Dados biográficos
Seus avós, imigrantes judeus, instalaram-se no interior do Rio Grande do Sul cultivando como unidade familiar uma agricultura de subsistência, e foi lá que Tragtenberg iniciou sua aprendizagem de português, espanhol, esperanto e russo, além das leituras de autores anarquistas russos como Kropotkin, Bakunin, Tolstói. Freqüentou o grupo escolar, em Porto Alegre, mas não foi além da terceira série do primário.
Após a morte precoce do pai, transferiu-se com sua mãe para São Paulo, onde ainda jovem começou a trabalhar. Filiou-se ao PCB, mas foi expulso com base em um artigo que proibia ao militante contato direto ou indireto com trotskistas ou com a obra de Leon Trótski, autor por ele lido e relido.
Trabalhou no Departamento das Águas de São Paulo, onde teve toda a sua experiência prática com a burocracia, posteriormente criticada em seu livro Burocracia e Ideologia. Neste período frequentava a Biblioteca Municipal Mário de Andrade, onde lhe foi possível ler o que lhe interessasse e discutir assuntos diversos com um grupo de intelectuais que também frequentavam a biblioteca, entre eles Antônio Cândido, que o convenceu a prestar vestibular na USP.
Escreveu o ensaio Planificação - Desafio do século XX, que seria posteriormente transformado em livro. Com a aceitação desse texto pela Universidade, habilita-se a prestar o vestibular. Aprovado, começa a frequentar o curso de Ciências Sociais. Um ano depois prestou novamente vestibular - desta vez para o curso de História, que concluiu. Durante a ditadura militar escreveu sua tese de doutorado em Política, também pela USP. Começou então a se dedicar à carreira de professor, lecionando na graduação e pós-graduação de universidades como PUC-SP, USP, UNICAMP e da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EAESP-FGV).
No meio acadêmico, Tragtenberg ficou conhecido como um autodidata (o que era apenas parcialmente verdadeiro, embora ele próprio costumasse alardear, provocativamente, o seu "primário incompleto"). Definia-se como um socialista libertário e detestava ser qualificado como anarquista) e radical. Irreverente com relação aos símbolos e às artimanhas do poder autoritário, foi um intelectual independente e crítico em relação à burocracia acadêmica, que desprezava.
Fumante inveterado e de aspecto desleixado, suas classes eram freqüentadas não só por alunos regulares mas também por numerosos ouvintes não matriculados. Por seu espírito rebelde e senso de humor freqüentemente sarcástico, mas sobretudo por sua profunda generosidade intelectual, Maurício foi amado por seus alunos.
Era casado com a atriz Beatriz Tragtenberg e pai do compositor Lívio Tragtenberg.
Trabalhos publicados
Deixou publicados pelo menos 8 livros e inúmeros artigos em jornais e revistas de grande circulação no país, abrangendo diversos assuntos como educação, política, sociologia, história e administração.
Escreveu por vários anos a coluna No Batente para o jornal Notícias Populares, um tablóide popular de São Paulo.
Sua obra completa que inclui livros, artigos, apresentações, prefácios e textos esparsos está sendo editada pela Editora UNESP tendo sido publicados quatro volumes da coleção Mauricio Tragtenberg - dirigida por Evaldo Amaro Vieira: Administração, Poder e Ideologia, Sobre educação, política e sindicalismo, "Burocracia e Ideologia" e o mais recente A Revolução Russa.
Teoria da Pedagogia Libertária
Através de uma crítica incisiva ao modelo pedagógico burocrático, Tragtenberg chega à teoria da pedagogia libertária, que se expressa pelo questionamento de toda e qualquer relação de poder estabelecida no processo educativo e das estruturas que proporcionam as condições para que essas relações se reproduzam no cotidiano das instituições escolares.
Em sua visão, a própria prática de ensino pedagógica-burocrática permite a dominação na medida em que reduz o aluno ao papel de mero receptáculo de conhecimento e fixa uma hierarquia rígida e burocrática na qual o principal interessado encontra-se numa posição submissa. E nessa ordem o professor é o ‘símbolo vivo’ da dominação.
Tragtenberg critica duramente a realidade das universidades, "a delinquência acadêmica", que a seu ver, acabam exprimindo uma ‘concepção capitalista do saber’ através da busca desenfreada por titulações, publicações, pontos. Paga-se para apresentar trabalhos a si mesmo ou aos poucos amigos que se revezam entre falantes e ouvintes, não interessando o conteúdo e a qualidade do que se publica, mas sim quantos pontos vale; também não importa se alguém lerá o artigo; que seja de preferência uma publicação em algum país vizinho, pois as publicações internacionais valem mais pontos.
Em resposta a tudo isso, a pedagogia libertária propõe uma série de mudanças nas instituições de ensino, fundadas na:
-autogestão, gestão da educação pelos diretamente envolvidos no processo educacional e a ‘devolução do processo de aprendizagem às comunidades onde o indivíduo se desenvolve (bairro, local de trabalho)’;
-autonomia do indivíduo, ‘o indivíduo não é um meio, é o fim em si mesmo. No universo das coisas (mercadorias) tudo tem um preço, porém só o homem tem uma dignidade’; negação total de prêmios ou punições;
-solidariedade, crítica permanente de todas as formas educativas que estimulam ou fundamentem-se na competição;
-crítica a todas as normas pedagógicas autoritárias.
Essa proposta pedagógica pressupõe ainda: educação gratuita para todos, superação da divisão dos professores em categorias; liberdade de organização para os trabalhadores da educação.
Referências
Catálogo Editora UNESP ADMINISTRAÇÃO, PODER E IDEOLOGIA
Catálogo Editora UNESP BUROCRACIA E IDEOLOGIA
Catálogo Editora UNESP REVOLUÇÃO RUSSA, A
SILVA, A.O. "Maurício Tragtenberg e a Pedagogia Libertária: anotações sobre a experiência do fazer a tese" in Revista Espaço Acadêmico nº 36, maio de 2004
Ligações externas
A Delinqüência Acadêmica, por Maurício Tragtenberg
A atualidade de Errico Malatesta, por Maurício Tragtenberg
A educação de Maurício Tragtenberg (depoimento pessoal sobre um método político-pedagógico), por Paulo Roberto de Almeida
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/MaurÃcio_Tragtenberg
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