos da Terra. E a França está justamente no centro desta polêmica.

O ISAAA é um organismo sediado na Universidade de Cornell, de Nova York, e é financiado por organizações como a Fundação Rockefeller ou empresas como a Monsanto e a Syngenta, que produzem os OGM. Ele publica anualmente, desde 1997, um relatório sobre a difusão dos OGM mundo afora. Em seu estudo da situação para 2008, publicado nesta quarta-feira nos Estados Unidos, o ISAAA dá a entender que a área cultivada na Europa cresceu 21%. Errado, calcula a ONG Amigos da Terra, que observa que o ISAAA excluiu a França da sua contagem. A moratória adotada pela França metropolitana em 2008 sobre o milho MON 810 fez a área cultivada dos OGM na Europa diminuir em cerca de 50.000 hectares.

Como aumento, o ISAAA conta a Romênia para 2007 e 2008, ao passo que a excluía em 2006. Entretanto, a Romênia cultivava OGM em 2006. A explicação desta manipulação, segundo Amigos da Terra: a Romênia diminuiu fortemente a sua cultura de OGM quando ela passou a fazer parte da Europa, em 2007. O “esquecimento” de 2006 permite inchar a aparente progressão.

No total, segundo Amigos da Terra, a área cultivada de OGM na União Europeia não aumentou 21% em 2008, mas, ao contrário, diminuiu 2%. Esta crítica enfraqueceu drasticamente a confiança que se pode ter nos dados apresentados pelo ISAAA. Em 2008, Amigos da Terra também havia mostrado que o Instituto supervalorizou o número de hectares cultivados com OGM na Índia em mais de 400.000 hectares.

Apesar do que aparece como uma propensão à supervalorização, os números do ISAAA mostram uma diminuição da progressão dos OGM no mundo. Em seu relatório para 2008, o Instituto calcula que a área cultivada em 2008 aumentou em 9,4%, atingindo 125 milhões de hectares. Essa taxa é bem menor que aquela de 2007 (-12%), quando era avaliada em 12%. A desaceleração é contínua visto que, em 2006, a progressão era calculada em 13%, em 2005 em 11%, em 2004 em 20%, em 2003 em 15%, em 2002 em 12% e em 2001 em 19%.

Amigos da Terra, por sua vez, publica um relatório (intitulado Who benefits from GM crops?) no qual a associação ecológica destaca que 80% dos OGM cultivados no mundo são produzidos em apenas três países: Estados Unidos, Argentina e Brasil. Por outro lado, o ISAAA observa que a cultura dos OGM começou em 2008 em Burkina Fasso, Egito e Bolívia, mesmo que em áreas pequenas. Em outro ponto de fricção, Amigos da Terra estima que na maioria dos casos os OGM não trazem benefícios para os agricultores, mas para os grandes exploradores agrícolas.






Fontes:

http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=19917



e

http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=19956

A dieta do clima. Coma menos carne e combata o aquecimento



Das centenas de dietas criadas nos últimos anos esta, certamente, é a mais politicamente correta de todas: siga seus preceitos e ajude a salvar o planeta do aquecimento global. De quebra, ganhe uma vida mais saudável e, quem sabe, alguns quilos a menos.

É a dieta com baixos teores de carne vermelha, no máximo 400 gramas por semana.

A reportagem é do jornal O Globo, 11-02-2009.

Se for adotada no mundo todo, calculam especialistas, a redução de emissões de gases-estufa seria da ordem de 10%, uma economia de nada menos que US$ 20 trilhões nos custos do combate às mudanças climáticas — cerca da metade do valor total necessário para tal tarefa em 2050.

A diminuição da criação de animais seria uma forma natural de diminuir as emissões e reduzir os investimentos em outras formas mais caras de combate aos poluentes.

O estudo realizado por especialistas da Agência de Impacto Ambiental da Holanda concluiu que os hábitos alimentares modernos — calcados numa dieta muito rica em carne vermelha — têm um impacto significativo no aquecimento do planeta.

E a redução do consumo de carne bovina, de porco, de frango e ovos criaria um novo sorvedouro de dióxido de carbono.

Pode não parecer óbvio de imediato, mas a criação extensiva de animais tem um grande impacto no clima. Em primeiro lugar, porque quanto mais a dieta global for baseada no consumo de carne, maior terá que ser a criação e, portanto, a área que deixaria de ser ocupada por vegetação — que, naturalmente, absorve carbono.

A flatulência dos bois e o metano

Além disso, para alimentar os animais, há uma ampliação no cultivo de grãos, o que geralmente demanda o uso de energia geradora de emissões poluentes. Para se ter uma ideia, a produção de um único quilo de carne bovina demanda o gasto de 15 quilos de grãos e 30 quilos de forragem.

Por último, mas não menos importante, há a questão da flatulência.

O principal gás expelido pelos extensos rebanhos mundiais é o metano — um dos principais responsáveis pelo efeito estufa.

O grupo responsável pelo novo estudo, coordenado por Elke Stehfest, calculou o impacto do consumo de carne no custo da estabilização dos níveis de CO2 na atmosfera em 450 partes por milhão — um padrão que, segundo muitos cientistas, é necessário para prevenir graves alterações climáticas, como secas frequentes e elevação do nível dos mares.

Se os hábitos alimentares não se alterarem, em 2050, para alcançar esse nível de dióxido de carbono, as emissões teriam que ser reduzidas em dois terços , o que custaria aproximadamente US$ 40 trilhões.

Mas, se a população mundial passar a seguir uma dieta pobre em carne vermelha — definida como 70 gramas de carne bovina e 325 gramas de frango e ovos por semana — cerca de 15 milhões de quilômetros quadrados de área ocupada pela criação de animais seria liberada para vegetação.

As emissões de gases do efeito estufa seriam reduzidas em 10% com a queda do número de animais. Juntos, esses impactos reduziriam em 50% os custos do combate às mudanças climáticas em 2050.

Os cientistas sugerem que, para ajudar os consumidores, o custo ambiental da carne — ou o volume de emissões de CO2 e metano por porção — seja incluído nos rótulos.