tag:blogger.com,1999:blog-2710581384566154092024-03-14T03:59:45.279-03:00DIACRIANOSO Blog dos Thetasjhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.comBlogger632125tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-49487842441204293582015-08-04T18:35:00.000-03:002015-08-04T18:35:00.419-03:00A Lava Jato vai limpar a nossa matriz energética?<h2 style="background: white; line-height: 21.6pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: top;">
<br /></h2>
<div style="background: white; line-height: 12.5pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial;">Operação da PF
expôs o elo entre energia insustentável e corrupção no Brasil; um efeito
colateral poderá ser um impulso às renováveis. O comentário é de<span class="apple-converted-space"> </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/538292-cop-20-tensao-de-interesses-marca-a-conferencia-do-clima-em-lima-entrevista-especial-com-ricardo-baitelo" style="outline: 0px;"><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; color: #e66101; padding: 0cm; text-decoration: none;">Ricardo Baitelo</span></strong></a><span class="apple-converted-space"> </span>e<span class="apple-converted-space"> </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/544963-laudato-si-a-novidade-que-provoca-e-agita-a-agenda-ambiental-entrevista-especial-com-carlos-rittl" style="outline: 0px;"><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; color: #e66101; padding: 0cm; text-decoration: none;">Carlos Rittl</span></strong><span class="apple-converted-space"><b><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #e66101; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm; text-decoration: none; text-underline: none;"> </span></b></span></a>em artigo publicado por<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Blog do Planeta</span></strong>, 30-07-2015.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 12.5pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial;"><br /></span></div>
<div style="background: white; line-height: 12.5pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<strong style="outline: 0px;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #1a1a1a; font-family: Arial; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">Eis o artigo.</span></strong><span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 12.5pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<strong style="outline: 0px;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #1a1a1a; font-family: Arial; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;"><br /></span></strong></div>
<div style="background: white; line-height: 12.5pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial;">Quando o governo
federal anunciou a decisão de construir <strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">duas mega-hidrelétricas no rio Madeira</span></strong>, mesmo após
um parecer contrário do<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Ibama</span></strong>,
ambientalistas e técnicos do setor chiaram. As usinas eram <span class="zoom"><span style="border: none windowtext 1.0pt; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;"><span style="outline: 0px;">obviamente problemáticas</span></span></span> do
ponto de vista ambiental: previa-se que causariam alagamentos, problemas à
pesca e pressão sobre a floresta e os serviços públicos em Porto Velho (tudo
isso está acontecendo hoje). O governo foi adiante: atropelou o<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Ibama</span></strong>, grudou nos ambientalistas o rótulo de
inimigos do Brasil e licenciou<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Santo Antônio</span></strong>e<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Jirau</span></strong>.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 12.5pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial;"><br /></span></div>
<div style="background: white; line-height: 12.5pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial;">Começava ali um
roteiro que seria seguido depois em <span class="zoom"><span style="border: none windowtext 1.0pt; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;"><span style="outline: 0px;">Belo Monte</span></span></span> e
agora no complexo de<strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">usinas
do Tapajós</span></strong>: atropelos a salvaguardas socioambientais e fartos
subsídios a empreendimentos caros, de alto risco e baixa viabilidade econômica.
São investimentos que aumentam a fragilidade do sistema elétrico brasileiro ao
colocar a geração a milhares de quilômetros dos centros de consumo e, como
mostraram estudos recentes da Secretaria de Assuntos Estratégicos da própria
Presidência, ainda nos deixam em risco de desabastecimento por causa das
mudanças do clima. A ministra de Minas e Energia responsável por implementar
esse modelo, na administração<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Lula</span></strong>, atendia
pelo nome de<strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Dilma
Vana Rousseff</span></strong>.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 12.5pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial;"><br /></span></div>
<div style="background: white; line-height: 12.5pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial;">A opção por <strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">hidrelétricas faraônicas</span></strong> fazia
ainda menos sentido quando se olhava o que estava acontecendo no panorama
energético lá fora. A energia solar entrava numa espiral descendente de preços,
com o avanço de uma revolução chamada geração distribuída: cada família poderia
produzir parte da eletricidade que consome ao instalar painéis solares em casa
– energia segura e sustentável. Durante anos o governo federal torceu o nariz
para a energia solar, alegando que essa fonte era cara demais. Só não explicava
por que subsidiar solar não podia, mas tudo bem empatar R$ 30 bilhões para
barrar o rio Xingu.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 12.5pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial;"><br /></span></div>
<div style="background: white; line-height: 12.5pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial;">Uma das maiores
razões para essa fixação em grandes obras começou a ser escancarada pela
Polícia Federal e o Ministério Público: corrupção. A <strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Operação Lava Jato</span></strong>,
que já havia levantado indícios fortes de pagamento de propinas em Belo Monte,
começou nesta semana a vasculhar mais a fundo o setor elétrico. Na última
terça-feira, <span class="zoom"><span style="border: none windowtext 1.0pt; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;"><span style="outline: 0px;">f</span><span style="outline: 0px;">oi preso o diretor licenciado da</span></span><span class="apple-converted-space"><span style="border: none windowtext 1.0pt; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;"> </span></span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Eletronuclear</span></strong></span>.
A “holding”<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Eletrobras</span></strong><span class="apple-converted-space"> </span>está agora na mira dos investigadores.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 12.5pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial;"><br /></span></div>
<div style="background: white; line-height: 12.5pt; margin: 6pt 0cm 9pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial;">Há muito tempo se especula sobre o elo entre energia
insustentável e corrupção: partidos políticos fatiam entre si os cargos-chave
no setor. Os operadores de cada partido elegem as obras prioritárias e
distribuem sua execução entre as empreiteiras do “clube”. Estas superfaturam os
preços e, em troca, irrigam o caixa dos partidos e o bolso pessoal dos
operadores partidários nos órgãos públicos. Como requinte de crueldade, ainda
recebem crédito subsidiado do BNDES para isso, numa operação cujas dimensões o governo
relutou em revelar. Quanto maior a obra, quanto mais pedra, cimento e terra
escavada, mais gorda é a propina. A conta sobra para a população, que paga três
vezes: pelo sobrepreço, pelo subsídio e pelo passivo ambiental.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 12.5pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial;">O conluio entre
agentes públicos e empreiteiras era algo de que apenas se suspeitava, até a<strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Lava Jato</span></strong><span class="apple-converted-space"> </span>puxar o fio da meada de outra
produtora de energia suja e intensiva em capital – a <strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Petrobras </span></strong>–
e <span class="zoom"><span style="border: none windowtext 1.0pt; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;"><span style="outline: 0px;">botar na cadeia os
presidentes das maiores construtoras do país</span></span></span>. O mergulho
ora iniciado no setor elétrico tem tudo para não deixar tijolo sobre tijolo.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 12.5pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial;"><br /></span></div>
<div style="background: white; line-height: 12.5pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial;">Um efeito colateral
das investigações poderá ser um <strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">impulso às energias renováveis</span></strong> que operem de
forma mais descentralizada. Com a ligação entre construtoras e agentes públicos
exposta, o governo pode se sentir inibido em seguir tocando a mesma música. É
uma oportunidade para uma ação mais séria em geração solar distribuída
(contam-se em poucas centenas as residências no Brasil que têm painéis solares
e trocam energia com a rede).<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 12.5pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial;"><br /></span></div>
<div style="background: white; line-height: 12.5pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial;">O governo dá sinais
de que pressentiu o golpe. O próprio discurso de<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Dilma</span></strong><span class="apple-converted-space"> </span>sobre
renováveis mudou: em 2012, ela chamava a energia solar de “fantasia”; no mês
passado, <span class="zoom"><span style="border: none windowtext 1.0pt; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;"><span style="outline: 0px;">adotou
uma meta</span></span></span> de expansão de eletricidade renovável para
20% da matriz em 2030. Mesmo que a meta não seja nada ambiciosa - poderíamos
chegar a pelo menos 40% - o fato de a presidente falar hoje em investir em
energia solar é, sim, novidade.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 12.5pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial;"><br /></span></div>
<div style="background: white; line-height: 12.5pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial;">No mês que vem, o
Ministério de Minas e Energia realiza um<strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;"> leilão de energia solar fotovoltaica</span></strong>. Um
segundo está marcado para novembro, e só o ritmo atual de contratação já
superaria a meta pífia de 3,5 gigawatts instalados projetada pelo governo para
2023. Alguns Estados já começam a rever sua política de tributação para energia
solar.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 12.5pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial;"><br /></span></div>
<br />
<div style="background: white; line-height: 12.5pt; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial;">Nunca se deve
duvidar da capacidade do sistema político brasileiro de mudar para manter o
status quo. Bem pode ser que após a<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Lava Jato</span></strong><span class="apple-converted-space"> </span>a corrupção encontre outros caminhos
para continuar poluindo, desmatando e excluindo. Mas nunca o caldo de cultura
no país esteve tão favorável a outras fontes de energia, renováveis e limpas,
em todos os sentidos – e em novas formas de vendê-las e distribuí-las.<o:p></o:p></span></div>
<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-13910561534113991012015-08-01T18:21:00.000-03:002015-08-01T18:21:36.256-03:00A longa marcha dos neoliberais para governar o mundo<h2 style="background: white; line-height: 21.6pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; vertical-align: top;">
<br /></h2>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">Com a fundação da<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Mont Pélerin Society (MPS)</span></strong><span class="apple-converted-space"> </span>em 1947, teve início a longa marcha
que levou o<span class="apple-converted-space"> </span><a href="https://www.google.com/url?q=http://www.ihu.unisinos.br/noticias/542136-hegemonia-e-poder-neoliberal&sa=U&ved=0CBcQFjAGahUKEwiZ5sP47YTHAhVD6CwKHVANDR0&client=internal-uds-cse&usg=AFQjCNGiLXkM0Hhswk2oDdEjvb2SUENNbQ" style="outline: 0px;"><b><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #e66101; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm; text-decoration: none; text-underline: none;">neoliberalismo</span></b></a><span class="apple-converted-space"> </span>a
conquistar uma hegemonia totalitária sobre a economia e a política. Com as
dramáticas consequências que ainda hoje experimentamos.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">A opinião é do sociólogo italiano<span class="apple-converted-space"> </span><a href="https://www.google.com/url?q=http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-anteriores/37297-a-dificil-defesa-do-trabalhador-global&sa=U&ved=0CA4QFjADahUKEwjJsYGP7oTHAhUFCCwKHfRaBx4&client=internal-uds-cse&usg=AFQjCNHOw2tHTtxQsXxeUh2ZaK2h7BlqLQ" style="outline: 0px;"><b><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #e66101; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm; text-decoration: none; text-underline: none;">Luciano Gallino</span></b></a>, professor emérito da<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Universidade de Turim</span></strong>, em artigo publicado no
jornal<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">La Repubblica</span></strong>, 27-07-2015. A tradução é de<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Moisés Sbardelotto</span></strong>.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;"><br /></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<strong style="outline: 0px;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">Eis o texto.</span></strong><span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<strong style="outline: 0px;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;"><br /></span></strong></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">Quando eu abro as janelas de manhã, nestes dias, o olhar
cai inevitavelmente no<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Mont Pélerin</span></strong>,
para além do lago. É uma montanha suíça a poucos quilômetros de<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Montreux</span></strong>, conhecida desde os anos 1920 pelos bons
hotéis e pelo clima suave.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">É também o lugar a partir do qual teve início, com a
fundação da<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Mont Pélerin Society (MPS)</span></strong><span class="apple-converted-space"> </span>em 1947, a longa marcha que levou o
neoliberalismo a conquistar uma hegemonia totalitária sobre a economia e a política
da Europa inteira. Com as dramáticas consequências que ainda hoje
experimentamos.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<strong style="outline: 0px;"><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">Gramsci</span></strong><span class="apple-converted-space"><span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;"> </span></span><span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">acharia muito interessante a estratégia adotada pela<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">MPS</span></strong><span class="apple-converted-space"> </span>para
conquistar a hegemonia, entendida no seu pensamento como um poder exercido com
o consentimento daqueles que se submeteram a ele. Em vez de constituir mais uma
fundação ou um<span class="apple-converted-space"> </span><em style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">think tank</span></em>especializado
em promover este ou aquele ramo da economia, a<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">MPS</span></strong><span class="apple-converted-space"> </span>optou
por construir em grande escala um "intelectual coletivo".<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">Em 1947, quando<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Friedrich Hayek</span></strong><span class="apple-converted-space"> </span>reuniu um pequeno grupo de economistas
e outros intelectuais (incluindo<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Maurice Allais</span></strong>,<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Walter Eucken</span></strong>,<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Ludwig von Mises</span></strong>,<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Milton Friedman</span></strong>,<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Karl Popper</span></strong>)
para fundar a<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">MPS</span></strong>, os
congregados eram apenas 38, em sua maior parte europeus. No fim dos anos 1990,
eles tinham se tornado mais de mil, espalhados por todo o mundo, embora a
maioria continuasse vindo da Europa.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">Radicados em grande parte na academia, esse coletivo
intelectual não redigiu ambiciosos manifestos programáticos (as
"intenções" formuladas em 1947, no momento da fundação, são uma
pequena página bastante banal, que também se pode ler de modo idêntico no site
da<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">MPS</span></strong>), nem grande projetos de reformas
institucionais. Em vez disso, produziu milhares de ensaios e livros, muitos de
nível notável, que giram todos em torno de temas que, para os sócios da MPS,
eram e são a essência do neoliberalismo: a liberalização dos movimentos de
capital; a superioridade fora de questão do livre mercado; a categórica redução
do papel do Estado como construtor e guardião das condições que permitam a
máxima difusão de um e de outro.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">Graças a esse trabalho imenso e capilar, por volta de
1980, as doutrinas econômicas e políticas neoliberais tinham ocupado todos os
espaços essenciais nas universidades e nos governos. Obviamente, não foi apenas
a<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">MPS</span></strong><span class="apple-converted-space"> </span>que
se consumiu para tal fim, mas o seu papel foi enorme. Não exagerava um
historiador do pensamento neoliberal (<strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Dieter Plehwe</span></strong>) quando definiu a MPS, anos atrás,
como "um dos mais poderosos órgãos de conhecimento da nossa época".<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 9.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">No entanto, os sócios
não se limitaram a publicar artigos e livros. Muitos deles chegaram a ocupar
posições centrais no aparato de governo dos maiores países. Nos tempos da
presidência Reagan (1981-1988), de cerca de 80 conselheiros econômicos do
presidente, mais de um quarto eram da MPS.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">As liberalizações financeiras decididas pelo governo<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Thatcher</span></strong><span class="apple-converted-space"> </span>na
primeira metade dos anos 1980, que mudaram o rosto da economia britânica, foram
elaboradas, em grande parte, pelo<strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Institute of Economic Affairs</span></strong>, uma filiação da<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">MPS</span></strong><span class="apple-converted-space"> </span>fundada
e dirigida por dois sócios,<strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Antony Fisher</span></strong><span class="apple-converted-space"> </span>e<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Ralph Harris</span></strong>.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">A cúpula da indústria francesa e alemã sempre foram
numerosos nas fileiras da<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">MPS</span></strong>, entretendo
estreitas relações com os sócios provenientes do mundo político.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">De destaque foi a participação italiana na<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">MPS</span></strong>. Entre os seus primeiros sócios, estava<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Luigi Einaudi</span></strong>. Dois italianos foram presidentes:<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Bruno Leoni</span></strong><span class="apple-converted-space"> </span>(1967-1968)
e<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Antonio Martino</span></strong>(1988-1990), que ainda figura entre
os sócios, ao lado de (salvo engano)<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Domenico da Empoli</span></strong>,<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Alberto Mingardi</span></strong>,<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Angelo Maria Petroni</span></strong>,<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Sergio Ricossa</span></strong>.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">Duas características marcam fortemente a hegemonia da<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">MPS</span></strong><span class="apple-converted-space"> </span>sobre
a cultura e a práxis econômico-política dos Estados europeus a partir dos anos
1980. A primeira é a desmesura da vitória sobre qualquer outra corrente de
pensamento – especialmente na economia. O keynesianismo, desde as origens o
arqui-inimigo da<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">MPS</span></strong>, foi
reduzido à insignificância e, com ele, o pensamento de<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Schumpeter</span></strong>, de<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Graziani</span></strong>, de<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Minsky</span></strong>. Sobrevivem aqui e ali, em algum
departamento universitário, mas na política econômica da União Europeia contam
como zero.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">À força de liberalizações inspiradas pela cultura da<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">MPS</span></strong>, o sistema financeiro domina a política não
menos do que a economia – como demonstrou mais uma vez o caso grego. Os
sistemas públicos de proteção social estão em curso de avançada demolição: não
servem, ao contrário, são nocivos, pois cada indivíduo, segundo a cultura
neoliberal, é responsável pelo seu destino.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">A escola e a universidade foram reformadas, começando pela
Alemanha para acabar pela<strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Itália</span></strong>, de modo a funcionar como empresas.<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Wilhelm von Humboldt</span></strong><span class="apple-converted-space"> </span>deve estar se revirando no túmulo.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">A segunda característica da cultura econômica neoliberal
de formato<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">MPS</span></strong><span class="apple-converted-space"> </span>é a sua incrível resistência às
pesadas refutações que a realidade lhe inflige há ao menos 15 anos. O início
dos anos 2000 viu o colapso das empresas<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">dot.com</span></strong>,
glorificadas pelos economistas neoliberais, que, em nove de cada dez casos,
eram estratagemas nos quais as Bolsas, em nome da hipótese de que os mercados
sempre são eficientes, apostavam bilhões de dólares.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 9.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">O fim dos anos 2000,
ao contrário, testemunharam ao quase colapso da economia mundial, minada pelas
finanças baseadas deliberadamente em milhões de empréstimos hipotecários que as
famílias não tinham meios para pagar.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">Depois de 2010, os economistas neoliberais e os políticos
por eles doutrinados impuseram às populações da<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">União Europeia</span></strong><span class="apple-converted-space"> </span>as
políticas de austeridade, que se revelaram um fracasso total na opinião dos
seus próprios promotores. Em síntese, os economistas formato<strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">MPS</span></strong><span class="apple-converted-space"> </span>predispuseram os dispositivos que
produziram a grande crise; não a viram chegar; não souberam explicá-la e
propuseram remédios que pioraram a situação. Apesar de tudo isso, continuam
ocupando a sala de comando das políticas econômicas da União Europeia.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">Se alguém pudesse perguntar a<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Gramsci</span></strong><span class="apple-converted-space"> </span>como
é que as esquerdas europeias, independentemente de como se denominem, começando
pela italiana, foram abaladas sem opôr resistência pela ofensiva hegemônico do
neoliberalismo iniciada em 1947 a partir de<strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Mont Pélerin</span></strong>, talvez ele responderia "porque
vocês não os souberam imitar".<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: 9.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">Ao rio de publicações
voltadas a afirmar a ideia dos mercados eficientes, vocês não souberam opor
nada de semelhante, para demonstrar com argumentos sólidos que os modelos com
os quais se queria demonstrar tal ideia se fundamentam em pressupostos
totalmente inconsistentes.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">Além disso, continuaria<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Gramsci</span></strong>, onde
estão os seus artigos e livros que, dirigindo-se tanto aos especialistas,
quanto aos políticos e ao grande público, cimentam-se para provar, a cada dia,
com argumentos sólidos, a superioridade técnica, econômica, civil, moral da
saúde pública sobre a privada; das pensões públicas sobre as privadas, diante
dos ataques cotidianos às primeiras pela mídia e pelos políticos, baseados
geralmente em dados incorretos; do Estado sobre as empresas privadas para
produzir inovação e desenvolvimento, hoje, assim como em toda a segunda metade
do século XX; da importância econômica e política dos bens comuns sobre o
absurdo das privatizações?<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">Como a natureza tem horror ao vácuo, o vazio cultural,
político, moral das esquerdas foi pouco a pouco preenchido pelas sucessivas
levas de leitores, eleitores, professores, funcionários de partido e das
instituições europeias, instruídas pelo coletivo intelectual que surgiu da<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">MPS</span></strong>.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; mso-line-height-alt: 12.5pt; outline: 0px; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 14.0pt;">É preciso construir o consenso, e a<span class="apple-converted-space"> </span><strong style="outline: 0px;"><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">MPS</span></strong><span class="apple-converted-space"> </span>demonstrou
saber fazer isso. As esquerdas nem sequer tentaram.<o:p></o:p></span></div>
<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-42573523025651446922014-12-04T18:21:00.000-02:002014-12-04T18:21:00.455-02:00Efeito estufa, controvérsias e caminhos <div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Dar preço ao carbono é um debate mundial crescente entre os
pesquisadores envolvidos com a mudança climática. O ponto é como fazer
isso de forma a reduzir a emissão de gases-estufa e financiar a
adaptação aos impactos da mudança climática. O exemplo de como alguns
países vêm se adiantando a isso é um dos pontos altos do livro "O
Imbróglio do Clima" organizado pelo economista José Eli da Veiga, que
será lançado no dia 26/11, em São Paulo, na livraria Fnac de Pinheiros, a
partir das 16 horas.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
O comentário é de Daniela Chiaretti, publicado pelo jornal Valor, 25-11-2014.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
É conhecida a visão cética de Veiga ao processo internacional da
ONU na costura de um acordo climático global. Em seu capítulo no livro,
o colunista do Valor diz com todas as tintas que a convenção sobre
mudança do clima da ONU foi feita às pressas e que "parece ínfima a
possibilidade de que se encontre efetiva solução para qualquer problema
global em arenas de 193 Estados". Bombardeia o Princípio das
Responsabilidades Comuns Mas Diferenciadas (CBDR, na sigla em inglês),
um dos pilares da convenção. Esse princípio reconhece que, se todos têm
responsabilidade em relação à crise climática, a quota dos Estados
Unidos é diferente da de Burundi. É verdade que há muitos matizes nessa
comparação (um país em desenvolvimento como o Brasil não pode ter a
mesma responsabilidade que outro como o Haiti, por exemplo) e ajustes
dessa gradação estão sendo pensados - inclusive pelo Brasil.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
O livro reúne quatro autores e dá um panorama atual da ciência do
clima e suas controvérsias, além da discussão econômica que envolve o
debate climático. É um dos momentos em que Veiga discorre sobre as
estratégias dos países pioneiros em dar preço ao carbono. Ele lembra
que, entre 1993 e 1997, quando as negociações culminaram noProtocolo de
Kyoto, a estratégia que venceu foi a do comércio dos direitos de
emissão, conhecida por cap-and-trade (estabelecer um teto de emissões e
comercializar as licenças para emitir). O exemplo mais expressivo desse
mercado de créditos de carbono é o europeu, que envolve 11.500 empresas,
responsáveis por 40% das emissões do bloco, mas que está em crise nos
últimos anos, com o preço do carbono muito baixo. Esse caminho, segundo o
economista, impediu que deslanchasse o "historicamente comprovado
recurso à tributação" e acabou fazendo com que "meros 7% das emissões
globais decarbono" estejam hoje dentro desses dois mecanismos de
formação de preço.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Há taxas-carbono na Dinamarca, Finlândia, Irlanda, Suécia, Reino
Unido, Noruega e Suíça. O Chile acaba de criar a sua. O exemplo da
Columbia Britânica, no Canadá, merece destaque. É, diz o economista, o
melhor dos impostos climáticos em vigor. A taxa na província canadense
incide sobre a queima de todos os combustíveis fósseis, sem aumentar a
carga tributária. Por uma tonelada de carbonoa empresa pode desembolsar
US$ 20, mas, para evitar que os negócios sejam prejudicados, a alíquota
do imposto de renda das pessoas jurídicas foi reduzida de 12% para 10%. O
problema é que o exemplo tem que ser seguido por outras províncias
canadenses e por estados dos EUA, para evitar perda de competitividade.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
"A única maneira eficaz de se administrar a mudança climática é a
adoção de uma taxa mundial, mas incidente sobre o consumo, de modo que o
preço de qualquer mercadoria também reflita seu correspondente teor de
carbono", resume Veiga.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
O economista e pesquisador em economia do meio ambiente Petterson
Molina Vale volta a esse tema em seu capítulo, uma análise atual da
intersecção entre as questões climáticas e a economia. Retoma estudos de
economistas como Robert Pindyck, do MIT, que "propõe a pergunta
fundamental", diz Vale, sobre "qual dever ser o preço do carbono, e
responde categoricamente que "ninguém sabe." Ele ilustra as dificuldades
de se criar taxas-carbono com o exemplo da França, que desde 2009
discute o assunto, sempre com muita oposição à ideia. "O custo político
da imposição de um preço sobre carbono é elevado, pois se trata de um
tributo que incide sobre a base da cadeia produtiva (produção de
energia) e com isso se propaga pelo sistema de preços".</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Vale, que foi aluno de Veiga, também desconstrói qualquer esperança
que se possa ter sobre "ações do tipo universalista, em que todos os
países com emissões relevantes assumem compromissos de forma sincrônica e
coordenada". Para ele, são "inviáveis tanto teoricamente quanto na
prática". Ele acredita que, depois da fracassada conferência de
Copenhague, em 2009, "o eixo da tomada de decisão passa a ser de países,
regiões, cidades e empresas". É uma meia-verdade. É fato que países,
regiões, cidades e empresas estão se mexendo bastante na questão
climática na imensa lacuna da negociação internacional. Mas a maioria
esmagadora das empresas fala muito e faz pouco e muitas políticas
públicas locais acabam dando em nada - basta jogar uma lupa em várias
políticas climáticas estaduais e municipais brasileiras.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
O acordo climático é complexo porque tem que fechar, ao mesmo
tempo, cortes de emissão, fundos de adaptação, fundos climáticos,
proteção das florestas e ver como, afinal, governos decidirão sobre
transferência de tecnologia se esta é uma esfera de domínio privado -
todos, fronts de ação nascidos nos fóruns climáticos internacionais. Mas
parece bastante razoável a afirmação de Vale de que "a ação climática
se baseará cada vez mais no princípio do aprendizado pelo percurso,
passando-se a priorizar a ação local à negociação internacional."</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Vale surpreende ao indicar ao leitor um expediente pouco comum nos
textos dos estudiosos do clima. Diz que quem não estiver interessado em
"complexidades técnicas" pode pular alguns itens. É um artifício
simpático, que, no entanto, não funciona no primeiro texto do livro, o
que trata da ciência do clima e é escrito pela professora Sonia Maria
Barros de Oliveira, do Instituto de Geociências da USP. A ela coube a
tarefa de atualizar os achados que estão no último relatório do Painel
Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês), o
braço científico da ONU. Em linguagem bastante acessível, transcorre
sobre as mudanças nas temperaturas da superfície e nos oceanos, nas
geleiras e nos gelos marinhos, na concentração de CO2 e metano na
atmosfera e até no que se conhece dos últimos 800 mil anos. É um
mergulho no que existe de mais atual na ciência do clima.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
O que dizer do capítulo escrito pelo físico Luiz Carlos Baldicero
Molion? Desperta muito interesse o "Alarme falso: o mundo não está em
ebulição!", escrito pelo mais famoso pesquisador brasileiro da corrente
que nega que o clima esteja mudando em função das atividades humanas.
Mas o debate democrático sobre o tema, proposto por Veiga, pode ser
frustrado se o leitor desconhecer o que venha a ser o albedo planetário
ou não faz ideia do que quer dizer "a desativação colisional". O recado
de Molion é claro, no entanto: "Ninguém, no mundo, mesmo nos países
avançados, consegue prever o clima com três meses de antecedência, que
se dirá com antecipação de cem anos!". Se ele estiver certo e a
esmagadora maioria dos cientistas no Brasil e no mundo, errada, então é
melhor seguir a recomendação dos crentes e entregar a Deus toda esta
história de mudança do clima.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div>
"O Imbróglio do Clima"</div>
José Eli da Veiga (org.). Editora: Senac SP. 164 págs., R$ 54,9<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-15256729909048601322014-11-27T18:18:00.001-02:002014-11-27T18:18:24.493-02:00A obsessão pelo crescimento econômico como patologia social<div id="WM01-bodyContent">
<div>
<h1 style="color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 26px; line-height: 29.9px; margin: 10px 0px; padding: 0px; text-align: justify;">
</h1>
<div class="submitted" style="color: #999999; font-family: "Myriad Pro Bold Cond"; font-size: 14px; line-height: 16.8px; margin-bottom: 10px; min-height: 50px; text-align: justify; text-transform: uppercase; width: 675.109px;">
<div class="autoria" style="float: left; width: 337.547px;">
<div class="autor">
<a href="http://jornalggn.com.br/usuario/marcio-valley" style="-webkit-transition: all 0.1s linear; color: #555555; font-size: 17px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration: none; transition: all 0.1s linear; width: auto;" target="_blank" title="Ver perfil do usuário.">MARCIO VALLEY</a></div>
</div>
</div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-weight: bold;"><span style="font-size: 16px;">do blog do Marcio Valley</span></span></div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
Tim
Jackson, em seu livro "Prosperidade sem crescimento: Vida boa em um
planeta finito", surpreende os leitores ao apontar estudos que
desvinculam o sentido de prosperidade individual à posse de riqueza.
Questionadas, as pessoas tendem a identificar o desejo de prosperidade,
precipuamente, ao bom relacionamento com familiares e amigos, à
segurança de si e das pessoas a quem quer bem, à possibilidade de
realizar coisas pelas quais se sinta gratificado, à manutenção de um
emprego decente com renda meramente suficiente para a manutenção de uma
vida digna e ao sentimento de pertencimento a uma comunidade da qual
possa participar de forma ativa. Jackson denomina de florescimento a
possibilidade do indivíduo alcançar esse conjunto de fatores. A
prosperidade, assim, está plenamente vinculada à capacidade do indivíduo
de florescer. Alcançar riqueza não é, em geral, incluída pelas pessoas
como um dos requisitos do florescimento. Uma renda digna, não riqueza, é
um elemento considerado, todavia apenas como um meio para o sucesso na
meta do florescimento.</div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
Essa
espécie de prosperidade que advém do florescimento independe do
crescimento econômico. De fato, é possível imaginar uma economia
estável, com crescimento variando em função do número de habitantes do
planeta e, sendo assim, tanto podendo crescer, como decrescer, na qual
as pessoas consigam viver num ambiente de fraternidade, trabalhando com
renda digna, realizando o que gosta de fazer e com segurança, ou seja,
florescendo em sua condição de ser humano.</div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
Dessa
forma, conclui-se que o crescimento econômico que gera uma imensa
desigualdade na distribuição da riqueza, mantendo bilhões de pessoas na
mais absoluta miséria, e que não possibilita o florescimento individual,
é de pouca serventia se considerado sob o prisma da produção de
prosperidade.</div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
A
obsessão pelo crescimento do PIB, cuja relação com a prosperidade e a
felicidade do ser humana é, para dizer o mínimo, improvável, pode,
portanto, ser interpretada como uma doença que conduz o ser humano a
desprezar as necessidades do sistema ecológico e a materialização do
florescimento individual.</div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
Por
outro lado, o economista francês Thomas Piketty, no livro "O capital no
século XXI", livro que o prêmio Nobel Paul Krugman não hesitou em
denominar de "verdadeiramente soberbo", informa que a inflação não foi
um acaso ou um infortúnio econômico, mas resultado de uma ação
planejada, em fins do século XIX e início do XX, que extinguiu o padrão
ouro das moedas fortes, o que foi feito para possibilitar a emissão de
moeda sem lastro. O objetivo? Reduzir, através da inflação, a dívida
pública das nações e pagar as despesas das guerras. Em outras palavras,
inventou-se a inflação para dar o calote na população. Piketti relata
que, até então, a economia crescia, com pouca variação, na proporção do
crescimento populacional, às vezes um pouco mais, outras um pouco menos.
A partir daí, a inflação tornou-se um problema que, até o momento, não
possui solução. Além disso, ele descreve academicamente os motivos pelos
quais a inflação, mesmo pequena, de 1% ao ano ou inferior, afeta de
maneira perniciosa a economia de qualquer país. Quanto maior a inflação,
mais rápidos são sentidos os efeitos daninhos.</div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
Não
bastassem todos os problemas acarretados pela invenção da inflação, que
Piketti descreve em seu livro, há ainda um que talvez seja um de seus
mais perversos efeitos: ela é um dos responsáveis pelo surgimento do
consumismo desenfreado a partir de meados do século XX, porque, ao
corroer o valor da renda, tanto a proveniente do trabalho, como a do
capital, obriga a uma recomposição através do aumento real da economia.
Quando o enfatizo como um efeito perverso da inflação, faço-o porque
tornou-se o consumismo um fetiche social que antropomorfiza o objeto de
consumo e coisifica o ser humano. Hoje em dia, raramente alguém é
admirado por sua cultura se não materializa esse valor interno em
objetos icônicos externos. "Essa pessoa não pode ser considerada culta e
erudita se não mora num bairro chique e não dirige um carro caríssimo",
é o que pensam ao excluírem de suas relações a pessoa que optou por uma
vida frugal.</div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
Há
algo mais ridículo do que uma pessoa, em reunião social, puxar conversa
jactando-se de possuir uma determinada marca de relógio ou de automóvel
e, ainda por cima, perguntar pelas marcas que o interlocutor costuma
adquirir? Como qualificar a auto-exibição de frivolidade de alguém que
posta na rede social a fotografia do prato que pediu em determinado
restaurante? Essa é a perversidade do consumismo: transforma o ser
humano, até onde se sabe o único ser vivo possuidor de inteligência
racional do universo, em um pateta superficial que desonra a cultura e é
obsedado pela inanidade do exibicionismo.</div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
Esse
mesmo consumismo fútil e sem sentido é que, em Bauman, é considerado um
dos fatos geradores da liquidez da modernidade, onde tudo é fugaz e
difícil de conter por muito tempo, qualificando-se o indivíduo pelo que
possui e não pelo valor intrínseco de si mesmo. E preocupa Jackson pela
vacuidade do ataque feroz aos recursos naturais e pela expansão da
ocupação humana em todos os habitats.</div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
Não
há dúvida de que o interesse demasiado pelo crescimento econômico
decorre inicialmente do aumento populacional. Para gerar emprego e
renda, a economia necessita acompanhar o ritmo da variação no número de
pessoas que buscam o mercado de trabalho. Como o século XX gerou um
incremento populacional até então inimaginável, essa explosão
demográfica exigiu um crescimento da economia à altura. O incentivo ao
consumismo nasce, em princípio, dessa urgência econômica. Assim, o
primeiro elemento culpado pela necessidade do consumismo é a explosão
demográfica.</div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
Entretanto,
a inflação, por desvalorizar a economia ainda que mantidas as mesmas
condições, obriga à recuperação desse prejuízo no mínimo em idêntico
percentual. Passa-se, dessa forma, a existir um segundo elemento que
deve ser pelo menos igual ao crescimento econômico para que tudo se
mantenha como está, que é a inflação. Muito simplificadamente, num
ambiente de crescimento populacional anual de 2% e inflação igual a 2%,
um crescimento econômico inferior a 4% será, em tese, um desastre.</div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
O
consumismo surge como salvador da economia. Para incrementá-lo, nasce
uma publicidade engenhosa e um artifício demoníaco: a obsolescência
programada, mecanismo através do qual as coisas são produzidas para
durar um curto tempo, obrigando à sua reposição reiterada e ampliando o
consumismo.</div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
Remédio,
contudo, que está matando o doente ao impôr o pesado ônus de uma
agressão sem paralelos ao ambiente em que vivemos. O extrativismo é
feroz, a necessidade de ocupação da terra aumenta a cada segundo. Muitas
espécies já foram extintas, outras estão em perigo. Diversos
ecossistemas são hoje mera lembrança.</div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
Nesse
ponto retornamos a Tim Jackson o problema que ele nos apresenta da
impossibilidade de crescimento infinito de qualquer subsistema que
integre um sistema finito. A finitude do sistema obviamente determina
idêntica finitude de todos os subsistemas nele contidos. O sistema
denominado planeta Terra é finito, donde decorre que o subsistema
ecológico terráqueo é igualmente finito, assim como finitos são todos os
subsistemas desse subsistema, inclusive o sub-subsistema econômico.
Portanto, a obsessão pelo crescimento econômico infinito e pela riqueza
individual infinita são, tanto uma impossibilidade física, como uma
patologia social capaz de conduzir ao aniquilamento da civilização.</div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
Por
conta disso, Jackson nos coloca a seguinte questão: o crescimento
contínuo da riqueza dos indivíduos que já são muito ricos é uma meta
saudável a ser perseguida pela economia política num mundo cujos limites
ecológicos já foram alcançados e estão perigosamente sendo
ultrapassados?</div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
Como
ninguém, nem os ricos, desejam a destruição da civilização, é muito
possível que, em médio prazo, se inicie um processo de ausência de
crescimento ou mesmo de redução da economia. Se isso ocorrer, entra
outra questão: como ficará a renda do trabalho? Segundo Piketti, em
situações de ausência de crescimento econômico, a tendência de
concentração da riqueza em poucas mãos se acentua. Além disso, a
tecnologia e o aumento da produtividade torna cada vez mais
desnecessária a mão-de-obra humana. De que forma será possível a criação
de emprego num ambiente de economia estagnada, de trabalho desenvolvido
por artefatos tecnológicos, com alta produtividade e com concentração
de riqueza cada vez maior? É possível que o setor de serviços preencha
esses espaços?</div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
Para
que o setor de serviços crie a maior quantidade possível de empregos, é
imprescindível que se pense em redução drástica do número de horas e de
dias trabalhados. O ócio criativo surge desse tempo vago e possibilita o
florescimento, com cada um procurando fazer aquilo que o realize
individualmente. A busca pela cultura, pela saúde, pelo aperfeiçoamento
físico e esportivo, pelo lazer, pelo conhecimento de lugares, pelo
aprendizado e produção de arte, enfim de toda atividade que sirva ao
propósito de construção da individualidade, naturalmente faz surgir o
outro lado da moeda: os prestadores de serviços que serão os auxiliares
dessa busca. Professores, médicos, artistas, agentes de turismo,
profissionais liberais de toda espécie, produzirão grande parte das
atividades e da renda necessária, destacando-se que são atividades de
baixa produtividade que, por isso, possibilita o surgimento de empregos
em quantidade proporcional à demanda. Basicamente, um cabeleireiro do
século XIX estava limitado fisicamente a cortar a mesma quantidade
diária de cabelos que hoje em dia um cabeleireiro pode cortar.</div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
Entretanto,
o setor de serviços não dará conta de gerar a renda necessária para
todos os habitantes do planeta. O que fazer? Duas coisas parecem
inevitáveis: a redução da população mundial a patamares administráveis e
a diminuição forçada da concentração da riqueza.</div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
A
redução da população não é difícil e pode ocorrer de forma bastante
acentuada em duas ou três gerações, desde que obstáculos morais e
religiosos sejam postos de lado. Numa hipótese drástica, e praticamente
impossível, se cada mulher tiver apenas um filho, o número de
nascimentos será igual à metade da população em uma geração e à metade
disso em duas. Nessa hipótese, em pouco tempo, alcançando-se, talvez,
uma população de dois bilhões de pessoas, seria possível adotar a taxa
de reposição, que é de 2,1 filho por mulher. Em uma suposição menos
radical, se cada uma tiver 1,5 filho, a população se manteria estável
durante algumas décadas e depois passaria a decrescer.</div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
A
redução da concentração da riqueza é necessária para a produção de
renda para uma parcela considerável da população que, ao menos no início
do processo de reforma da economia política, não encontraria emprego
para auferimento de renda. Caberia ao Estado alocar recursos para essas
pessoas. Os métodos para alcançar essa finalidade são variados e vão
desde a vedação da formação de grandes conglomerados econômicos, com
pulverização da produção, até a cassação de parte considerável do
direito de herança, passando pela tributação pesada das grandes
fortunas. O controle rigoroso sobre os títulos negociados no mercado,
com proibição daqueles não vinculados diretamente ao setor produtivo, é
uma imposição.</div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
Paralelamente, o retorno de uma ancoragem real para a moeda aparenta ser salutar.</div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
O fato aparentemente indiscutível é que o capitalismo precisará se reinventar.</div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: justify;">
Pode
ser que Marx estivesse certo quando sugeriu que a superação do
capitalismo surgiria de suas próprias crises e contradições intrínsecas.
Se essa superação resultará em comunismo ou outra coisa, teremos que
aguardar para ver.</div>
<div style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent ! important; color: #333333; font-family: Verdana,Geneva,"DejaVu Sans",sans-serif; font-size: 14px; line-height: 23.8px; margin: 0px 0px 15px; padding: 0px; text-align: left;">
no blog: <a href="http://marciovalley.blogspot.com.br/2014/11/a-obsessao-pelo-crescimento-economico.html" style="-webkit-transition: all 0.1s linear; color: #336688; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration: none; transition: all 0.1s linear;" target="_blank">http://marciovalley.blogspot.com.br/2014/11/a-obsessao-pelo-crescimento-economico.html</a></div>
</div>
</div>
<div style="text-align: left;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="thumbs"></a><br /></div>
<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-37689181670624006002014-11-08T19:40:00.000-02:002014-11-08T19:40:00.611-02:00Nova biografia de Freud, escrita pela historiadora Elisabeth Roudinesco<div id="WM01-bodyContent">
<div>
<div class="headline" style="border: 0px none; color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 12px; line-height: 15px; margin: 0px 0px 10px; outline: 0px; overflow: hidden; padding: 0px; width: 637px; word-wrap: break-word;">
<div style="border: 0px none; clear: both; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div id="texto-aumenta" style="border: 0px none; color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 16px; line-height: 15px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div class="article_text" style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A vida e a obra de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"><a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-anteriores/25972-sigmund-freud-%28*-23-9-1939%29" style="border: 0px none; color: #e66101; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Sigmund Freud </a>(1856-1939)</strong>, o criador da psicanálise, foram objetos de uma enormidade de estudos. Mais uma biografia, hoje, do célebre autor de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">“Interpretação dos sonhos”</strong> e <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">“Totem e tabu”</strong>? Para a historiadora da psicanálise <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Elisabeth Roudinesco</strong>, a escrita de seu <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">“Sigmund Freud — dans son temps et dans le nôtre”</strong><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">(Sigmund Freud — em seu tempo e no nosso)</strong> foi uma “imposição”.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A reportagem é de <span style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Fernando Eichenberg</strong>, publicada pelo jornal <span style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">O Globo</strong>, 27-09-2014.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Com acesso aos novos arquivos abertos pela <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Biblioteca do Congresso de Washington</strong>, nos <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Estados Unidos</strong>, a autora francesa mergulhou na vida e obra do biografado com a intenção de mostrar que <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> é
um produto de seu tempo e, ao mesmo tempo, revelar verdades sobre as
“lendas negras e douradas” edificadas sobre o personagem. O livro foi
lançado este mês na<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> França</strong>, pela editora <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Seuil</strong>, e tem publicação prevista no <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Brasil</strong> para 2015, pela <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Zahar</strong>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Crítica severa de uma psicanálise a-histórica, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Roudinesco</strong> condena a percepção da obra de<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> isolada
do contexto de sua época, estudada como um corpus clínico à parte do
mundo em que foi elaborada. Somado a isso os repetidos ataques
protagonizados nos últimos 30 anos pelos <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">“antifreudianos radicais”</strong>, hoje não se sabe mais quem é <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong>, sustenta a autora em entrevista ao <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Globo</strong> em sua casa, em <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Paris</strong>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Desde a primeira biografia de <a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3167&secao=326" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Freud</a>, de autoria de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Fritz Wittels</strong>, em 1924, passando pelos três volumes de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">“Vida e obra de Sigmund Freud”</strong>, de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Ernest Jones</strong>, publicados entre 1953 e 1957 (lançados no <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Brasil</strong> pela <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Zahar</strong>), uma miríade de teses e ensaios foi produzida nos mais variados idiomas, entre os quais o título de referência “<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong>: uma vida para o nosso tempo”, de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Peter Gay</strong>, de 1988 <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">(Companhia das Letras)</strong>. O minucioso trabalho de 592 páginas de<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> Roudinesco</strong> é reivindicado como a primeira biografia francesa do personagem, com uma nova abordagem e distanciamento de um <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> definido como um<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">“conservador rebelde”</strong> e criador de uma<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> “revolução simbólica”</strong> em um movimento que se perpetua.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/25890-%60%60psicanalise-e-a-medicina-da-alma-do-nosso-seculo%60%60-entrevista-com-elisabeth-roudinesco" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Elisabeth Roudinesco</a> será a principal convidada da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">“IX Jornada Bianual do Contemporâneo”</strong>, promovida pelo <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Instituto de Psicanálise e Transdisciplinaridade</strong>, nos próximos dias 3 e 4, em <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Porto Alegre</strong>. No dia 6, estará no <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Rio</strong> para falar sobre <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">“A psicanálise na situação contemporânea”</strong>, às 9h, no <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Instituto de Psicologia da Uerj</strong>. O<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Brasil</strong>, para ela, é hoje o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">“país mais freudiano do mundo”</strong>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Eis a entrevista.</strong></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Por que Freud e este livro hoje?</strong></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A necessidade se fazia sentir ao longo de um certo tempo de renovar a abordagem de<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong>.
Sou o primeiro autor francês a fazê-lo, e o último de um longa série. E
o primeiro a ir aos arquivos e utilizá-los de uma outra forma. É
verdade também que o fim de um ciclo de ondas sucessivas de ódio a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong>, de lendas negativas, de livros negros, já faz 25 anos. Se foi muito longe no <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">antifreudianismo</strong>, e se chegou a um ponto em que a opinião pública já estava farta de que se tratasse<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> Freud</strong> de
nazista, de incestuoso, de canalha. Era preciso restabelecer um pouco
de verdade. Eu me dediquei a isto. Os psicanalistas nadam no
anacronismo, na interpretação abusiva, porque para eles o contexto
histórico não existe. Quis mostrar bem que <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> nasceu
num mundo no qual não havia eletricidade, em que a promiscuidade de
membros de uma mesma não era a mesma de hoje. Quando ele conta sua vida
cotidiana, seja na “Interpretação dos sonhos” ou em outros escritos, é
um dia a dia diferente de hoje. <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> foi
criado numa família grande, com muitos empregados, sem água corrente.
Ele vive nesta promiscuidade em que pode realmente elaborar a teoria dos
substitutos. Quando ele vê suas cinco irmãs, vê sua mãe ou seu pai. Há
modelos familiares que estão acabando no momento em que teoriza isto.
Tive sempre a preocupação de o imergi-lo em seu contexto histórico, e de
mostrar que ele e sua obra são um produto de seu tempo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Na
França, o país mais freudiano do mundo, segundo a senhora, há uma
rejeição analítica da complexidade da história de Freud. Por quê?</strong></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Mais
se é freudiano, menos se é histórico. Mas isto está acabando. A França
foi o país da renovação da doutrina e não o da herança histórica.
Gerações de psicanalistas se interessaram nos textos freudianos de forma
estrutural: o corpus sem sua história. Não é um acaso se não houve
biografia de<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> Freud</strong> na
França. Jones, qual seja a crítica que lhe possa ser feita, tem a
preocupação da história. O mundo anglófono foi muito mais atento do que o
francófono à questão de imergir <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> na
história, mesmo se ainda restam como interpretações psicanalíticas. A
psicanálise sendo cada vez menos forte na renovação teórica, a
preocupação foi de historizar. E nos Estados Unidos, as querelas entre
historiadores são muito mais importantes do que as disputas entre
psicanalistas. Não é o caso na França. E também não é o caso no Brasil e
na Argentina.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">O
argentino Emilio Rodrigué (1923-2008), primeiro biógrafo
latino-americano de Freud, teve, na sua opinião, a “audácia de inventar
um personagem mais próximo de um personagem de Gabriel García Márquez do
que de um sábio originado da Velha Europa”. A senhora diz que cada país
criou seu próprio Freud. Quem é o Freud brasileiro?</strong></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Brasil</strong> tem
esta vantagem de ser aberto a tudo. Os brasileiros são muito abertos à
história da psicanálise e a todas as doutrinas, há um sincretismo. É o
que foi chamado de antropofagia, este movimento que digere o que vem da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Europa</strong> fazendo algo novo. Daí esta vivacidade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Embora a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">França</strong> seja mais forte no plano doutrinal, hoje provavelmente o país mais freudiano do mundo seja o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Brasil</strong>. Porque no <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Brasil</strong> o ensino da psicanálise se mantém nas universidades de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Psicologia</strong>, mais do que na <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Argentina</strong>. Mesmo que a implantação da psicanálise tenha sido feita pelos argentinos, que tiveram o golpe de gênio de implantar o<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">kleinismo</strong>, o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">freudismo</strong> e o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">lacanismo</strong>.
Mas a tradição universitária brasileira é muito forte. E o fato de que
seja dividida em cidades é muito importante. Não é a mesma coisa no <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Rio</strong>, em <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Porto Alegre</strong>... E eles digeriram tudo que veio da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Europa</strong> de
forma antropofágica. Temos uma abertura maior no Brasil a tudo. O
defeito, evidentemente, é que não há escola histórica, mas há uma
tradição.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Houve <a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3026&secao=319" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Fernand Braudel</a>, <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-arquivadas/27210-claude-levi-strauss---1908---2009" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Claude Lévi-Strauss</a>,
há uma abertura. Os brasileiros são ecléticos, e abertos a novas
abordagens, enquanto na França os psicanalistas têm 25 anos de atraso em
relação a sua história, infelizmente. E o dogmatismo lacaniano e
psicanálitico em geral teve um papel nisso. Mas vamos chegar lá. Já o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> brasileiro é eclético, é uma mistura de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">kleinismo</strong>, de lacanismo, de invenção brasileira. E neste ponto, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Emilio Rodrigué</strong>colocou
seu tempero. Ele faz variações em seu livro, é um romance
latino-americano, se autoriza interpretações extravagantes, ,mas gosto
disso, porque ao mesmo tempo há a seriedade do aparelho crítico.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A senhora muitas vezes respondeu a consecutivas iniciativas dos chamados<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">“antifreudianos radicais”</strong>, como a tentativa de interdição de uma exposição sobre <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong>em 1996, processos na justiça por difamação ou obras como “Mentiras freudianas”, de<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Jacques Bénesteau; “O livro negro da psicanálise — Viver, pensar e melhorar sem Freud”</strong>, organizado por <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Catheryne Meyer</strong>, ou <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">“O crepúsculo de um ídolo, a fábula freudiana”</strong>, de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Michel Onfray</strong>, com quem teve uma acirrada polêmica e que não tardou em atacar este seu último livro sobre <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong>. O <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">“antifreudianismo”</strong> ainda é forte?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Isto
nunca acaba. Mas depois ter sido um movimento majoritário, se torna
agora minoritário. Assim como os psicanalistas tiveram sua hora de
glória majoritária, hoje são minoritários. Mas eles não vão
desaparecer. <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Michel Onfray</strong> respondeu
que não precisava ler este livro para saber o que havia nele. Quando se
diz isso, é o fim de qualquer debate. Há anos ele recusa qualquer
debate comigo, e nós nos conhecemos muito bem. Ele delirou, disse que eu
o tratei de pedófilo. De qualquer forma, não é apenas em relação a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> que ele diz qualquer coisa. Fez o mesmo sobre a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Bíblia</strong>, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Albert Camus</strong>, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Sartre</strong>, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Sade</strong>, e vai continuar. Mas num momento a verdade triunfa. Da mesma forma que caiu a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Nova Filosofia</strong>,
todas estas besteiras que há 30 anos nos envenenam. Foi uma corrente
não universitária muito sedutora em seu início, jovem, com
personalidades brilhantes. Mas que tinham como maior defeito contar
qualquer coisa, como dizer que o goulag já existia em <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Marx</strong> e <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Engels</strong>.
Isto é uma contraverdade histórica. E de um certo modo a França está
pagando hoje por isto. Hoje, estamos na vingança dos historiadores e dos
filósofos universitários contra os filósofos midiáticos não
universitários. Estamos no fim da Nova Filosofia, do antifreudianismo
radical. Vamos passar à herança real.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">A senhora define Freud como um “conservador rebelde”. Por quê?</strong></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Sem
dúvida é um conservador rebelde. Ele entrou em rebelião contra os modos
de pensar majoritários de sua época. Ele é um liberal conservador, que
induziu uma revolução do íntimo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">É
contemporâneo do socialismo, do comunismo, do feminismo, de todos os
movimentos de emancipação. Mas sua característica é que retorne sempre
ao Antigo, algo muito típico também de Viena e da cultura alemã. Para
fazer uma revolução do íntimo, vai buscar modelos míticos na tragédia
grega e não na modernidade literária, a qual, aliás, ele não entende
muito bem. Ele tem este aspecto politicamente conservador, vota liberal,
trabalha com os sociais-democratas em Viena, não confunde jamais o
comunismo e o nazismo, mas não acredita que uma revolução social do tipo
marxista vai dar certo. Ele é contemporâneo da Revolução Russa.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Não
é a favor das convulsões republicanas francesas. Mas seu movimento
psicanalítico é aberto, com discípulos de todas as tendências,
progressistas, conservadores. Ele era pela emancipação das mulheres, e
contra a supressão das instituições. Há uma imagem muito justa de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong>: era favorável à morte do pai, ao regicídio, mas a favor de que se recolocasse um rei no trono. Isto é explicado em <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">“Totem e Tabu”</strong>. <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> é
regicida na condição de que reinstaure a monarquia depois de ter sido
abolida. Não é republicano no sentido francês. Ele gosta muito de Paris,
mas não é a favor de revoluções do tipo francês. O modelo para ele é
Londres, o modelo econômico liberal inglês, e a cultura do Sul, a Itália
e a Antiguidade romana.; e mais longe, a grega, e mais longe ainda, o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Egito</strong>. <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> é um homem da bacia mediterrânica em seus sonhos, algo muito austríaco, entre o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Norte</strong> e o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Sul</strong>,
e muito ligado ao modelo de monarquia constitucional. E ele é judeu, o
que tem um papel considerável. Não é a favor do sionismo, à criação de
um Estado judeu, prefere a diáspora, mas herdou algo desta rebelião.
Para época de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong>, o inimigo é a religião. Ele é pela ciência. O que faz com que por vezes, em seu debate com o pastor <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"><a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-arquivadas/921-freud-e-a-questao-da-religiao-um-livro-de-hans-k%C3%AD%C2%BCng" style="border: 0px none; color: #e66101; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Oskar Pfister</a> (1873-1956)</strong>,
possa se enganar, confunde religião e fé. Mas para esta geração de
homens sábios, originados do materialismo, o inimigo é o religioso. Ele
tem isto em comum com Marx. Por isso é um conservador bastante singular.
Ele é pela liberdade sexual, contra a pena de morte.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Um dos erros de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong>, segundo a senhora, é o de acreditar na construção de uma ciência.<br />Não
é uma ciência, no sentido das ciências da Natureza. Ele sabia disto,
por isso que abandonou o modelo fisiológico-neurológico. Mas não soube
inscrever a psicanálise como uma disciplina integral na universidade. O
que fez com que sempre tenha sido ensinada nos departamentos de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Psicologia</strong>, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Antropologia</strong>, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Sociologia</strong>, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Literatura </strong>e<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> Filosofia</strong>.
Teria podido fazê-lo? Não sei, talvez não. Talvez o destino da
psicanálise seja o de não ser uma disciplina à parte. Mas hoje estamos
novamente em um retrocesso, na ideia de que o corpo e o movimento são
mais importantes do que a palavra. Mas isto não vai durar. Estamos numa
encruzilhada, se foi muito longe na explicação estritamente química e
orgânica do inconsciente. A psiquiatria biológica não existe mais como
psiquiatria, ela é química. Há uma contestação. Quando se questiona a os
resultados de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> com
seus pacientes, sua resposta é a de que a técnica psicanalítica trata
as neuroses, não as psicoses. Durante trinta anos houve um reinado do
“tudo químico”. Isto está acabando. Não por um retorno à psicanálise,
mas como explicação demasiado totalitária, e pela rejeição dos
pacientes.<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> elaborou
uma clínica aplicada em seu início às neuroses. Mas eram neuroses
graves. Ele mudou, a partir de 1914 percebeu a incurabilidade. Depois, o
saber psicanalítico dominou toda a psiquiatria do século 20. Foi uma
boa coisa. Antes do aparecimento dos psicotrópicos, era melhor ir em
clínicas nas quais havia uma abordagem psicanalítica do que ser um
simples sujeito de sanatório. A partir de 1945, os antigos asilos
esvaziaram, foi um enorme progresso. E a ideia de combinar a cura pela
palavra com medicamentos, para as psicoses, é uma bela definição.
Sabemos que para um melhor tratamento da loucura são necessárias três
abordagens, de meio ambiente, psíquica e medical. O problema é que mas
nossas sociedades de hoje, com economias orçamentárias draconianas, não
temos os meios de curar os loucos com os três meios. Então se passou ao
“tudo químico”, que funciona mais rápido, mas que é catastrófico. A
tripla abordagem se tornou impossível. Nas sociedades precarizadas como
as nossas, os doentes mentais e os prisioneiros são muito mal tratados.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">No livro, a senhora desconstrói “lendas” como as da autoanálise ou do complexo de Édipo freudianos.</strong></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Eu desfaço o complexo de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Édipo</strong>. <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> não escreveu uma só linha, exceto sobre o declínio do complexo de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Édipo</strong>. Falou do complexo de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Édipo</strong> por
tudo, mas não teorizou. A psicologia edipiana não se sustenta. O
complexo de Édipo como psicologia de família não funciona. O genial é
fazer crer a cada neurótico que ele é <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Hamlet</strong> ou <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Édipo</strong> em
vez de um doente mental. É muito melhor ser um herói de teatro do que
um simples doente mental em um sanatório. E ele não foi capaz de
escrever sobre a metapsicologia. A autoanálise não existe, é uma lenda
forte e inventada. O próprio <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> disse que era a<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> “sua autoanálise”</strong>, mas não é uma autoanálise, e sim uma passagem pelo erro para se alcançar a verdade. A correspondência com <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Wilhelm Fliess (1858-1928)</strong> não
é uma autoanálise, mas uma errância de sábios. Ele errou no irracional
para conseguir elaborar uma doutrina que sai da fisiologia. A “pulsão de
morte”, um dos momentos fortes de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong>,
não começa em 1919, mas em 1914, quando ele se pergunta, para
introduzir o narcisismo, por que nos autodestruímos. Penso também que <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> tinha
a convicção de que o que acontecia na realidade social já estava no
psiquismo. Isto é apaixonante. E tinha a convicção de que o que ele
mesmo dizia era revelador do inconsciente, e apenas traduzia, e que a
realidade se passava como no inconsciente. Isto não é verdade, mas
quanta audácia!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">A senhora aponta como uma das grandes forças de Freud a criação de mitos.</strong></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Outra audácia sua foi a de fundar uma ciência fundada nos mitos, na racionalidade do estudo dos mitos. Cada livro de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> provocou debates no mundo inteiro. Quando ele publica<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">“Totem e tabu”</strong>,
que vai na contracorrente da antropologia moderna, o mundo acadêmico
discute este ensaio completamente fora de moda. Isto significa que ele
contribui com algo. Quando escreve seus três ensaios sobre a teoria
sexual, em vez de fazer um tratado se sexologia, o caso de todos seus
contemporâneos, ele se ocupa da teoria sexual das crianças. Para mostrar
que o que se considerava como perversões não o era, e que somos todos
perversos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">O que é a “revolução simbólica” de Freud?</strong></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A lenda é a de que <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> inventou
tudo, de que não deve nada a sua época. Não é verdade. Ele inventa algo
da ordem que defini como revolução simbólica, remodelando as
representações de sua época. Nisso ele é inovador. Quando se lê os
psicólogos contemporâneos de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong>, que são válidos, sua superioridade intelectual, literária e imaginativa é evidente. A fraqueza de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> foi
a de não poder introduzir esta disciplina na universidade. E sua força
foi a de ter feito um movimento. Ele não cria uma seita, mas um
movimento político, revolucionário, platonista. Ele e seus discípulos
têm consciência desde o início de serem portadores de uma revolução
simbólica. A prova é a de que possuem a preocupação da memória e da
história, contrariamente aos psicanalistas. Tinham o pressentimento de
que seu mundo iria desaparecer, o que vai ocorrer primeiro com a<a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/531512-17-de-maio-de-1915-primeira-guerra-mundial-faz-superior-geral-dos-jesuitas-se-mudar-para-a-suica" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Primeira Guerra Mundial</a>,
e uma segunda vez, com o nazismo. Aprecio nos primeiros freudianos -
que se disputam todo o tempo e que admiram mas não idolatram <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> –
este sentimento de que seu mundo vai perecer. Daí vem a imigração, e o
fato de que se deve levar a todos os países do mundo a lembrança de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Viena</strong>. O exílio de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong>,
sua casa, suas coleções, é a ideia de que já que tudo vai morrer com o
nazismo, é preciso transportar a memória do movimento. Arquivos,
fotografias, tudo é transportado para <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Washington</strong> ou<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Londres</strong>. É um gesto incrível. <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> não crer acreditar que o nazismo vai engolir <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Viena</strong>. Ele sabe, mas não quer aceitar. Ele espera por Hitler, e face a essa pulsão de morte, personalizada em <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Hitler</strong>, recua até o momento em que é preciso partir.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Entre as ditas <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">“lendas fabricadas”</strong>, como senhora diz, estão suposições de<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> Freud</strong> teria
sofrido abuso sexual na sua infãncia, vivido uma relação com sua
cunhada, abusado ele mesmo de sua sobrinha-neta ou em seu exílio em
Londres abandonado suas irmãs, depois deportadas e exterminadas pelos
nazistas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Eu não encontrei nada disso nos arquivos. O que não se sabe é como foi a vida sexual de<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> antes de seu casamento. Ele teve provavelmente a adolescência de um jovem de<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Viena</strong>.
Não gostava de prostíbulos, do adultério. As mulheres se casavam
virgens. Não se sabe o que houve antes, mas se sabe o que veio depois.
Ele tinha a necessidade de ter mulheres em seu entorno. Pratica a
abstinência, não quer outro filho. Sua cunhada ocupa um lugar muito
particular. É uma segunda esposa não sexuada, ele mesmo o diz. Mas é
preciso ser completamente louco hoje para colar retrospectivamente o que
é a sexualidade atual sobre o que era naquela época. Não há verdades
ocultas, mas quis invalidar os falsos rumores. Houve pessoas que negaram
a existência do câncer de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong>, o que é fascinante. Ele também não recomendou a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Gestapo</strong>. Desminto tudo isso. Se construiu uma máquina de fantasias, sejam negras ou douradas, sobre o personagem.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A senhora coloca <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> no mesmo estatuto de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Einstein</strong>,<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> Darwin</strong>, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Marx</strong>, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Sartre</strong>, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Simone de Beauvoir</strong>, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Hannah Arendt</strong> ou <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Michel Foucault</strong>: pensadores rebeldes vítimas de rumores e injustiças.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Marx</strong> se
tornou um explorador de mulheres, repugnante, responsável pelo goulag.
Há teorias revisionistas sobre Einstein que dizem não ter sido ele o
criador da teoria da relatividade, mas sua mulher. E teria sido um pai
abominável porque tinha um filho psicótico. Tudo isto não se sustenta.
Sobre <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Darwin</strong> também se inventou muita coisa. E sobre <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Simone de Beauvoir</strong>ou <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Sartre</strong>, que foi coberto de injúrias. <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Foucault</strong> foi acusado de ser responsável pela transmissão da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Aids</strong>, e <a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3306&secao=333" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Jacques Derrida</a>, de nazista. Para mim tudo isto deve ser banido. São visões apocalípticas. Sobre <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong>,
se discutiu quem teria lhe dado a última injeção. Se pretendeu que se
teria ocultado o seu uso de cocaína, o que não é verdade. Se acusou<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> de introduzir a cocaína no mundo moderno. E o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> fascista, amigo de Mussolini? Isso nunca. Sim, ele fez uma dedicatória a<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> Mussolini</strong>, mas é preciso contextualizar. Há frases que <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> não
pronunciou e que lhe são atribuídas. Há textos interpretados de forma
equivocada, sem o contexto. Há de tudo. Estranhamente, os antifreudianos
radicais não criticaram o que é criticável em <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Por exemplo?</strong></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Não notaram muito as errâncias de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong>. Passam seu tempo a valorizar teses aberrantes para melhor criticar <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong>. Os antifreudianos radicais pensam que Williem Fliess tinha razão contra <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud.</strong> Não sou por <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"><a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-anteriores/12623-o-ano-que-mudou-o-mundo" style="border: 0px none; color: #e66101; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Wilhem Reich</a> (1897-1957)</strong> contra <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong>, por Otto Gross (1877-1920) contra <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong>. Não é isto que se deve fazer, mas mostrar como o próprio <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> adota teorias extravagantes. É normal que <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Fliess</strong> seja
hoje esquecido, ele tinha um sistema de pensamento irracional, mas
fascinante. Pode-se ter muita simpatia por Reich, como eu tenho,, mas a
teoria do orgônio é delirante. Os antifreudianos radicais passam todo o
tempo a procurar antiheróis, não usam as verdadeiras críticas que
poderiam ser feitas a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">A senhora vê hoje uma crise do pensamento filosófico e da psicanálise hoje na França?</strong></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Estamos numa crise de herança na <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">França</strong>, passageira, mas numa crise europeia, mundial do pensamento. Há hoje na <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">França</strong> uma
renovação evidente da filosofia, há uma geração de 40 anos que vai ser
conhecida. Há uma renovação da antropologia, da sociologia. Menos para a
psicanálise, porque eles estão acantonados na clínica. Daí a
importância de um retorno de um <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> histórico. Penso que saímos de um período difícil do ódio a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong>,
e hoje é preciso lê-lo de outra forma, como uma necessidade para os
psicanalistas. Há trinta anos, os não psicanalistas leem melhor <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> do que os psicanalistas. O que não quer dizer que sejam maus clínicos. Eles não situam <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> na cultura do tempo de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong>, e assim não sabem situá-lo em nosso tempo. “Em seu tempo e no nosso” quer dizer: <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Freud</strong> que se constrói em seu tempo e que nos ilumina no nosso.</span></div>
</div>
</div>
</div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-46066538766220016232014-11-01T19:38:00.000-02:002014-11-01T19:38:00.454-02:00 O Brasil na contramão <div id="WM01-bodyContent">
<div>
<div class="headline" style="border: 0px none; color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 12px; line-height: 15px; margin: 0px 0px 10px; outline: 0px none; overflow: hidden; padding: 0px; text-align: justify; width: 637px; word-wrap: break-word;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div id="texto-aumenta" style="border: 0px none; color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 16px; line-height: 15px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">
</span><div class="article_text" style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">"Em
2013, o desmatamento aumentou 29% na Amazônia e não há indícios de que
voltará a cair em 2014. Ao contrário, dados preliminares do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">INPE</strong> indicam
até a possibilidade de um novo crescimento, coerente com a alta
observada também no desmatamento em outros biomas, como o Cerrado e a
Mata Atlântica", escreve <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/528560-indigenista-diz-que-dilma-cede-mais-a-ruralista-que-militares" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Marcio Santilli</a>, sócio-fundador do<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Instituto Socioambiental - ISA</strong> , em artigo publicado pelo <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Instituto Socioambiental - ISA</strong>, 24-09-2014.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Eis o artigo.</strong></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">No momento em que se intensificam as negociações internacionais sobre a <a href="http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/527084-a-mudanca-climatica-segundo-os-testemunhos-do-gelo-entrevista-especial-com-jefferson-simoes" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">mudança do clima</a>,
o Brasil retoma a velha diplomacia defensiva, se recusa a renovar
compromissos com a redução do desmatamento e aumenta as suas emissões de
gases do efeito estufa em 2013, após um período de sete anos em que
havia conseguido reduzi-las.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O
mundo espera que os governos cheguem a um acordo para iniciar um
processo de redução global nas emissões desses gases, até o final de
2015, quando se realizará uma conferência da<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> ONU</strong>, em Paris, com a presença de chefes de Estado. Até março, os países deverão apresentar perante a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">ONU</strong> os
seus documentos oficiais reportando o que pretendem fazer para garantir
que essa redução global ocorra. O(A) presidente(a) que será eleito(a)
no próximo mês e empossado(a) em janeiro, terá pouco tempo para definir a
posição brasileira a respeito.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Não
se trata de qualquer assunto, pois a mudança do clima constitui a maior
ameaça produzida pela humanidade contra ela mesma e contra a própria
possibilidade de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">vida na Terra</strong>.
A concentração crescente dos gases de efeito estufa na atmosfera está
provocando o rápido aumento da temperatura na superfície do planeta, com
o derretimento das geleiras nos polos e nas regiões de altitude, o
aumento dos níveis dos oceanos, alterações nos <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">regimes de chuva</strong> e
tempestades catastróficas em várias regiões do mundo, anunciando muito
sofrimento, prejuízos econômicos gigantes e pior qualidade de vida para
as próximas gerações.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Não
é mais possível adiar as providências de todos os países para diminuir a
poluição provocada pelas indústrias, pela profusão de veículos
automotores e pelo consumo excessivo de energias fósseis, como o carvão,
o petróleo e o gás natural, que produzem cerca de 80% das emissões de
gases estufa. Mas também contribui para agravar o problema o
desmatamento e o uso inadequado das terras, que provocam a maior parte
das emissões brasileiras e cuja redução constitui a maior e mais urgente
contribuição que o país pode dar para se evitar mudanças mais drásticas
do clima.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Porém, em 2013, o <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/528323-desmatamento-na-amazonia-cresce-206-em-janeiro-diz-imazon" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">desmatamento aumentou 29% na Amazônia</a> e não há indícios de que voltará a cair em 2014. Ao contrário, dados preliminares do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">INPE</strong> indicam
até a possibilidade de um novo crescimento, coerente com a alta
observada também no desmatamento em outros biomas, como o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Cerrado</strong> e a<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> Mata Atlântica</strong>.
Ainda que a taxa amazônica em 2014 permaneça nos níveis de 2013, estará
se caracterizando que as emissões florestais brasileiras subiram para
um novo patamar. Não se trata de uma retomada dos escandalosos picos de
desmatamento ocorridos entre 1995 e 2005, mas tampouco de um
“aumentozinho”, como disse a presidente <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Dilma Rousseff</strong> em conferência da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">ONU</strong> ocorrida nessa semana, ou de um “ponto fora da curva”, como acreditava a ministra do meio ambiente.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Pior: apesar de dispor de uma<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> <a href="http://www.ihu.unisinos.br/cepat/cepat-conjuntura/508685-conjuntura-da-semana-matriz-energetica-em-debate-impasses-e-alternativas" style="border: 0px none; color: #e66101; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">matriz energética</a></strong> considerada
relativamente limpa, se comparada com a dependência de carvão e de
petróleo de várias das grandes economias mundiais, ela está se sujando
rapidamente através do uso intensivo de termoelétricas devido aos
efeitos da própria crise climática sobre os reservatórios das
hidrelétricas, do aumento exponencial da frota automotora movida a
petróleo, tendo como pano de fundo a falência da produção de etanol e a
emergência do <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/532901-festa-do-pre-sal-esconde-riscos-financeiros-e-ambientais" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Pré-Sal</a> como referência estratégica do setor energético, numa inflexão carbonífera das políticas de governo.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Significa
dizer que após a contribuição notável em reduzir o desmatamento e as
suas emissões de gases estufa entre 2006-12, o Brasil voltou a
aumentá-las, sem que disponha de alternativas estratégicas de política
energética para reverter essa situação nos próximos anos. E isto ocorre
quando outros grandes emissores desses gases, como a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">China</strong> e os<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Estados Unidos</strong>, além de vários países da<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> União Européia</strong>,
vão avançando nas mudanças de suas matrizes energéticas e criando
condições econômicas objetivas para reduzir as suas emissões.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Infelizmente, o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Brasil</strong> vai
perdendo a condição de protagonista que havia conquistado em tempos
recentes no âmbito dessas negociações internacionais. Estamos entrando
na sua fase decisiva pela contramão, reforçando as piores posições e
funcionando como freio para as mudanças que a humanidade exige e que não
podem mais esperar. Mas tomara que as eleições gerais possam gerar
outro clima, de</span> seriedade e de engajamento do governo brasileiro nos
esforços que mais interessam aos nossos filhos.</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-83166288915117254882014-10-25T19:37:00.000-02:002014-10-25T19:37:00.307-02:00Desordem de Kissinger<div id="WM01-bodyContent">
<div>
<h1 style="font-family: folhaii-heavy, serif; font-size: 40px; font-weight: 300; line-height: 40px; margin: 0px 0px 20px;">
</h1>
<div class="author" style="color: #666666; font-size: 14px; line-height: 16px; margin-bottom: 5px;">
</div>
<div class="item plusone" style="display: inline-block; height: 21px; margin-right: 5px; overflow: hidden; padding: 0px; width: 90px;">
</div>
<br /><div class="content" style="font-family: Georgia, serif; font-size: 18px; line-height: 22px; min-height: 200px;">
<div style="text-align: justify;">
Henry Kissinger é incansável. Na semana passada publicou seu décimo quarto livro, "World Order" (US$ 18,83, no Kindle).</div>
<div style="text-align: justify;">
O homem comandou a política externa americana durante a década de 1970, no auge da competição contra o império soviético.</div>
<div style="text-align: justify;">
Desde o início, orquestrou golpes de mestre: aproximou-se da China e
construiu uma ponte impensável com Cairo e Tel Aviv, enfraquecendo a
União Soviética na Ásia e no Oriente Médio.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda amarrou o Kremlin a um mecanismo formal de controle de armas nucleares.</div>
<div style="text-align: justify;">
Seu projeto de restauração do poder americano não parou por aí.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quando ficou evidente que a guerra norte-americana no Vietnã estava
perdida, foi ideia dele declarar vitória e bater em retirada.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quando países emergentes do sul montaram uma coalizão para negociar
preço de commodities em conjunto pela primeira vez, ele criou o clube
dos mais ricos, mais tarde G7.</div>
<div style="text-align: justify;">
No processo, Kissinger fez coisas terríveis.</div>
<div style="text-align: justify;">
Apoiar Pinochet no Chile, o xá no Irã, Suharto na Indonésia, o apartheid na África do Sul, e nosso Médici foi café pequeno.</div>
<div style="text-align: justify;">
Os documentos recém-abertos sobre os desmandos em Camboja, Vietnã e Bangladesh revelam uma história de arrepiar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não é à toa que até outro dia havia grupos dedicados a caçá-lo pelos aeroportos do mundo, com ovos podres nas mãos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Aos 91 anos, Kissinger é um velho obstinado, e "World Order" tem certo tom de resmungo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Lê-se lá que o sistema internacional só pode ser estável, justo e
afluente quando há um concerto de grandes potências dispostas a custear a
ação coletiva e determinadas a respeitar diferenças mútuas, apesar de
sua diversidade de interesses e valores.</div>
<div style="text-align: justify;">
Agora, esse equilíbrio estaria sob a pressão de quatro
transformações: a incapacidade dos Estados Unidos de respeitar
terceiros; a incapacidade da Europa de atuar como grande potência; a
desconfiança de China e Índia a respeito dos rituais e práticas da
diplomacia ocidental; e a politização do islã, com sua suposta ênfase na
construção de uma autoridade transnacional "à la" califado em Meca.</div>
<div style="text-align: justify;">
Qual a conclusão? Ou nossos líderes constroem um novo concerto entre
grandes potências ou caminharemos para o precipício da desordem total.</div>
<div style="text-align: justify;">
Fazê-lo será árduo, porque as novas tecnologias dificultam o trabalho da velha e boa diplomacia entre os grandes.</div>
<div style="text-align: justify;">
Essas ideias têm pedigree conservador e podem ser encontradas já no
primeiro livro de Kissinger, o delicioso "Mundo Restaurado" (1957).</div>
<div style="text-align: justify;">
Encontram eco no trabalho das três melhores mentes de sua geração,
quase nunca lidas em nossos claustros universitários: Raymond Aron,
Hedley Bull e George Liska.</div>
<div style="text-align: justify;">
Trata-se de uma narrativa na qual há pouco espaço para o Brasil, que
merece apenas quatro referências esparsas (por não ser grande potência e
por nunca haver desenvolvido uma visão própria da ordem global).</div>
<div style="text-align: justify;">
Quem se preocupa com o futuro da política externa brasileira faz bem em ler o calhamaço tomando nota. </div>
</div>
</div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-77216392386424686422014-10-18T19:35:00.000-03:002014-10-18T19:35:00.372-03:00O poder e a finança internacional<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span>
</div>
<div id="WM01-bodyContent">
<div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div class="headline" style="border: 0px none; color: #1a1a1a; font-family: Arial; line-height: 15px; margin: 0px 0px 10px; outline: 0px none; overflow: hidden; padding: 0px; text-align: justify; width: 637px; word-wrap: break-word;">
<div class="headline_info" style="border: 0px none; float: left; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; position: relative;">
<h2 class="contentheading" style="border: 0px none; display: table-cell; letter-spacing: -1px; line-height: 36px; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px 0px 4px; vertical-align: top; width: 537px;">
</h2>
</div>
<div style="border: 0px none; clear: both; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;"> </span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div id="texto-aumenta" style="border: 0px none; color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 12px; line-height: 15px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div class="article_text" style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">"</strong>Enquanto
se mantiver a centralidade internacional da moeda norte-americana, e
dos mercados financeiros dos EUA e da Inglaterra, as finanças dos dois
países seguirão operando como instrumentos fundamentais da reprodução e
expansão do poder global e da hegemonia econômica das duas potencias
anglo-saxônicos", escreve <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"><a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/521594-poder-geopolitica-e-desenvolvimento-artigo-de-jose-luis-fiori" style="border: 0px none; color: #e66101; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Jos<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">é</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Luís</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Fiori</strong></a>,</strong>em artigo publicado por <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Carta Maior</strong>, 10-08-2014.</strong></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Eis o artigo.</strong></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A decisão norte-americana de romper com o acordo de <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/16867-bird-propoe-%60novo-bretton-woods%60" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Bretton</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Woods</strong></a>,
e de desregular seus mercados financeiros, tomada na década de 70,
junto com a Inglaterra, provocou um efeito em cadeia, nos demais
mercados do mundo capitalista, desencadeando um intenso processo de
liberalização e globalização financeira, e uma enorme concentração da
riqueza líquida mundial, nas mãos dos bancos e instituições afins. Este
processo de “financierização” da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">riqueza capitalista</strong> se
repetiu em todos os níveis e em todos os mercados nacionais, promovendo
uma forte convergência dos interesses da finança em todo mundo. Mas
esta convergência não homogenizou o poder dos bancos e dos mercados, nem
mudou a natureza hierárquica e competitiva do sistema monetário e
financeiro internacional.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Os
bancos centrais e as grandes instituições financeiras privadas que
lideraram este processo e que detém um poder real de coerção sobre a
politica econômica dos estados nacionais têm nome e sobrenome
anglo-saxão, e tem sua riqueza nominada - em última instância - na
moeda emitida pelos seus dois estados nacionais, ou seja, a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Libra</strong>e o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Dólar</strong>.
O crescimento acelerado e aparentemente anônimo destes bancos e destes
mercados financeiros obscurece muitas vezes o fato de que:<br /><br />- não
existe poder financeiro que não esteja referido a alguma moeda nacional,
e que não esteja submetido em última instancia ao poder do estado
emissor desta moeda;<br /><br />- não existem moedas, bancos ou mercados
globais, o que existe são moedas e bancos nacionais com poder de
circulação e arbitragem supranacional;<br /><br />- estas moedas de
referencia regional ou internacional nunca foram apenas uma escolha do
mercado, e sempre envolveram uma prolongada luta e competição entre os
estados e suas moedas nacionais, pela conquista e dominação de
territórios econômicos supranacionais cada vez mais amplos;<br /><br />- é
parte do poder dos bancos, agencias e instituições financeiras
associadas as moedas vencedoras, impor aos estados e moedas menos
poderosos, as regras e condutas compatíveis com o aumento do seu próprio
poder. transferindo os custos de seus ajustes internos para sua
periferia monetário-financeira.<br /><br />Por razões diferentes, vários
autores liberais e marxistas costumam sublinhar a grande autonomia
contemporânea do capital financeiro e a sua capacidade de submeter os
estados nacionais e suas políticas econômicas. Como se existisse um <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">“capital financeiro em geral”</strong>,
e também existisse uma relação idêntica e homogênea entre este capital e
os estados nacionais “em geral”. Quando na verdade se trata de uma
relação diferenciada e hierarquizada, como sempre foi através de toda a
história do sistema da finança e da <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/516975-o-capitalismo-e-a-economia-politica-da-mudanca-climatica" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">economia capitalista</a>.
Uma história que começou por volta do século XIV, com o poder dos
“príncipes” de impor aos seus súditos o valor dos tributos a serem
pagos e o valor da moeda com que deveriam pagá-los, e que também serviam
como referencia para todas as demais moedas e títulos utilizados nos
mercados que começaram a se expandir nesta época à sombra das conquistas
territoriais dos “príncipes” que cunhavam as moedas . Esta relação
inicial entre tributos, moedas e trocas, aumentou de intensidade com a
expansão das guerras e a necessidade dos príncipes recorrerem ao
endividamento junto aos seus comerciantes-banqueiros, num mercado cada
vez mais extenso de títulos e moedas onde nasce o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">primeiro embrião do</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">capital</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">financeiro</strong>, na “senhoriagem” das moedas e dos títulos dos poderes ganhadores.<br /><br />Esta
história deu um passo gigantesco e um salto qualitativo, nos séculos
XVII e XVIII, com a consolidação do poder dos primeiros estados
nacionais europeus, e com a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">“revolução financeira”</strong> provocada pela administração e pela negociação das suas <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">“dívidas de guerra”</strong>, que estão na origem do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">capital financeiro</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">moderno</strong>,
e do próprio capitalismo europeu. Esta revolução começou na Holanda, no
século XVII e se completou na Inglaterra, no século XVIII. Os dois
países centralizaram seus <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">sistemas de tributação</strong> e criaram <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">bancos</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">públicos</strong> responsáveis
pela administração conjunta, da dívida soberana, na forma de bônus do
estado, e da dívida privada, na forma de letras de cambio, que se
transformam na base de um sistema de credito cada vez mais elástico,
criativo e diversificado, mas sempre referido, em última instancia, à
moeda de conta nacional. E não há duvida que a fusão entre esta nova
finança holandesa e inglesa, a partir de 1689, teve um papel decisivo no
fortalecimento e na vitória colonial da Inglaterra, e na projeção
internacional da moeda inglesa, a Libra, que foi hegemônica em todo o
mundo até sua “quase-fusão’ com o Dólar norte-americano, durante o
século XX. Numa espécie de sucessão “hereditária”, que partiu da Holanda
e da Inglaterra, e se prolongou nos Estados Unidos, mantendo a
supremacia monetário-financeria anglo-saxônica, inquestionável durante
os quatro séculos de história deste <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/512522-o-auge-do-capitalismo-moderno-e-o-ocaso-da-politica" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">capitalismo</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">moderno</strong></a>.<br /><br />Resumindo: dentro do sistema interestatal capitalista só existiram até hoje, de fato, duas moedas de referencia global: <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">a Libra e o Dólar</strong> –
uma vez que o Florim, a moeda holandesa, jamais teve a dimensão de uma
moeda de circulação internacional - e as duas tiveram e seguem tendo um
papel decisivo na construção e na reprodução do poder global e
associado das duas grandes potencias anglo-saxônicas. Mas nenhuma das
duas – nem a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Libra nem o Dólar</strong> -
se transformou em moeda de referência da noite para o dia. Pelo
contrário, a Libra só se generalizou como uma moeda de referencia dentro
e fora da Europa, a partir de 1870, quase dois séculos depois do início
da escalada do poder da Inglaterra dentro e fora da Europa. E o Dólar
só se transformou numa moeda de referência internacional depois da <a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1958&secao=265" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">II Guerra Mundial</a>, mais de um século depois do início da escalada internacional do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">poder</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">americano</strong>.<br /><br />Durante o período em que estas duas <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">“moedas internacionais”</strong> tiveram uma base fictícia de referência metálica, a<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Libra e o Dólar</strong> tiveram
de fato, uma restrição financeira intransponível, imposta pela
necessidade de equilíbrio do Balanço de Pagamentos do país emissor da
moeda de referência. Mas depois do fim do Sistema de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Bretton</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Woods</strong>,
em 1973, esta restrição desapareceu, com o novo sistema monetário
internacional “dólar-flexível” que não tem nenhum tipo de padrão
metálico de referencia.<br /><br />Por isto, se costuma dizer que ocorreu uma <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">“revolução financeira”</strong> na
década de 1980, mas esta revolução provocou de fato um retorno às
origens da relação entre o poder, a moeda e o crédito. Os EUA voltaram a
definir, de forma soberana e isolada - com base apenas no seu poder - o
valor da sua moeda e dos seus títulos da dívida pública que se
transformaram numa referencia de circulação e liquidez internacional
quase automática. E a mais recente “financeirização do capitalismo”
cumpriu um papel decisivo na gigantesca acumulação de poder do estado
norte-americano, das duas últimas décadas do século XX. Concluindo:
enquanto se mantiver a centralidade internacional da moeda
norte-americana, e dos mercados financeiros dos EUA e da Inglaterra, as
finanças dos dois países seguirão operando como instrumentos
fundamentais da reprodução e expansão do poder global e da <a href="http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/17540-a-logica-hegemonica-do-capital-ficticio-entrevista-especial-com-marcelo-dias-carcanholo" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">hegemonia econômica</a> das duas potencias anglo-saxônicos.</span></div>
</div>
</div>
</div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-44020090693531484902014-10-11T19:33:00.000-03:002014-10-11T19:33:00.090-03:00O fascismo transnacional e o demônio russo<div id="WM01-bodyContent">
<div>
<div class="headline" style="border: 0px none; color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 12px; line-height: 15px; margin: 0px 0px 10px; outline: 0px; overflow: hidden; padding: 0px; width: 637px; word-wrap: break-word;">
<div class="headline_info" style="border: 0px none; float: left; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; position: relative;">
<h2 class="contentheading" style="border: 0px none; display: table-cell; font-size: 36px; letter-spacing: -1px; line-height: 36px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px 0px 4px; vertical-align: top; width: 637px;">
<br /></h2>
</div>
<div style="border: 0px none; clear: both; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">
</div>
</div>
<div id="texto-aumenta" style="border: 0px none; color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 16px; line-height: 15px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">
<div class="article_text" style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
No
contexto da atual conjuntura mundial, “o colapso econômico pressente-se
próximo e os grandes poderes transnacionais vão afagando a opção
militar como cada vez mais ‘necessária’”, escreve <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Andrés Piqueras</strong>, professor de Sociologia da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Universidade Jaume I</strong>de<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;"> Castellón</strong>, em artigo publicado no jornal espanhol <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Público</strong>, 11-09-2014. A tradução é de<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">André Langer</strong>.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
E termina o artigo perguntando: “Os grandes falcões dos <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Estados Unidos</strong> estão dispostos a levar uma guerra devastadora à <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Europa</strong>. Eles têm sua lógica e razões. Mas os líderes europeus, quais são suas razões para continuarem esse terrível jogo suicida?”</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Eis o artigo.</strong></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Na
dramática conjuntura mundial que temos pela frente, confluem dois
processos de enorme gravidade. Por um lado, a Segunda Grande Crise do
capitalismo, que se arrasta com altos e baixos desde a década de 1970 e
que parece não encontrar caminhos para a retomada do capital produtivo
(razão pela qual o sistema empreendeu esta louca deriva financeira). Por
outro lado, o colapso da hegemonia econômica dos <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Estados Unidos</strong> e o consequente declínio do dólar como moeda de troca internacional.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Diante
disso, a hegemonia mundial enfrenta e oferece ao mundo duas
possibilidades: 1) ou uma coordenação com as potências asiáticas na
busca de uma moeda internacional participada por diferentes moedas
nacionais, e inclusive materializada com relação ao ouro ou alguma fonte
de energia como o petróleo, ou 2) declarar guerra contra boa parte do
mundo para manter a liderança dos <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Estados Unidos</strong>, graças ao poderio militar.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
A
primeira opção na realidade está bastante afastada, pois supõe não
apenas a ilusão de relações internacionais baseadas na cooperação, senão
que o descontrole financeiro e a geração de capital fictício a que
chegou o capitalismo torna cada vez mais difícil a conexão entre a
dinâmica de acumulação financeira atual e a economia real. Sendo assim, o
colapso econômico pressente-se próximo e os grandes poderes
transnacionais – a potência mundial que os sustenta e os Estados de
segunda fila a ela subordinados, com os da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">União Europeia</strong> (de agora em diante chamados como assistentes) – vão afagando a opção militar como cada vez mais “necessária”.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Vejamos. Onde esses poderes intervieram até agora semearam a destruição e deixaram o caos atrás de si. O <em style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Grande Plano</em> na <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ásia Central e Ocidental</strong>, assim como também em grande parte da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">África</strong>,
consiste em esquartejar os Estados não dóceis, de maneira que atrás não
resta nada parecido a uma institucionalidade central que possa ter um
controle do território, populações e recursos. Terras arrasadas nas mãos
de “senhores da guerra”, muitas vezes destacando como principal poder
a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Al Qaeda</strong> ou alguma de suas ramificações. Territórios barbarizados sem Estado (<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Iraque</strong>, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Afeganistão</strong>, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Líbia</strong>, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Somália</strong>, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Congo</strong>,<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">República Centro-Africana</strong>...).
Em quase todos eles ganha cada vez força, como não podia deixar de ser
de outra forma diante da destruição das sociedades civis, o chamado
“islamismo radical”. Esta é a manifestação mais palpável hoje do
fascismo transnacional, e foi possibilitado quando alimentado e muitas
vezes ajudado a criar-se pelas potências autodenominadas “ocidentais”,
ou alguns de seus mais diretos “aliados”, como <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Israel</strong> ou os países do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Golfo</strong>, especialmente a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Arábia Saudita</strong> (ver o <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/41203-as-profecias-equivocadas-sobre-o-islamismo" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">magnífico livro</a> de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Gilles Kepel</strong>,<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Jihad. Expansão e declínio do islamismo</strong>), certamente este último país continua financiando o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Estado Islâmico</strong> (também não se deve perder de vista os artigos de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Nazanín Armanian</strong> neste mesmo jornal), enquanto que os amigos “ocidentais” dizem agora combatê-lo.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Os <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Estados Unidos</strong> descobrem “de repente” a maldade do <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/535031-os-muculmanos-que-condenam-a-violencia-do-estado-islamico" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Estado Islâmico</a> (mostrando-nos
todo tipo de imagens e notícias assustadoras a este respeito) para
reordenar geoestrategicamente a zona. O apoio aos <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/534356-com-os-peshmerga-na-linha-de-frente-do-oriente-medio%20" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">curdos iraquianos</a> objetiva a divisão do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Iraque</strong>em pequenos Estados dependentes (à imagem do que se fez na <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Iugoslávia</strong>),
enquanto que os bombardeios seletivos estadunidenses são realizados nas
zonas em que se encontram os oleodutos e fontes de petróleo, para que
nenhum grupo armado lhes tire a exclusividade da usurpação. Também
pretende legitimar-se um corredor de bombardeios sobre a Síria, atacando
por fim de forma direta o Exército sírio, dado que parece que seus
exércitos privados e os milhares e milhares de mercenários treinados,
apetrechados e financiados por ele mesmo e os assistentes (mais a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Arábia Saudita</strong> e outros países do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Golfo</strong>),
não se bastam por si mesmos. Esses fascistas transnacionais “comeram”
há tempo a verdadeira oposição síria, e realizam na prática a
incumbência que o fascismo sempre teve: ser o elemento de choque do
capital contra as forças populares, o cavalo de batalha daquele para a
destruição social.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Por isso, hoje a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Síria</strong> é
um dos lugares chaves onde se joga o destino contra as forças de
destruição fascistas, cujo objetivo passa igualmente pelo
esquartejamento do Estado sírio (e com isso de passagem, cortam-se os
oleodutos que chegam da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ásia</strong> central ao<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Mediterrâneo</strong>, nos quais está implicada a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Rússia</strong>). Derrubada a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Síria</strong>, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Israel</strong> ficaria praticamente como o único Estado na zona (além das bárbaras monarquias do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Golfo</strong>, aliadas). É o projeto do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Grande Israel</strong> como dono de toda a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ásia Ocidental</strong>.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Outro lugar vital onde se joga a luta contra o fascismo transnacional é a <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/529796-a-crise-da-ucrania-seu-significado-e-desdobramentos" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Ucrânia</a>.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Enquanto
os nossos doutrinadores meios de difusão de massas insistem em nos
proporcionar imagens de russos malvados, o certo é que na <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ucrânia</strong> houve um golpe de Estado contra o presidente eleito nas urnas, com grupos financiados pelos <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Estados Unidos</strong>e assistentes e com o apoio das organizações nazistas locais. Assim, se na <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Europa</strong> fez necessário uma Guerra devastadora e cerca de 60 milhões de mortos para nos livrarmos do nazismo, os <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Estados Unidos</strong> no-la trouxeram de volta novamente em poucas semanas (cortesia do “país da Liberdade”).</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Com isso, os <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Estados Unidos</strong> tratam de separar a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Europa</strong> da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Rússia</strong> (com a obsessão, além disso, de dividir a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Rússia</strong> da sua enorme reserva energética – na realidade a grande reserva do mundo – a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Sibéria</strong>), assim como colocar a ameaça militar nas próprias portas de<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Moscou</strong>. Este caminho leva a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Europa</strong>,
por sua vez, a ficar “isolada” do mundo asiático em crescimento e
ancorada ao obstáculo dos países anglo-saxões em decadência. Ao
contrário, uma integração ou coordenação com a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Rússia</strong>, como muito bem sabe a classe capitalista alemã, poderia proporcionar de sobra à <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Europa</strong> a
energia de que tanto necessita, a via dos mercados asiáticos, assim
como segurança militar (os europeus não necessitariam realizar esses
enormes gastos com armamentos propostos pelos <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Estados Unidos</strong>).</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Isto para não mencionar a própria <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ucrânia</strong>, onde o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Tratado de Livre Comércio com a Europa</strong>, que por um mínimo de dignidade o presidente eleito, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Yanukóvich</strong>,
negou-se a assinar, acabará de desfazer uma economia já em estado de
coma: desastrosas semeaduras de primavera, cultivos de vegetais
arruinados, quase total falta de crédito, graves problemas com o gás,
aumento vertiginoso dos preços dos carburantes. Ninguém está dando
nenhuma ajuda econômica à Junta de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Kiev</strong>, apesar das promessas do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Fundo Monetário Internacional</strong> e da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">União Europeia</strong>.
A condição para isso é que “tenha o controle de todo o seu território”.
É, por isso, muito provável que logo vejamos autênticos levantamentos
populares nesta República.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
A <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/529384-na-ucrania-a-morte-definitiva-da-uniao-sovietica-a-analise-de-um-jesuita%20" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Rússia</a>,
por sua vez, aguenta como pode o aguaceiro. E mesmo que seja por seus
próprios interesses, enfrenta o fascismo transnacional na <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Europa</strong> (fascismo ocidental – cristão) e na <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ásia</strong> (fascismo oriental – islâmico). Conseguiu, por enquanto, frear suas vitórias na <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ucrânia</strong> e na <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Síria</strong> e colabora há algum tempo com o que resta do Estado do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Iraque</strong> no combate ao fascismo islâmico (tente-se comparar também o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Afeganistão</strong> que existia aliado da antiga <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">URSS</strong> e o atual, após a intervenção do “Ocidente”).</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Não se trata de uma relação de “bons e maus” (a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Rússia</strong> é
hoje um país capitalista a mais), mas de chaves geoestratégicas que
estão ligadas a questões chaves. Enquanto as economias dos <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Estados Unidos</strong> e assistentes vão perdendo ancoragens de dominação e se veem mais e mais necessitadas dos recursos alheios, a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Rússia</strong> e a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">China</strong> manejam
juntas a maior parte dos recursos do mundo e suas economias, no
momento, têm melhores perspectivas de futuro. É por isso que alguns
estão interessados na guerra global e outros não. Exatamente o contrário
do que nos mostram os nossos meios de intoxicação de massas. Por isso é
imprescindível situar-se dentro desses parâmetros em cada conflito. Por
isso é fundamental, na luta contra o fascismo, manter o cessar-fogo na <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ucrânia</strong>; e, por isso, os <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Estados Unidos</strong> e assistentes farão de tudo para boicotá-lo.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
A <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Rússia</strong> e a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">China</strong> não
cessam de estabelecer entre si diferentes acordos e convênios, assim
como de expandir suas redes nos grandes mercados asiáticos, construindo o
principal núcleo econômico do mundo. A <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Organização de Cooperação de Xangai</strong> é apenas um exemplo disso.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Pelo
contrário, em casa, cada vez parece mais certo que se não mudar
radicalmente o rumo econômico e político, logo sofreremos outro
cataclismo financeiro, e preparem-se porque desta vez os Estados já
consumiram todos os botijões de dinheiro que tinham para apagar o fogo
(e transferir o nosso dinheiro para o mundo financeiro-bancário e, em
conjunto, ao Grande Capital).</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Os grandes falcões dos <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Estados Unidos</strong> estão dispostos a levar uma guerra devastadora à<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Europa</strong>. Eles têm sua lógica e razões. Mas os líderes europeus, quais são suas razões para continuarem esse terrível jogo suicida?</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Diante do fascismo transnacional que recruta população lumpenizada sem cessar, onde ficou o internacionalismo dos povos?</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-34760198121181213812014-10-04T18:13:00.000-03:002014-10-04T18:13:00.287-03:00Por Que as Nações Fracassam<div id="WM01-bodyContent">
<div>
<h1 class="title" style="background-color: #fefefe; border: 0px none; font-family: Arial,Helvetica,sans-serif; font-weight: 400; line-height: 1; margin: 0px 0px 5px; outline: 0px none; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="font-size: small;">Resenha
de “Por Que as Nações Fracassam: as Origens do Poder, da Prosperidade e
da Pobreza”, de Daron Acemoglu e James Robinson, por Gustavo
Resende Mendonça</span></h1>
<div class="post-meta" style="background-color: #fefefe; border: 0px; color: #9f9f9f; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 10px; line-height: 11px; margin: 0px 0px 15px; outline: 0px; padding: 0px; text-transform: uppercase; vertical-align: baseline;">
<img alt="" class="" src="http://wm.imguol.com/v1/blank.gif" style="background-color: transparent; margin: 0px 5px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: top;" /><br />
</div>
<div class="entry" style="background-color: #fefefe; border: 0px; color: #333333; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<br /><div style="background-color: transparent; border: 0px; margin: 0px 0px 15px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
A
busca pela origem do desenvolvimento econômico é um dos inquéritos
fundamentais das Ciências Sociais, particularmente da Economia. Em 1776,
Adam Smith se debruçou sobre o tema, em “A Riqueza das Nações”, e
concluiu que a prosperidade dos Estados deriva de sua capacidade
produtiva, não do acumulo de metais preciosos. A noção de que boas
políticas – como baixas tarifas aduaneiras – podem acelerar o
desenvolvimento permeia o tratado clássico de Smith. Já no século XX,
Max Weber, em “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”,
enfatizou os aspectos culturais que favorecem a abundância material.
Recentemente, <em style="background-color: transparent; border: 0px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Why the West Rules</em>,
de Ian Morris, argumentou que a geografia é o principal determinante
das diferenças econômicas entre as nações. As três explicações –
cultural, geográfica e política – possuem diversos defensores e
permanecem relevantes atualmente. “Por Que as Nações Fracassam”, obra de
Daron Acemoglu e James Robinson, no entanto, refuta as explicações
anteriores e argumenta que o desenvolvimento econômico é derivado da
qualidade das instituições políticas e econômicas das nações.<span id="more-10707" style="background-color: transparent; border: 0px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"></span></div>
<div style="background-color: transparent; border: 0px; margin: 0px 0px 15px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
O
argumento central de “Por que as Nações Fracassam” reside na diferença
entre instituições econômicas inclusivas e extrativistas. Segundo os
autores, instituições econômicas inclusivas são aquelas que permitem que
a riqueza seja disseminada pela sociedade, enquanto instituições
econômicas extrativistas são aquelas que concentram a renda em uma elite
privilegiada. Embora breves surtos de crescimento econômico sejam
possíveis na vigência de instituições extrativistas, o desenvolvimento
só será sustentável na presença de instituições econômicas inclusivas.
Acemoglu e Robinson ilustram as diferenças entre os dois tipos de
instituição ao comparar o Norte e o Sul dos Estados Unidos durante a
Guerra de Secessão: o Sul era relativamente mais pobre porque era
organizado economicamente em latifúndios e empregava mão-de-obra escrava
– instituições altamente extrativistas -, a economia do Norte, por
outro lado, era caracterizada pela indústria e pelo trabalho
assalariado, instituições mais inclusivas.</div>
<div style="background-color: transparent; border: 0px; margin: 0px 0px 15px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
O
desenvolvimento de instituições econômicas inclusivas, no entanto,
depende do surgimento de instituições políticas igualmente inclusivas.
Os autores definem instituições políticas inclusivas como aquelas que
promovem a pluralidade e a centralização política. Em síntese, as
instituições políticas serão inclusivas se atenderem a um conjunto amplo
de diferentes interesses e representarem uma grande diversidade de
atores políticos. Em contrates, instituições políticas extrativistas são
erigidas para proteger os interesses de um elite privilegiada e para
restringir a participação política a um grupo seleto de atores. A
Inglaterra do Século XIX é um exemplo de organização institucional
política relativamente inclusiva, uma vez que o Estado conferia direitos
a uma ampla gama de indivíduos e várias coalizões estavam envolvidas no
jogo político. A China de Mao Tsé-Tung, por outro lado, era
caracterizada por instituições políticas intensamente extrativistas, uma
vez que o poder era concentrado em um pequeno grupo (ou mesmo em apenas
um indivíduo) e a ação do Estado não era limitada por direitos
individuais de qualquer espécie.</div>
<div style="background-color: transparent; border: 0px; margin: 0px 0px 15px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
Na
construção teórica de Acemoglu e Robinson, a política determina a
economia. Os autores rejeitam a “teoria da modernização”, que advoga que
o crescimento econômico eventualmente resulta em instituições políticas
democráticas. Apontam que, na primeira metade do século XX, países
ricos e com sistemas educacionais eficientes – como Japão, Alemanha e
Argentina – sucumbiram a ditaduras repressivas, fato que demonstra que
as instituições econômicas não determinam as instituições políticas.
Organizações inclusivas, por outro lado, promovem instituições
econômicas inclusivas porque estimulam a inovação, asseguram os direitos
de propriedade e protegem os trabalhadores da exploração e da miséria.
Instituições políticas extrativistas, por sua vez, temem a inovação
econômica e a “destruição criativa” provocada pelas instituições
econômicas inclusivas, uma vez que a riqueza disseminada pela sociedade
pode solapar as bases do poder político concentrado na mão de poucos. Os
autores argumentam que o crescimento econômico no contexto de
instituições políticas extrativistas é baseado na alocação forçada de
recursos em atividades rentáveis, não na inovação e na “destruição
criativa” (o colapso de alguns setores defasados para que outros mais
eficientes possam surgir). Nesse sentido, o crescimento sustentável e o
desenvolvimento econômico são possíveis apenas na presença de
instituições políticas inclusivas.</div>
<div style="background-color: transparent; border: 0px; margin: 0px 0px 15px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
“Por
Que as Nações Fracassam” argumenta que as bases para o desenvolvimento
econômico são a tecnologia, a educação e a estabilidade política. A
inovação tecnológica só é viável na presença de instituições políticas
inclusivas, uma vez que as autocracias temem a inovação e o impacto
desestabilizador da “destruição criativa”. De forma análoga, um sistema
educacional de qualidade depende da liberdade de expressão e da livre
circulação de informações, ausentes em instituições políticas
extrativistas. Por fim, instituições políticas extrativista são, por
definição, instáveis, uma vez que o poder concentrado gera riquezas
extraordinárias e grandes incentivos para violentas disputas
oligárquicas. A natureza instável da política no contexto das
instituições políticas extrativista é expressa pela “lei de ferro da
oligarquia”, que articula que disputas de poder entre oligarquias quase
sempre resultam na manutenção de regimes extrativistas, mesmo que uma
nova elite tome o lugar dos antigos oligarcas.</div>
<div style="background-color: transparent; border: 0px; margin: 0px 0px 15px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
Após
estabelecer que a organização política é central para o desenvolvimento
econômico, Acemoglu e Robinson procuram demonstrar como as instituições
inclusivas surgem. Segundo os autores, o processo histórico, eventos
críticos e pequenas diferenças institucionais são fundamentais para
alimentar o ciclo virtuoso inclusivo. Por vezes, acontecimentos
fortuitos são fundamentais, como no papel desempenhado pela peste negra
no processo de extinção do feudalismo. O feudalismo – uma instituição
política substancialmente extrativista – era baseado na exploração de um
amplo contingente de trabalhadores pelos senhores feudais, cujo poder
derivava da posse de escassos suprimentos de terra. Com a peste negra, a
mão-de-obra se tornou o fator de produção escasso e a terra abundante,
fato que solapou o poder dos barões feudais. Regiões que não foram tão
atingidas pela peste negra, como a Europa Oriental e o Japão, seguiram
dominadas pelo feudalismo, enquanto a Europa Ocidental, bastante
acometida pela doença, se tornou mais livre. O processo histórico também
é fundamental, uma vez que pequenas diferenças institucionais geram uma
grande diferenciação organizacional ao longo do tempo. Na Inglaterra,
por exemplo, a presença de um parlamento e de parcos diretos de
propriedade da terra geraram as condições críticas para a disseminação
de poder político e para a criação da revolução industrial.</div>
<div style="background-color: transparent; border: 0px; margin: 0px 0px 15px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
A
conclusão de “Por Que as Nações Fracassam” é que o desenvolvimento da
economia de uma nação é diretamente proporcional à qualidade de sua
democracia. As nações fracassam porque são autárquicas, porque não
superaram um modelo político que monopoliza o poder e porque quando a
política é um jogo de poucos participantes, a riqueza se concentra.
Acemoglu e Robinson avaliam que suas conclusões têm três implicações
fundamentais para o mundo contemporâneo. Em primeiro lugar, a ajuda
humanitária internacional dificilmente tem o poder de mudar a realidade
econômica dos países em desenvolvimento, uma vez que não altera o
desenho institucional dessas nações. Em segundo lugar, a percepção de
que o autoritarismo pode ser eficiente na promoção do desenvolvimento é
ilusória. Embora regimes autoritários possam gerar surtos de
crescimento, são incapazes de promover o desenvolvimento econômico
sustentável. Por fim, os autores avaliam, de forma controversa, que o
crescimento econômico da China eventualmente será solapado pela natureza
extrativista das instituições políticas chinesas. Segundo Acemoglu e
Robinson, a China tem logrado uma expansão econômica acelerada devido a
um modelo que aloca compulsoriamente a mão-de-obra em setores rentáveis,
notadamente indústrias voltadas para a exportação. Eventualmente, o
déficit educacional e de inovação irá reduzir o crescimento econômico
chinês e frustar a jornada do país rumo ao desenvolvimento.</div>
<div style="background-color: transparent; border: 0px; margin: 0px 0px 15px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
“Por
Que as Nações Fracassam” rapidamente alcançou grande relevância
internacional. A obra foi eleita como uma das mais importantes de 2012
pela revista <em style="background-color: transparent; border: 0px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">The Economist </em>e
aclamada por autores como Niall Ferguson, Thomas Friedman e Martin
Wolf. A construção teórica de Acemoglu e Robinson, elegante e robusta,
tem a grande vantagem de escapar do determinismo cultural e do
paternalismo das prescrições de políticas públicas. A obra também é
permeada por um grande eruditismo, uma vez que o espectro de exemplos
citados pelos autores abrange desde reinos pré-coloniais da África
sub-saariana até o Brasil contemporâneo. “Por Que as Nações Fracassam”
também ignora fórmulas eurocêntricas e reconhece que o desenvolvimento é
um fenômeno singular e marcado por particularidades específicas às
diferentes realidades nacionais.</div>
<div style="background-color: transparent; border: 0px; margin: 0px 0px 15px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
A
obra de Acemoglu e Robinson, no entanto, é passível de diversas
críticas. Arvind Subramanian, em sua resenha do livro, aponta
corretamente que “Por Que As Nações Fracassam” não explica corretamente
as diferenças de renda entre China e Índia. A Índia é um país muito mais
democrático e inclusivo que a China, mas, no entanto, o PIB e a Renda<em style="background-color: transparent; border: 0px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">per capita</em> indiana
são apenas uma fração dos respectivos indicadores chineses. Ademais,
embora seja uma obra de grande ambição e alcance, “Por Que as Nações
Fracassam” conta com poucos indicadores econômicos e estatísticas
comparativas, fato que enfraquece o argumento da obra. Por fim, as
explicações de Acemoglu e Robinson para as origens das instituições
políticas inclusivas precisam ser suplementadas. De fato, devido ao seu
intuito de romper com os paradigmas das explicações geográficas e
culturais, os autores podem ter perdido valiosos aportes complementares
que ambas as tradições poderiam fornecer.</div>
<blockquote style="background-color: transparent; border: 0px; color: #666666; margin: 0px; outline: 0px; padding: 10px 30px; quotes: none; vertical-align: baseline;">
<div style="background-color: transparent; border: 0px; margin: 0px 0px 15px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
ACEMOGLU, Daron; ROBINSON, James. <em style="background-color: transparent; border: 0px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Por Que As Nações Fracassam: As Origens do Poder, Prosperidade e da pobreza</em>. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. ISBN: 976-0-307-71921-8</div>
<div style="background-color: transparent; border: 0px; margin: 0px 0px 15px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Gustavo Resende Mendonça é Mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília – UnB (<a href="http://mail.uol.com.br/compose?to=gustavo.mendonca@itamaraty.gov.br" style="background-color: transparent; border: 0px; color: #838c1c; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial; vertical-align: baseline; word-wrap: break-word;" target="_blank">gustavo.mendonca@itamaraty.gov.br</a>).</div>
</blockquote>
</div>
</div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-74240780236524847522014-09-27T18:11:00.000-03:002014-09-27T18:11:00.169-03:00Thomas Piketty e a aposta em um capitalismo humanizado<div id="WM01-bodyContent">
<div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
"Marx sabia da força dos “grilhões de
ouro”, mas considerava possível quebrá-los. O que aconteceria se
chegássemos a isso? Impossível dizer", escreve Russell Jacoby, professor
de História da Universidade da Califórnia em Los Angeles, autor de The
last intellectuals[Os últimos intelectuais] (1987), The end of utopia [O
fim da utopia] (1999) e, mais recentemente, Les ressorts de la
violence. Peur de l’autre ou peur du semblable?[As molas da violência.
Medo do outro ou medo do semelhante?], em artigo publicado pelo jornalLe
Monde Diplomatique, 04-08-2014.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Eis o artigo.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
A obra Le capital au XXIe siècle [O
capital no século XXI], de Thomas Piketty, é um fenômeno tanto
sociológico como intelectual. Ela cristaliza o espírito de nossa época,
assim como, em seu tempo, The closing of the American mind [O fechamento
da mente norte-americana], de Allan Bloom. [1] Este livro, que
denunciava os estudos sobre as mulheres, os gêneros e as minorias nas
universidades norte-americanas, opunha a “mediocridade” do relativismo
cultural à “busca pela excelência”, associada, na mente de Bloom, aos
clássicos gregos e romanos. Ainda que tenha tido poucos leitores (era
particularmente pomposo), ele alimentou o sentimento de uma destruição
do sistema educacional norte-americano, até da própria América, na falta
dos progressistas e da esquerda. Esse sentimento não perdeu nada de sua
força, e O capital no século XXI inscreve-se no mesmo campo de forças,
exceto pelos fatos de que Piketty vem da esquerda e que o enfrentamento
deslocou-se da educação para o campo econômico. Dentro do sistema
educacional, porém, o debate centra-se agora, em grande parte, sobre
questões econômicas e barreiras capazes de explicar adesigualdade.</div>
<div style="text-align: justify;">
A obra traduz um mal-estar palpável: a
sociedade norte-americana, assim como as outras pelo mundo inteiro, é
cada vez mais iníqua. As desigualdades agravam-se e pressagiam um futuro
sombrio. O capital no século XXI deveria chamar A desigualdade no
século XXI.</div>
<div style="text-align: justify;">
É inútil criticar Piketty por não
cumprir objetivos que não eram os seus, mas também não podemos nos
contentar em lhe render louros. Muitos comentaristas têm se concentrado
em sua relação com Karl Marx, ao que ele lhe deve ao pensador alemão, a
suas infidelidades; quando seria preciso, antes de mais nada, questionar
de que modo o livro lança luz sobre nossa miséria atual. Ao mesmo
tempo, no que diz respeito à preocupação com a igualdade, não é inútil
voltar a Marx. Aproximando-se os dois autores, há de fato uma
divergência: ambos contestam as disparidades econômicas, mas em direções
opostas. Piketty inscreveu suas observações no campo dos salários, da
renda e da riqueza: ele deseja erradicar as desigualdades extremas
oferecendo – para pastichar o lema da funesta Primavera de Praga – um
“capitalismo de rosto humano”. Já Marx se coloca no campo da mercadoria,
do trabalho e da alienação: ele pretende abolir essas relações e
transformar a sociedade.</div>
<div style="text-align: justify;">
Piketty tece uma acusação implacável
contra a desigualdade: “Já é tempo”, escreve em sua introdução, “de
recolocar a questão da desigualdade no centro da análise econômica”
(p.38). Ele adota como epígrafe a segunda frase da Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão de 1789: “As distinções sociais só podem
fundar-se no bem comum”. (Poderíamos nos perguntar por que um livro tão
prolixo deixa de lado a primeira frase: “Os homens nascem e permanecem
livres e iguais em direitos”.) Apoiando-se numa profusão de números e
tabelas, ele demonstra que as desigualdades econômicas aumentam e que os
mais afortunados concentram uma parte cada vez maior da riqueza. Houve
quem tentasse contestar suas estatísticas, mas ele reduziu a pó as
acusações. [2]</div>
<div style="text-align: justify;">
O autor bate forte e justo quando
trata da exacerbação das desigualdades que desfiguram a sociedade, em
particular a norte-americana. Ele observa, por exemplo, que a educação
deveria ser igualmente acessível a todos e promover a mobilidade social.
No entanto, “o rendimento médio dos pais de alunos de Harvard é de
cerca de US$ 450 mil” ao ano, o que os coloca entre os 2% das famílias
norte-americanas mais ricas. E conclui seu argumento com este eufemismo
característico: “O contraste entre o discurso meritocrático oficial e a
realidade parece aqui particularmente extremo” (p.778).</div>
<div style="text-align: justify;">
Para alguns, à esquerda, não há nada
de novo. Para outros, cansados de ouvir o tempo todo que é impossível
aumentar o salário mínimo, que não se devem taxar os “criadores de
empregos” e que a sociedade norte-americana continua sendo a mais aberta
do mundo,Piketty representa um aliado providencial. Segundo um
relatório (não citado no livro), os 25 gestores de fundos de
investimentos mais bem pagos ganharam, em 2013, US$ 21 bilhões, mais que
o dobro da soma dos rendimentos de cerca de 150 mil professores
primários nos Estados Unidos. Se a compensação financeira corresponde ao
valor social, então um gestor de hedge funddeve valer bem uns 17 mil
professores... Nem todos os pais (e professores) devem concordar com
isso.</div>
<div style="text-align: justify;">
Contudo, a fixação exclusiva de
Piketty na desigualdade apresenta limites teóricos e políticos. Da
Revolução Francesa ao movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos,
passando pelo cartismo,[3] pela abolição da escravatura e pelo sufrágio
universal, a aspiração à igualdade já suscitou inúmeros movimentos
políticos. Em uma enciclopédia das contestações, o artigo dedicado a ela
certamente ocuparia centenas de páginas, remetendo a todas as outras
entradas. Ela teve, e continua tendo, um papel positivo essencial. Em
tempos recentes, o movimento Occupy Wall Street e a mobilização pelo
casamento gaysão prova disso. Longe de desaparecer, a reivindicação
ganhou novo fôlego.</div>
<div style="text-align: justify;">
O igualitarismo, porém, também implica
uma parte de resignação: ele aceita a sociedade tal como é, visando
apenas a reequilibrar a distribuição de bens e privilégios. Os gays
querem o direito de se casar assim como os heterossexuais. Muito bem,
mas isso não afeta em nada a instituição imperfeita do matrimônio, que a
sociedade não pode abandonar nem melhorar. Em 1931, o historiador
britânico de esquerda Richard Henry Tawney já destacava esses limites,
em um livro que, aliás, também defendia o igualitarismo. [4] O movimento
operário, escreveu, acredita na possibilidade de uma sociedade que dá
mais valor às pessoas e menos ao dinheiro, mas essa abordagem tem seus
limites: “Ao mesmo tempo, ela não aspira a uma ordem social diferente,
na qual o dinheiro e o poder econômico não sejam mais o critério do
sucesso, mas a uma ordem social do mesmo tipo, na qual o dinheiro e o
poder econômico sejam distribuídos de modo um pouco diferente”. Aí está o
centro do problema. Dar a todos o direito de poluir é um avanço para a
igualdade, mas não para o planeta.</div>
<div style="text-align: justify;">
Evitar que se pague muito aos universitários</div>
<div style="text-align: justify;">
Marx não dá nenhum espaço à igualdade.
Não apenas ele jamais considerou que os salários dos trabalhadores
pudessem aumentar de maneira significativa, mas também, ainda que isso
acontecesse, em sua opinião, a questão não era essa. O capital impõe os
parâmetros, o ritmo e a própria definição do trabalho, do que é rentável
e do que não é. Mesmo em um sistema capitalista revestido por formas
“confortáveis e liberais”, no qual o trabalhador possa viver melhor e
consumir mais porque recebe um salário maior, a situação não é
fundamentalmente diferente. O fato de o trabalhador ser mais bem
remunerado não muda em nada sua dependência; “melhorar o vestuário, a
alimentação, o tratamento e aumentar seu peculiumnão abole a relação de
dependência e a exploração do escravo”. Um aumento de salário significa,
no máximo, que “o tamanho e o peso dos grilhões de ouro que o empregado
forjou para si permitem que eles o apertem um pouco menos”. [5]</div>
<div style="text-align: justify;">
Sempre se pode objetar que essas
críticas datam do século XIX, mas Marx teve pelo menos o mérito de se
concentrar na estrutura do trabalho, enquanto Piketty não disse uma
palavra a esse respeito. Não se trata de saber qual deles está certo
sobre o funcionamento do capitalismo, mas de apreender o vetor de suas
respectivas análises: a distribuição paraPiketty, a produção para Marx. O
primeiro quer redistribuir os frutos do capitalismo, a fim de reduzir o
fosso entre os rendimentos mais altos e os mais baixos, enquanto o
segundo quer transformar o capitalismo e colocar um fim em seu domínio.</div>
<div style="text-align: justify;">
Desde a juventude, Marx documentou a
miséria dos trabalhadores; ele dedicou centenas de páginas de O capital à
jornada de trabalho padrão e às críticas que ela despertou. Também
sobre isso Piketty não tem nada a dizer, embora evoque uma greve no
início de seu primeiro capítulo. No índice da edição inglesa, na entrada
“Trabalho”, lemos: “Ver ‘divisão capital-trabalho’”. Isso é
compreensível, já que o autor não está interessado no trabalho
propriamente dito, mas nas desigualdades resultantes dessa divisão.</div>
<div style="text-align: justify;">
Em Piketty, o trabalho resume-se
principalmente ao montante de rendimento. Os surtos de cólera que
afloram de vez em quando sob sua pena concernem aos ricos. Ele observa,
por exemplo, que a fortuna de Liliane Bettencourt, herdeira da L’Oréal,
passou de US$ 4 bilhões para US$ 30 bilhões entre 1990 e 2010: “Liliane
Bettencourt nunca trabalhou, mas isso não impediu que sua fortuna
aumentasse exatamente com a mesma rapidez da de BillGates”. Esse enfoque
sobre os mais ricos corresponde bem à sensibilidade do nosso tempo,
enquanto Marx, com suas descrições do trabalho de padeiros, lavadeiras e
tintureiros pagos por dia, pertence ao passado. A manufatura e a
montagem desapareceram dos países capitalistas avançados e prosperam nos
países em desenvolvimento, de Bangladesh à República Dominicana.
Entretanto, não é porque um argumento é antigo que ele é obsoleto, e
Marx, concentrando-se no trabalho, destacava uma dimensão quase ausente
de O capital no século XXI.</div>
<div style="text-align: justify;">
Piketty documenta a “explosão” da
desigualdade, especialmente nos Estados Unidos, e denuncia os
economistas ortodoxos, que justificam as enormes diferenças de
remuneração pelas forças racionais do mercado. Ele zomba de seus colegas
norte-americanos, que “tendem frequentemente a considerar que a
economia dos Estados Unidos funciona muito bem e, particularmente, que
ela recompensa o talento e o mérito com justiça e precisão” (p.468).
Isso, porém, não é de espantar, acrescenta, uma vez que tais economistas
estão entre os 10% mais ricos. Como o mundo das finanças, ao qual lhes
ocorre oferecer seus serviços, puxa seus salários para cima, eles
manifestam uma “vergonhosa tendência a defender seus interesses
particulares, dissimulando-os atrás de uma improvável defesa do
interesse geral” (p.834).</div>
<div style="text-align: justify;">
Para dar um exemplo que não está no
trabalho de Piketty, um artigo recente publicado na revista da
Associação Americana de Economia [6] pretende demonstrar, apoiado em
números, que as grandes desigualdades decorrem de realidades econômicas.
“Os maiores rendimentos têm talentos raros e únicos que lhes permitem
negociar a preço alto o valor crescente de seu talento”, conclui um dos
autores, Steven N. Kaplan, professor de Empreendedorismo e Finanças da
Escola de Negócios da Universidade de Chicago. Visivelmente, Kaplan
tenta puxar a sardinha para seu lado: uma nota de rodapé nos informa que
ele “participa do conselho de administração de diversos fundos comuns
de investimento” e que foi “consultor de empresas de private equity e
capital de risco”. Eis o ensino humanista do século XXI! Piketty explica
no início de seu livro que perdeu as ilusões sobre os economistas
norte-americanos do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e que os
economistas das universidades francesas têm a “grande vantagem” de não
serem nem altamente considerados nem muito bem pagos: o que lhes permite
manter os pés no chão.</div>
<div style="text-align: justify;">
A contraexplicação que ele oferece, no
entanto, é no mínimo banal: as enormes diferenças salariais decorrem de
tecnologia, educação e costumes. As remunerações “extravagantes” dos
“superexecutivos”, “poderoso mecanismo” de aumento da desigualdade
econômica, particularmente nos Estados Unidos, não podem ser explicadas
pela “lógica racional da produtividade” (p.530-531). Elas refletem as
normas sociais atuais, que por sua vez revelam políticas conservadoras
que reduziram a tributação sobre os mais ricos. Os chefes de grandes
empresas concedem-se salários enormes porque têm a oportunidade e porque
a sociedade julga essa prática aceitável, pelo menos nos Estados Unidos
e no Reino Unido.</div>
<div style="text-align: justify;">
Marx oferece uma análise muito
diferente. Ele se preocupa menos em provar as desigualdades econômicas
abissais do que em descobrir as raízes da acumulação capitalista.
Piketty explica que essas desigualdades devem-se à “contradição central
docapitalismo”: a disjunção entre a taxa de rendimento do capital e a
taxa de crescimento econômico. Como a primeira tem necessariamente
precedência sobre a segunda, favorecendo a riqueza existente em
detrimento do trabalho existente, isso conduz a “terríveis”
desigualdades na distribuição da riqueza. Marx talvez concordasse sobre
esse ponto, mas, novamente, ele está interessado no trabalho, que
considera o local de origem e desenvolvimento da desigualdade. Segundo
ele, a acumulação de capital produz, necessariamente, o desemprego,
parcial, ocasional ou permanente. Todavia, essas questões, cuja
importância dificilmente se poderia negar no mundo de hoje, estão
ausentes do trabalho de Piketty.</div>
<div style="text-align: justify;">
Marx parte de uma proposta totalmente
diferente: é o trabalho que cria riqueza. A ideia pode parecer fora de
moda, no entanto, ela assinala uma tensão não resolvida do capitalismo:
este precisa da força de trabalho e, ao mesmo tempo, tenta livrar-se
dela. Quanto mais os trabalhadores são necessários à sua expansão, mais
ele se livra deles a fim de reduzir os custos, por exemplo,
automatizando a produção. Marx estudou longamente o modo como o
capitalismo gera uma “população trabalhadora excedente relativa”. [7]
Esse processo assume duas formas fundamentais: ou se demitem
trabalhadores, ou se deixa de incorporar novos. Em consequência, o
capitalismo fabrica trabalhadores “descartáveis” ou um exército de
reserva de desempregados. Quanto mais o capital e a riqueza aumentam,
mais osubemprego e o desemprego avançam.</div>
<div style="text-align: justify;">
Centenas de economistas tentaram
corrigir ou refutar essas análises, mas a ideia de um aumento da força
de trabalho excedente parece verdadeira: do Egito a El Salvador e da
Europa aos Estados Unidos, a maioria dos países passa por níveis
elevados ou críticos de subemprego ou desemprego. Em outras palavras, a
produtividade capitalista eclipsa oconsumo capitalista. Não importa quão
perdulários sejam, os 25 gestores de hedge fundsjamais poderão consumir
seus US$ 21 bilhões de remuneração. O capitalismo sobrecarrega-se com
aquilo que Marx chama de os “monstros” da “superprodução, superpopulação
e superconsumo”. Sozinha, a China certamente é capaz de produzir
mercadorias suficientes para abastecer os mercados da Europa, África e
América. Mas o que será da força de trabalho no resto do mundo? As
exportações chinesas de têxteis e móveis para a África subsaariana
resultam numa redução no número de postos de trabalho para os africanos.
[8] Do ponto de vista do capitalismo, temos um exército em expansão,
composto por trabalhadores subempregados e desempregados permanentes,
encarnações das desigualdades contemporâneas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Como Marx e Piketty vão em direções
diferentes, é lógico que proponham soluções diferentes. Piketty, ansioso
em reduzir as desigualdades e melhorar a distribuição, propõe um
imposto global e progressivo sobre o capital, a fim de “evitar uma
divergência ilimitada da desigualdade patrimonial”. Embora, como
reconhece, essa ideia seja “utópica”, ele a considera útil e necessária:
“Muitos rejeitarão o imposto sobre o capital como uma perigosa ilusão,
da mesma forma como o imposto sobre a renda foi rejeitado há pouco mais
de um século” (p.840). Já Marx não propõe realmente nenhuma solução: o
penúltimo capítulo de O capital refere-se às “forças” e “paixões” que
nascem para transformar o capitalismo. A classe trabalhadora inauguraria
uma nova era, na qual reinariam “a cooperação e a propriedade comum da
terra e dos meios de produção”. [9] Em 2014, essa proposta também é
utópica – ou até redibitória, dependendo de como se interpreta a
experiência soviética.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não é preciso escolher entre Piketty e
Marx. Para falar como o primeiro, trata-se de esclarecer suas
diferenças. O utopismo de Piketty – e esse é um de seus pontos fortes –
consiste numa dimensão prática, na medida em que ele fala a linguagem
familiar dos impostos e da regulação. Ele espera uma cooperação mundial,
e até um governo mundial, para pôr em prática um imposto também mundial
que evitaria uma “espiral infinita de desigualdade” (p.835). Ele propõe
uma solução concreta: um capitalismo à sueca, que enfrentou seus
desafios eliminando as disparidades econômicas extremas. Ele não trata
da força de trabalho excedente, do trabalho alienado e da sociedade
movida pelo dinheiro e pelo lucro; ao contrário, aceita-os e quer que
façamos o mesmo. Em troca, dá-nos algo que já conhecemos: o capitalismo,
com todas as suas vantagens e menos inconvenientes.</div>
<div style="text-align: justify;">
Os grilhões de ouro e as flores vivas</div>
<div style="text-align: justify;">
No fundo, Piketty é um economista
muito mais convencional do que ele mesmo pensa. Seu elemento natural são
as estatísticas sobre níveis de rendimentos, os projetos de tributação,
as comissões encarregadas desses assuntos. Suas recomendações para
reduzir as desigualdades resumem-se a políticas fiscais impostas de cima
para baixo. Ele mostra-se perfeitamente indiferente aos movimentos
sociais, que já foram capazes de questionar a desigualdade e poderiam
voltar a fazê-lo. Ele parece, aliás, mais preocupado com o fracasso do
Estado em reduzir a desigualdade do que com a desigualdade propriamente
dita. E, embora convoque com frequência e com pertinência, romancistas
do século XIX, comoHonoré de Balzac e Jane Austen, sua definição do
capital permanece demasiado econômica e redutora. Ele não leva em conta o
capital social, os recursos culturais e oknow-how acumulado com os
quais podem contar os mais afortunados e que facilitam o sucesso de sua
prole. Um capital social limitado condena tanto à exclusão como uma
conta bancária vazia, mas sobre esse assunto Piketty também não tem nada
a dizer.</div>
<div style="text-align: justify;">
Marx nos dá ao mesmo tempo mais e
menos do que isso. Seu questionamento, embora mais profundo e amplo, não
oferece nenhuma solução prática. Poderíamos qualificá-lo de utópico
antiutópico. No posfácio à segunda edição alemã de O capital, ele zomba
daqueles que tentam escrever “receitas para as cozinhas do futuro”. [10]
E, ainda que uma certa visão a respeito possa ser apreendida de seus
escritos econômicos, ela não tem grandes relações com o igualitarismo.
Marx sempre combateu a igualdade primitivista, que decreta a pobreza
para todos e a “mediocridade geral”. [11] Embora reconheça a capacidade
do capitalismo para produzir riqueza, ele rejeita seu caráter
antagônico, que subordina o conjunto do trabalho – e da sociedade – à
busca pelo lucro. Mais igualitarismo só faria democratizar esse mal.</div>
<div style="text-align: justify;">
Marx sabia da força dos “grilhões de
ouro”, mas considerava possível quebrá-los. O que aconteceria se
chegássemos a isso? Impossível dizer. A melhor resposta que Marx nos
ofereceu talvez esteja em um texto de juventude no qual ele ataca a
religião e, já então, os grilhões cobertos por “flores imaginárias”: “A
crítica destrói as flores imaginárias que adornam os grilhões não para
que o homem carregue seus grilhões sem sonhos e sem consolo, mas para
que se livre dos grilhões e colha as flores vivas”. [12]</div>
<div style="text-align: justify;">
Notas:</div>
<div style="text-align: justify;">
1. Allan Bloom, The closing of the
American mind, Simon & Schuster, Nova York, 1987. Essa obsessão
conservadora de uma decadência da educação foi sistematizada na França
pelo ensaísta Alain Finkielkraut.</div>
<div style="text-align: justify;">
2. Chris Giles, “Data problems with
Capital in the 21st century” [Problemas nos dados de O capital no século
XXI], Financial Times, Londres, 23 maio 2014, e a resposta de Thomas
Piketty, “Technical appendix of the book – Response to FT” [Apêndice
técnico do livro – Resposta ao FT], 28 maio 2014.</div>
<div style="text-align: justify;">
3. Movimento político operário do meio do século XIX, no Reino Unido.</div>
<div style="text-align: justify;">
4. Richard Henry Tawney, Equality[Igualdade], Allen & Unwin, Londres, 1952.</div>
<div style="text-align: justify;">
5. Karl Marx, Le capital. Livre I [O
capital. Livro I], tradução francesa dirigida por Jean-Pierre Lefebvre,
Presses Universitaires de France, Paris, 1993, p.693.</div>
<div style="text-align: justify;">
6. Steven N. Kaplan e Joshua Rauh,
“It’s the market: the broad-based rise in the return to top talent” [É o
mercado: o crescimento de base ampla no retorno dos melhores talentos],
Journal of Economic Perspectives, v.27, n.3, Nashville, 2013.</div>
<div style="text-align: justify;">
7. Ibidem.</div>
<div style="text-align: justify;">
8. Raphael Kaplinsky “What does the
rise of China do for industrialization in Sub-Saharan Africa?” [O que o
crescimento da China faz com a industrialização da África
subsaariana?],Review of African Political Economy, v.35, n.115, Swine
(Reino Unido), 2008.</div>
<div style="text-align: justify;">
9. Karl Marx, op. cit., p.855-857.</div>
<div style="text-align: justify;">
10. Ibidem, p.15.</div>
<div style="text-align: justify;">
11. Ibidem, p.854.</div>
</div>
</div>
<a href="https://www.blogger.com/null" name="thumbs"></a>
<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-46752046222606567682014-09-18T18:05:00.000-03:002014-09-18T18:09:04.096-03:00Colóquio “Os mil nomes de Gaia: do Antropoceno à idade da Terra”Evento,que acontece a partir de segunda e até sexta-feira na <b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Fundação Casa de Rui Barbosa,</b> reúne diversos pensadores brasileiros e estrangeiros para
debater novas maneiras de imaginar e ocupar o espaço do mundo, mesclando
ciências exatas e humanas.<br />
<h2 class="contentheading" style="border: 0px none; display: table-cell; font-size: 36px; letter-spacing: -1px; line-height: 36px; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px 0px 4px; text-align: justify; vertical-align: top; width: 257px;">
</h2>
<br />
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<br />
<h2 class="contentheading" style="border: 0px none; display: table-cell; letter-spacing: -1px; line-height: 36px; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px 0px 4px; text-align: justify; vertical-align: top; width: 257px;">
<span style="font-size: large;">
Gaia em debate</span></h2>
<br />
<div style="border: 0px none; clear: both; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
</div>
<div id="texto-aumenta" style="border: 0px none; color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 16px; line-height: 15px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">
<div class="article_text" style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Terra,
mundo, Pachamama... Há muitas maneiras de nomear nosso planeta, mas
poucas causam mais controvérsia no momento do que o termo <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-anteriores/5451-a-vinganca-de-gaia-as-mudancas-climaticas-e-a-vulnerabilidade-do-planeta" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Gaia</a> —
uma divindade primordial que, no imaginário dos gregos antigos, regia
os elementos da natureza. Resgatado nos anos 1970 para ilustrar a
hipótese do ambientalista<b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;"><a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-arquivadas/29012-gaia-alerta-final-livro-completa-trajetoria-de-cientista-rumo-ao-pessimismo" style="border: 0px none; color: #e66101; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank"> James Lovelock</a></b> e da bióloga <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/503938-lynn-margulis-e-a-paixao-pela-vida" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Lynn Margulis</a>de
que o planeta é como um ser vivo que se autorregula, o nome está no
centro de uma reação intelectual à crise climática, à perda da
biodiversidade e à probabilidade de um colapso global.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
A reportagem é de <b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Bolívar</b> <b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Torres</b>, publicada pelo jornal<b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;"> </b><b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">O Globo, </b>13-09-2014.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Gaia</b> ressurge
agora como teoria científica e conceito filosófico, um ponto de partida
privilegiado para se problematizar as relações entre homem, natureza e
tecnologia. Algumas destas propostas estarão em pauta no colóquio<b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;"> “Os mil nomes de Gaia: do Antropoceno à idade da Terra”</b>, que acontece a partir de segunda e até sexta-feira na <b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Fundação Casa de Rui Barbosa</b>. Idealizado pela filósofa <b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Déborah Danowski</b>, pelo antropólogo <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/529292-a-escravidao-venceu-no-brasil-nunca-foi-abolida-entrevista-com-eduardo-viveiros-de-castro" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Eduardo Viveiros de Castro</a> e pelo antropólogo e filósofo francês <a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4933&secao=416" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Bruno Latour</a>,
o evento reúne diversos pensadores brasileiros e estrangeiros para
debater novas maneiras de imaginar e ocupar o espaço do mundo, mesclando
ciências exatas e humanas.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Entre os 29 participantes, há visões divergentes. Para a filósofa belga <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-anteriores/17212-a-representacao-de-um-fenomeno-cientifico-e-uma-invencao-politica-entrevista-com-isabelle-stengers" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Isabelle Stengers</a>, que fará a conferência de encerramento do colóquio, <b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Gaia</b> é
uma intrusa, que desafia nossas categorias de pensamento, e com a qual
nem mesmo as grandes potências mundiais podem negociar. Já para a
filósofa francesa <b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Emilie Hache</b>, que participará de uma mesa-redonda na sexta, <b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Gaia</b> coloca de ponta- cabeça o nosso <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/523238-do-antropocentrismo-ao-pachamacentrismo-artigo-de-alfredo-serrano-mancilla" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">antropocentrismo</a>,
alertando que a espécie humana nunca será mais forte do que o planeta, e
que a coabitação é mais viável do que a dominação. Embora seja
reconhecida pela comunidade científica, a teoria tem detratores — <b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Bruno Latour</b>, que abre o evento com a conferência <b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">“O que significa obedecer às ‘ Leis de Gaia’ ao tentar manter o antigo imperativo ‘só se vence a Natureza obedecendo-lhe?’”</b>, já admitiu que foi diversas vezes “aconselhado a não utilizar o termo”, nem a confessar seu interesse pelas ideias de <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-anteriores/29011-energia-nuclear-nao-e-o-melhor-para-o-brasil" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Lovelock</a>.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
—
Gaia é um dos nomes que vêm sendo convocados em todos os cantos do
mundo para se pensar ontológica e politicamente os modos possíveis de
enfrentamento e de resistência à radical degradação atual das condições
de existência não só dos humanos, mas de uma enorme quantidade de outros
viventes sobre (e sob) a Terra — explica <b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Déborah Danowski</b>.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
—
A urgência de abordar a questão se dá porque simplesmente não podemos
viver em um mundo 3 ou 4 graus mais quentes que o atual, não há registro
de nada semelhante a isso na história da “civilização”. Entretanto, os
governos mundiais, com os seus timidíssimos e até covardes acordos
internacionais, têm se mostrado incapazes de fazer qualquer coisa a
respeito.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Conexões falhas na universidade</b></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Professor da Divisão de Ecologia Humana da Universidade de Lund (Suécia), o antropólogo<a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5495&secao=443" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Alf Hornborg</a>, que falará terça-feira no evento, confessa ter um certo ceticismo em relação ao nome <b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Gaia</b>,
embora acredite que ele possa ser usado em um sentido mais amplo e
“menos antropomórfico” para nos lembrar que “o sistema Terra e sua
biosfera têm lógicas próprias, indiferentes à espécie humana”. </div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
— Cabe a nós humanos escolher se respeitamos e nos conformamos a esse sistema ( por exemplo, minimizando o <b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">uso de combustíveis fósseis</b>)
ou se continuamos a gerar mudanças na biosfera que tornarão difícil a
sobrevivência das nossas espécies — sugere o antropólogo, em entrevista
por e-mail.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Decisiva
para o nosso futuro, a escolha passa, segundo ele, pelo desenlaçamento
das redes que fundem as dimensões materiais do ambiente e os processos
culturais da sociedade. Para <b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Hornborg</b>, autor do livro <b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">“The power of the machine: global inequalities of economy, technology, and environment”</b> (O
poder da máquina: desigualdade global da economia, tecnologia e meio
ambiente), já é “evidente” que o que acontece com a biosfera está
estreitamente conectado com aspectos econômicos e culturais, como nosso
padrão de consumo. Apesar de imagens de satélites mostrarem como a
distribuição de infraestrutura tecnológica coincide com a distribuição
de dinheiro no mundo, e apesar de o desenvolvimento ter comprovadas
consequências ambientais, a ecologia, a economia e a engenharia
continuam, na avaliação do antropólogo, separadas nas universidades.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
—
O ponto de vista do mundo dominante falha em ver essas conexões. Uma
das razões é que temos tendência em distinguir objetos materiais, como
as máquinas, com as relações sociais que os geraram, como a troca
desigual de recursos no mercado mundial. Quando o capital se torna
tecnologia, ele se torna moralmente neutro e inocente. Outro ponto é que
não entendemos as relações entre economia e física. Assim como (o
economista romeno)<b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Nicholas Georgescu- Roegen</b> demonstrou
há mais de 40 anos, a produção de commodities é, na verdade, a
destruição dos recursos. A criação do valor de consumo é, também, a
criação de entropia. Ao contrário do que muitos pensam, isso não é
inevitável. Isso é a consequência do uso generalizado do dinheiro, uma
instituição que precisa ser fundamentalmente repensada.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Segundo<b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;"> Émilie Hache</b>,
mestre de conferência e professora do departamento de Filosofia na
Universidade de Nanterre (Paris), a questão não é se perguntar “por que”
as relações entre ciência, tecnologia e meio ambiente são ignoradas,
mas sim “por quem”. Em seu livro “Ce à quoi nous tenons, propositions
pour un écologie pragmatique” (Aquilo a que damos valor, propostas para
uma ecologia pragmática), <b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Emilie</b> parte
da crise ecológica nos anos 1980 para entender seu sentido científico e
político. O que implica repensar a dimensão moral da ecologia, já que
as ações humanas geraram novas responsabilidades sobre o que será
deixado às gerações futuras.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
—
Não creio que o “mundo” tenha dificuldades de entender as questões ao
mesmo tempo econômicas e sociais da nossa relação com o meio ambiente —
diz ela. — Mas se aceitarmos esta formulação, diluindo as
responsabilidades, então podemos esperar que a civilização desmorone e
que daqui a um século, ou dois, historiadores se interroguem sobre a
incapacidade do nosso mundo em tomar as medidas necessárias, mesmo tendo
todos os dados científicos para isso.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Egoísmo da espécia humana</b></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Uma visão comum entre a maior parte dos convidados do evento é a de que <b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Gaia</b> exige o fim da visão utilitarista que opõe homem e natureza. <b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Bruno Latour </b>defende
que esta última não pode ser pensada de forma independente das relações
entre os humanos e os não humanos. A natureza não seria um valor em si.
Para <b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Émilie</b>,
porém, o problema está menos na concepção moderna de natureza, a qual
já se tem uma fácil relação crítica, e mais na “dificuldade de
substituí-la, de mudar o imaginário”.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
— A natureza está em todos os lugares, no direito, nas normas, na biologia, no social... — enumera <b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Émilie</b>.
— Não é tanto um conceito, mas um operador, que serve a hierarquizar,
desvalorizar e dominar tudo que ele ataca: as mulheres, as pessoas de
cor, os outros seres vivos... A natureza não tem nada a ver com a
ecologia. Precisamos de articulações que abracem as questões ecológicas
em outros problemas: ecologia e feminismo; ecologia e desigualdades
sociais; ecologia e racismo; ecologia e etologias...</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Os
pesquisadores ainda tentam entender por que a espécie humana não cria
pontes de colaboração, mesmo diante de uma situação de emergência
climática. Parte dessa dificuldade talvez possa ser atribuída à
prevalência, no século XX, da ideia de que somente o egoísmo e a
competição exerciam um papel na regulação do planeta. Cientista,
pesquisador do <b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)</b>, <a href="http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/45782-novas-tecnologias-a-servico-do-meio-ambiente-entrevista-especial-com-antonio-nobre-" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Antonio Nobre</a> acredita
que a noção implícita de que o processo essencial da seleção natural
embutia em si o “enobrecimento do egoísmo” foi um erro grave, que teria
bloqueado a visão de outros processos essenciais para o funcionamento do
conjunto. Hoje, porém, novas descobertas indicam que, em <b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Gaia</b>, quanto mais rico e complexo um sistema, menor o papel da competição e maior o da colaboração.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
—
A explicação da seleção natural para a variedade de organismos era sem
dúvida melhor do que as explicações anteriores, mas ela não era idêntica
em tudo o mais com explicações que viriam depois — explica <b style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Nobre</b>, que falará na terça-feira sobre “Os fundamentos belíssimos da vida na regulação planetária”.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
—
Um vasto campo de complexidade, invisível antes do surgimento da
biologia molecular, permaneceu ignorado no auge do desenvolvimento do
darwinismo. E suspeita-se que parte maior da complexidade bioquímica na
base do funcionamento dos sistemas vivos ainda permaneça oculta. Por
exemplo, a explicação mais simples, como aquela na base da teoria da
evolução baseada apenas nos mecanismos demonstrados da seleção natural,
não dá conta de clarificar o papel da vida na regulação do ambiente
planetário. Ademais, existem explicações simplíssimas ilustrando o papel
central da colaboração na evolução de complexidade, que são rejeitadas
apenas porque não batem com o que tornou-se um dogma excludente, o da
competição e da sobrevivência do mais apto.</div>
</div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-83731982341806699352014-09-14T18:29:00.000-03:002014-09-14T18:29:00.434-03:00Lojas de livros não conseguirão sobreviver’<div class="headline" style="border: 0px none; color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 12px; line-height: 15px; margin: 0px 0px 10px; outline: 0px; overflow: hidden; padding: 0px; width: 637px; word-wrap: break-word;">
<div class="headline_info" style="border: 0px none; float: left; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; position: relative;">
<h2 class="contentheading" style="border: 0px none; display: table-cell; font-size: 36px; letter-spacing: -1px; line-height: 36px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px 0px 4px; vertical-align: top; width: 637px;">
<br /></h2>
</div>
<div style="border: 0px none; clear: both; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">“As
pessoas da Amazon não se importam realmente com o que você quer como
consumidor.” A frase soa surpreendente ao sair da boca de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Jason Merkoski</strong>, primeiro evangelista (responsável por disseminar novas tendências) da <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/530699-livro-de-economia-lidera-lista-de-mais-vendidos-da-amazon" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Amazon</a> e um dos membros da equipe que desenvolveu o primeiro leitor de livros digitais <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-arquivadas/34663-kindle-e-ipad-criam-um-novo-estilo-de-vida" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Kindle</a>, lançado em 2007.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A reportagem é de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Ligia Aguilhar</strong>, publicada pelo jornal <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">O Estado de S. Paulo</strong>, 18-08-2014.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Fundador da startup <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Bookgenie451</strong>, criadora de um software que identifica interesses de leitura de estudantes para recomendar livros didáticos, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Merkoski</strong> mistura otimismo com alguma cautela quando o assunto são livros digitais.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Na quinta-feira, 21, ele vem ao Brasil participar do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">5º Congresso Internacional CBL do Livro Digital</strong>, em São Paulo, no qual vai falar sobre a sua obra <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Burning the page: The eBook Revolution and the Future of Reading</strong> (ainda sem título em português), na qual decreta o fim do livro impresso.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Eis a entrevista.</strong></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Você
decreta o fim dos livros impressos em sua obra, mas as vendas de
tablets e leitores digitais começam a se estabilizar sem que isso tenha
acontecido. O que falta para o livro digital se popularizar?</strong></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O que mais influencia a popularidade é a seleção de títulos. O que vimos acontecer nos <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">EUA</strong>e <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Japão</strong> é
que, uma vez que as pessoas consigam encontrar 80% dos títulos que
buscam no digital, a chance delas migrem para e-books é de 100%.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Quanto tempo demora para essa mudança acontecer?</strong></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Cerca de três anos depois que os livros digitais estão disponíveis em um país.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Serviços de streaming podem ajudar nessa popularização?</strong></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O problema de serviços de streaming como o da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Amazon</strong> é
que eles têm vários livros no catálogo que as pessoas não querem ler.
Um dos desafios é definir um modelo de preços para e-books, que hoje não
existe. Até isso ser feito será difícil tornar o streaming uma
experiência satisfatória e o seu custo sustentável.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Você esperava esses impactos quando ajudou a criar o Kindle?</strong></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Como
indústria, acho que revolucionamos o mercado editorial, o que é
assustador e maravilhoso ao mesmo tempo. Como dono de uma empresa de <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-arquivadas/34959-o-livro-digital-em-debate" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">livros digitais</a>, digo que é muito difícil trabalhar com editoras hoje, porque o mundo delas está em colapso. É como se elas estivessem no <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Titanic</strong> após
bater no iceberg, sem coletes salva vidas, com o barco pegando fogo e
naves alienígenas atirando contra o barco. As editoras estão confusas e
com medo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Teremos problemas com a coleta e uso de dados sobre nossos hábitos de leitura?</strong></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Certamente.
Não vai demorar para começarmos a ver propagandas dentro dos e-books.
Mas não estou realmente preocupado com o que a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Amazon</strong> e o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Google</strong> vão saber sobre mim porque acho que já aceitei que, inevitavelmente, eles saberão das coisas de algum jeito.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Esses
dados também geram recomendações de leitura. Essa facilidade pode ter
um lado ruim, como afastar o leitor de clássicos em prol de
best-sellers?</strong></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Algum
conteúdo poderá ser negligenciado com toda certeza. O problema de
livros clássicos é que eles não são sexy e não são promovidos na página
de entrada da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Amazon</strong> porque
a empresa não vai ganhar dinheiro com eles. O que menos gosto da virada
do livro para o digital é a cultura do momento. Recomendamos apenas
coisas atuais. Ferramentas de recomendação precisam melhorar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Você já declarou em entrevistas que é difícil amar a Amazon…</strong></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Acho
que o papel das empresas maiores não é estar na minha cara enquanto eu
estou lendo. Elas podem ser mais sutis e acredito que esse é um papel
que a Amazon faz mal. Hoje os varejistas conseguem aprender quem você é.
Seria interessante se essas informações fossem repassadas para as
editoras criarem conteúdo. Mas os varejistas retêm todos os dados. É por
isso que o sistema está quebrado.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">O que acontecerá com a palavra escrita?</strong></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Eu
realmente acho que o futuro da palavra escrita é ser falada, porque a
escrita é devagar. Os livros do futuro serão falados porque tudo gira em
torno da fala hoje em dia. Aparelhos como o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">iPhone</strong>, com a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Siri</strong>, permitem que você fale ao telefone o que você quer fazer.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Acredita que bibliotecas e livrarias vão mesmo acabar?</strong></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Não
acho que o futuro será bom. Meus estudos mostram que nos últimos três
anos os alunos gastaram 70% menos tempo nas bibliotecas das
universidades. Onde eles estão pegando informação? Na <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/531853-wikipedia-a-conquista-civilizatoria-do-seculo" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Wikipédia</a> ou
em sites. As lojas de livros não conseguirão sobreviver e vão
desaparecer. Sobrarão apenas algumas, especializadas em livros
impressos, como as que vendem discos de vinil.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">
Vão permanecer no mercado <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/517400-o-google-sabe-o-que-voce-estava-pensando-diz-assange" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Google</a> e <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Amazon</strong>, infelizmente. Conheço as pessoas da<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Amazon</strong>.
E elas não se importam com o que você quer como consumidor. Elas se
importam em como conseguir mais lucro. Uma maneira de fazer isso é
empurrando livros populares, negligenciando outros. E infelizmente as
pessoas vão aceitar. A curadoria de títulos está na mão dos varejistas</span></div>
<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-51435937717602103852014-09-06T18:27:00.000-03:002014-09-06T18:27:00.589-03:00A NSA tem um programa secreto que funciona sem intervenção humana<div id="WM01-bodyContent">
<div>
<div class="headline" style="border: 0px none; color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 12px; line-height: 15px; margin: 0px 0px 10px; outline: 0px; overflow: hidden; padding: 0px; width: 637px; word-wrap: break-word;">
<div class="headline_info" style="border: 0px none; float: left; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; position: relative;">
<h2 class="contentheading" style="border: 0px none; display: table-cell; font-size: 36px; letter-spacing: -1px; line-height: 36px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px 0px 4px; vertical-align: top; width: 637px;">
<br /></h2>
</div>
<div style="border: 0px none; clear: both; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
</div>
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div id="texto-aumenta" style="border: 0px none; color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 16px; line-height: 15px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">
</span><div class="article_text" style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">De acordo com as últimas revelações de <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/525140-snowden-nos-abriu-os-olhos-afirma-chanceler-equatoriano" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Edward Snowden</a>, a Agência de Segurança Nacional estadunidense dispõe de um programa secreto chamado <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">MonsterMind</strong>, ele é capaz de responder aos ataques cibernéticos sem intervenção humana.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A reportagem é publicada por <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Rt.com</strong>, 13-08-2014. A tradução é do <a href="http://www.ihu.unisinos.br/cepat/cepat-programacao/527327-introducao-a-giorgio-agamben" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Cepat</a>.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Em sua última revelação, o ex-funcionário da CIA <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Edward Snowden</strong> disse a revista <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Wired</strong>que a NSA conta com um programa secreto de funcionamento autônomo chamado<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">MonsterMind</strong> que,
além de responder automaticamente a ciberataques, poderia causar um
pesadelo diplomático internacional visto que os ataques lançados pelo
próprio programa recorrentemente interferem nos computadores de
terceiros, alojados em países estrangeiros.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">E o mais grave: “Estes ataques podem ser falsificados”, assegurou <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Snowden</strong>.
“Poderíamos ter alguém sentado na China, por exemplo, fazendo com que
pareça que quem realizou o ataque originalmente esteja na Rússia. E
então terminamos “disparando” contra um hospital russo. O que ocorreria
depois?”.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Snowden</strong> também
mencionou que os EUA poderiam ter estado por detrás do apagão massivo
da Internet na Síria em 2012, quando o país estava em plena guerra
civil. Os EUA teria tentado ter acesso ao trafego do país árabe, e uma
falha durante o processo poderia ter causado a avaria.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">José Luis Camacho</strong>, pesquisador de conspirações e blogueiro, questiona a legitimidade do funcionamento do programa <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">MonsterMind</strong> já
que – segundo ele -, poderia violar a constituição dos Estados Unidos.
“Nos EUA a própria Quarta Emenda proíbe-os de fazer um monitoramento das
comunicações particulares e este sistema está infringindo a Quarta
emenda”, explica para a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">RT</strong>.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Na última quinta-feira o Serviço Federal de Migração da Rússia aprovou a petição de<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Edward Snowden</strong> de prolongar seu asilo temporal no país, como informa o advogado do ex-funcionário, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Anatoli Kucherena</strong>. “É impossível à extradição de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Snowden</strong> aos EUA”, assegurou o advogado.</span></div>
</div>
</div>
</div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-26200900262371070492014-08-30T18:07:00.000-03:002014-08-30T18:07:00.591-03:00Pikettismos: relexões sobre o Capital no Século XXI [1]<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: 'Times New Roman'; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"></span>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Ladislau Dowbor</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">26 de julho de 2014</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><i><span style="font-family: 'Tms Rmn';">O
livro de Thomas Piketty está nos fazendo refletir, não só na esquerda,
mas em todo o espectro político. Cada um, naturalmente, digere os
argumentos, e em particular a arquitetura teórica do volume, à sua
maneira. Os números de páginas se referem ao original francês.</span></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><b><span style="font-family: 'Tms Rmn';">1 A desigualdade na mira</span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">A
verdade é que Thomas Piketty, com a força da juventude e uma saudável
distância das polarizações ideológicas que tanto permeiam a análise
econômica, abriu novas janelas, trouxe vento fresco, nos permitiu
deslocar a visão. Se bem que o problema da distribuição da renda sempre
estivesse presente nas discussões, a teoria econômica terminou
centrando-se muito mais no PIB, na produção de bens e serviços, e muito
insuficientemente na repartição e nos mecanismos que aumentam ou reduzem
a desigualdade.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Esta
atingiu níveis obscenos. Quando uma centena de pessoas são donas de
mais riqueza do que a metade da população mundial, enquanto um bilhão de
pessoas passa fome, francamente, achar que o sistema está dando certo é
prova de cegueira mental avançada. Mas para muita gente, trata-se
simplesmente de incompreensão, de desconhecimento dos mecanismos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">A
lenta dissipação da neblina que cerca o problema da desigualdade vem
sendo construída nas últimas décadas. Basicamente, enquanto a partir dos
anos 1980 o capitalismo entra na fase de dominação dos intermediários
financeiros sobre os processos produtivos – o rabo passa a abanar o
cachorro (<i>the tail wags the dog</i>)é a expressão usada por
americanos como Joel Kurtzmann – e com isto passa a aprofundar a
desigualdade, foram se construindo, com grande atraso, as análises das
implicações.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Um
amplo estudo do Banco Mundial ajudou bastante ao mostrar que
basicamente quem nasce pobre permanece pobre, e que quem enriquece é
porque já nasceu bem. É a chamada armadilha da pobreza, a <i>poverty trap. </i>Esta
pesquisa mostrou que a pobreza realmente existente simplesmente trava
as oportunidades para dela sair. Com Amartya Sen passamos a entender a
pobreza como falta de liberdade de escolher a vida que se quer levar,
como privação de opções. O excelente <i>La Hora de la Igualdad</i> da
CEPAL mostrou que a América Latina e o Caribe atingiram um grau de
desigualdade que exige que centremos as nossas estratégias de
desenvolvimento em torno a esta questão. Isto para mencionar algumas
iniciativas básicas. O livro do Piketty não surge do nada, sistematiza
um conjunto de visões que vinham sendo construídas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">E
há naturalmente o acompanhamento do desastre crescente através de
tantas instituições de estudos estatísticos. Hoje conhecemos o tamanho
do rombo, temos dados para tudo, sabemos quem são os pobres. O <i>The Next 4 Billion </i>do
Banco Mundial mostra que temos quase dois terços da população do
planeta “sem acesso aos benefícios da globalização”, os dados do
Relatório sobre o Desenvolvimento Humano 2014 do PNUD mostram que 2,2
bilhões de pessoas vivem na pobreza, dos quais um pouco mais de um
bilhão na miséria, abaixo de 1,25 dólares ao dia. Temos inclusive os
detalhes dos 180 milhões de crianças que passam fome, de 4 milhões de
crianças que morrem anualmente por não ter acesso a uma coisa tão
elementar como água limpa. O <i>Working for the Few, </i>da Oxfam/UK,
apresenta uma visão geral da desigualdade, em particular a da riqueza
(patrimônio familiar acumulado), que ultrapassa de longe a desigualdade
da renda.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Os
nossos dilemas não são misteriosos. Estamos administrando o planeta
para uma minoria, através de um modelo de produção e consumo que acaba
com os nossos recursos naturais, transformando o binômio
desigualdade/meio ambiente numa autêntica catástrofe em câmara lenta.
Enquanto isto, os recursos necessários para financiar as políticas de
equilíbrio estão girando na ciranda dos intermediários financeiros, na
mão de algumas centenas de grupos que sequer conseguem administrar com
um mínimo de competência as massas de dinheiro que controlam. O desafio,
obviamente, é reorientar os recursos para financiar as políticas
sociais destinadas a gerar uma economia inclusiva, e para financiar a
reconversão dos processos de produção e de consumo que revertam a
destruição do meio ambiente.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Falta
convencer, naturalmente, o 1% que controla este universo financeiro
diretamente através dos bancos e outras instituições e crescentemente de
modo indireto através da apropriação dos processos políticos e das
legislações. As pessoas não entendem o que é bilionário, e realmente não
é um desafio que faz parte do nosso cotidiano. Mas uma forma simples de
entender esta estranha criatura nos é apresentada por Susan George: um
bilhão de dólares aplicados em modestos 5% ao ano numa poupança, rendem
ao seu proprietário 137 mil dólares ao dia. O que ele vai fazer com este
dinheiro? Por mais guloso que seja o bilionário, não há caviar que
resolva. O dinheiro, portanto, é reaplicado, e a fortuna se transforma
numa bola de neve, gerando os super-ricos, os que literalmente não sabem
o que fazer com o seu dinheiro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Um
segundo mecanismo a ser entendido, é a diferença entre a renda e o
patrimônio. A renda é anual – resultado de salário, de aluguéis, do
rendimento de aplicações financeiras etc. – enquanto o patrimônio (<i>net household wealth,</i> patrimônio
domiciliar líquido) – constitui a riqueza acumulada, sob forma de
casas, contas bancárias (menos dívidas), ações e outras formas de
riqueza. A verdade é que quem ganha pouco compra roupa para os filhos,
paga aluguel, gasta uma grande parte da sua renda em comida e
transporte, e não compra belas casas, fazendas e iates, e muito menos
ainda faz aplicações financeiras de alto rendimento. O pobre gasta, o
rico acumula. Sem processo redistributivo, gera-se uma dinâmica
insustentável a prazo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">O
livro do Piketty não é apenas muito bom, é oportuno. Pois é nesta
situação explosiva de desigualdade no planeta, quando até Davos (Davos,
meu Deus!) clama que a situação é insustentável, que surge uma
explicitação de como se dão os principais mecanismos que geram a
desigualdade, como evoluíram no longo prazo, como se apresentam no
limiar do século XXI, e em particular como o problema pode ser
enfrentado.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">O
raciocínio básico é simples e transparente: os avanços produtivos do
planeta se situam na ordem de 1,5% a 2% ao ano, enquanto as aplicações
financeiras dos que possuem capital acumulado aumentam numa ordem
superior a 5%. Isto significa que uma parte crescente do que o planeta
produz passa para a propriedade dos detentores de capital, que passam a
viver da renda que este capital gera, o que justamente nos leva à
fantástica concentração de riqueza nas mãos de poucos. E do lado
propositivo, esperar que mecanismos econômicos resolvam o desequilíbrio
crescente faz pouco sentido: precisamos criar ou expandir, segundo os
casos, um imposto progressivo sobre o capital. O que inclusive seria
produtivo, pois incitaria os seus detentores a buscar realizar
investimentos produtivos em vez de observarem sentados o crescimento das
suas aplicações financeiras.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Utópico?
Os ricos pagarem impostos não é utópico, é necessário. E tributar o
capital parado nas cirandas financeiras, rendendo sem produção
correspondente, é particularmente interessante. Na proposta de Piketty
para a Europa, seriam 0% para patrimônios inferiores a 1 milhão de
euros, 1% para os que se situam entre 1 e 5 milhões, e 2% para os acima
de 5 milhões. Não é trágico, não deve levar os muito ricos ao desespero,
e geraria o equivalente a 2% do PIB europeu (cerca de 300 bilhões de
euros), o suficiente para liquidar por exemplo o endividamento público
em pouco anos, e tirar os países membros das mãos dos intermediários
financeiros. (889). Seria um bom primeiro passo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Novo?
Não, não é novo, mas é apresentado no livro do Piketty de maneira muito
legível (inclusive para não economistas), extremamente bem documentada,
e com uma clareza na explicação passo a passo que transforma a obra
numa ferramenta de trabalho de primeira ordem.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><b><span style="font-family: 'Tms Rmn';">2 O lugar da ciência econômica</span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Chamar
a economia de ciência faz parte do problema. Faz parecer que há leis
imutáveis, como as da física, que uma vez descobertas permitem ações
racionais. Piketty, citando Josiah Wedgwood, considera que “as
democracias políticas que não democratizam o seu sistema econômico são
intrinsicamente instáveis”. (821) Democratizar o sistema econômico
implica justamente a intervenção do “demos”, do povo, sobre o sistema
econômico. O que significa que estamos falando não de mecanismos
imutáveis, mas de regras do jogo politicamente definidas e decididas,
para que a economia funcione para o proveito de todos, ou, segundo o
maior ou menor grau de democracia, o proveito de poucos. Isto também
significa que as regras do jogo econômico podem ser alteradas, por serem
regras políticas. Reconstitui-se assim o elo entre a economia e os
processos democráticos.[2]</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Um dos aportes fundamentais do <i>Capital no Século XXI</i>,
é o de recolocar a economia no seu devido lugar, como uma das áreas das
ciências sociais, voltando com isto a ser “economia política”, como na
sua origem, ou seja, o estudo da dimensão econômica dos diversos
processos da reprodução social. Com isto, o estudo dos mecanismos
econômicos volta a ter pé e cabeça, ao ser compreendido nas suas
complexas interações com a política, com os mecanismos de poder sob suas
diversas formas, com os valores sociais das diferentes épocas e
culturas. A desigualdade deixa de ser vista como o resultado de leis
duras mas inevitáveis, mas como uma construção política que pode ser
alterada. E a desigualdade que hoje vivemos, vista essencialmente como
uma deformação da própria democracia. É o que Irving Fischer chamou de <i>an undemocratic distribution of wealth, </i>distribuição não-democrática de riqueza. (817)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Se isto pode parecer evidente, e para muitos de nós sempre foi, a realidade é que para o <i>mainstream </i>econômico,
até ontem, as desgraças do mundo resultavam do fato que as políticas
públicas estavam deformando as leis naturais da economia, que tinham a
mágica virtude de restabelecerem os equilíbrios. Durante quanto tempo
nos foi repetida a fábula da mão invisível? A imensa popularidade de
Milton Friedman e da Escola de Chicago não resultou de qualquer
criatividade científica particular, mas do fato de terem desenvolvido
cálculos destinados a mostrar que a injustiça era de certa forma justa:
era conforme às leis econômicas. Vestir a ganância dos interesses
dominantes com respeitabilidade acadêmica rende.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Inventar
aparências de justificação científica para o enriquecimento maior dos
ricos rende muito. Como aparece tão bem no documentário <i>Inside Job </i>(Trabalho
Interno), a Alta Academia e Wall Street passaram a trabalhar de mãos
dadas, colonizaram o FED e o Tesouro, reduziram pela metade os impostos
sobre os ricos, e geraram uma crise planetária. “A taxa marginal do
imposto sobre a herança, aplicada aos níveis mais elevados nos Estados
Unidos, passou de 70% em 1980 para 35% em 2013”. (811) O mesmo processo
foi utilizado relativamente aos países mais pobres: “A partir dos anos
1980-1990, a nova onda ultraliberal vinda dos países desenvolvidos impõe
aos países pobres cortes nos setores públicos e coloca no último grau
de prioridades a construção de um sistema fiscal propício ao
desenvolvimento. (789) É a herança, aliás, que hoje enfrentamos no
Brasil.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">A
crise de 2008 deixou as coisas mais claras. O resgate veio, como em
1929, da volta do Estado como instrumento central de regulação
econômica. O que foi a lei de regulação Glass-Steagall após a crise de
1929, hoje tenta-se recuperar com a lei Dodd-Frank. Ambas duramente
combatidas, então como hoje, pelo universo de intermediários
financeiros, os que vivem de taxar a produção e consumo dos outros. Aqui
não há complexidades teóricas da ciência econômica, e sim a luta nua e
crua, com propinas, lobbies e ameaças, guerras e derrubadas de governos,
pelo enriquecimento dos mais ricos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">“Eu não concebo outro lugar para a economia, escreve Piketty no subtítulo <i>Por uma economia política e histórica,</i> do
que como subdisciplina das ciências sociais, ao lado da história, da
sociologia, da antropologia, das ciências políticas e de tantas
outras…Não gosto muito da expressão ‘ciência econômica’, que me parece
terrivelmente arrogante e que poderia nos fazer acreditar que a economia
tenha atingido uma cientificidade superior, específica, distinta da
‘economia política’, talvez um pouco velhinha <i>(viellotte)</i>, mas
que tem o mérito de ilustrar o que me parece ser a única especificidade
aceitável da economia no seio das ciências sociais, a saber a visão
política, normativa e moral”. (945)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">No
plano propositivo, trata-se de resgatar o conhecimento histórico: “A
experiência histórica continua sendo a nossa principal fonte de
conhecimento”(947). Isto leva a um conselho muito saudável: “Os outros
pesquisadores em ciências sociais não devem deixar o estudo dos fatos
econômicos aos economistas, e devem parar de sair correndo logo que
aparece uma cifra, e de se contentar em dizer que cada cifra é uma
construção social, o que é naturalmente sempre verdadeiro, mas
insuficiente.”(947) Precisamos entender “as instituições, as regras e as
políticas que terminam por modelar as evoluções econômicas e sociais. É
possível, e até indispensável, ter uma abordagem que seja ao mesmo
tempo econômica e política, salarial e social, patrimonial e
cultural.”(949) ) Assim, o binômio riqueza e poder só pode ser analisado
e entendido como amplo processo social e político, como realidade total
e complexa. Aqui, a economia volta ao seu lugar, como economia
política, conjunto de ferramentas analíticas que adquirem riqueza e
sentido através da articulação com as outras ciências sociais, e onde a
ética retoma o seu devido lugar.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><b><span style="font-family: 'Tms Rmn';">3 Renda e patrimônio</span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Se
uma pessoa constrói uma casa, realizou um investimento. Se vendeu a
casa e aplicou o dinheiro para render juros, realizou uma aplicação
financeira. A construção da casa gerou um novo bem na economia, a
aplicação financeira não mudou o estoque de riqueza do país. Houve
apenas uma transferência: quem tinha o dinheiro agora tem uma casa, e
quem tinha uma casa agora tem o dinheiro. Para os americanos, fica
bastante confuso, pois eles usam a palavra <i>investment </i>para tudo, inclusive para atividades especulativas. Em francês fica bem claro, <i>investissements</i>e <i>placements financiers. </i>No
Brasil temos também a distinção, investimento e aplicação financeira,
mas os bancos insistem em chamar tudo de investimento, fica parecendo
mais nobre, e gera ilusão de serem produtivos. Os bancos podem até
financiar um empreendedor que vai criar uma empresa de produtora de
móveis, por exemplo, mas aqui o investidor é o empresário, e o banqueiro
é um intermediário financeiro que realoca aplicações financeiras. A
confusão é desnecessária, e frequentemente proposital. Pode-se jantar
numa mesa, não nos papéis que representam o seu valor.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Com
o conceito de renda temos um problema semelhante. A minha renda decorre
do meu trabalho, descontada na folha pois sou assalariado. Mas quando
falamos que alguém “vive de rendas”, não pensamos no seu rendimento como
fruto direto do trabalho. É um rentista, na definição do Houaiss
“aquele que vive exclusivamente de rendas”. Em inglês, desta vez fica
mais claro, pois não se chama tudo de “renda” como no Brasil.
Diferencia-se claramente <i>income </i>e <i>rent. </i>Em francês, falaremos em<i>revenu </i>e <i>rente, </i>termos igualmente bem diferentes. No Brasil, temos o <i>rentista, </i>mas
não temos a palavra “renta”. Seria útil aqui, adotar o conceito de
rendimento, no sentido que usa Piketty, ao se referir por exemplo ao
rendimento do capital (<i>rendement du capital</i>). (142)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">As
distinções, aqui, são fundamentais, porque a desigualdade assume
diversas formas e tem várias fontes. Fiquemos aqui acordados que para
fazer a economia crescer precisamos de investimentos, e que o resultado
do crescimento econômico vai se manifestar, ao fim a ao cabo, na
capacidade de compra diferenciada de cada família. Esta capacidade de
compra é representada pela renda familiar anual, que provém tanto da
renda do trabalho, como de rendimentos de diversas aplicações
financeiras. Aqui, as coisas ficam bastante mais claras, pois no nível
da família, como unidade básica, existe um fluxo anual de renda, e um
estoque de patrimônio acumulado, que também chamamos de riqueza.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Os
estudos de concentração de renda, que nos dão por exemplo medidas de
desigualdade como o coeficiente de Gini, medem essencialmente a renda
anual disponível para as famílias, segundo as classes de renda. Mas não
nos informam sobre as fontes desta renda. Estudos sistemáticos da
desigualdade de riqueza, de patrimônio familiar, são relativamente
recentes. O WIDER (World Institute for Development Economics Research),
ou o Crédit Suisse, por exemplo, já permitem estudos comparativos
relativamente sérios, e Piketty se lamenta do começo ao fim do livro com
a impressionante escassez de informações sobre a quem pertence afinal a
riqueza que a sociedade cria. Ter de recorrer a fontes de glamourização
de fortunas como Forbes para ter informações indispensáveis à análise
dos desequilíbrios econômicos é cientificamente lamentável e
tecnicamente insuficiente. Tanto se fala em transparência dos serviços
públicos, mas sobre o imenso estoque, alocação e usos dos capitais
privados estamos simplesmente com um impressionante déficit de
informações.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">O
rendimento do capital, sob suas diferentes formas – juros, aluguéis,
dividendos de ações etc. – pressupõe poupança para que o capital se
forme, o que com maior frequência surge da herança de um capital que
tanto mais facilmente se acumula na família quanto menos filhos as
famílias possuem. A realidade básica, é que os dois terços da população
mundial simplesmente não auferem renda anual suficiente para poupar e
acumular patrimônio. E como não têm patrimônio acumulado, vivem apenas
da renda do trabalho, o que raramente possibilita a formação de um
capital capaz de reforçar a renda e ir gradualmente acumulando riqueza. O
pobre compra roupa, aluga casa, às vezes até consegue comprá-la mas se
endivida para pagar durante décadas, ou seja, consome o que recebe.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Um
bilionário, para pensarmos grande, parte de outro patamar. Um bilhão de
reais aplicados a 5% ao ano, o que não constitui nenhuma remuneração
excepcional, rendem ao bilionário 137 mil reais ao dia. Como este
rendimento não pode ser absorvido pelo consumo individual, transforma-se
em mais aplicações, gerando uma espiral ascendente de enriquecimento,
enquanto a renda das famílias na base da sociedade estagna. Gera-se
assim um processo cumulativo de desigualdade. A partir de um certo
nível, o grosso do ganho resulta não do esforço produtivo, mas do
próprio mecanismo de aplicações financeiras.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Nas
cifras da tabela acima, do Crédit Suisse, banco que tem tudo para
entender de fortunas acumuladas, constatamos que 0,7% da população
mundial, 32 milhões de pessoas, se apropriaram de 41% da riqueza do
planeta (patrimônio acumulado, não renda), enquanto 68,7%, 3,2 bilhões
de pessoas com patrimônio inferior a 10 mil dólares têm apenas 3%. Como
ordem de grandeza para ficar na memória, 1% dos mais ricos detém a
metade do patrimônio da humanidade, enquanto os dois terços mais pobres
detêm 3%. Não há como equilibrar politicamente o planeta com esta
situação, e muito menos quando está se agravando. Cifras muito mais
impressionantes ainda se referem aos super-ricos, os 0,1 e 0,01% da
população mundial, onde esta concentração cresce exponencialmente.[3]</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Não
só a riqueza se acumula no topo da pirâmide social, mas o rendimento
financeiro. Os muito ricos aplicam em papéis que cujo rendimento é muito
superior ao crescimento da economia em geral. As grandes fortunas,
inclusive, permitem aplicações financeiras de alto rendimento, muito
além das pequenas aplicações típicas da classe média, por poderem pagar
especialistas na gestão das suas fortunas. Tomando o exemplo do fundo de
aplicações da universidade de Harvard, cujos dados são abertos e
detalhados no longo prazo, trata-se de rendimentos da ordem de 10%
líquidos ao ano, enquanto a economia cresce entre 1,5 e 2%. Aqui não há
mistérios: quando uma minoria se apropria sistematicamente de recursos
em ritmo muito superior ao crescimento da produção, gera-se um
desequilíbrio cumulativo catastrófico. Catástrofes, aliás, que pontuaram
os reajustes estruturas das crises e guerras do século passado. É tempo
de constituirmos uma política econômica que enfrente esta dinâmica, que
já tem sido qualificada justamente de<i>slow-motion catastrophe, </i>catástrofe em câmara lenta.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">O
fato do livro do Piketty se basear na distinção entre o fluxo anual de
renda e o estoque de riqueza acumulada, permite assim deixar muito mais
claro o processo cumulativo de desigualdade que se construiu na
sociedade moderna. Como além disto o poder político dos mais ricos
permitiu passar leis que desregulam a especulação financeira e que
reduzem drasticamente o imposto sobre a fortuna ou sobre transmissões de
herança, fica clara a falha estrutural do sistema em termos de
equilíbrios de longo prazo.[4] “A evolução geral não deixa nenhuma
dúvida: para além das bolhas, estamos assistindo sim a um grande retorno
do capital privado nos países ricos desde os anos 1970, ou melhor, à
emergência de um novo capitalismo patrimonial”.(273)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">As
projeções para o nosso século, que é o que Piketty busca delinear,
mostram a necessidade de intervenções reguladoras: “Uma conclusão parece
desde se delinear com com clareza: seria ilusório imaginar que exista
na estrutura do crescimento moderno, ou nas leis da economia de mercado,
forças de convergência que levem naturalmente a uma redução das
desigualdades patrimoniais ou a uma harmoniosa estabilização” (598)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><b><span style="font-family: 'Tms Rmn';">4 Riqueza e merecimento</span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">A
riqueza dos ricos é merecida? Quando os gestores ganham 300 vezes mais
do que os trabalhadores na base da empresa, distância impressionante e
que cresceu dramaticamente nas últimas décadas, podemos sem dúvida nos
colocar questionamentos éticos. Eles, naturalmente, não têm 300 vezes
mais filhos. Nem produzem 300 vezes mais. Ademais, ninguém precisa de
tanto dinheiro, tanto assim que o essencial destes ganhos se transforma
em aplicações financeiras, que simplesmente drenam recursos que poderiam
dinamizar atividades produtivas para assegurar rendimentos financeiros.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">A
defesa da desigualdade mais generalizada é a que consiste em
desqualificar quem a denuncia: seria um invejoso. O fenômeno
provavelmente existe, mas a imensa maioria das pessoas quer simplesmente
que o sistema funcione, assegurando a cada qual uma escola decente para
os filhos, uma cerveja ou um vinho no fim de semana, a tranquilidade de
um sistema de saúde acessível, um ambiente de vizinhança aprazível e
razoavelmente seguro, e a redução da permanente ameaça do drama maior: a
perda do emprego, o sofrimento e humilhação de não poder sustentar a
própria família. François Villon exprimiu isto nesta belíssima prece do
século 15º: “Senhor, meu Senhor dos olhos verdes…a cada qual dê um
pouco, e não se esqueça de mim.” Nunca é demais recordar que com o que
produzimos hoje no Brasil, se fosse repartido de maneira equilibrada,
teríamos algo como 7 mil reais por mês por família de 4 pessoas. Não se
trata de inveja, e sim de bom senso e funcionalidade. E de um pouco de
justiça também.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Muito
mais provável é a vontade de se ver invejado. Desde Veblen sabemos a
importância de parecer importante, e em particular de cobrir de coisas
caras a nossa eventual falta de importância. As ‘importâncias’ que se
tornaram proprietárias de apartamentos de 20 milhões na margem do rio
Pinheiros, em São Paulo, têm de viver de janelas fechadas pelo fedor que
emana deste esgoto a céu aberto, e enfrentam com ar condicionado a
visibilidade do seu status. Inúmeros estudos, nos mais diversos países,
mostram que acima de um nível relativamente modesto de renda, dinheiro a
mais não aumenta a felicidade. Deverá ser procurada na criatividade, na
riqueza do convívio e não das compras, no resgate do tempo livre, por
vezes no prazer de um joguinho de praia ou de várzea onde o espaço é
gratuito e as pessoas se tornam iguais. O problema não está na inveja,
mas na idiotice de pessoas desorganizarem a sociedade através de
batalhas comerciais e financeiras sem sentido, e que sequer as deixam
mais felizes.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">É
importante aqui lembrar a imagem inversa: o dinheiro na base da
sociedade gera sim muita felicidade. Uma família poder guardar água
fresca, comida e medicamentos na geladeira altera muito a qualidade de
vida. Ou seja, a compra do básico, o alimento, o acesso a uma casa
decente, todos estes elementos não só trazem e multiplicam felicidade,
como asseguram a dinamização de um conjunto de atividades econômicas,
ampliam a base de empregos, reduzem o impacto dos ciclos de crises
econômicas. A este consumo é preciso acrescentar a importância crescente
do consumo coletivo: o acesso universal à educação, saúde,
infraestruturas de lazer e esporte e outros bens públicos e gratuitos em
muitos países ricos assegura economias de escala na sua produção, gera
uma igualdade de chances à partida para os mais jovens, e reduz
dramaticamente as tensões sociais. O dinheiro é tanto mais produtivo
quanto mais se reparte de maneira equilibrada. Um candidato a empresário
precisaria sem dúvida de mais dinheiro para poder investir, mas para
isto existe o crédito, quando alocado sob forma de fomento econômico e
não de complexos mecanismos de especulação financeira.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Um
elemento essencial na visão de Thomas Piketty, é que uma parte
desproporcional dos recursos termina parando nas mãos de uma ínfima
minoria. Aqui estamos falando de menos de 1% da população. Lembremos,
como vimos acima, que na pesquisa do Crédit Suisse, 0,7% da população
mundial é dona de 41% da riqueza acumulada, 99 trilhões de dólares (o
PIB dos Estados Unidos é de 14 trilhões, o PIB mundial da ordem de 80
trilhões). Estamos falando, portanto, não da classe média, e sim dos
ricos, os chamados HNWI, ou <i>High Net Worth Individuals.</i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Uma
forma de analisar as fortunas, é ver a que servem. Para já, não para o
consumo, ainda que algumas formas espalhafatosas de consumo conspícuo
deem na vista. Piketty faz o cálculo seguinte: “Com um capital de 10
bilhões de euros, basta destinarem o equivalente a 0,1% do capital ao
consumo para financiar um modo de vida de 10 milhões de euros
(aproximadamente 35 milhões de reais por ano). Se o rendimento obtido é
de 5%, isto significa que a taxa de poupança sobre este rendimento é de
98%; atinge 99% se o rendimento é de 10%; de qualquer forma, o consumo é
insignificante”. Portanto, a quase totalidade do rendimento do capital
pode ser aplicada. Trata-se aqui de um mecanismo econômico elementar,
mas apesar disto importante, e cujas consequências temíveis são muito
frequentemente subestimadas, em termos de dinâmica de longo prazo para a
acumulação e a repartição dos patrimônios. O dinheiro tende por vezes a
reproduzir-se por si só.”(703)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Portanto,
ainda que tenham frequentemente origem numa atividade produtiva, as
fortunas acumuladas tendem a aumentar de forma cumulativa, por meio das
aplicações financeiras, gerando uma espiral descontrolada. Estes
recursos, por sua vez, em mãos dos grandes intermediários financeiros a
quem são confiados para a sua administração (bancos, <i>hedge funds</i> e
fundos especulativos diversos) conferem ao sistema financeiro um poder
radicalmente superior aos próprios sistemas produtivos. Lembremos aqui a
pesquisa do ETH, o Instituto Federal Suiço de Pesquisa Tecnológica: no
conjunto das grandes corporações do planeta, apenas 147 grupos controlam
40% do total dos recursos, sendo que 75% destes grupos são bancos. Esta
concentração, levando à financeirização da economia hoje amplamente
estudada, está na origem da crise financeira mundial de 2008 e da
desorganização das finanças públicas.[5]</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Esta
distinção clara que Piketty utiliza no seu estudo, entre rendimentos
que resultam de produção e os que resultam do patrimônio acumulado,
permite portanto entender por que razão há tanta riqueza acumulada,
tantos bilionários, e tão fraca dinâmica econômica. Não são os
produtores que manejam o planeta, e sim os grandes intermediários, que
cobram pedágio sobre diversas atividades produtivas, e frequentemente
mudam as leis, evitam os impostos, desequilibram a economia. Esta
compreensão permite por sua vez justificar, questão que veremos mais
adiante, um imposto progressivo sobre o capital, obrigando os que o
detêm a buscar a sua utilização produtiva, através de investimentos na
economia real. “Claramente, nos diz Piketty, a fortuna não é apenas
questão de mérito”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><b><span style="font-family: 'Tms Rmn';">5 – A origem das fortunas</span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">A
origem das fortunas, e por sua vez das desigualdades, nem sempre se
localiza numa garagem, e muito menos a sua reprodução e ampliação
ulterior. Basicamente, se trata de heranças, de aplicações financeiras, e
dos mega-saláriosde executivos em algumas grandes corporações. As
dinâmicas, naturalmente, são frequentemente articuladas. E tende a jogar
um papel importante o controle ou capacidade de pressão sobre os
governos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Piketty nos traz o exemplo de Liliane Bettencourt, a partir dos artigos da <i>Forbes</i>.
A sua fortuna, hoje de 23 bilhões de dólares, lhe veio por herança,
pois nunca trabalhou. Mas o que herdou inicialmente, foram 2 bilhões de
dólares, que devidamente aplicados foram e continuam crescendo ao ritmo
de 10% a 11% (descontada a inflação).(702) Temos aqui na origem uma
invenção e atividade produtiva, a tecnologia L’Oréal de tintas para
cabelo, desenvolvida em 1907, mas depois é só deixar o dinheiro crescer.
Quando subimos para o 1% dos mais ricos, o essencial dos rendimentos
provém de aplicações financeiras: “As ações e participações empresariais
compõem a quase totalidade das fortunas mais importantes”.(408)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">“Os
empreendedores tendem assim a se transformar em rentistas, não somente
na passagem das gerações, mas igualmente no decorrer de uma mesma
vida”.(708) O que leva Piketty a uma visão equilibrada: “Por mais
justificada que sejam à partida, as fortunas se multiplicam e se
perpetuam por vezes para além de qualquer limite e justificação racional
possível em termos de utilidade social…Toda fortuna é ao mesmo tempo
parcialmente justificada e potencialmente excessiva…Trata-se aqui da
razão central justificando a introdução de um imposto progressivo anual
sobre as maiores fortunas mundiais, única maneira de permitir um
controle democrático deste processo potencialmente explosivo, ao mesmo
tempo que se preserva o dinamismo empresarial e a abertura econômica
internacional.”(708)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Na
dimensão histórica do processo, a principal tendência global observada e
amplamente comprovada no livro, é que entre o renda do trabalho e da
inovação por uma lado, e os rendimentos patrimoniais por outro, estes
últimos se tornaram absolutamente dominantes durante a fase final do
século 19º e o início do século 20º, ruíram no processo mundial
destrutivo das duas guerras mundiais e da crise de 1929, e voltaram,
neste início do século 21º, praticamente ao nível máximo atingido na
véspera da primeira guerra mundial de 1914.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Para
dar uma dimensão mais concreta ao raciocínio, é útil acrescentar ao
exemplo acima de Liliane Betttencourt, com ganhos hoje de aplicações
essencialmente financeiras, os exemplos clássicos de Bill Gates e de
Carlos Slim, que se revezam no topo das fortunas mundiais.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">No
caso de Carlos Slim, a Oxfam nos traz uma descrição sumária: “A
privatização das telecomunicações mexicanas há 20 anos nos dá um claro
exemplo do nexo entre comportamento monopolístico, instituições legais e
de regulação insuficiente, e a desigualdade econômico que resulta.
Carlos Slim, do México, entra e sai do posto de pessoa mais rica do
mundo, possuindo uma riqueza estimada em 73 bilhões de dólares. A
enormidade desta riqueza resulta do estabelecimento de um monopólio
quase completo sobre serviços de comunicações em linhas fixas, móveis e
de banda larga no México…Uma recente pesquisa de políticas e de
regulação das telecomunicações no México, realizada pela OCDE, concluiu
que o monopólio sobre o setor tem tido um efeito negativo significativo
sobre a economia, e ocasiona um custo permanente para o bem estar dos
cidadãos que se viram obrigados a pagar preços inflados pelas
telecomunicações.”(Oxfam, 24). Para se ter uma ideia, “os rendimentos
que a sua fortuna gera poderiam pagar os salários de 440 mil
mexicanos.”(Oxfam, 9)[6]</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Temos aqui a combinação de renda de monopólio (em inglês seria <i>rent, </i>forma diferenciada de <i>income</i>),
com rendimentos financeiros, o que faz com que uma das duas maiores
fortunas do planeta tenha origem em iniciativas prejudiciais para a
economia (eliminação da concorrência pelo monopólio e esterilização da
poupança pelas aplicações financeiras. No caso brasileiro o processo se
manifesta no oligopólio Claro, Vivo e Tim. É sempre útil lembrar que
formação de cartel é crime claramente definido na nossa Constituição).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">No
caso de Bill Gates, a sua fortuna é vista como legítimo resultado de
criatividade e empreendedorismo. O texto do Piketty é aqui até
divertido: “Bill Gates aparece com todas as virtudes do empreendedor
modelo e merecedor…Sem dúvida, este verdadeiro culto se explica pela
necessidade irresistível das sociedades democráticas modernas de darem
um sentido às desigualdades…Por outro lado, imagino que as suas
contribuições se apoiaram nos trabalhos de milhares de engenheiros e de
pesquisadores em eletrônica e informática fundamental, sem os quais
nenhuma das invenções nestes campos teria sido possível, e que não
patentearam os seus artigos científicos”.(710) Temos aqui sem dúvida
também um efeito monopolístico: temos de utilizar as ferramentas que são
mais usadas, sob pena de não conseguirmos comunicar. A renda (no
sentido de <i>rent</i>) consiste aqui essencialmente do efeito de dominação, não de concorrência. O exército jurídico da Microsoft é poderoso.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Tomando
em particular o caso das grandes corporações norte-americanas, Piketty
traz uma extensa análise dos salários de executivos nas empresas
americanas, da ordem por vezes de dezenas de milhões de dólares por ano,
mas apresentados como resultado de grandes capacidades e correspondendo
à produtividade. Naturalmente, não há tanta diferença de capacidades
que justifiquem tanta disparidade, mas o problema se agrava justamente
porque este tipo de salário, fenômeno bastante recente, resulta em
aplicações financeiras de grandes recursos, reforçando a dinâmica da
desigualdade. O problema central do fenômeno dos salários dos
“super-quadros”, como os define Piketty, é que a alta hierarquia define
os seus próprios salários, o que gera uma espiral descontrolada.(498)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">A dimensão brasileira é interessante. Na listagem da Forbes apresenta-se os 15 bilionários do país.[7]</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">1) Marinho, Organizações Globo, US$ 28,9 bilhões</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">2) Safra, Banco Safra, US$ 20,1 bilhões</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">3) Ermírio de Moraes, Grupo Votorantim, US$ 15,4 bilhões</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">4) Moreira Salles, Itaú/Unibanco, US$ 12,4 bilhões</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">5) Camargo, Grupo Camargo Corrêa, US$ 8 bilhões</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">6) Villela, holding Itaúsa, US$ 5 bilhões</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">7) Maggi, Soja, US$ 4,9 bilhões</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">8) Aguiar, Bradesco, US$ 4,5 bilhões</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">9) Batista, JBS, US$ 4,3 bilhões</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">10) Odebrecht, Organização Odebrecht US$ 3,9 bilhões</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">11) Civita, Grupo Abril, US$ 3,3 bilhões</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">12) Setubal, Itaú, US$ 3,3 bilhões</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">13) Igel, Grupo Ultra, US$ 3,2 bilhões</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">14) Marcondes Penido, CCR, US$ 2,8 bilhões</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">15) Feffer, Grupo Suzano, US$ 2,3 bilhões</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Veja-se
que se trata essencialmente de bancos (concessão pública, com carta
patente, para trabalhar com dinheiro do público); de meios de
comunicação (concessão pública de banda de espectro eletromagnético para
prestar serviço de comunicação à população); de construtoras (as
grandes, que trabalham com contratos públicos, nas condições que
conhecemos); e de exploração de recursos naturais (solo, água, minérios)
que são do país e que não precisaram produzir: o Imposto Territorial
Rural, por exemplo, praticamente não existe no Brasil. É o divórcio
crescente entre quem enriquece e quem contribui para o país. Piketty é
claro: “A experiência histórica indica ademais que desigualdades de
fortuna tão desmesuradas não têm grande coisa a ver com o espírito
empreendedor, e não têm nenhuma utilidade para o crescimento”. (944)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Vemos
aqui uma vez mais o interesse da base metodológica clara e explícita do
autor, ao separar os diversos níveis de renda e fontes de
enriquecimento: “Os grupos de 10% e de 1% são definidos separadamente
para a renda do trabalho de uma lado, para o rendimento de propriedade
do capital de outro, e finalmente para a renda total, que resulta do
trabalho e do capital, fazendo a síntese das duas dimensões e que define
portanto uma hierarquia social composta que resulta das duas
primeiras”.(400)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">A
força da argumentação, da documentação e da análise trazidas pela
equipe de Piketty, com seus 15 anos de trabalho acumulado, é que casa
com outras análises que surgiram em diversos setores de pesquisa. O
livro, e o banco de dados online e aberto (com todos os dados primários
da pesquisa) que lhe dá suporte, surge num momento histórico em que
muitos agentes econômicos, sociais e políticos do planeta decidiram que
não dá mais para ignorar o elefante no meio da sala, que é o drama da
desigualdade. É uma ferramenta que surge no momento histórico certo. De
certa maneira, passamos a ter uma arquitetura conceitual muito sólida
que nos faz entender os novos desafios e alternativas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><b><span style="font-family: 'Tms Rmn';">6 A armadilha da dívida pública</span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">O
processo tem lógica. No geral, o mundo avança com uma expansão em ritmo
aproximado de 1,5% a 2% ao ano, o que é perfeitamente respeitável,
graças em particular aos avanços tecnológicos, e também ao aumento da
população. A produtividade, no entanto, não tem se transformado em
avanço correspondente da remuneração do trabalho. A quase totalidade do
aumento de riqueza produzida vai para os 10% mais ricos, e em particular
para o 1% superior. Esta renda nas mãos dos mais ricos, a partir de um
certo nível, já não tem como se transformar em consumo, e passa a ser
aplicada em diversos produtos financeiros, cuja rentabilidade está na
ordem de 5% para aplicações médias, mas sobe para 10% para aplicações de
grande vulto com gestores financeiros profissionais.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Com
o rendimento sobre o capital ultrapassando fortemente os avanços da
própria economia, na realidade gera-se um processo cumulativo de
enriquecimento relativamente maior dos que já são mais ricos. O
desequilíbrio gerado não tem como ser revertido por simples mecanismos
de mercado, e na realidade já atingimos o grau de desequilíbrio de um
século atrás, quando os mais afortunados “viviam de rendas”, mas em
nível e volume superior. Esta é a dinâmica geral, em que os avanços
gerados por produtores se veem apropriados por rentistas. É o
“capitalismo rentista” que está justamente no centro do raciocínio.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">A
dinâmica particular que vemos agora, e que aparece na parte final do
estudo do Piketty, é que os sistemas de gestão financeira que aplicam as
grandes fortunas desenvolveram um segundo mecanismo, que consiste em se
apropriar dos recursos públicos por meio da dívida pública. As pressões
da direita para ampliar o endividamento público se explica: “Em vez de
pagar os impostos para equilibrar os orçamentos públicos, os italianos –
ou pelos menos os que têm os meios – emprestaram dinheiro ao governo ao
comprar títulos do Tesouro ou ativos públicos, o que lhes permitiu
aumentar os seu patrimônio particular – sem por isto aumentar o
patrimônio nacional.” (291) O caso italiano aqui é apenas um exemplo, a
expansão da dívida pública se generalizou pelo planeta, ao mesmo tempo
que se reduziam os impostos sobre as fortunas e as operações
financeiras. Os Estados Unidos têm hoje uma dívida da ordem de 15
trilhões de dólares, para um PIB mundial da ordem de 80 trilhões.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Estas
operações, naturalmente, representam apenas transferências: “O nível do
capital nacional em primeira aproximação não mudou. Simplesmente, a sua
repartição entre capital público e privado inverteu-se
totalmente”.(294) Na realidade, “a dívida pública não constitui mais do
que um direito de uma parte do país (os que recebem os juros) sobre a
outra parte (os que pagam os impostos): portanto deve-se excluí-lo do
patrimônio nacional e incluí-lo somente no patrimônio privado”. (185)
Trata-se de rentismo público (<i>rentes publiques)</i>, que tem um
impacto particularmente desastroso quando um país enfrenta dificuldades,
pois os aplicadores em títulos públicos forçam os juros para cima,
agravando a situação, como se viu na própria Itália, na Grécia, Espanha e
tantos outros países.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">O
Estado, neste sentido, transformou-se em mais uma arena do aumento dos
patrimônios dos mais afortunados. “Existem duas formas principais de um
Estado financiar os seus gastos: pelo imposto, ou pela dívida. De
maneira geral, o imposto é uma solução infinitamente preferível, tanto
em termos de justiça como de eficácia.”(883) Esta opção pelo imposto é
explicitada: “”O imposto sobre o capital põe a carga nos que detêm
patrimônio elevado, enquanto as políticas de austeridade buscam em geral
poupá-los”. (894) Dadas as relações de força internacionais, a opção
geral que se viu, na Europa em particular, foi a da política de
austeridade, com restrições das aposentadorias e das políticas sociais,
atingindo o elo mais fraco tanto em termos econômicos como políticos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">O
caso brasileiro é emblemático, e neste sentido poderia muito bem
ilustrar as análises do pesquisador francês. A maior apropriação privada
de recursos públicos no Brasil, além de legal, criou a sua justificação
ética, a de estar combatendo a inflação: trata-se da taxa Selic. Como
muitos sabem, e a imensa maioria não sabe, a Selic é a taxa de juros que
o governo paga aos que aplicam dinheiro em títulos do governo, gerando a
dívida pública. A invenção da taxa Selic elevada também é uma inciativa
dos governos nos anos 1990. Tipicamente, passou-se a pagar, a partir de
1996, já com inflação baixa, entre 25 e 30% sobre a dívida pública. Os
intermediários financeiros passaram a dispor de um sistema formal e
oficial de acesso aos nossos impostos. Com isto o governo comprava, com
os nossos impostos, o apoio da poderosa classe de rentistas e dos
grandes bancos situados no país, inclusive dos grupos financeiros
transnacionais. Assim os governantes organizaram a transferência massiva
de recursos públicos para grupos financeiros privados.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Amir
Khair explicita a origem do mecanismo: “O Copom é que estabelece a
Selic. Foi fixada pela primeira vez em 1º de julho de 1996 em 25,3% ao
ano e permaneceu em patamar elevado passando pelo máximo de 45% em março
de 1999, para iniciar o regime de metas de inflação. Só foi ficar
abaixo de 15% a partir de julho de 2006, mas sempre em dois dígitos até
junho de 2009, quando devido à crise foi mantida entre 8,75% e 10,0%
durante um ano.”[8] Se considerarmos, para simplificar, uma taxa de 10%,
e um estoque de dívida de dois trilhões de reais, estaremos
transferindo para os grandes intermediários financeiros algo da ordem de
200 bilhões de reais por ano, pagos dos nossos impostos, e
frequentemente reaplicados para aumentar o estoque da dívida e o volume
de ganhos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Gera-se
uma monumental transferência de recursos públicos para rentistas, que
além de nos custar muito dinheiro, desobriga os bancos de fazerem
investimentos produtivos que gerariam produto e emprego. É tão mais
simples aplicar nos títulos, liquidez total, risco zero. E realizar
investimentos produtivos, financiando por exemplo uma fábrica de
sapatos, envolve análise de projetos, seguimento, enfim, envolve
atividades que vão além de aplicações financeiras. É na realidade o que
os intermediários deveriam fazer: fomento, irrigar as atividades
econômicas, sobre tudo porque estão trabalhando com o dinheiro dos
outros. Tecnicamente, o que fazem ao tirar o dinheiro do circuito
econômico e transferi-lo para a área financeira, é a esterilização da
poupança.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">No
nosso caso, a justificação política é que se trata, ao manter juros
elevados, de proteger a população da inflação. Neste ponto, o argumento
de Piketty coincide com o que Amir Khair e outros têm repetido: “A
inflação depende de múltiplas outras forças, e nomeadamente da
concorrência internacional sobre preços e salários”.(905) Mas para uma
população escaldada com inflações passadas, o argumento é poderoso,
ainda que falso. Com um massacre midiático impressionante, os juros
altos aparecem como bons (nos protegem da inflação), enquanto os
impostos aparecem como negativos (inchaço da máquina pública e
semelhantes. Os mais afortunados que deveriam pagar os seus impostos,
aplicam na dívida pública, e fazem render o que deveriam devolver à
sociedade.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">As
análises que o livro nos traz do problema da dívida pública apontam
ainda um outro problema: o caos financeiros gerado. Chipre é parte da
União Europeia, e no entanto ninguém tinha informações precisas sobre o
tipo de, origem ou interesses dos detentores da sua dívida pública,
grupos de certa forma donos de parcelas do sistema público. Revelou-se
serem dominantemente oligarcas russos, que desarticularam completamente
as tentativas do país de equilibrar as suas contas. E tem mais: de ponta
a ponta do trabalho, Piketty nos traz exemplos da ausência geral de
transparência sobre os estoques e fluxos financeiros: “os países não
dispõem nem de transmissões automáticas de informações bancárias
internacionais nem de cadastro financeiro que lhes permitisse repartir
de forma transparente e eficaz as perdas e os esforços.”(908) O sistema
financeiro atua no planeta, os Estados atuam em espaços delimitados por
fronteiras nacionais. As próprias finanças públicas, como resultado, se
vêm jogadas na ciranda.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><b><span style="font-family: 'Tms Rmn';">7 O imposto progressivo sobre o capital</span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Como
enfrentar o capitalismo patrimonial globalizado do século 21º? Esta é a
questão central colocada no estudo do Piketty. O desafio tende a
desanimar. O autor se refere, com coragem, à “utopia útil” que está
propondo. Ainda mais que é um realista, plenamente consciente “do grau
de má fé atingido pelas elites econômicas e financeiras na defesa dos
seus interesses, bem como por vezes pelos economistas, que ocupam
atualmente uma posição invejável na hierarquia americana de rendimentos,
e que têm frequentemente uma lamentável tendência a defender os seus
interesses particulares, sempre dissimulando-se por trás de uma
improvável defesa do interesse geral.” O congressista médio nos Estados
Unidos teria um patrimônio pessoal da ordem de 15 milhões de dólares,
frente ao patrimônio médio do adulto americano de 200 mil dólares. Não
vai ser fácil. (834) Vem-nos aqui à lembrança os dilemas de Lincoln ao
tentar fazer um congresso constituído por donos de escravos votar o fim
da escravidão.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">A
visão mais ampla em termos propositivos está na linha de um imposto
progressivo sobre o capital acumulado. Já que os mecanismos de mercado,
neste caso, em vez de gerar equilíbrios, geram um processo cumulativo de
desigualdade, com uma espiral descontrolada de enriquecimento cada vez
menos vinculado à contribuição produtiva, uma intervenção institucional
para organizar a redistribuição torna-se indispensável. “A ferramenta
ideal, escreve o autor, seria um imposto mundial e progressivo sobre o
capital, acompanhado de uma muito grande transparência financeira
internacional. Uma instituição deste tipo permitiria evitar uma espiral
de desigualdade sem fim e regular de forma eficaz a inquietante dinâmica
da concentração mundial dos patrimônios.”(835)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Não
se trata apenas de frear uma dinâmica descontrolada. Trata-se também de
recompor e ampliar as políticas sociais, para as quais a ação pública é
essencial. Piketty tem total clareza do peso essencial que tiveram as
políticas sociais na fase equilibrada de desenvolvimento do pós-guerra. O
Estado não é “gasto”, é prestação “de serviços públicos que beneficiam
gratuitamente as famílias, em particular os serviços de educação e de
saúde financiados diretamente pelo poder público. Estas ‘transferências <i>in natura</i>’
têm tanto valor quanto as transferências monetárias contabilizadas na
renda disponível: evitam que as pessoas interessadas tenham de
desembolsar somas comparáveis – ou por vezes nitidamente mais elevadas –
junto a produtores privados de serviços de educação e de saúde”. Tem
também clareza dos aportes de Amartya Sen, de que a políticas sociais,
ainda recentemente classificados como gastos, constituem investimentos
nas pessoas, com impactos produtivos generalizados.[9]</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Piketty
é antes de tudo um historiador da economia. A sua análise do longo
prazo permite, e isto se sente em toda a extensão do livro, um recuo
muito saudável, que permite reduzir as simplificações e reações
ideológicas. Ver descritas as declarações indignadas dos ricos, há um
século atrás, quando se iniciou a cobrança do próprio imposto de renda,
com alguns pontos percentuais apenas sobre pessoas de renda elevada, nos
dá inclusive a dimensão de que certas coisas que pareciam absolutamente
impossíveis hoje já fazem parte do cotidiano. A expansão da carga
tributária na Europa e nos Estados Unidos é que permitiu os avanços
civilizatórios: “O desenvolvimento do Estado Fiscal durante o século
passado corresponde no essencial à constituição de um Estado social.”
(765)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Piketty
mostra inclusive que as diversas formas de renda mínima, com grande
impacto social, representam custos muito limitados: Os ‘mínimos
sociais’, como os denomina, “correspondem a menos de 1% da renda
nacional, quase insignificantes na escala da totalidade dos gastos
públicos.” Aqui aflora o humanista, e a consciência da guerra
ideológica: “Trata-se, no entanto, de gastos frequentemente contestados
com a maior violência: suspeita-se os beneficiários de escolherem de se
instalar eternamente na assistência, ainda que a taxa de demanda por
estes ‘mínimos’ seja geralmente muito mais fraca do que a das outras
prestações, o que reflete o fato que os efeitos de estigma (e
frequentemente a complexidade dos dispositivos) tenda frequentemente a
dissuadir os que a elas teriam direito.” Nos Estados Unidos, o estigma
casa com o racismo pouco velado: “Observa-se que este tipo de
questionamento dos mínimos sociais tanto nos Estados Unidos (onde a mãe
solteira, negra e ociosa joga o papel de rechaço absoluto para os que
desprezam o magro <i>Welfare State </i>americano) quanto na Europa.” O
autor denuncia o “Estado carcerário” que substitui por vezes o Estado
provedor: 5% dos homens negros nos Estados Unidos estão nas
prisões.(765)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Há
portanto grandes ganhos de produtividade social através da reorientação
dos recursos e da taxação do seu uso especulativo e improdutivo. Um
outro vetor importante do imposto sobre as fortunas é a transparência
criada. Hoje, com as pesquisas do <i>Tax Justice Network </i>e outras
fontes sabemos que entre um terço e metade do PIB mundial se esconde em
paraísos fiscais, gerando uma desorganização planetária ao deformar os
tributos pagos nos países de origem, abrindo inclusive as portas para
tráfico de armas e de drogas, além evidentemente da própria evasão dos
impostos por parte de quem mais deveria pagá-los.[10]</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Daí
o caminho das propostas do livro, no sentido de se criar um imposto
progressivo mas muito baixo, para começar a organizar o gigantesco caos
planetário criado. Esta proposta, na realidade, se aproxima aqui da Taxa
Tobin, que seria uma taxação de transações financeiras internacionais,
gerando recursos sem dúvida, mas antes de tudo permitindo o registro dos
fluxos. Conforme vimos, um exemplo de imposto possível seria de isenção
ou 0,1% abaixo de 1 milhão de euros, de 1% entre 1 e 5 milhões de
euros, e de 2% entre 5 e 10 milhões e assim por diante.(943)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Mas
o argumento mais forte é que a imposição deste capital parado, que
rende sem que as pessoas precisem organizar a sua utilização produtiva,
rendendo por aplicações especulativas e frequentemente por simples
transferência dos nossos impostos (como é o caso da nossa taxa Selic),
tanto permitiria reduzir a dívida pública, como financiar mais políticas
sociais, e bancar investimentos tecnológicos e produtivos em geral. O
imposto sobre o capital já existe de forma incipiente em diversos
países, trata-se de dinamizar uma política que se tornou hoje
indispensável no nível planetário.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Utópico?
Sem dúvida. Mas já foram utópicos o imposto de renda (“os ricos nunca
aceitariam”), a renda mínima, o direito de greve e tantas outras
impossibilidades até que as ideias encontraram âncoras na mente das
pessoas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><b><span style="font-family: 'Tms Rmn';">8 Uma utopia útil?</span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Piketty
tem uma posição clara contra os excessos da desigualdade, oferece bases
empíricas extremamente sólidas para se entender quão nocivo se tornou
para a economia e para a política o reinado dos rentistas, sem ceder a
ódios nem preconceitos. No decorrer de todo o texto temos o sentimento
de estarmos acompanhando um pesquisador que tem cabeça aberta, e
profunda compreensão dos mecanismos econômicos, inclusive da hipocrisia
com a qual elites justificam as suas fortunas. É claramente um
humanista. Mas classificar a sua obra além disto resiste às nossas
divisões ideológicas tradicionais. Claramente, ele quer que o sistema
funcione, e demostra cabalmente que como está não funciona.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Por
outro lado, ao reunir e organizar um volume absolutamente
impressionante de dados, com metodologia muito transparente, inclusive
com inúmeras advertências quando os números são pouco seguros, traz o
que é a meu ver a ferramenta mais útil que surge nas últimas décadas,
para compreender as dinâmicas econômicas, sociais e políticas atuais. É
realmente uma obra prima. E como é muito bem escrito, junta-se o útil e o
agradável. São 15 anos de trabalho reunidos num volume que se lê em um
par de semanas, e se lê porque gera o prazer de entender melhor os
nossos dilemas mais significativos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Em
termos ideológicos, Piketty claramente foge às classificações. Sabe
perfeitamente que o mundo econômico adoraria declará-lo marxista, para
não precisar enfrentar os seus argumentos. O Financial Times se lançou
em contestar os números, e se deu mal: o trabalho é sólido. Krugman,
Stiglitz, até o Economist tão conservador se dizem impressionados. E os
que hesitam a fazer a lição de casa e ler o livro, podem também
descartá-lo como reformista. Eu francamente, fiz a lição de casa. E
conheço suficientemente a minha área para saber quando encontro boa
ciência.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">A
passagem que talvez melhor situe o autor é onde se refere a “uma utopia
útil”. Frente à concentração desmedida e cumulativa da riqueza em
poucas mãos, e ao caos que progressivamente se instala, ele considera
que a desigualdade se tornou o desafio principal, e o imposto
progressivo sobre o capital acumulado a principal ferramenta. Frente aos
diversos protecionismos, nacionalismos e controles que alguns países
adotam, ele vê este imposto como uma alternativa melhor: “Tais
ferramentas representam em verdade substitutos bem pouco satisfatórios à
regulação ideal que constitui o imposto mundial sobe o capital, que tem
o mérito de preservar a abertura econômica e a mundialização,
permitindo ao mesmo tempo regulá-la eficazmente e repartir os benefícios
de maneira justa tanto dentro dos países como entre eles. Muitos
rejeitarão o imposto sobre o capital como uma ilusão perigosa, da mesma
forma como o imposto sobre a renda era rejeitado há um pouco mais de um
século. No entanto, olhando bem, esta solução é mito menos perigosa do
que as opções alternativas.”(837)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Ignacy
Sachs se declara um adepto da economia mista, e eu mesmo sigo muito
esta linha. Curioso inclusive ler o recente documento oficial que traça a
orientação atual da China: “O sistema econômico da China se apoia na
propriedade pública servindo como sua estrutura principal mas permitindo
o desenvolvimento de todos os tipos de propriedade. Tanto a propriedade
pública como não pública são componentes-chave da economia socialista
de mercado”. Trata-se aqui de uma “economia de propriedade
diversificada” (<i>diversified ownership economy</i>).[11] Ultrapassando as grandes simplificações ideológicas do século passado, buscamos hoje articulações inovadoras.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">A
O “cor” política de Piketty parece se refletir nesta passagem da parte
final do livro: “O Estado-Nação permanece sendo um nível pertinente para
modernizar profundamente numerosas políticas sociais e fiscais, e
também numa certa medida para desenvolver novas formas de governança e
de propriedade partilhada, intermediária entre a propriedade pública e
privada, que é um dos grandes desafios do futuro. Mas somente a
integração política regional permite considerar uma regulação eficaz do
capitalismo patrimonial globalizado do século que se inicia”.(945)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Aqui
se caracteriza uma fase do capitalismo (patrimonial globalizado), a
expressão das diferentes escalas territoriais (o Estado-Nação e a
política regional), e a articulação de diversas formas de propriedade,
em particular a “propriedade partilhada”. Isto a meu ver caracteriza
mais os desafios do que propriamente uma tomada de posição, mas também
nos traz toda a complexidade da transição atual, em que a política
nacional não consegue regular uma economia que se globalizou, em que o
poder financeiro passou a dominar não só a economia produtiva mas os
próprios mecanismos democráticos, em que se misturam formas
diversificadas de propriedade (pública, privada, associativa), de gestão
(concessões, partilhas, cogestão), de controle (competência local,
nacional, regional) e de marco jurídico (do local até o global). A
propriedade já não é suficiente para definir o tipo de animal econômico
que temos pela frente. Podemos ter um hospital de propriedade pública,
gerido em regime de concessão a uma cooperativa de médicos, sob controle
de um conselho municipal de saúde, no quadro de um marco regulatório
estadual ou federal. Ou outras combinações. É a era da sociedade
complexa. No entanto, o “norte” permanece: não podemos continuar a
destruir o planeta em proveito de uma minoria que desarticula inclusive
os processos produtivos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">Em
termos teóricos, eu colocaria Piketty na linha relativamente mais
próxima, que é a da economia institucional. Ele não busca derrubar o
capitalismo, busca devolver ao nível político, que é onde podemos ter
uma certa democracia, um papel regulador sobre o conjunto do processo.
Eu tenho trabalhado isto na linha da “<i>Democracia Econômica</i>”, ou
seja, na visão de que a própria economia tem de ser democratizada, com
novos mecanismos de regulação, transparência, participação, controle
democrático. Com Ignacy Sachs e Carlos Lopes, no texto <i>Crises e Oportunidades em Tempos de Mudança, </i>tentamos delinear eixos propositivos nesta linha.[12]</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">O
trabalho do Piketty e de sua equipe não é uma proposta revolucionária,
mas ajudou imensamente a tornar o meio do campo mais claro. Nos dá
instrumentos para pensarmos as ferramentas, as alternativas. Para as
novas construções, a sua proposta central, que é de um imposto
progressivo global sobre o capital, torna-se um ponto de referência
necessário. Acoplada a esta proposta, e explicitada em todo o livro,
está a necessidade de gerar os sistemas informativos que permitam gerar
luz nesta caixa preta, coisa que pode ser começada em nível nacional,
mas que hoje exige um sistema mundial de informação e controle de
fluxos. Fica, naturalmente, a grande pergunta: o marco
político-institucional presente comporta este tipo de modestos avanços?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><b><span style="font-family: 'Tms Rmn';">Ladislau
Dowbor é professor de economia da PUC de São Paulo, consultor de
diversas agências das Nações Unidas, e autor de numerosos estudos
disponíveis em <a href="http://dowb.or.org/" target="_blank"><span style="color: #a16252;">http://dowb.or.org</span></a>. Contato <a href="http://mail.uol.com.br/compose?to=ldowbor@gmail.com" target="_blank"><span style="color: #a16252;">ldowbor@gmail.com</span></a></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">[1]
Thomas Piketty – Le capital au XXIº siècle – Paris, Seuil, 2013 (edição
em inglês e em espanhol disponíveis online, em português prevista para
novembro)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">[2] Sobre este tema, ver o nosso <i>Democracia Econômica, </i>Ed. Vozes 2012,<a href="http://dowbor.org/blog/wp-content/uploads/2012/06/12-DemoEco1.doc" target="_blank"><span style="color: #a16252;">http://dowbor.org/blog/wp-content/uploads/2012/06/12-DemoEco1.doc</span></a></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">[3] Sobre estes dados, ver o excelente relatório da OXFAM, 2014,<a href="http://dowbor.org/blog/wp-content/uploads/2014/01/www.oxfam_.org_sites_www.oxfam_.org_files_bp-working-for-few-political-capture-economic-inequality-200114-en.pdf" target="_blank"><span style="color: #a16252;">http://dowbor.org/blog/wp-content/uploads/2014/01/www.oxfam_.org_sites_www.oxfam_.org_files_bp-working-for-few-political-capture-economic-inequality-200114-en.pdf</span></a> ; a tabela do Crédit Suisse está na p. 9 do relatório.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">[4]
Piketty aponta “o interesse em se representar assim a evolução
histórica da relação capital/renda e de se explorar desta maneira as
contas nacionais em termos de estoque e de fluxo”. Thomas Piketty, Le
Capital au XXIº Siècle, p. 305.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">[5] Ver Rede de Poder Corporativo Mundial, 2012, <a href="http://dowbor.org/2012/02/a-rede-do-poder-corporativo-mundial-7.html/" target="_blank"><span style="color: #a16252;">http://dowbor.org/2012/02/a-rede-do-poder-corporativo-mundial-7.html/</span></a></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">[6] <i>Working for the Few, </i>OXFAM, 2014, </span><span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;"><a href="http://dowbor.org/blog/wp-content/uploads/2014/01/www.oxfam_.org_sites_www.oxfam_.org_files_bp-working-for-few-political-capture-economic-inequality-200114-en.pdf" target="_blank"><span lang="EN-US" style="color: #a16252;">http://dowbor.org/blog/wp-content/uploads/2014/01/www.oxfam_.org_sites_www.oxfam_.org_files_bp-working-for-few-political-capture-economic-inequality-200114-en.pdf</span></a></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">[7] Ver artigo em <a href="http://dowbor.org/2014/05/patrimonio-dos-15-mais-ricos-supera-renda-de-14-milhoes-do-bolsa-familia-maio-2014-3p.html/" target="_blank"><span style="color: #a16252;">http://dowbor.org/2014/05/patrimonio-dos-15-mais-ricos-supera-renda-de-14-milhoes-do-bolsa-familia-maio-2014-3p.html/</span></a></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">[8] Amir Khair, O Estado de São Paulo, 9 de setembro de 2012; ver também <i>A taxa Selic é o veneno da economia,<a href="http://criseoportunidade.wordpress.com/2014/04/09/a-taxa-selic-e-o-veneno-da-economia-entrevista-especial-com-amir-khair-abril-2014-2p/" target="_blank"><span style="color: #a16252; font-style: normal;">http://criseoportunidade.wordpress.com/2014/04/09/a-taxa-selic-e-o-veneno-da-economia-entrevista-especial-com-amir-khair-abril-2014-2p/</span></a></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">[9]
Uma sistematização particularmente bem apresentada destas novas
tendências pode ser encontrada no documento da CEPAL, das Nações
Unidas, <i>La Hora de la Igualdad, </i>com versão abreviada em português.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">[10] A este respeito, ver a nota <a href="http://dowbor.org/2012/11/os-descaminhos-do-dinheiro-os-paraisos-fiscais-parte-v-novembro-2012-7p.html/" target="_blank"><span style="color: #a16252;">http://dowbor.org/2012/11/os-descaminhos-do-dinheiro-os-paraisos-fiscais-parte-v-novembro-2012-7p.html/</span></a>; Ver também Kofi Annan, <i>How global tax could transform Africa’s fortuntes,<a href="http://dowbor.org/2013/09/kofi-annan-g20-how-global-tax-reform-could-transform-africas-fortunes.html/" target="_blank"><span style="color: #a16252;">http://dowbor.org/2013/09/kofi-annan-g20-how-global-tax-reform-could-transform-africas-fortunes.html/</span></a></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="EN-US" style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: small;">[11]China Daily, 2014, <i>The Decision on Major Issues, </i><a href="http://dowbor.org/2014/04/the-decision-on-major-issues-concerning-comprehensively-deepening-reforms-in-briefchina-daily-november-2013-12p.html/" target="_blank">http://dowbor.org/2014/04/the-decision-on-major-issues-concerning-comprehensively-deepening-reforms-in-briefchina-daily-november-2013-12p.html/</a></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: 'Tms Rmn'; font-size: 14pt;"><span style="font-size: small;">[12] <i>Crises e Oportunidades em tempos de mudança</i>, 2013,</span><a href="http://dowbor.org/2013/05/crises-e-oportunidades-em-tempos-de-mudanca-jan-2.html/" target="_blank"><span style="color: #a16252;"><span style="font-size: small;">http://dowbor.org/2013/05/crises-e-oportunidades-em-tempos-de-mudanca-ja</span>n-2.html/</span></a> ; <i>Democracia Econômica, <a href="http://dowbor.org/blog/wp-content/uploads/2012/06/12-DemoEco1.doc" target="_blank"><span style="color: #a16252;">http://dowbor.org/blog/wp-content/uploads/2012/06/12-DemoEco1.doc</span></a></i></span></div>
<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-18191748065669265622014-08-24T18:03:00.000-03:002014-08-24T18:03:00.081-03:00Supercapitalismo<div id="bodyContent">
<div>
<div>
<span style="font-size: small;">Supercapitalismo: a transformação da sociedade </span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div>
<span style="font-size: small;"> </span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div>
<span style="font-size: small;">Por Ladislau Dowbor, novembro de 2009</span></div>
<div>
<span style="font-size: small;"> </span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O estudo de Robert Reich, “Supercapitalism”, é sem dúvida
mais ambicioso que seu anterior “O futuro do sucesso”. Agora ele foca o
conjunto das nossas relações econômicas, sociais e culturais, partindo
do mesmo capital de conhecimento que lhe foi dado nos anos que passou
tentando implementar uma política mais digna nas relações econômicas, no
quadro do governo Clinton. Reich sente na ponta dos dedos como se dão
as estruturas de poder realmente existentes no que chamou de
Supercapitalismo.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Este supercapitalismo, na realidade, é simplesmente o vale-tudo
econômico e financeiro que se instalou no quadro do que temos chamado de
globalização, e cuja lógica interna o autor destrincha de maneira
impressionantemente coerente. Não é aqui um comentário simpático sobre
um livro simpático: Reich nos traz realmente uma compreensão das
dinâmicas, com inúmeros exemplos práticos de empresas e comportamentos
bem documentados, e o tipo de desafios que enfrentamos torna-se muito
mais claro. Além do mais, Reich escreve de maneira excepcional: um
comentarista do San Francisco Magazine escreveu sobre esta obra: “Reich
faz parte de uma espécie muito exótica: um economista que sabe
escrever”.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Reich parte dos bastidores: não vai culpar Margareth Thatcher,
Ronald Reagan ou Milton Friedmann pelo fim dos Anos Dourados (1945-1975,
que ele aliás qualifica de anos “não tão dourados”), e sim vai buscar
as causas nas transformações tecnológicas, na globalização resultante, e
no vale-tudo das guerras intercorporativas que de certa forma aniquilou
as capacidades dos governos fazerem política econômica no sentido
amplo. E o autor analisa extensamente a base política para este
processo: o consumismo dos prósperos, que falam mal das truculências da
Wal-Mart mas aproveitam os seus preços, e o interesse dos investidores
que adoram o meio-ambiente mas compram ações da Exxon-Mobile porque
rendem mais.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Gerou-se assim um esquizofrenia social, na medida em que como
consumidores queremos o melhor negócio, como investidores o melhor
retorno, enquanto como cidadãos queremos uma sociedade decente e
sustentável. No centro da dinâmica, temos a apropriação dos políticos
através do financiamento privado das campanhas, e a monopolização da
agenda do congresso e do executivo pelos lobbies dos grandes grupos
empresariais, com as suas gigantescas campanhas (a indústria
farmacêutica contra a regulação dos medicamentos, da indústria da saúde
contra a saúde pública etc.).</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O mecanismo de mercado, que sobrevivia nos “Anos não tão dourados”
mediante acordos relativamente equilibrados entre empresas, Estado e
sindicatos, alimentando uma ampla classe média, já não nos protege.
Wal-Mart (e outros tantos) esmagam os produtores ao usar o seu poder
para reduzir os prêços na origem, e navegam na satisfação dos
compradores e dos acionistas. Os jornais louvam. Os consumidores se
lambuzam. Gera-se uma classe de rentistas prósperos e a correspondente
concentração de renda. O meio-ambiente sofre e o consumismo leva a
impasses planetários. Mas o baile continua.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O espaço político local de regulação desaparece. “Pittsburgh já
abrigou as fábricas e operários que a Alcoa então precisava. Mas agora,
esses tipos de bens podem ser encontrados em qualquer lugar, porque as
cadeias globais de suprimentos da Alcoa os fornecem sem esforço nenhum.
Executivos da empresa negociam rotineiramente com o mundo todo. Tudo o
que a companhia precisa pode ser encontrado em Nova York, onde os
executivos da Alcoa têm acesso imediato aos melhores bancos, advogados,
consultores e profissionais de comunicação. Esse quadro de
especialistas, junto com o time da Alcoa, implanta uma cadeia global de
suprimentos e colocam no mercado os produtos e serviços da companhia de
forma a satisfazer os investidores (representados por Wall Street) e os
consumidores da Alcoa (representados pelo Wal-Mart e outras grandes
redes varejistas) na sua luta diária para obter grandes ganhos”. (119)</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Reich, por experiência adquirida, mas também por pesquisa, tem
forte desconfiança de que os comportamentos irão mudar pela boa vontade
das corporações. Inclusive, segundo ele, porque os investidores “não
sabem ou não se importam”(176). O autor cosntata que “A maioria dos
‘fundos socialmente responsáveis’conta com a participação de
praticamente todas as grandes empresas em uma típica carteira de fundo
mútuo. Em 2004, trinta e três fundos socialmente responsáveis estavam
ligados às ações do Wal-Mart, vinte e três ao Halliburton, quarenta à
ExxonMobil, e quase todos à Microsoft, em sua tentativa de resistir ao
controle de mercado. No início dos anos 2000, muitos possuíam ações da
Enron, da WorldCom e da Adelphia, e nenhuma dessas empresas eram
conhecidas por prestarem serviços públicos.”(177)</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Malvadeza das corporações? Não, lógica do sistema. Permite
remunerar bem os acionistas e oferece bons preços aos consumidores. Isto
articula a poderosa minoria dos que concentram ações, e uma classe mais
ampla de afortunados que têm capacidade de compra. E um CEO que não
alimentar estes interesses perde o cargo. A solução não está (ou não
apenas) na empresa ser decente, mas em haver leis que assegurem que esta
decência seja respeitada, e não dependa da boa vontade passageira de um
executivo. Inclusive, porque na dinâmica atual do mercado, quem
incorrer em custos maiores por respeitar determinados valores sociais,
vai perder mercado, e logo perder o emprego.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Reich tem aqui um surto de sinceridade: “Por muitos anos tenho
pregado que responsabilidade social e lucro são conquistados no longo
prazo. Isso porque uma empresa que respeita e valoriza seus
funcionários, a comunidade e o meio ambiente certamente ganha o respeito
e a gratidão dos funcionários, e de toda a comunidade – o que,
eventualmente, ajuda o bottom line. Mas eu nunca consegui provar essa
proposição, nem encontrar um estudo que a confirme.” (171)</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">As soluções, segundo Reich, não estão na recuperação da ética
corporativa, mas no resgate da capacidade do Estado negociar os pactos
necessários para uma sociedade mais equilibrada. Isto envolve, antes de
tudo, tirar o dinheiro corporativo de dentro das campanhas eleitorais, o
dinheiro do lobby do gabinete dos senadores e dos juizes, resgatando um
equilíbrio que desapareceu, entre as nossas dimensões como
consumidores, aplicadores financeiros, e cidadãos.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A perda da nossa dimensão cidadã leva à detorioração dos nossos
interesses como sociedade, e exacerbação dos nossos interesses como
indivíduos. “Se a maioria das pessoas sempre tem duas opiniões sobre o
Supercapitalismo, porque então o lado dos consumidores-investidores
sempre ganha? A resposta é que os mercados se tornaram extremamente
eficientes em oferecer as melhores ofertas para os desejos individuais,
mas são muito ruins em atingir os objetivos que gostaríamos de alcançar
juntos. Enquanto o Wal-Mart e Wall Street agregam as exigências dos
investidores e consumidores em formidáveis blocos de poder, as
instituições que agregam os valores dos cidadão estão caindo.” (126)</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Alternativas? São variadas e interessantes, e aqui aflora o
ministro do trabalho que foi: “A única maneira para os cidadãos vencerem
os consumidores e investidores em si mesmas é por meio de leis e
regulações que façam de nossas compras e investimentos uma escolha ao
mesmo tempo social e pessoal. Uma mudança na legislação trabalhista que
facilite a negociação de melhores condições para os trabalhadores pode,
por exemplo, aumentar ligeiramente o preço de produtos e serviços que se
compra – especialmente nos serviços locais que não fazem parte da
concorrência global. Meu consumidor interior não vai gostar muito disso,
mas o cidadão em mim acredita que esse é um preço justo a se pagar. Eu
também defendo um pequeno imposto sobre as vendas de ações, com o
objetivo de diminuir ligeiramente o movimento de capitais para que as
pessoas e as comunidades tenham um pouco mais de tempo para se adaptar
às novas circunstâncias. Isso poderia reduzir o retorno no meu fundo de
aposentadoria por uma pequena fração, mas o cidadão em mim acha que vale
a pena. Pela mesma razão, parece-me que deveria haver “disjuntores”
para prevenir que o número de trabalhadores em uma empresa grande e
rentável caia mais do que uma certa proporção no decorrer de um ano.”
(127)</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">“Eu não iria tão longe na re-regulação do setor de transportes
aéreos ou em estabelecer um livre comércio com a China e a Índia – isso
custaria-me muito mais como consumidor – mas eu apoiaria mais um
seguro-desemprego combinado com um seguro-salarial e treinamento
profissional para aliviar a dor dos trabalhadores que sofrem com as
consequências da desregulamentação do comércio. E eu acho que os
tratados comerciais deveriam exigir que todas as nações participantes
permitam que seus cidadãos organizem sindicatos e estabeleçam salários
mínimos, que seriam a metade do seu ganhos médios. Eu também apoiaria
uma licença familiar remunerada para que os trabalhadores possam
atualizar seus conhecimentos ou terem tempo para cuidar de um
recém-nascido ou de um parente doente. Estas disposições podem acabar
por me custar algum dinheiro, mas o cidadão em mim acredita que elas
valem o preço. Não sei como vamos criar bons empregos de classe média se
nossas escolas não forem muito melhores – o que exigirá pagamento bom o
suficiente para atrair jovens homens e mulheres talentosos para as
salas de aula do nosso país (a lei da oferta e da procura não foi
revogada na porta da escola) e contratar mais professores para que menos
crianças fiquem em cada sala de aula. Como pagar isso? Por meio de um
sistema fiscal mais progressivo. O salário líquido de CEOs, banqueiros,
gestores de fundos e celebridades chegou a um nível tão astronômico que
um imposto mais elevado sobre a remuneração não desencorajaia as pessoas
talentosas de perseguir esses trabalhos. Finalmente, eu dissociaria a
saúde e o trabalho, e utilizaria a poupança fiscal – lembre-se que um
plano de saúde pago pelo empregador é um benefício livre de impostos –
para dar acesso ao seguro saúde a todos, sem exceção.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Há muitas outras sugestões no texto. No conjunto, buscam o
reequilibramento geral do sistema através do resgate da autonomia e
capacidade negociadora do Estado, e do resgate da nossa dimensão cidadã,
relativamente às nossas dimensões como consumidores e aplicadores
financeiros. A meu ver, trata-se de um livro de fundamental importância.
Li durante um fim de semana, texto bem escrito se lê com prazer, e o
objetivo do livro, aliás, é justamente devolver esta dimensão às nossas
vidas.</span></div>
</div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-29533061249606225472014-08-21T18:00:00.000-03:002014-08-21T18:00:02.710-03:00O fenômeno da multiplicação dos empregos<div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ronaldo Lemos</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Laurel Ptak criou uma obra polêmica. A artista escreveu um
manifesto chamado "Salários pelo Facebook" exibida no museu da
Universidade da Califórnia em San Diego. De acordo com ela, todo usuário
do site deveria receber um "salário" por conta do trabalho gratuito
feito para ele (veja o texto em wagesforfacebook.com )</div>
<div style="text-align: justify;">
Apesar do exagero da obra, não dá para negar que o trabalho neste
século está mudando completamente. Muita gente hoje trabalha das 8h às
18h para seus empregadores e quando chega em casa trabalha das 18h até
tarde para várias empresas da internet.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mesmo depois da jornada "oficial", continuamos a produzir valor
para alguém quando usamos serviços on-line. Essa produção acontece até
nos tempos mortos da vida. Está esperando o elevador? Dá tempo de fazer
um ou dois posts e gerar centavos em algum lugar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Na França, o tema ganhou contornos institucionais. Um relatório do
governo francês chega a debater se o imposto sobre folha de pagamento
deveria ser estendido a esse "trabalho" feito nas redes sociais. A
premissa é de que seríamos todos funcionários (ou "microfuncionários")
de várias empresas de tecnologia. Por conta disso, o valor gerado nessas
atividades seria passível de tributação, tal como acontece na folha de
pagamento "tradicional".</div>
<div style="text-align: justify;">
É claro que essa discussão é complexa. E que o tema precisa ser
visto com lentes mais sofisticadas do que aquelas usadas no passado. Mas
é fato que as fronteiras entre trabalho, lazer e consumo estão deixando
de existir.</div>
<div style="text-align: justify;">
Um relatório do Instituto de Museus e Bibliotecas dos EUA chama
atenção justamente para o fenômeno da multiplicação dos empregos. Se no
século passado esperava-se que as pessoas tivessem no máximo 2 empregos
ao longo da vida, hoje a expectativa é que sejam entre 10 e 15.</div>
<div style="text-align: justify;">
Nesse contexto, deveria ser aceitável atualizar o currículo
profissional para incluir outras habilidades "profissionais". Por
exemplo, além de colunista da Folha, poderia adicionar: curador de
conteúdo para o Facebook, organizador de informações para o Google,
jornalista cidadão para o Twitter e o WhatsApp, corretor de imóveis para
o Airbnb, colunista social para o Instagram, agente de talentos para o
Kickstarter, DJ para o Spotify e gestor de banco de currículos para o
Linkedin.</div>
<div style="text-align: justify;">
Há quem proponha que o caminho é construir um novo pacto social
sobre a criação e uso da informação, reafirmando a separação entre
trabalho e vida. Tarefa que hoje parece utópica. Alguém conceberia um
acordo social pelo qual ninguém mais precisaria ler ou responder
mensagens nos fins de semana? Ou fora do horário de trabalho? Ao menos,
são provocações que sinalizam um desejo de que nossa relação com a
informação torne-se também sustentável.</div>
<div style="text-align: justify;">
*</div>
<div style="text-align: justify;">
JÁ ERA</div>
<div style="text-align: justify;">
Achar que games são mero entretenimento</div>
<div style="text-align: justify;">
JÁ É</div>
<div style="text-align: justify;">
Games sendo reconhecidos como plataforma para temas "sérios"</div>
<div style="text-align: justify;">
JÁ VEM</div>
<div>
"Thralled", game-ensaio sobre o período da escravidão no Brasil</div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-17462551045800545382014-08-14T15:40:00.000-03:002014-08-14T15:40:00.169-03:00O antropólogo contra o Estado
<br />
<div id="message_box">
<div id="message_box_header">
<span id="msgHeader_ctrl" style="float: right;"><br /></span></div>
<div class="msgpart clearfix" id="msgBody">
<div id="bodyContent">
<div>
<div style="text-align: justify;">
"Foi preciso a esquerda para rea<span style="font-size: small;">lizar o projeto da direita"
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"> </span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"> </span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Marcio Ferreira da Silva, um sujeito grandalhão e bem-humorado,
professor de antropologia na Universidade de São Paulo, tentava
encontrar um volume nas estantes de seu apartamento. Depois de
perscrutar as prateleiras da sala, sumiu por um instante no corredor que
levava aos quartos. “Achei”, exclamou. Trouxe lá de dentro uma edição
especial da revista L’Homme, publicada no ano 2000, em que o antropólogo
Claude Lévi-Strauss, aos 91 anos, comentava os avanços recentes de sua
disciplina.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"> </span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A reportagem é de Rafael Cariello, publicada na Revista Piaui, dezembro de 2013.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"> </span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">“Olha o que o bruxo escreveu!”, disse o antropólogo da USP. Passou
então a ler em voz alta os parágrafos finais de um artigo em que o
etnólogo francês exalta o trabalho dos “colegas brasileiros”, atribuindo
a eles a descoberta de uma metafísica própria aos índios
sul-americanos. “A filosofia ocupa novamente o proscênio da
antropologia”, escreveu Lévi-Strauss. “Não mais a nossa filosofia”,
acrescentou, mas a filosofia dos “povos exóticos”. O texto que Marcio
Silva tinha nas mãos indicava que algo havia mudado na relação da
academia brasileira com a metrópole – uma relação que poderia ser
descrita como uma via de mão única, ou quase isso, ao longo da maior
parte do século XX.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Num artigo que causou certa discussão, escrito em 1968 para a aut
aut, prestigiosa revista italiana de filosofia, o filósofo Bento Prado
Jr. registrou que resenhar, naquela publicação, as obras de seus pares
produzidas no Brasil “não implicaria nenhuma informação para o leitor
europeu”. E argumentava: “Aqui também se faz marxismo, fenomenologia,
existencialismo, positivismo.” Mas não havia novidade ou contribuição
maior: “Quase sempre, o que se faz é divulgação.” Três décadas depois,
Lévi-Strauss identificava um conjunto de ideias na fronteira da
antropologia e da filosofia que, a seu ver, o leitor europeu precisava
conhecer.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Marcio Silva havia retirado outro volume da estante. Leu o título:
Transformations of Kinship [Transformações do Parentesco]. “É a última
grande compilação de estudos da área. O último grande livro do século
XX. Tem um artigo do Eduardo”, disse, referindo-se ao antropólogo
Eduardo Viveiros de Castro, seu orientador no doutorado, nos anos 80.
Abriu o livro nas páginas finais e procurou referências bibliográficas.
Encontrou os nomes de ex-alunos de Viveiros de Castro. “Olha aqui o
Carlos Fausto. Citado em português! AAparecida Vilaça também.” O próprio
Silva também constava da lista. “Foi por causa do Eduardo que os
‘colegas brasileiros’ passaram a existir”, disse. “É muito fácil aferir
isso. Basta folhear as principais revistas da disciplina. Isso mudou. E
mudou por causa dele.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Eduardo Viveiros de Castro mora com a mulher, Déborah Danowski, e a
única filha deles, Irene, de 18 anos, num prédio antigo, estilo art
déco, na praia de Botafogo, no Rio de Janeiro. No apartamento de
pé-direito alto, estantes de livros cobrem as paredes já no pequeno
corredor que serve como hall de entrada. Na prateleira de uma delas, na
sala, vê-se uma foto antiga do antropólogo, na casa dos 20 anos, com o
cabelo comprido. Ao lado, um retrato de Bob Dylan.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Numa noite de outubro do ano passado, Viveiros de Castro criticava o
avanço do governo de Dilma Rousseff sobre a Amazônia, seus projetos de
estradas e usinas hidrelétricas, benefícios ao agronegócio – e descaso
com os direitos dos povos indígenas. Sentado no sofá, o antropólogo
comparou as ambições desenvolvimentistas da atual presidente à
megalomania da ditadura, com seu ideário de “Brasil Grande”.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">“Hegel deve estar dando pulinhos de alegria no túmulo, vendo como a
dialética funciona”, ele disse. “Foi preciso a esquerda, uma
ex-guerrilheira, para realizar o projeto da direita. Na verdade, eles
sempre quiseram a mesma coisa, que é mandar no povo. Direita e esquerda
achavam que sabiam o que era melhor para o povo e, o que é pior, o que
eles pensavam que fosse o melhor é muito parecido. Os militares talvez
fossem mais violentos, mais fascistas, mas o fato é que é muito
parecido.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Apesar da contundência, falava com calma, o tom de voz baixo. “O
PT, a esquerda em geral, tem uma incapacidade congênita para pensar todo
tipo de gente que não seja o bom operário que vai se transformar em
consumidor. Uma incapacidade enorme para entender as populações que se
recusaram a entrar no jogo do capitalismo. Quem não entrou no jogo – o
índio, o seringueiro, o camponês, o quilombola –, gente que quer viver
em paz, que quer ficar na dela, eles não entendem. O Lula e o PT pensam o
Brasil a partir de São Bernardo. Ou de Barretos. Eles têm essa
concepção de produção, de que viver é produzir – ‘O trabalho é a
essência do homem’. O trabalho é a essência do homem porra nenhuma. A
atividade talvez seja, mas trabalhar, não.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Viveiros de Castro não é um homem alto. “Oficialmente”, mede 1,68
metro, mas diz que a idade já deve lhe ter roubado 1 ou 2 centímetros.
Tem 62 anos, o cabelo e a barba grisalhos. O que se destaca em sua
fisionomia é o nariz grande, reto, quase um triângulo retângulo aplicado
ao rosto. Seus gestos são contidos e ele fala numa versão mais
atenuada, mais diluída, do sotaque carioca. Em contraste com o discurso
combativo, faz lembrar, na prosódia e nos modos, um diplomata. Afável, o
antropólogo recusa a imagem: a comparação com a elite burocrática do
país – espécie de símbolo da vida burguesa bem-comportada – não lhe
agrada.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Num texto memorialístico recente, Viveiros de Castro contabilizou
dezesseis anos de estudo, do primário à faculdade, em duas tradicionais
instituições cariocas: o Colégio Santo Inácio e a Pontifícia
Universidade Católica do Rio. “Dois estabelecimentos privados de classe
média e alta – ninguém é perfeito – de minha cidade natal, ambos
dirigidos pelos padres jesuítas”, escreveu. Seu pai pertencia a uma
família de “políticos e juristas”. Augusto Olympio Viveiros de Castro,
bisavô de Eduardo, foi ministro do Supremo Tribunal Federal e hoje é
nome de rua em Copacabana. Outro bisavô, Lauro Sodré, nome de avenida
emBotafogo, foi militar, senador e governador do Pará. Participou da
Revolta da Vacina, em 1904 – segundo o antropólogo, por ser positivista e
acreditar que o Estado “só podia chegar até a pele” dos cidadãos. “Um
argumento curioso”, comentou. “Equivocado, no caso da vacina. Mas tem
seu interesse retórico. Tendo a simpatizar com ele. Acho que o Estado
devia parar muito antes, bem longe da pele.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Do ponto de vista intelectual, Viveiros de Castro é herdeiro de
cientistas sociais que ajudaram a derrubar o senso comum de que os povos
indígenas são marcados pelo atraso em relação ao mundo ocidental. Essas
sociedades sempre foram descritas como “primitivas” por carecerem de
instituições modernas – como o Estado e a ciência.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Foi Claude Lévi-Strauss quem aposentou definitivamente a ideia de
que os povos sem escrita seriam menos racionais do que os europeus. Os
índios ocupavam um lugar próximo, nessa visão de mundo que ele ajudou a
desfazer, ao das crianças, ou dos loucos. O pesquisador francês
argumentou que havia método e ordem nas aparentemente caóticas
associações que esses povos faziam – entre tipos de animais, acidentes
geográficos, corpos celestes e instituições sociais. Eram o resultado
não da falta de razão, mas, em certo sentido, de seu excesso. O que
nenhuma sociedade humana tolera, dizia Lévi-Strauss, é a falta de
sentido. O “pensamento selvagem”, assim, é totalizante, e procura, por
meio de analogias, uma compreensão completa de todo o universo,
estabelecendo relações entre os diferentes tipos de fenômenos. Um
determinado rio se distingue de outro de maneira análoga ao modo como
uma espécie animal é diferente de outra, ou um grupo social, de seus
vizinhos. Nada pode escapar à sua malha de significados.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Nos anos 70, o antropólogo francês Pierre Clastres argumentou que a
falta de Estado nos povos das terras baixas sul-americanas – em
contraste com a forte centralização política de seus vizinhos andinos –
não seria uma carência, mas uma escolha deliberada, coletiva. Há entre
eles, com frequência, alguma forma de chefia. Em troca de prestígio, o
chefe ocupa um lugar privilegiado, e apartado, em relação aos demais
integrantes da sociedade. Pode falar à vontade. Mas ninguém lhe dá
ouvidos. “O chefe por vezes prega no deserto”, escreveuClastres. Do
chefe é exigida uma generosidade maior, que o obriga a distribuir bens
para o restante da sociedade. Lévi-Strauss, ao falar dos Nambikwara,
dizia que “a generosidade desempenha um papel fundamental para
determinar o grau de popularidade de que gozará o novo chefe”.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Por mais populares que sejam, contudo, tais líderes não dispõem de
nenhuma capacidade coercitiva. O chefe não manda. Tudo se passa como se
essas sociedades criassem uma posição privilegiada, o lugar exato onde o
Estado poderia nascer, para então esvaziá-la de poder, numa espécie de
ação preventiva. Foi o que Clastres chamou de “sociedades contra o
Estado”. Defendeu a ideia, em um de seus artigos, argumentando que “só
os tolos podem acreditar que, para recusar a alienação, é preciso
primeiro tê-la experimentado”.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Naquela mesma década de 70, o norte-americano Marshall Sahlins se
ocupou da dimensão econômica dessas sociedades. Procurou analisar as
mais “pobres” dentre elas, os grupos nômades de caçadores-coletores.
Segundo a visão então consagrada, tais sociedades mal conseguiriam
assegurar a própria subsistência. Com técnicas pouco desenvolvidas e
baixa produtividade, por certo não havia nelas produção excedente,
poupança, investimento. Viviam da mão para a boca.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Ocorre que o tempo dedicado ao trabalho também era pequeno. Esses
estranhos “primitivos” pareciam ser ao mesmo tempo miseráveis e ociosos.
O que Sahlins argumentou é que não fazia sentido, para grupos nômades,
acumular bens – quanto menos tivessem que carregar, tanto melhor.
Tampouco era lógico produzir estoques, quando esses estão ao redor, “na
própria natureza”. Do ponto de vista dos caçadores-coletores, não lhes
faltava nada. Trabalhar pouco era uma escolha, e aqueles grupos
constituiriam o que o antropólogo chamou de primeira “sociedade de
afluência”.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Em alguns de seus textos, Viveiros de Castro cita Lévi-Strauss e
Pierre Clastres como paixões intelectuais. Não chega a fazer o mesmo com
Sahlins, mas o ex-aluno dos padres jesuítas retomou o autor
norte-americano, num ensaio recente, para argumentar que, junto aos
outros dois, ele contribuiu para colocar em questão “a santíssima
trindade do homem moderno: o Estado, o Mercado e a Razão, que são como o
Pai, o Filho e o Espírito Santo dateologia capitalista”. Em vez de
símbolo de atraso, a “sociedade primitiva”, escreveu o antropólogo
carioca, “é uma das muitas encarnações conceituais da perene tese da
esquerda de que um outro mundo é possível: de que há vida fora do
capitalismo, como há socialidade fora do Estado. Sempre houve, e – é
para isso que lutamos – continuará havendo”.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O antropólogo e sua mulher mantêm uma casa simples num condomínio
de classe média alta, em Petrópolis, na serra fluminense. Costumam
passar os finais de semana lá. No centro do terreno se ergue uma espécie
de pequeno Pão de Açúcar, uma pedra grande, com cerca de 5 metros de
diâmetro, que se mostrou providencial para baratear o preço do lote. “O
pessoal por aqui quer casa com cinco salas, cinco suítes”, disse
Viveiros de Castro. “Esse pedregulho atrapalha.” Nos fundos, fica uma
obra a que ele se dedica com afinco e que parece lhe dar grande orgulho:
um jardim-pomar.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Num domingo de céu sem nuvens, ele caminhava por entre os arbustos
distribuídos no terreno gramado. Levava um cajado de madeira quase do
seu tamanho. Usava-o sobretudo para apontar as frutas de nomes
estranhos, que eram sempre aparentadas de outras, mais conhecidas. “Essa
é da família da pitanga”; aquela outra, “parente da lichia”; uma
terceira, “deliciosa, com o gosto entre a goiaba e o abacaxi”. Déborah
acompanhava o percurso. Ela é professora de filosofia na PUC do Rio. Os
dois são casados há quase três décadas. Quando voltamos para a sala da
casa, pedi que Viveiros de Castro falasse sobre a ideia que o projetou. A
síntese da metafísica dos povos “exóticos”, a que se referia
Lévi-Strauss, surgiu em 1996. Ganhou o nome de “perspectivismo
ameríndio”.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Fazia já alguns anos, então, que o antropólogo se ocupava de um
traço específico do pensamento indígena nas Américas. Em contraste com a
ênfase dada pelas sociedades industriais à produção de objetos, vigora
entre esses povos a lógica da predação. O pensamento ameríndio dá muita
importância às relações entre caça e caçador – que têm, para eles, um
valor comparável ao que conferimos ao trabalho e à fabricação de bens de
consumo. Diferentes espécies animais são pensadas a partir da posição
que ocupam nessa relação. Gente, por exemplo, é ao mesmo tempo presa de
onça e predadora de porcos.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Duas alunas suas, Aparecida Vilaça e Tânia Stolze Lima, preparavam,
naquela ocasião, teses de doutorado que chamavam a atenção para outra
característica curiosa do pensamento de diferentes grupos indígenas.
Tânia pesquisava os Juruna, do Xingu;Aparecida, os Wari, em Rondônia.
Pois bem: de acordo com os interlocutores de ambas, os animais podiam
assumir a perspectiva humana. Tânia e Viveiros de Castro fizeram um
levantamento que indicava a existência de ideias semelhantes em outros
grupos espalhados pelas Américas, do Alasca à Patagônia. Segundo
diferentes etnias, os porcos, por exemplo, se viam uns aos outros como
gente. E enxergavam os humanos, seus predadores, como onça. As onças,
por sua vez, viam a si mesmas e às outras onças como gente. Para elas,
contudo, os índios eram tapires ou pecaris – eram presa. Essa lógica não
se restringia aos animais. Aplicava-se aos espíritos, que veem os
homens como caça, e também aos deuses e aos mortos.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Ser gente parecia uma questão de ponto de vista. Gente é quem ocupa
a posição de sujeito. No mundo amazônico, escreveu o antropólogo, “há
mais pessoas no céu e na terra do que sonham nossas antropologias”.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Ao se verem como gente, os animais adotam também todas as
características culturais humanas. Da perspectiva de um urubu, os vermes
da carne podre que ele come são peixes grelhados, comida de gente. O
sangue que a onça bebe é, para ela, cauim, porque é cauim o que se bebe
com tanto gosto. Urubus entre urubus também têm relações sociais
humanas, com ritos, festas e regras de casamento. O mesmo vale para
peixes entre peixes, ou porcos-do-mato entre porcos-do-mato.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Tudo se passa, conforme Viveiros de Castro, como se os índios
pensassem o mundo de maneira inversa à nossa, se consideradas as noções
de “natureza” e de “cultura”. Para nós, o que é dado, o universal, é a
natureza, igual para todos os povos do planeta. O que é construído é a
cultura, que varia de uma sociedade para outra. Para os povos
ameríndios, ao contrário, o dado universal é a cultura, uma única
cultura, que é sempre a mesma para todo sujeito. Ser gente, para seres
humanos, animais e espíritos, é viver segundo as regras de casamento do
grupo, comer peixe, beber cauim, temer onça, caçar porco.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Mas se a cultura é igual para todos, algo precisa mudar. E o que
muda, o que é construído, dependendo do observador, é a natureza. Para o
urubu, os vermes no corpo em decomposição são peixe assado. Para nós,
são vermes. Não há uma terceira posição, superior e fundadora das outras
duas. Ao passarmos de um observador a outro, para que a cultura
permaneça a mesma, toda a natureza em volta precisa mudar.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Já fazia alguns minutos que Déborah tinha se enfurnado dentro da
casa, enquanto o antropólogo falava de peixes, antas e urubus. Viveiros
de Castro disse se lembrar de que estava lendo um ensaio de Lévi-Strauss
quando teve o “estalo” que deu origem ao perspectivismo. Fez uma pausa
e, sem se levantar da poltrona, chamou pela mulher. “Débi!”Ela apareceu
no mezanino, sobre nossas cabeças. O antropólogo voltou a contar a
história. “Eu lembro que saí do escritório, onde estava lendo esse
texto, e disse à Débi que tinha acabado de ter uma ideia; uma ideia que
iria me ocupar por uns dez anos, se eu quisesse tirar todas as
consequências dela.” Virou-se para cima e perguntou: “Lembra, Débi?” Do
alto do mezanino, ela riu, simpática, e respondeu balançando a cabeça:
“Não.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, professora da Universidade
de Chicago, avalia que as ideias desenvolvidas por Viveiros de Castro a
partir do perspectivismo ameríndio dialogam diretamente com boa parte
da tradição filosófica ocidental. Ao mesmo tempo, a síntese que ele
propôs do pensamento indígena é uma crítica a essa tradição, ao colocar
em questão as noções de “natureza” e “cultura” da “vulgata metafísica
ocidental”.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Essa capacidade crítica foi logo notada. Durante um debate na
Inglaterra, mal a ideia havia sido apresentada, um interlocutor do
antropólogo carioca lhe disse que os índios de que ele falava “pareciam
ter estudado em Paris”. Reagindo à provocação, Viveiros de Castro
comentou que “na realidade havia ocorrido exatamente o contrário: que
alguns parisienses”, e ele se referia certamente a Lévi-Strauss, que
viveu no Brasil entre 1935 e 1939, “haviam estudado na Amazônia”. E
argumentou que sua análise “devia tanto ao estruturalismo francês”, de
Lévi-Strauss, quanto este estava em débito com o conhecimento que
travara com povos indígenas do Brasil. “Não fora o Pará que estivera em
Paris”, disse o antropólogo, “mas sim Paris no Pará”.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Viveiros de Castro promoveu, em relação à filosofia, algo análogo
ao que Pierre Clastres eMarshall Sahlins haviam feito em relação ao
Estado e à economia de mercado: mostrou que um outro mundo é possível. A
ideia recebeu enorme atenção, dentro e fora do país, quase
imediatamente após sua formulação. “Na França e na Inglaterra, o Eduardo
é altamente respeitado”, declarou a professora da Universidade de
Chicago; “basta dizer que na livraria Gibert, em Paris, há uma seção de
prateleira com o nome dele.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Nos Estados Unidos, a resistência ao perspectivismo foi maior,
observou Manuela. No final de novembro passado, contudo, após uma
conferência de Viveiros de Castro para a Associação Americana de
Antropologia, ela me enviou uma mensagem informando que a recepção às
ideias dele estava “melhorando bastante”. Mesmo antes disso, de toda
forma, o professor brasileiro já contava com defensores importantes.
Marshall Sahlins, colega de Manuela em Chicago, considera Viveiros de
Castro “o antropólogo mais erudito e original do planeta” da atualidade,
tendo inaugurado “uma nova era para a antropologia, com profundas
implicações para o resto das ciências humanas e das humanidades”.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Eduardo Batalha Viveiros de Castro nasceu no dia 19 de abril de
1951, no Rio de Janeiro. Passou toda a adolescência na Gávea, Zona Sul
da cidade. Nos anos 60, o bairro era uma larga ilha de classe média
contida entre a Rocinha, no alto do morro, e o Parque Proletário, uma
favela que não existe mais. Eduardo morava numa casa grande de dois
andares, movimentada, aberta à vizinhança, com os pais e os cinco irmãos
mais novos. A mãe “era dona de casa, formada em letras, como convinha a
uma moça de boa família”. O pai, um advogado trabalhista, não dirigia.
Nos finais de semana, contratava os serviços de um vizinho taxista para
levar a família à praia em Ipanema.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Tampouco tinham tevê – levaram certo tempo até adquirir uma, “meio
que obrigando a gente a estudar”. Por outro lado, a biblioteca era boa.
“Os livros que não eram brasileiros eram franceses. Aprendi a ler em
francês folheando os livros do meu pai. Minha mãe, também, tinha
estudado numa escola de freiras francesas. Havia um ruído de fundo em
francês na casa.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Viveiros de Castro não deu muita atenção quando chegou ao bairro a
notícia do golpemilitar, em 64: “Eu tinha 13 anos, estava jogando bola.”
Seu interesse, além do futebol, eram os livros de divulgação
científica. Começou a gostar de música na época em que os discos dos
Beatles e dos Rolling Stones desembarcaram no país, e decidiu aprender
inglês quando conheceu as canções de Bob Dylan, que ele reputa, ainda
hoje, personagem fundamental em sua formação intelectual. “Os discos
dele em geral tinham as letras na contracapa. Era só abrir o
dicionário.” Foi por meio do cantor norte-americano que o antropólogo
descobriu a geração beat, com seus valores libertários, e a
contracultura.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Em contraposição à vida alegre da Gávea, o Colégio Santo Inácio,
onde estudou até chegar à faculdade, foi um longo “serviço militar”, do
qual disse não guardar boas lembranças – nem más. Uma escola
exclusivamente masculina, em que a ênfase não estava no ensino
religioso, mas na disciplina.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Os anos decisivos foram 1967 e 1968. Interessou-se pelas discussões
intelectuais publicadas nos suplementos dominicais da imprensa, tomando
o partido da poesia concreta, das revoluções formais e do tropicalismo,
contra o que se refere como vertente nacional-populista, “tipo samba de
raiz, Tinhorão, CPC – o marxismo cultural, chamemos assim”. Passou a
ler obras de linguística, filosofia, poesia brasileira e literatura
francesa. Ainda gostava de matemática, carreira que considerou seguir.
Desistiu ao se confrontar com um colega que “nadava de costas” na
disciplina. “Ele era muito melhor do que eu. Vi que não tinha condições
de ser matemático.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Foi nessa época, disse o antropólogo, que ele descobriu o mundo
intelectual “pra valer”. “Comecei também a desenvolver sentimentos
antiburgueses. Deixei o cabelo crescer, por assim dizer. Passei a
experimentar as drogas, a frequentar ambientes pouco recomendáveis e a
ter amigos fora do colégio. Sobretudo um, que foi muito importante para
me situar nos debates da época, amigo meu até hoje, que é o Ivan
Cardoso, cineasta.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Quando se referem um ao outro, Viveiros de Castro e o amigo do
tempo da adolescência, dois senhores de mais de 60 anos, parecem
garotos. Assim que encontrei Ivan Cardosopela primeira vez, em sua casa,
em Copacabana, ele foi logo dizendo: “O Viveiros? Eu comia ele.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Com uma calva pronunciada, o cineasta trazia o cabelo desarrumado
nas têmporas e na nuca. Numa sala atulhada de móveis e objetos criados
por ele, quadros com esmaecidas bandeirolas de Festa Junina se
destacavam. “São Volpis?”, perguntei. “São Ivolpis”, ele respondeu,
satisfeito, “Ivolpis!”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Mais conhecido por seu longa O Segredo da Múmia, de 1982, Cardoso
foi um inovador formal, rodando filmes de vanguarda em super-8 a partir
do final dos anos 60. Viveiros de Castro conta que a preocupação do
amigo com a plasticidade das cenas, aliada à paródia das fitas de terror
que fazia, levou o poeta e crítico Haroldo de Campos a sintetizar sua
obra como “Mondrian no açougue”. “Tenho uma admiração imensa pelo Ivan”,
me disse o antropólogo. “Ele, sim, é um artista. Nunca se afastou
disso, e tem uma puta imaginação plástica. Eu sou um anão. O Ivan é um
gigante.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Os pais de Ivan Cardoso e de Viveiros de Castro eram amigos. Os
dois garotos estudavam em escolas diferentes, mas próximas. O Colégio
São Fernando, que Ivan frequentava, ficava em Botafogo, como o Santo
Inácio. Cardoso editava um jornal estudantil e convidava artistas
plásticos para dar palestras aos alunos. “O Ivan era muito cara de pau”,
explicou o antropólogo. “Batia na porta das pessoas. Eu ia um pouco no
vácuo dele.” Os dois ficaram amigos de Hélio Oiticica. “Ele gostou da
gente”, contou o antropólogo. “Ensinava coisas. Foi um pouco nosso guia
no mundo artístico.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Esticado na cama de seu quarto, Ivan Cardoso lembrou a primeira vez
em que encontrou Oiticica. Cardoso havia ligado para o artista, pedindo
que falasse a seus colegas, na escola. Recebeu, como resposta, um
convite para que fosse a sua casa, no Jardim Botânico – um lugar que
mais tarde ele e Viveiros de Castro passariam a frequentar. “A casa do
Hélio era estranhíssima. Misturavam-se críticos de arte e malandros do
morro. Era um desfile. Na sala, tinha uma tenda. Ele morava com a mãe.
Todo mundo queimando fumo, e a mãe dele descia a escada e reclamava:
‘Vocês vão ser todos presos! Eu já chamei a polícia, seus maconheiros!’ A
velha sofreu.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Viveiros de Castro e Hélio Oiticica gostavam de conversar sobre
literatura e filosofia. “Os dois já tinham lido tudo. Cheguei à
conclusão de que não adiantava mais eu ler. Qualquer coisa, perguntava
para eles.” Segundo o cineasta, seu amigo tomava o café da manhã com um
livro aberto na mesa. “Ele lia até trepando”, disse, rindo. “Mas não era
apenas um intelectual. Ele andava com um canivete de mola. Era
transviado também. Uma vez ele arrumou uma confusão desgraçada no baixo
Leblon. Arranjou briga, tacou o carro em cima de um desgraçado lá, um
elemento nocivo, tipo um ‘bad boyzinho’ desses. Ele sempre foi uma
pessoa carismática, e fazia o marketing dele. Fumava Continental sem
filtro, que é um destronca peito desgraçado, e era um bom pé de cana.
Tomava traçado.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">No meio da conversa, o cineasta quis saber o que eu achava do amigo
intelectual. Em silêncio, sério, prestou atenção à resposta. “Então é
isso”, concluiu. “O Caetano está perdendo tempo com esse Mangabeira
Unger. É um merda.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Em 1969, Viveiros de Castro começou a estudar na PUC. Cursou
jornalismo por um ano. No ciclo básico, se interessou por ciências
sociais e pediu transferência. Parte considerável do que era lecionado
no novo curso, no entanto, não o agradava. “O que o pessoal estava
ensinando era teoria da dependência, Fernando Henrique Cardoso,
burguesia nacional, teoria da revolução – quem seria o guia da mudança,
se o operariado ou o campesinato”, contou.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">“Eu, na verdade, tinha horror àquela coisa. Não tinha saco para a
teoria da dependência e não gostava da teoria do Brasil. Achava de uma
arrogância absurda enunciar a verdade sobre o que o povo deve ser, o que
o povo deve fazer. Isso de teorizar o Brasil é uma coisa que a classe
dominante sempre fez. Quem fala ‘Brasil’ é sempre alguém que está
mandando. Seja para fazer revolução de esquerda, seja para soltar os
gorilas da ditadura na rua. E aqueles caras… Eu ficava pensando: eles
querem as mesmas coisas que os militares. Só que querem ser eles a
mandar. Vai ser um quartel, isso aqui.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O tema mobiliza Viveiros de Castro: esquerda tradicional, “careta”,
de um lado; esquerda existencial, “libertária”, de outro. A divisão,
ele observa, não era apenas intelectual. Definiu trajetórias pessoais,
“como ir para a clandestinidade e para a luta armada; ou ir para a
praia, fumar maconha, tocar violão”. Num texto de memórias, disse
admirar seus “companheiros mais corajosos” que se arriscaram na
clandestinidade. Viveiros resolveu ir à praia.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Em 1970, um píer foi construído em Ipanema, por ocasião das obras
para lançar o esgoto longe da costa. Moveram a areia e surgiram morrotes
altos, que mais tarde ganhariam o apelido de “dunas do barato”.
Mudanças no fundo do mar melhoraram as ondas, atraindo os surfistas. Com
eles vieram os hippies e o que havia de contracultura no Rio de Janeiro
de então. O jovem estudante da PUC também fazia ponto por lá.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">“Como diz o Ivan Cardoso, esse era o tempo em que a gente era feliz
e sabia. Eu ia nos finais de semana. Tinha muita droga. Muita maconha,
muito ácido. Foi um momento importante porque houve uma interpenetração
cultural entre o morro e a baixada, por causa do pessoal que vendia pó,
vendia fumo.” Ele próprio, segundo disse, não gostava particularmente
das substâncias em voga naquele momento. “Eu sou uma pessoa medrosa.
Experimentei uma ou duas vezes LSD. Não gostei, fiquei paranoico.
Maconha eu usei muito, mas mais porque era coisa da época. O efeito em
si… Me dava sono.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Seu perfil de usuário era mais clássico: álcool, tabaco e cocaína.
“Não era maconha, comida vegetariana, ácido. Eu era mais década de 50 do
que década de 70. Fui quase viciado em cocaína. Parei porque achei que
não ia aguentar fisicamente. É uma droga horrível. Ela te transforma num
monstro narcísico. Dá uma sensação de onipotência, que na verdade é uma
‘oni-impotência’. Quando você está mais onipotente é na verdade quando
você está completamente impotente: você fica só falando merda, fazendo
besteira, e também não é um estimulante sexual. É uma droga idiota,
fascista. Mas eu gostava. Eu usava.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Entre o píer e a PUC, Viveiros de Castro conheceu a obra de
Lévi-Strauss, que começava a ser lida no Brasil. O crítico literário
Luiz Costa Lima, professor na mesma PUC, disse ter tomado contato com as
ideias do antropólogo francês em meados dos anos 60, “quando começou a
moda do estruturalismo”. Atraído pelo rigor formal das análises
lévi-straussianas, passou a estudá-las a sério. O que aprendia, ensinava
na faculdade. Viveiros de Castro seguiu seu curso. “O estruturalismo
fazia parte daquilo que a esquerda tradicional considerava anátema”,
disse o ex-aluno. “Falavam que era burguês, formalista, que negava a
história. Tinha uma série de palavras de ordem que você ouvia.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Costa Lima e o aluno se tornaram amigos. Formaram um grupo de
estudos e se dedicaram por alguns anos, duas vezes por semana, à leitura
sistemática das Mitológicas, a obra em que Lévi-Strauss analisa a
lógica de mitos ameríndios, reunindo rigor formal e atenção aos detalhes
concretos, significativos nas narrativas: cores, cheiros,
comportamentos dos animais, detalhes escatológicos, sexo. “Fiquei
fascinado com os mitos”, disse Viveiros de Castro. “Eram rabelaisianos,
mas tinham uma lógica formal, por causa das combinações, das
permutações. Eram ‘Mondrian no açougue’, como os filmes do Ivan. Aquilo
tinha uma relação com as coisas que eu lia nos suplementos e de que
gostava. Em particular a linguística. E os concretistas. Havia uma
afinidade, não direta, mas havia, entre concretistas, tropicalismo e
estruturalismo.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Essa não foi a única influência que Costa Lima exerceria na vida do
aluno. Terminada a faculdade, Viveiros de Castro não sabia que rumo
tomar. Pensou em fazer pós-graduação em letras. O professor, crítico
literário, o desestimulou. Fez isso, explicaria mais tarde, porque “o
estudo de literatura sempre foi muito ruim no Brasil”. “Hoje é péssimo”,
frisou. Recomendou ao aluno, entusiasmado pelas Mitológicas, que
cursasse antropologia no Museu Nacional, vinculado à Universidade
Federal do Rio de Janeiro.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Roberto DaMatta, à época professor do Museu, participou da banca de
seleção para o mestrado. “Eu era besta pra cacete”, comentou Viveiros
de Castro, ao falar sobre o exame. “O Matta me perguntou: ‘Estou vendo
aqui no seu currículo que você leu Lévi-Strauss. O que você leu?’ E eu
respondi: ‘Tudo!’”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Na sala de sua casa, em São Paulo, Marcio Silva acendeu um cigarro.
O antropólogo pegou uma prancheta na qual havia anotado pontos
importantes da trajetória intelectual de seu antigo orientador. Viveiros
de Castro se tornou professor assistente do Museu em 1978, pouco depois
de concluir o mestrado. Naquele mesmo ano, escreveu um artigo com seus
professores Anthony Seeger e Roberto DaMatta sobre a noção de pessoa
entre os grupos indígenas da América do Sul, texto que se tornaria
referência para o estudo desses povos.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Marcio ressaltou a audácia dos primeiros parágrafos do artigo. Ali
os três autores afirmam que diferentes regiões do planeta haviam
contribuído, no passado, com algum aspecto importante da teoria
antropológica. A Melanésia, diziam, descobriu a reciprocidade – a
obrigação social de dar, receber e retribuir “dádivas”, cuja circulação
seria como a linha de costura da sociedade, mantendo-a coesa. O Sudeste
Asiático, por sua vez, alargou a compreensão dos sistemas de parentesco e
das alianças feitas por regras de casamento. Da África, lembravam, veio
um entendimento melhor das linhagens, da bruxaria e da política.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Davam então o passo ousado. Os povos da América do Sul, menos
pesquisados e conhecidos, deveriam também fazer sua contribuição,
resultado de uma característica específica dessas sociedades: o
privilégio que conferiam, em suas cosmologias, ao corpo. “Ele, o corpo,
afirmado ou negado, pintado e perfurado, resguardado ou devorado, tende
sempre a ocupar uma posição central na visão que as sociedades indígenas
têm da natureza do ser humano.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Perguntei a Marcio Silva se seu ex-orientador, à época desse artigo
um jovem de 27 anos, não lhe parecia “atrevido, pretensioso”. “Essa
palavra, ‘atrevido’, é boa”, respondeu Silva. “Às vezes ele parece
gostar de correr riscos.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Deu um exemplo. Nos anos 80, Viveiros de Castro retomou um tema,
antes central, que estava fora de moda na antropologia: o parentesco. A
partir do final do século XIX, pesquisadores passaram a identificar os
laços forjados pela consanguinidade – aqueles que criam grupos de
descendência – e pela aliança por casamento – laços que “costuram” as
relações sociais entre grupos diferentes – como a coluna vertebral das
“sociedades primitivas”. Era assim que elas se mantinham coesas, e era
por meio do estudo desses laços que os antropólogos poderiam conhecê-las
melhor.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Viveiros de Castro fez uma pergunta distinta. Ele não queria saber
apenas o que o parentesco dizia sobre os povos indígenas, mas também o
que as culturas ameríndias teriam a dizer sobre o parentesco. Será que
os índios explicavam o parentesco do mesmo modo que nós, ocidentais? A
ideia que lhe ocorreu é em tudo semelhante à lógica do perspectivismo.
Pode ser considerada um passo prévio, mais fácil de compreender quando
já se conhece a metafísica dos povos indígenas das Américas.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">No Ocidente, ele disse, o que é dado são as relações de filiação,
de “consanguinidade”. A ligação entre pais, irmãos e filhos é “natural”,
logicamente anterior às relações com esposa, sogros e cunhados –
relações de “afinidade” que não são dadas, mas construídas pelas
escolhas dos indivíduos.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Para os povos ameríndios, contudo, o valor fundamental não está nos
laços biológicos, “de sangue”, mas nas relações de aliança, com sogros e
cunhados. Aquilo que para nós faz parte da cultura, do que precisa ser
construído, para eles já é dado, é a referência que dá sentido e
organiza as relações sociais. A lógica da afinidade, das normas que
proíbem ou prescrevem casamentos entre pessoas e grupos distintos, é
usada mesmo nas relações sociais relativamente distantes, com outros
povos, inimigos e espíritos; relações que não têm a ver,
necessariamente, com a troca de cônjuges.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O que precisa ser construído por eles, por outro lado, é aquilo que
para nós já é dado: o corpo. A “consanguinidade”, a relação de
semelhança corporal entre parentes e, até, entre pais e filhos, precisa
ser fabricada mesmo depois do nascimento – por meio da partilha dos
mesmos alimentos, por exemplo. Daí a importância do corpo, notada no
artigo de 1978.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O atrevimento de seu ex-orientador, segundo Marcio Silva, foi tirar
todas as consequências desse fato. Os dois modos de compreensão do
parentesco têm implicações políticas distintas. “Numa sociedade como a
nossa, a consanguinidade, a relação entre irmãos, é pensada como um
modelo da relação social”, disse Silva. “Por exemplo, como Viveiros de
Castro lembrava, na Revolução Francesa você tem liberdade, igualdade e
fraternidade. Fiquemos com a fraternidade. A relação social boa é como
se fosse uma relação entre irmãos. Mesmo que eu não tenha parentesco com
você, eu sou seu irmão: somos ambos filhos de Deus. Também nas
constituições laicas operamos com base nessa metáfora fortíssima de
irmãos. O que significa dizer que você é meu irmão? Significa que somos
semelhantes e que somos conectados por um ente superior. Que pode ser o
Estado, pode ser Deus, pode ser o nosso pai, se formos irmãos mesmo.
Isso que nos unifica é um termo superior.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Já na lógica social dos povos indígenas, não há termo superior que
unifique. Os outros – que podem ser um povo indígena diferente, o
inimigo, os animais – são para os ameríndios, antes de tudo, uma espécie
de cunhado. “O que significa chamar de cunhado? Entre dois cunhados não
tem ninguém que seja superior: tem uma mulher que é diferente para cada
um. Para um é irmã, para o outro é esposa. Somos relacionados porque
vemos uma mesma mulher de maneiras diferentes.” Não há, aí, necessidade
de Deus, de pai ou de Estado para se pensar a boa relação social.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">“Lembro-me dele dizendo em sala de aula, em tom de blague, que na
Amazônia não valia o lema ‘liberdade, igualdade e fraternidade’.
Liberdade, tudo bem. Mas no lugar de igualdade, diferença. No lugar de
fraternidade, afinidade.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Se a Melanésia havia contribuído com a noção de reciprocidade, e a
África com os grupos de descendência, então os povos da América do Sul
forneciam, no início dos anos 90, a ideia de “afinidade potencial”.
Tanto nesse caso quanto no perspectivismo ameríndio, que surgiria poucos
anos depois, Viveiros de Castro usou conceitos ocidentais – natureza,
cultura, consanguinidade, afinidade – para tentar entender as culturas
ameríndias. Mas descobriu que era preciso invertê-los para que
funcionassem bem naquelas sociedades.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">As consequências políticas dessa operação, tanto no caso do
parentesco quanto no da metafísica indígena, em que a natureza muda
dependendo do observador, eram as mesmas. “Esse é um mundo em que você
não tem um ponto de vista dominante, soberano, monárquico”, explicou
Viveiros de Castro. “Ao contrário, a condição de sujeito está espalhada,
dispersa. Não tem uma transcendência, um ponto de vista do todo,
privilegiado. O perspectivismo é o correlato cosmológico, metafísico, da
ideia de sociedade contra o Estado, do Pierre Clastres.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">No seu apartamento, em outubro passado, Viveiros de Castro parecia
irritado. Explicou que havia se contrariado no trabalho, o que não era
incomum. Descreveu mais de três décadas de uma relação conflituosa com
seus colegas de instituição. A origem dos aborrecimentos, ele disse,
remontava a 1978, quando havia concluído o mestrado e concorreu a uma
vaga de professor assistente no Museu Nacional. Dois candidatos se
apresentaram: ele próprio e o antropólogo João Pacheco de Oliveira
Filho.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Oliveira Filho é, hoje, um dos principais representantes de uma
linha de pesquisa importante na instituição carioca. Seus seguidores
procuram entender os povos indígenas em suas relações com a sociedade e o
Estado brasileiros. Essa corrente descende de Darcy Ribeiro, passando
por Roberto Cardoso de Oliveira, um dos criadores da pós-graduação em
antropologia no Museu Nacional, em 1968. Cardoso de Oliveira descreveu a
“sociologia do contato”, que ele praticava, como uma tentativa de
explicar a “sociedade tribal, vista não mais em si, mas em relação à
sociedade envolvente”. Em um artigo recente, em que mencionava os
Ticuna, do Amazonas, João Pacheco de Oliveira ressaltou que mesmo as
“crenças, costumes e princípios organizativos” dos povos indígenas estão
“interligados e articulados com determinações e projetos da sociedade
nacional”.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Por telefone, o norte-americano Anthony Seeger, coautor do artigo
de 1978 e orientador de Viveiros de Castro no doutorado, disse que ele e
o aluno acreditavam que “as sociedades em si também mereciam atenção”.
Ao se preocuparem com o parentesco e com as cosmologias dos grupos que
estudavam, praticavam uma etnologia – a parte da antropologia que se
ocupa dos povos indígenas – “clássica”, tida por representantes da outra
corrente como excessivamente “filosófica”, apolítica e pouco
comprometida com as circunstâncias sociais dos índios. De sua parte,
Viveiros de Castro acredita que é a “sociologia do contato”, uma linha
de pesquisa, ele diz, associada à “esquerda tradicional”, que é
politicamente questionável. Seus rivais veriam os índios a partir da
mesma perspectiva adotada pelo Estado, como parte do Brasil. Ele, ao
contrário, inverteria o ponto de vista. Partiria das sociedades
indígenas, tomando suas ideias e práticas como referências para criticar
o Brasil, o Estado, o capitalismo.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Viveiros de Castro perdeu o concurso de 1978. Segundo ele porque os
representantes da esquerda tradicional eram majoritários na banca. João
Pacheco de Oliveira Filho foi o escolhido, mas uma segunda vaga foi
criada. O etnólogo “clássico” se tornou, ele também, um jovem professor
do Museu. Nos anos seguintes, o que começara como uma disputa teórica se
transformaria em cizânia e ressentimento.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Tanto assim que as opiniões sobre o antropólogo carioca se dividem,
de maneira marcada. Entre ex-alunos, ele é reconhecido por gestos de
generosidade e de correção intelectual. Contudo, são também frequentes
os relatos de arrogância na relação de Viveiros de Castro com os
colegas, o que contribui para o clima de animosidade na instituição. Ele
próprio disse representar, no Museu, “uma posição que é considerada
trouble maker, anarquista, e que despreza os outros”. “Isso é quase
verdade. Sou tido como alguém que não leva muito a sério o outro tipo de
antropologia que é feita lá. De fato. Eu nunca manifestei isso, acho
eu. Mas o pessoal percebe. Hoje eu diria que está quase todo mundo
aliado ao João, e contra mim. Alguns ficam em cima do muro, que é a
posição mais confortável.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O antropólogo Paulo Maia, professor da Universidade Federal de
Minas Gerais e ex-orientando de Viveiros de Castro, afirma que o antigo
professor tende a assumir posições pouco diplomáticas. “Ele não quer
encontrar um meio-termo: quer marcar posições”, disse Maia. “O Eduardo
não busca o consenso e não gosta de pessoas que têm um caráter mais
subalterno, boazinhas. Ele gosta de gente mais intempestiva mesmo. Na
própria escrita dele, dá para ver isso. É um estilo que não é muito
diferente do modo como ele fala. O que para muitos alunos é encantador. A
escrita dele é cativante.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Em 1997, a tensão entre colegas no Museu Nacional se tornou mais
aguda. A instituição abriu concurso para professor titular, o posto mais
alto da carreira universitária. Quase duas décadas depois da primeira
disputa entre os dois, Viveiros de Castro e João Pacheco de Oliveira
tinham novamente a intenção de se candidatar à mesma posição. Outros
integrantes do departamento se mobilizaram para evitar o embate. “Houve
uma pressão muito forte, dentro da instituição, para que só se
apresentasse um candidato”, disse Viveiros de Castro. “Partindo daquele
éthos característico da academia, em que você prefere arranjar as coisas
para evitar situações delicadas. Entenda-se: para que não entre a
pessoa que você não quer.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A solução encontrada, segundo professores do Museu, foi a
realização de um sorteio prévio: quem ganhasse se apresentaria como
candidato, e o derrotado desistiria da disputa.Viveiros de Castro
perdeu.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Naquele mesmo ano, o antropólogo viajou para a Inglaterra,
convidado para uma temporada de um ano na Universidade de Cambridge. Lá,
conheceu Marilyn Strathern, professora titular de antropologia social
na instituição, talvez o cargo de maior prestígio da disciplina. Ela
ainda não conhecia o trabalho do colega brasileiro, que fez quatro
conferências sobre o perspectivismo ameríndio. Strathern disse ter
ficado impressionada com o argumento, exposto com “erudição e
autoconfiança” – o mesmo atrevimento que lhe causava problemas em casa
ajudava-o a conquistar audiências estrangeiras. A ideia exposta por
Viveiros de Castro pareceu à professora “profundamente imaginativa e
bastante precisa”.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O texto sobre o perspectivismo foi lançado em inglês em 1998.
“Foram essas conferências de Cambridge e a publicação em inglês que
alçaram o tema a uma posição de destaque no campo antropológico”,
observou Viveiros de Castro. Segundo Strathern, as ideias do brasileiro
fazem, hoje, parte do cânone apresentado aos estudantes de pós-graduação
da disciplina no Reino Unido.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O caráter conflituoso de Viveiros de Castro se manifesta nas redes
sociais. O antropólogo tem mantido, nos últimos anos, intensa atividade
política no Twitter e no Facebook. Seus curtos enunciados são às vezes
enigmáticos, com frequência irônicos, quase sempre militantes. Em
outubro, quando manifestantes subiram no Monumento às Bandeiras, emSão
Paulo, e cobriram de tinta as estátuas de Brecheret que celebram a
conquista do Oeste pelos paulistas, com consequências trágicas para os
índios, ele ofereceu seu veredicto: “É preciso derrubar essa porcaria.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Boa parte das frases e dos pequenos textos que publicou no Twitter e
no Facebook, desde junho, manifestava entusiasmo pelas manifestações de
rua, das quais ele evitou participar, por medo de aglomerações. Seus
posts revelavam também o que ele chamou de “simpatia” em relação à ação
dos black blocs. “É espantoso como a esquerda tradicional está histérica
com os black blocs”, ele me disse. “Está histérica porque não controla,
porque não é partido. Não é militante de partido. Os black blocs nem
existem como movimento. É uma tática.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">“Devo dizer que fiquei muito feliz de ver os manifestantes subirem
na parte de cima doCaveirão. Gostaria que eles tivessem virado o
Caveirão de cabeça para baixo. Se tivessem feito isso, acharia legal! E
será que destruir a porta de um banco é uma coisa assim tão abominável?
Em que será que se está tocando quando se quebra a porta de um banco?
Por que deixa todo mundo tão nervoso?”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Já havia manifestado ideia semelhante no Facebook. “Quebrou uma
vitrine do Banco Itaú, é vândalo, apanha da polícia e vai pro presídio;
desapareceu com bilhões do BNDES, é empresário em dificuldades, vai para
recuperação judicial”, publicou, no início de novembro. Estendeu-se um
pouco mais noutro comentário: “O que o Estado faz, e deixa fazer, com os
índios é um resumo altamente concentrado e potencializado do que ele
faz, e deixa que façam, com toda a população. Os que dizem que não se
pode mesmo dar mole para esses selvagens, que é preciso logo
civilizá-los etc., são como o servo que se acha senhor porque o servo do
lado levou mais chicotadas no lombo do que ele.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Em seu apartamento, ao lado da mulher, o antropólogo explicou sua
conversão recente às redes sociais, resultado de uma briga com a
imprensa mainstream. Há pouco mais de três anos, a revista Veja publicou
uma reportagem intitulada “A farra da antropologia oportunista”.
Criticava a multiplicação de povos indígenas no país, interessados nas
terras que sua nova condição lhes daria direito. “Em 2000, o Ceará
contava com seis povos indígenas”, o texto registrava. “Hoje, tem doze.
Na Bahia, catorze populações reivindicam reservas. Na Amazônia, quarenta
grupos de ribeirinhos de repente se descobriram índios.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Citavam então Viveiros de Castro, atribuindo a ele uma opinião
crítica aos “índios ressurgidos”: “Não basta dizer que é índio para se
transformar em um deles. Só é índio quem nasce, cresce e vive num
ambiente de cultura indígena original.” A primeira frase havia sido
retirada de um texto publicado pelo antropólogo, intitulado “No Brasil,
todo mundo é índio, exceto quem não é”. A segunda, ele nunca disse ou
escreveu. “Colocaram entre aspas uma frase que tiraram de um artigo meu,
e acrescentaram a ela outra, que eles inventaram.” Ao inventarem,
puseram em sua boca ideias opostas às que ele defende. Nas últimas
décadas, argumentou o antropólogo, tem acontecido no Brasil algo inverso
ao problema que ocupava os fundadores da sociologia do contato. Em vez
de os índios se tornarem, aos poucos, brasileiros, são os brasileiros
que estão virando índios. E não é necessário um “ambiente de cultura
indígena original” para que um grupo advogue essa condição.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">“Várias populações tradicionais estão se redescobrindo indígenas.
Isso acontece porque eram índios. Foram obrigadas a esquecer que eram,
forçadas a aprender português. Houve um processo de branqueamento que
nunca se completou. E não se completar fazia parte do processo: o cara
deixava de ser índio, mas você não o deixava virar branco. Parava no
meio. Virava um brasileiro. O que é um brasileiro? É um índio pra quem
você diz: ‘Você vai ser branco, você deixará de ser índio’, mas o cara
para no meio. Você é quase branco. O cara perde a sua condição indígena,
mas não ganha do outro lado.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Foi para divulgar sua indignação com a revista, disse o
antropólogo, que ele passou a usar as redes sociais. Primeiro o Twitter,
no qual tem hoje cerca de 4 600 seguidores. Depois oFacebook, onde
conta com mil amigos e quase 5 mil seguidores.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Um dos temas caros a Viveiros de Castro e a Déborah Danowski,
tratado com frequência por ele em sua militância na internet, é o que
chamam de “catástrofe” ambiental. Em outubro, no dia do primeiro leilão
do pré-sal, o antropólogo escreveu: “Não faça parte das minorias com
projetos ideológicos irreais: colabore para a destruição do planeta.
Deus proverá. VivaLibra, viva a Shell, viva a Total, viva a China, viva o
Brasil.” Em meados de novembro, um outro post conclamava: “Liberar a
Terra das cadeias produtivas.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Desde os anos 80, o antropólogo milita contra a construção de
hidrelétricas na Amazônia. Foi um dos fundadores do ISA, o Instituto
Socioambiental, uma das principais ONGs de defesa do meio ambiente e dos
povos indígenas no país. Na sala de sua casa, no Rio, o casal citou
estimativas de aquecimento global feitas pelo IPCC, o Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da ONU. Um aumento de
temperatura que não é improvável neste século, disseram, pode pôr em
risco a maior floresta do planeta. “A parte oriental da Amazônia é mais
seca do que a ocidental”, afirmou o antropólogo. “Essa parte mais seca,
em alguns lugares, está começando a perder mais água do que recebe.
Aquilo está secando. Um processo de ressecamento progressivo, discreto
talvez, no sentido de que não é uma coisa catastrófica. Mas acontece
que, se essa floresta passa de determinado ponto crítico de
ressecamento, uma hora pega fogo e ninguém mais apaga.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Os dois lembraram ainda a impossibilidade de o planeta comportar,
para toda a sua população, o atual padrão de produção e consumo
ocidental. “O que vai acontecer, provavelmente, é a falência
degenerativa, muito mais do que apocalíptica, do atual sistema
técnico-econômico mundial, que não vai se sustentar”, disse Viveiros de
Castro. “Temos que nos preparar para um mundo radicalmente diferente
deste em que vivemos. Temos que pensar num mundo fora do milênio, fora
da ideia de que um dia vamos dar tudo para todos, seja no capitalismo
‘sustentável’, dois ponto zero, seja no socialismo.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A ideia de que vamos finalmente chegar a um estágio de plenitude,
de abundância e de equilíbrio. Nós não vamos. Minha impressão é de que
estamos numa curva descendente do ponto de vista da civilização, talvez
da espécie, e que a gente tem que se preparar para o declínio.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Argumentei que há quem conte com inovações tecnológicas, como já
aconteceu no passado, para mover a fronteira dos limites planetários.
“Eu acho que isso é religião”, respondeu o antropólogo. “Essa coisa de
que vamos sair dessa é teologia. É achar que o homem sempre pode dar um
jeito, pela sua capacidade, de transcender as condições naturais. Isso
para mim é cristianismo laicizado.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O que fazer? “Oposição ao governo, dono de um projeto ecocida”,
respondeu. O antropólogo votou em Marina Silva, em 2010, mas disse ter
dúvidas se repetirá o apoio em 2014, caso ela venha a concorrer. “Não
morro de paixão pelas alianças que ela fez nem por sua base de consulta
intelectual”, composta por economistas liberais. “Mas nada, nem o Serra,
vai me fazer votar na Dilma. Não adianta virem com o Serra pra cima de
mim. ‘Olha o Serra!’ Não há Cristo, nem Diabo, que me faça votar na
Dilma.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A política partidária, de toda forma, parece pouco relevante em seu
discurso, fatalista. “Pode ser que nós, ocidentais de classe média, o
francês, o brasileiro rico de São Paulo, o americano, pode ser que
passemos pela mesma coisa por que passaram os índios em 1500. Eles
continuam aí, mas o mundo deles acabou em 1500. Se formos falar do fim
do mundo, pergunte aos índios como é, porque eles sabem. Eles viveram
isso. A América acabou. Pode ser que venhamos todos a ser índios, nesse
sentido. Todos venhamos a passar por essa experiência de ter um mundo
desabando. No caso deles, eles foram invadidos por nós. Nós também vamos
ser invadidos por nós. Já estamos sendo invadidos por nós mesmos. Vamos
acabar com nós mesmos da mesma maneira como acabamos com os índios: com
essa concepção de que é preciso crescer mais, produzir mais.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">No seu apartamento, já de noite, Viveiros de Castro se disse
pessimista. “Mas esse pessimismo não é paralisante. Não é um quietismo. A
sensação que eu tenho é de que a gente está lutando dentro de casa.
Quarteirão a quarteirão. Como essas guerrilhas.” Deu um exemplo de
resistência. “Dizem que os índios já foram incorporados ao capitalismo.
Mas não foram dominados mentalmente. Já foram dominados economicamente,
politicamente, mas não mentalmente. O problema com os índios é que eles
são insubordinados. Você não consegue domesticar o índio. É por isso que
o governo tem tanto horror deles.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">“É isso que significa o brasileiro virar índio”, disse, alargando o
sentido da frase. “Numa versão ‘Twitter’, para encurtar a conversa, é
isso. É virar black bloc. Menos pelego, e maisblack bloc.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Em 2008, Marilyn Strathern se aposentou do cargo de professora
titular de antropologia social, em Cambridge. Mais de um ano antes,
tinha dado início ao processo de escolha de seu sucessor. Ela sugeriu ao
etnólogo carioca que apresentasse sua candidatura ao posto.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Viveiros de Castro disse que foi só por causa da insistência da
amiga que concordou em concorrer. “Relutei e tergiversei, pois não tinha
a intenção de aceitar”, diria mais tarde. Além de razões práticas –
como o trabalho de sua mulher no Rio –, afirmou que “sabia do tamanho do
abacaxi que era ser o cabeça da antropologia social” na universidade
inglesa. Disse não ter vontade de se dedicar à administração acadêmica, o
que certamente seria exigido pela posição.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">De toda forma, no final de 2007, estava entre os três finalistas.
Viajou à Inglaterra para apresentar uma aula na universidade, parte do
processo de seleção. Na sala em que falou, numa noite fria do outono
inglês, alunos e professores se apertavam, muitos sentados no chão,
outros espremidos nos cantos, junto às paredes.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Foi só quatro anos depois de concorrer à vaga na Inglaterra que
Viveiros de Castro pôde afinal se candidatar, em 2011, ao posto de
professor titular do Museu Nacional. O memorial que escreveu para o
pleito foi redigido “num tom quase insolente” de propósito, ele disse.
Ali ele afirma que sua produção intelectual “exerceu uma influência
teórica muito significativa” na antropologia, “talvez a influência mais
significativa exercida até o presente pelo trabalho de um antropólogo
brasileiro”. No mesmo texto, voltou ao assunto do cargo em Cambridge,
revelando seu desfecho. “Fizeram-me saber (ou deixaram-me saber, como se
diz) que eu tinha todas as chances de ser o escolhido. Escrevi
rapidamente ao departamento e a Marilyn recusando o posto, just in case.
Eu realmente queria continuar sendo um jardineiro em Petrópolis.”</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Considerava já ter alcançado, então, o objetivo de se fazer ouvir
ao norte do Equador. No memorial, um balanço de mais de três décadas de
atividade intelectual, Viveiros de Castroafirmou ter tido, desde o
início de sua carreira, o propósito explícito de “rebater para a matriz
nossas lucubrações periféricas” e de “meter a colher na sopa
metropolitana”.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">“Cuido que consegui”, ele conclui, sem modéstia.</span></div>
<div>
</div>
<div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
<a href="https://www.blogger.com/null" name="thumbs"></a>
<br /><br /><br />
<div id="thumbSlideshowLayer">
</div>
<br /><br /><br /><br />
<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-22312816285265631432014-08-07T15:37:00.000-03:002014-08-07T15:37:00.700-03:00A pacífica transição da era nuclear para a solar<div id="message_box" style="text-align: justify;">
<br /><div class="msgpart clearfix" id="msgBody" style="text-align: justify;">
<div id="bodyContent">
<div>
<div class="headline" style="border: 0px none; color: #1a1a1a; font-family: Arial; line-height: 15px; margin: 0px 0px 10px; outline: 0px none; overflow: hidden; padding: 0px; width: 637px; word-wrap: break-word;">
<div style="border: 0px none; clear: both; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;"> </span></div>
</div>
<div id="texto-aumenta" style="border: 0px none; color: #1a1a1a; font-family: Arial; line-height: 15px; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<div class="article_text" style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">"Todas
as crises atuais são consequência da miopia de nossas antigas inovações
tecnológicas e sociais que abordavam os problemas de curto prazo sem
prever seus efeitos de longo prazo para todo o sistema", escreve <a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2591&secao=295" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Hazel Henderson</a> presidente do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Ethical Markets Media (Estados Unidos e Brasil)</strong> e criadora do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Green Transition Scoreboar</strong>, em artigo publicado por <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Envolverde</strong>, 21-07-2014.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Eis o artigo.</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">A proposta de paz que o presidente japonês da organização budista <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Soka Gakkai Internacional (SGI)</strong>, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Daisaku Ikeda</strong>,
realizará este ano – levou minha atenção das notícias do dia para
preocupações de longo prazo por uma sociedade humana mais pacífica,
equitativa e sustentável que assegure nosso futuro comum.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">Agora,
essas inquietações mais amplas são compartilhadas por milhões de seres
humanos que transcenderam os objetivos puramente pessoais, locais e
nacionalistas e se converteram em protótipos de cidadãos globais.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">Os
tropeços de nossas instituições atuais geram crises diárias e conduzem,
como sempre, a novos avanços na medida em que os humanos buscam
soluções novas. O estresse sempre foi uma ferramenta de evolução, como
registraram os 3,8 bilhões de anos de formas de vida em nosso planeta.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">Todas
as crises atuais são consequência da miopia de nossas antigas inovações
tecnológicas e sociais que abordavam os problemas de curto prazo sem
prever seus efeitos de longo prazo para todo o sistema.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">Dessa
forma me interessei na queima humana dos combustíveis fósseis e nas
escavações da terra para buscar nossa energia, o que me levou a aderir
à <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Sociedade Mundial do Futuro</strong> nos anos 1960.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">Na ocasião liderava a gestão para limpar o ar contaminado da cidade de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Nova York</strong>,
já que vivia perto de uma usina de energia que queimava carvão e
lançava fumaça e fuligem no parque de brincar, onde eu e outras mães
vigiávamos nossos filhos pequenos.<br />Peguemos o salto até 2014. Continuo sendo uma futurista de carteirinha e estou no <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Comitê de Planejamento do Projeto do Milênio</strong>, que faz o acompanhamento dos 15 desafios globais de nossa família humana.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">Nosso último Informe sobre o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Estado do Futuro 2014</strong> indica nossos avanços e nossos tropeços na abordagem desses desafios, que inclui o <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/529452-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel-responsabilidade-de-todos" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">desenvolvimento sustentável</strong> </a>e
a mudança climática, a água, a população e os recursos, a
democratização, a formulação de políticas de longo prazo, e a
globalização da tecnologia da informação.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">A
lista continua com brecha entre ricos e pobres, a saúde, a capacidade
de tomar decisões, a resolução de conflitos, a melhoria da situação das
mulheres, o crime organizado transnacional, a energia, a ciência e a
tecnologia, e a ética mundial.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">Neste <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Projeto do Milênio</strong> participaram pessoas da academia, do governo, da sociedade civil e do setor privado de 50 países.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">Ao mesmo tempo, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Daisaku Ikeda</strong>, líder de 12 milhões de membros da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">SGI</strong> e também meu estimado coautor de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Cidadania Planetária</strong>,
esboça sua proposta anual de paz para 2014, como vem fazendo desde
1983. Ikeda, nascido em 1928, é um dos cidadãos de maior distinção no
mundo.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">Sua proposta de paz para 2014, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">A Criação de Valor Para a Mudança Global: A Construção de Sociedades Resistentes e Sustentáveis</strong>, envolve questões da<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Organização das Nações Unidas (ONU)</strong>.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">Assim, transcende os <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/529599-indo-alem-dos-objetivos-de-desenvolvimento-do-milenio" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM)</a> para
incluir a agenda dos 191 países durante a Cúpula da Terra, conhecida
como Rio+20, realizada em 2012 no Brasil e na qual foram traçados os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">Os
ODS defendem a transição da energia fóssil e nuclear para economias a
caminho de serem mais descentralizadas, limpas, verdes e ricas em
conhecimentos.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">Cheguei a conclusões semelhantes no livro <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Mapping the Global Transition to the Global Age (Mapa da Transição Global Para a Era Global)</strong>,
de 2014. As tecnologias atuais fazem com que seja factível acabar com
os usos humanos dos combustíveis fósseis, do urânio e das usinas e armas
de nucleares, com assinalam muitos informes do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Green Transition Scoreboard 2014</strong>.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">A
vontade política em muitos países continua refém de interesses
especiais, grupos de pressão e do dinheiro desses setores e seus
perversos subsídios. Movimentos civis de todo o mundo pressionam os
fundos de pensões e as fundações universitárias para que<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">“desinvistam”</strong> nos setores fossilizados e mudem para investimentos mais limpos, ecológicos e sustentáveis.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">Experientes especialistas financeiros, com <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Jeremy Grantham e Robert A. G. Monks</strong>, engrossaram o coro desses críticos, junto aos gestores de ativos que oferecem carteiras<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">“sem fósseis”</strong>, que frequentemente superam o rendimento dos ativos mais sujos.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">Enquanto os <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Estados Unidos</strong> e a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Europa</strong> fecham
suas usinas de energia nuclear devido às alternativas de energia solar e
eólica mais econômicas, ainda se prevê a construção de muitas na Ásia,
inclusive na China, que é a líder mundial em energia solar.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">São
necessários avanços conceituais enormes para mudar os velhos modelos e a
cegueira induzida pela teoria. Um deles é a proposta da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Via Solar Para</strong> o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Irã</strong>, que a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Fundação Planck</strong> desenvolve com rapidez para que <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Teerã</strong> acabe com a discussão política sobre seu direito de desenvolver energia nuclear com fins civis.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">Essa proposta deixaria de lado as sanções, as preocupações de Israel por outro Estado com armas nucleares no <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Oriente Médio</strong> e<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> “eletrificaria”</strong> a próxima conferência da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">ONU</strong> sobre o<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Tratado de Não Proliferação Nuclear</strong>.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">O plano da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Fundação Planck</strong> implica uma mudança de paradigma. O<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> Irã</strong> poderia
acelerar sua transição dos combustíveis nucleares e fósseis de forma
imediata, com a compra de pacotes de ações de empresas de energia solar
da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">China</strong>, para depois adquirir tanta quantidade de seus painéis solares quanto lhe fosse possível.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">Esta
é uma alternativa muito mais barata do que a construção de reatores
nucleares ou usinas de energia à base de combustíveis fósseis.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">As
abundantes reservas de petróleo iraniano ficaram debaixo da terra como
um valioso insumo industrial em lugar de queimá-las, um plano que eu
propus no programa de televisão<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Today Show</strong>, da rede norte americana <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">NBC</strong>. Em 1965!</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">O <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">plano Via Solar Para o Irã</strong> exigiria
a ampliação dos serviços ferroviários na rota da seda para a China, a
fertilização de terras desérticas com flora de água salgada, como ocorre
com seu plano DesertCorp, de expandir a agricultura com base na água do
mar em regiões desérticas.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">Os
tropeços de hoje estão gerando novos planos sistêmicos e avanços
propostos há anos por cidadãos futuristas e planetários. Esses planos
para nosso futuro em comum e as economias verdes estão cobertos pela <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Ethical Markets Media</strong> nos <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Estados Unidos</strong> e no<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Brasil</strong>, mas não aparecem com frequência nos principais meios de comunicação.</span></div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><a href="https://www.blogger.com/null" name="thumbs"></a><br /><br /></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div id="thumbSlideshowLayer" style="text-align: justify;">
</div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /><br /></span></div>
<br />
<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-48732905791464625942014-07-31T15:34:00.000-03:002014-07-31T15:34:00.477-03:00A crise infindável como instrumento de poder
<br />
<div id="message_box">
<div class="headline_info" style="border: 0px none; float: left; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; position: relative;">
<br /><h2 class="contentheading" style="border: 0px none; display: table-cell; letter-spacing: -1px; line-height: 36px; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px 0px 4px; vertical-align: top; width: 637px;">
<span style="font-size: large;">Uma conversa com Giorgio Agamben</span></h2>
</div>
<div class="headline_info" style="border: 0px none; float: left; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; position: relative;">
<h2 class="contentheading" style="border: 0px none; display: table-cell; letter-spacing: -1px; line-height: 36px; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px 0px 4px; vertical-align: top; width: 637px;">
<span style="font-size: small;"> </span></h2>
</div>
<div class="msgpart clearfix" id="msgBody">
<div id="bodyContent">
<div>
<div class="headline" style="border: 0px none; color: #1a1a1a; font-family: Arial; line-height: 15px; margin: 0px 0px 10px; outline: 0px none; overflow: hidden; padding: 0px; width: 637px; word-wrap: break-word;">
<div style="border: 0px none; clear: both; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;"> </span></div>
</div>
<div id="texto-aumenta" style="border: 0px none; color: #1a1a1a; font-family: Arial; line-height: 15px; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<div class="article_text" style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Em meio a repercussões apaixonadas e críticas difamatórios ao artigo <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Um “Império latino” contra a híper potência alemã</strong>, o filósofo <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/533322-agamben-o-pensamento-como-coragem" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Giorgio Agamben</a> discute a atual crise econômica (que tem atuado como instrumento de dominação) em entrevista traduzida em primeira mão pelo <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Blog da Boitempo</strong>. Segundo o autor de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">O reino e a glória</strong> e <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Opus dei</strong>,
ao voltarmos nossas reflexões à União Europeia, não devemos esquecer a
“verdade dolorosa, porém óbvia” de que a constituição europeia é
ilegítima, pois nunca foi votada pelo povo que deveria representar.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A entrevista é de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Dirk Shümer</strong>, publicada originalmente em alemão pelo <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Frankfurter Allgemeine Zeitung</strong> e reproduzido em português pelo <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Blog da Boitempo</strong>.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Eis a entrevista.</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Professor
Agamben, quando você propôs a ideia de um “Império latino” contra a
dominação germânica na Europa, você imaginava a poderosa repercussão que
esta contenção teria? De lá pra cá, seu artigo foi traduzido para
inúmeras línguas e vem sendo discutido fervorosamente no mundo inteiro.</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Não, não esperava. Mas acredito no poder das palavras, quando ditas no momento certo.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">A fratura na União Européia se dá realmente entre as economias e modos de vida do norte ‘germânico’ e do sul ‘latino’?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Gostaria
de deixar claro de antemão que minha tese tem sido desvirtuada por
jornalistas e, portanto, mal interpretada. O título “Que o império
latino contra-ataque!” foi fornecido pelos editores do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Libération</strong> e
absorvido pela imprensa alemã. Eu nunca disse isso. Como poderia
contrapor a cultura latina à alemã quando qualquer europeu inteligente
sabe que a cultura italiana da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Renascença</strong> ou a cultura da Grécia clássica é hoje completamente parte da cultura alemã, que a reconcebeu e reapropriou?</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Então nada de ‘Império latino’ dominante? Nada de alemães incultos?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Na Europa, a identidade de toda cultura está sempre nas fronteiras. Alemães como<a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-arquivadas/1638-o-guardiao-da-obra-de-max-weber-entrevista-com-wolfgang-schluchter" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Winckelmann</a> ou <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Hölderlin</strong> poderiam ser mais gregos que os gregos. E um fiorentino como Dante poderia sentir-se tão alemão quanto o imperador <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Frederico II </strong>da
Suábia. Isto é justamente o que faz a Europa: uma peculiaridade que
repetidamente se sobrepõe a fronteiras nacionais e culturais. Minha
crítica não se dirigia à Alemanha, mas sim à forma pela qual a <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/530198-o-acordo-comercial-com-os-estados-unidos-ameaca-expandir-o-fracking" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">União Europeia</a> foi
construída, isto é, sob uma base exclusivamente econômica. De forma que
não foram ignoradas apenas nossas raízes espirituais e culturais, mas
também nossas raízes políticas e legais. Se isto foi tomado como uma
critica à Alemanha, é só porque a Alemanha, em virtude de sua posição
dominante e a despeito de sua tradição filosófica excepcional, parece
incapaz, no atual momento, de conceber uma Europa baseada em qualquer
coisa que não apenas o Euro e a economia.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">De que forma a União Europeia negou suas raízes políticas e legais?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Quando
falamos da Europa hoje, nos deparamos com a repressão gigantesca de uma
verdade dolorosa, porém óbvia: a dita constituição europeia é
ilegítima. O texto a que damos esse nome nunca foi votado pelo povo. Ou
quando chegou a ser posto em votação, como na França e na Holanda em
2005, foi frontalmente rejeitado. Em termos legais, portanto, o que
temos aqui não é uma constituição, mas, pelo contrário, um tratado entre
governos: lei internacional, não lei constitucional. Recentemente, o
altamente respeitado jurista alemão<a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/515807-ayres-britto-politico" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Dieter Grimm</a> chamou
atenção para o fato de que a constituição europeia carece do
fundamental – o elemento democrático – já que cidadãos europeus não
foram autorizados a decidir sobre ela. E agora todo o projeto de
ratificação pelo povo foi tacitamente posto em gelo fino.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Este é, de fato, o famoso ‘déficit democrático’ no sistema europeu…</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Não
devemos perder isso de vista. Jornalistas, particularmente na Alemanha,
têm me acusado de não entender nada de democracia, mas eles deveriam
considerar antes de mais nada que a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">UE</strong> é
uma comunidade baseada em tratados entre Estados, e simplesmente
disfarçada com uma constituição democrática. A ideia de um poder
constituinte na Europa é um espectro que ninguém mais arrisca evocar.
Mas é só com uma constituição válida que as instituições europeias podem
restabelecer sua legitimidade.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Isso significa que você vê a União Europeia como um corpo ilegal?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Não
ilegal, mas ilegítimo. “Legalidade” é uma questão das regras para
exercício do poder; “legitimidade” é o princípio que subjaz a essas
regras. Tratados legais certamente não são apenas formalidades, mas
refletem uma realidade social. É compreensível, portanto, que uma
instituição sem uma constituição seja incapaz de seguir uma política
genuína, mas que cada Estado europeu continua agindo de acordo com seu
interesse egoísta – e hoje isso evidentemente significa interesse
sobretudo econômico. O menor denominador comum de unidade é alcançado
quando a Europa aparece como vassala dos Estados Unidos e participa de
guerras que de forma alguma são de interesse comum, sem falar na vontade
do povo. Vários países dos Estados fundadores da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">UE</strong> –
como a Itália, com suas várias bases militares americanas – estão mais
para protetorados que para Estados soberanos. Na política e no
militarismo existe uma Aliança Altântica, mas certamente não há uma
Europa.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Você preferiria então um Império latino a cujo modo de vida os alemães teriam de se adaptar, à UE…</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Não, foi talvez de forma um tanto provocativa que assumi o projeto de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Alexander Kojève</strong> de um “Império latino”. Na <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Idade Média</strong>,
as pessoas ao menos sabiam que a unidade de diferentes sociedades
políticas tinha de significar mais do que uma sociedade puramente
política. Na época, o vínculo unificador era buscado no cristianismo.
Hoje acredito que essa legitimação deve ser buscada na história da
Europa e de suas tradições culturais. Diferente dos asiáticos e dos
americanos, para quem a história significa algo completamente diferente,
europeus sempre encontram sua verdade em um diálogo com seu passado. O
passado para nós significa não apenas herança cultural e tradição, mas
uma condição antropológica básica. Se ignorássemos nossa própria
história, poderíamos apenas acessar o passado arqueologicamente. O
passado, para nós, tornar-se-ia uma forma de vida distinta. A Europa tem
uma relação especial com suas cidades, seus tesouros artísticos, suas
paisagens. É disso que a Europa é realmente feita. É nisso que reside
sua sobrevivência.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Então a Europa é antes de mais nada uma forma de vida, uma sensação histórica de vida?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Sim,
por isso insisti em meu artigo que temos de preservar
incondicionalmente nossas distintas formas de vida. Quando bombardearam
as cidades alemãs, os Aliados também sabiam que podiam destruir a
identidade alemã. Da mesma forma, especuladores estão destruindo hoje a
paisagem italiana com concreto, autoestradas e vias expressas. Isso não
significa apenas o roubo de nossa propriedade, mas também de nossa
identidade histórica.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Então a UE deve insistir mais nas diferenças do que na harmonização?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Talvez
não haja lugar algum no mundo a não ser na Europa onde tal diversidade
de culturas e formas de vidas – ao menos em momentos preciosos – forme
uma unidade perceptível. No passado, a meu ver, a política foi expressa
na ideia do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Império Romano</strong> e, em seguida, do<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Império greco-romano</strong>.
O todo, no entanto, sempre deixou as peculiaridades dos povos intactas.
Não é fácil dizer o que poderia emergir hoje no lugar disso. Mas
certamente uma entidade política sob o nome de Europa só pode partir
dessa consciência do passado. É precisamente por esta razão que a atual
crise me parece tão perigosa. Temos que imaginar a unidade preservando
em primeiro lugar uma consciência das diferenças, pense sobre isso. Mas,
muito pelo contrário, o que vemos é que nos Estados europeus as escolas
e universidades estão sendo demolidas e financeiramente esvaziadas –
precisamente as instituições que deveriam perpetuar nossa cultura e
estimular o contato vivo entre passado e presente. Esse esvaziamento vem
acompanhado de uma crescente museificação do passado. Temos o começo
disto na transformação de algumas cidades em zonas históricas, e em que
os habitantes são forçados a se sentirem turistas em seu próprio mundo
da vida (Lebenswelt).</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Essa crescente museificação é contrapartida do crescente empobrecimento?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Está
claro que não nos deparamos apenas com problemas econômicos, mas com a
existência da Europa como um todo – começando pela nossa relação com o
passado. O único lugar em que o passado pode viver é no presente. E
quando o presente deixa de ver seu próprio passado como algo vivo as
universidades e museus tornam-se problemáticos. É evidente que existem
forças em operação hoje na Europa que visam manipular nossa identidade,
quebrando o cordão umbilical que ainda nos liga ao passado. As
diferenças estão sendo niveladas. Mas a Europa só pode ser nosso futuro
se deixarmos claro para nós mesmos que isso significa antes de mais nada
nosso passado. E este passado está sendo crescentemente liquidado.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Seria a crise onipresente a forma de expressão de todo um sistema de dominação, dirigido a nossa vida cotidiana?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O
conceito de “crise” de fato tem se tornado o mote da política moderna e
tem sido por muito tempo parte da normalidade em qualquer segmento da
vida social. A palavra expressa duas raízes semânticas: a médica, que se
refere ao curso de uma doença, e a teológica, que remete ao <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Juízo Final</strong>.
Ambos significados, no entanto, sofreram uma transformação hoje, que os
desprovê de sua relação com o tempo. “Crise” na medicina antiga remetia
a um julgamento, ao momento decisivo em que o médico percebia se o
doente sobreviveria ou não. A concepção atual de crise, por outro lado,
se refere a um estado duradouro. Assim, essa incerteza é estendida ao
futuro, ao infinito. É exatamente o mesmo com o sentido teológico: o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Juízo Final</strong> era
inseparável do fim dos tempos. Hoje, no entanto, o juízo é divorciado
da ideia de resolução e repetidamente adiado. Então o prospecto de uma
decisão é cada vez menor, e um processo interminável de decisão jamais
se conclui.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Isso significa que a crise da dívida, das finanças públicas, monetária, da União Europeia… é interminável?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A
crise atual tornou-se um instrumento de dominação. Ela serve para
legitimar decisões políticas e econômicas que de fato desapropriam
cidadãos e os desproveem de qualquer possibilidade de decisão. Na Itália
isso é muito claro. Aqui um governo foi formado em nome da crise e
Berlusconi voltou ao poder apesar de basicamente contrariar a vontade do
eleitorado. Esse governo é tão ilegítimo quanto a dita constituição
europeia. Os cidadãos da Europa devem ter claro que esta crise
interminável – assim como um estado de emergência – é incompatível com a
democracia.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Que perspectivas restam para a Europa?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Em
primeiro lugar, devemos restaurar o significado original da palavra
“crise”, como um momento de julgamento e de escolha. Para a Europa, não
podemos adiá-la ao futuro indefinido. Muitos anos atrás, um alto oficial
da então incipiente Europa, o filósofo <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/514194-interprete-incansavel-do-seculo-20" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Alexandre Kojève</a>, assumiu que o homo sapiens havia chegado ao fim da história e que só restavam duas possibilidades: o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">american way of life</strong> (que <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Kojève</strong> via
como uma vegetação pós-histórica), ou o esnobismo japonês, a simples
celebração dos rituais vazios da tradição agora furtados de qualquer
sentido histórico. Acredito que a Europa poderia, no entanto, realizar a
alternativa de uma cultura que permanece ao mesmo tempo humana e vital,
porque continua em diálogo com sua própria história e portanto adquire
nova vida.</span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">A Europa, compreendida como cultura e não apenas como espaço econômico, poderia portanto fornecer uma resposta à crise?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Por
mais de duzentos anos, as energias humanas vêm sendo focadas na
economia. Muito indica que o momento talvez tenha chegado para os homo
sapiens organizarem a ação humana para além desta única dimensão. A
velha Europa pode justamente fazer uma contribuição decisiva ao futuro
aqui.</span></div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><a href="https://www.blogger.com/null" name="thumbs"></a><br /><br /></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div id="thumbSlideshowLayer" style="text-align: justify;">
</div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><br /><br /></span></div>
<br />
<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-17651646805652043052014-07-26T15:32:00.001-03:002014-07-26T15:32:15.346-03:00 O efeito dominó do derretimento do Ártico<div style="text-align: justify;">
</div>
<div id="message_box">
<div class="msgpart clearfix" id="msgBody" style="text-align: justify;">
<div id="bodyContent">
<br /><div style="text-align: justify;">
<div id="texto-aumenta" style="border: 0px none; color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 16px; line-height: 15px; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<div class="article_text" style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
As altas temperaturas fazem com que o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Oceano Ártico</strong>, que costumava estar congelado na maior parte do ano, agora seja um canal de navegação aberto mais da metade do tempo.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
A reportagem é de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Robert Hunziker</strong>, publicada pela <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Counterpunch</strong>, 09-07-2014. A tradução é de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Vinicius Gomes</strong>.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
Os
“problemas” globais a economia e as guerras, provavelmente serão como
um piquenique numa tarde de verão frente ao derretimento do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ártico</strong>.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
Os
maiores assuntos globais hoje incluem a recuperação das economias da
crise financeira de 2008 e das guerras regionais por controle
territorial, como no <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Iraque</strong>.
De qualquer maneira, primeiramente e mais importante, os líderes do
mundo deveriam na verdade estar focados como laser nos riscos inerentes
vindos do derretimento completo do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ártico</strong>, que hoje é o canário na mina de carvão para o planeta inteiro.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
As lutas territoriais no <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Oriente Médio</strong> e na <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ucrânia</strong>, quando comparadas com a situação do<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ártico</strong>, é o equivalente de crianças brincando com bonecos de borracha. De fato, mais um passo à frente e consequência final de um <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ártico</strong> sem gelo faria <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Hiroshima</strong> parecer como um piquenique em uma tarde de verão.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
Já é bastante óbvio que nenhuma grande nação está se antecipando para a crise no <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ártico</strong>,
pois caso contrário, elas estariam correndo o mais rapidamente e
humanamente possível para trocar seus combustíveis fósseis para fontes
de energias renováveis.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Cuidado: gelo fino à frente</strong></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
Da maneira como as coisas estão, as condições do gelo marítimo no <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ártico</strong> estão
perigosamente próximas do abismo. Essa é a situação: a extensão do gelo
no início do mês de julho por mais próxima que esteja de um recorde
baixo para essa época do ano, a principal preocupação é a velocidade com
que esse declínio está acontecendo. Continuando nessa corrente, o
derretimento tenderá a ficar cada vez mais veloz.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
Como publicado na última sexta-feira (4), em <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Arctic News</strong>:
“A atual corrente no declínio da extensão do gelo marítimo está muito
mais inclinado do que o comum para essa época do ano, além disso, o
total colapso do gelo ártico pode ocorrer se tempestades continuarem a
acontecer – forçando mais gelo ártico a cair no <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Oceano Atlântico</strong>.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Compreendendo a crise de um Ártico sem gelo</strong></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
As ramificações terríveis e destrutivas de um colapso total do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ártico</strong> não são completamente compreendidas por 99,99% das pessoas no planeta.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
Todavia, os detalhes sobre as prováveis consequências de um <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ártico</strong> sem gelo já estão disponíveis. Como no brilhante vídeo tutorial, tudo o que uma pessoa precisa saber sobre o derretimento do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ártico</strong> em 40 minutos.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
Para
aqueles que têm déficit de atenção e não conseguem assistir, o resumo
seria esse: o planeta pode virar um inferno, e isso em décadas e não
séculos. Baseando-se em observações diretas e não de modelos
científicos, o volume do gelo marítimo já está em colapso, por exemplo: o
volume durante a década de 1990 era cerca de 15 mil km³, em 2006 era de
10 mil e em 2012, apenas 3 mil – além disso, a mudança no padrão da
perda da massa de gelo está acelerando: a perda era estável ao longo da
década de 1980, nos anos 1990 foi para 4,5 mil km³, durante os anos 2000
foi para 9 mil e em 2013 era de 13 mil.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
Então sim, parece que se passou do ponto em que a “atividade humana jogando muito <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">CO2</strong>na
atmosfera”, já nem seja mais aplicável para a perda de massa de gelo,
pois aparentemente a situação já está próxima de se autoreplicar.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
Seguindo a fileira de dominós, uma vez que o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ártico</strong> esteja
livre de gelo no verão de setembro, toda a energia solar que
anteriormente derreteu esse gelo está agora disponível para aquecer os
mares e o pergelissolo. Assim sendo, quando o inverno voltar a congelar
as águas, o gelo estará mais fino e, no ano seguinte, o derretimento
será mais rápido e assim, se autoperpetuando e derrubando os dominós,
nós teremos:</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">-</strong> a liberação de metano (<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">CH4</strong>) congelado por milênios nos blocos de gelo e que é o gás mais efetivo para a aceleração do aquecimento global</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">-</strong> acelerando um eventual colapso do gelo da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Groenlândia</strong>, causando um aumento em potencial de 21 pés no nível da água do mar,</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">-</strong> distorcendo as correntes do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Golfo</strong></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">-</strong> distorcendo as correntes de ar acima de 30 mil pés de altitude, criando temperaturas anômalas por todo o hemisfério norte.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
Essas
consequencias são horrendas, impensáveis e aterrorizantes e, como tudo
parece sugerir, o derretimento do gelo é, de fato, exponencial, o que
torna os “modelos” usados pelo<a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/524110-ipcc-dez-pontos-para-voce-entender-as-discussoes-sobre-clima" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Painel Intergovernamental da Mudança Climática</a> (<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">IPCC</strong>, sigla em inglês), que luta para evitar um <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ártico</strong> sem gelo no futuro, irrelevantes e inúteis.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Usando biquinis no Pólo Norte</strong></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
Um dos grandes problemas do planeta é muito calor em todos os lugares errados.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
Na <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Groelândia</strong>,
“Segundo o instituto nacional climático, a maior temperatura já
registrada para o mês de junho, foi atingida no dia 15, de 23,2 °C.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
Em 2 de julho, a temperatura na gélida região de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Labrador</strong>, no <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Canadá</strong>, chegou a 30°C. O aquecimento do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ártico</strong> está alterando as correntes de ar e mudando drasticamente os padrões climáticos do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Norte</strong>.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
“Ao passo que o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ártico</strong> está esquentando mais rápido que o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Equador</strong>, a diferença nas quedas de temperaturas entre os dois reduz a velocidade na qual o ar quente se move do<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Equador</strong> para o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Pólo Norte</strong>.
Isso, por consequência, diminui a velocidade na qual as correntes de ar
circunavegam o globo no hemisfério norte, deformando assim as correntes
de ar”, lia-se na matéria “O que está de errado com o clima”, do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Arcitc News</strong>.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Política: a cúmplice da negação do <a href="http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/519863-aquecimento-global-e-suas-implicacoes-para-o-futuro-humano-entrevista-especial-com-ernesto-lavina" style="border: 0px none; color: #e66101; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">aquecimento global</a></strong></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
A evidência tangivel da mudança climática radical, especialmente no <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ártico</strong>, torna muito difícil de aceitar, sem dar risada, da geralmente repetida afirmação de que os <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">EUA</strong> são os “líderes do mundo livre”.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
Afinal, nas últimas duas décadas, os <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">EUA</strong> tem
sido um destemido obstáculo para o mundo livre conseguir solucionar a
controversa mudança climática/aquecimento global. Quando foi a última
vez que o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Congresso norte-americano</strong> fez qualquer coisa construtiva sobre a crise climática?</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Ah…</strong></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
O
cenário politico norte-americano está recheado de declarações ingênuas e
mentirosas sobre a mudança climática que vão além da falha, banal e
simplistas referências ao aquecimento global como uma farsa; ou
questionar a ética dos cientistas ou dizer que isso é uma conspiração
de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Hollywood</strong> com<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;"> Al Gore</strong>.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
Essas
são respostas de criança para um assunto de adultos, e algumas das
declarações mais infantis vêm, invariavelmente, de candidatos
presidenciais.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">E se o Ártico ficar sem gelo até 2020, ou mesmo antes?</strong></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
De acordo com o maior especialista mundial sobre gelo polar, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Peter Wadhams</strong>, professor de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Físicas do Oceano Polar na Universidade de Cambridge</strong> –
que conduziu pessoalmente 40 expedições polares, incluindo 10 missões
em submarinos nucleares debaixo do gelo para medir precisamente a
espessura do gelo: uma vez que o gelo vai ficando cada vez mais fino,
ele irá desaparecer…para sempre.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
As
consequências resultantes são terríveis ao passo que o aquecimento se
autoamplifica e o planeta passa do ponto de ebulição – sendo essa apenas
uma das várias consequências já mencionadas.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
Por
mais dificil que seja acreditar que tudo isso possa de fato acontecer
e, francamente, é muito difícil de visualizar a realidade disso além de
uma possibilidade, é a ainda mais exasperante saber que a liderança dos <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">EUA</strong> permanece ociosa, enquanto o gelo vai embora cada vez mais rápido.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
Afinal
de contas, há opções construtivas e técnicas, algumas experimentais –
outras como conversões para fontes de energia renovável, que podem
mitigar a situação, até mesmo prevenir o colapso, mas quem é que sabe?</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px;">
De agora em diante, no final do dia, ninguém sabe ao certo quando, ou se já é, tarde demais.<br />Mas,
baseando na atua taxa de perda de gelo, que esteve ali desde o tempo em
que mundo era mundo, algo desastroso está destinado a acontecer.</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="thumbs"></a><br /><br /></div>
<div id="thumbSlideshowLayer" style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /><br /></div>
<br />
<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-65121264697330283402014-07-22T18:20:00.000-03:002014-07-22T18:20:00.666-03:00Capitalismo, violência e decadência sistêmica<div id="bodyContent">
<div>
<div class="headline" style="border: 0px none; color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 12px; line-height: 15px; margin: 0px 0px 10px; outline: 0px; overflow: hidden; padding: 0px; width: 637px; word-wrap: break-word;">
<span style="font-size: small;"> </span><span style="font-size: small;">
</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div id="texto-aumenta" style="border: 0px none; color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 16px; line-height: 15px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">
</span><div class="article_text" style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">"Podemos incluir um pequeno acrescento entre parênteses à célebre expressão de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Voltaire</strong> para
afirmar que a civilização (burguesa) não suprimiu a barbárie e sim que a
aperfeiçoou. O capitalismo não deve ser assumido como uma etapa em
última instância positiva na marcha do progresso humano e sim como uma
desgraça, como um desastre, uma degeneração cuja não existência teria
evitado numerosas tragédias", escreve <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-anteriores/29498-convergencia-sul-sul-para-uma-nova-economia-pos-crise" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Jorge Beinstein</a>, economista e professor na <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Universidade de Buenos Aires</strong>, em artigo publicado pelo sítio <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">resistir.info</strong>, 07-07-2014.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Eis o artigo.</strong></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Da
Líbia à Venezuela, passando pela Síria, México, Ucrânia, Afeganistão ou
Iraque, no que já decorreu da década actual presenciámos o
desdobramento planetário permanente da violência directa ou indirecta
(terciarizada) dos Estados Unidos e dos seus sócios-vassalos da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">NATO</strong>.
Toda a periferia foi convertida no seu mega objectivo militar. A onda
agressiva não se acalma, em alguns casos combina-se com pressões e
negociações mas a experiência indica que o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Império</strong> não
agride para se posicionar melhor em futuras negociações e sim que
negoceia, pressiona, com o fim de conseguir melhores condições para a
agressão.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Estas
intervenções quando têm "êxito", como na Líbia ou no Iraque, não
concluem com a instauração de regimes coloniais "pacificados",
controlados por estruturas estáveis, como ocorria nas velhas conquistas
periféricas do Ocidente, e sim com espaços caóticos dilacerados por
guerras internas. Trata-se da emergência induzida de
sociedades-em-dissolução, da configuração de desastres sociais como
forma concreta de submetimento, o que coloca a dúvida acerca de se nos
encontramos diante de uma diabólica planificação racional que pretende
"governar o caos", submergir as populações numa espécie de indefensão
absoluta convertendo-as em não-sociedades para assim saquear seus
recursos naturais e/ou anular inimigos ou competidores... ou, ao
contrário, trata-se de um resultado não necessariamente buscado pelos
agressores, expressão do seu fracasso como amos coloniais, da sua alta
capacidade destrutiva associada à sua incapacidade para instaurar uma
ordem colonial ("incapacidade" decorrente da sua decadência económica,
cultural, institucional, militar). Provavelmente encontramo-nos diante
da combinação de ambas as situações.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Também é possível supor que o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Império</strong>,
na sua decadência, se encontra prisioneiro de um emaranhado de
interesses políticos, financeiros, mafiosos... conformando uma dinâmica
auto-destrutiva imparável que o obriga a desenvolver operações
irracionais se observamos o fenómeno com um certo distanciamento
histórico, mas completamente racionais se reduzimos a observação ao
espaço da razão instrumental directa dos conspiradores, ao seu
micromundo psicológico (a razão da loucura como razão de estado ou
astúcia mafiosa impondo-se à racionalidade no seu sentido mais amplo,
superior).</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Ainda
que esses desastres não representem necessariamente acções de verdugos
impiedosos a destruírem paraísos periféricos, o capitalismo é uma
totalidade global e o que aparece como a decadência do centro imperial é
a manifestação decisiva mas parcial de um fenómeno planetário que
inclui a periferia presa na armadilha da sobredeterminação burguesa
universal (decadente) das suas sociedades. A operação de destruição da
Líbia lançando sobre o seu território ondas de mercenários e
bombardeamentos pôde triunfar graças à degradação do regime kadafista; o
golpe neonazi de Fevereiro de 2014 na <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Ucrânia</strong>capturou
o governo de uma "república" resultante do desastre soviético que a
havia submergido num gigantesco apodrecimento seguido pela instauração
de um capitalismo mafioso; a desestabilização da Venezuela orquestrada
pelos Estados Unidos apoia-se em sectores das classes médias conduzidos
pela velha burguesia local que não foi eliminada depois de quinze anos
de "revolução" ("bolivariana" autoproclamada "socialista") eternamente a
meio caminho... essas elites não foram varridas do cenário ainda que
fossem irritadas, enfurecidas pela ascensão social das classes baixas.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Tudo
isto nos conduz à necessidade de estabelecer o momento da história do
capitalismo em que nos encontramos. Trata-se do bordel sangrento global
prelúdio de uma nova acumulação primitiva berço de um futuro
super-capitalismo ou dos golpes finais, desesperados, de uma civilização
que entrou no ocaso?</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Proponho responder a essa pergunta utilizando aquela velha e tão repetida frase de<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> Churchill</strong> em plena <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Segunda Guerra Mundial</strong> quando, ao terminar a batalha de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">El Alamein</strong>,
assinalou que esse facto era não "o começo do fim (da guerra) e sim o
fim do começo" de um processo muito mais importante, decisivo.
Encontramo-nos actualmente na presença do fim do começo , vai-se
concluindo a etapa preparatória do declínio ocidental que se prolongou
durante várias décadas e começa a emergir o começo do fim , o
desmoronamento do capitalismo como civilização que, como outras
civilizações em declínio, provavelmente percorrerá uma trajectória
temporal complexa de duração indeterminável de antemão.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Ainda
que não possa deixar de assinalar diferenças decisivas com as
civilizações anteriores, como seu carácter planetário (não limitado a
uma região), a massa de população incluída no processo (actualmente umas
sete mil milhões de pessoas e não apenas umas poucas dezenas ou
centenas de milhões) e o descomunal desenvolvimento das suas forças
produtivas, com capacidade industrial e militar para destruir totalmente
a vida no planeta. O que coloca de maneira radicalmente distinta o
opção que enfrentaram todas as decadências de civilizações: superação ou
afundamento num longo desastre do qual emergia mais adiante uma nova
civilização no espaço anterior ou imposta por uma força externa. Isto
não é a decadência da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Babilónia</strong> devastada
pelos pântanos difusores de malária gerados pelo seu próprio
desenvolvimento, nem da Roma imperial esmagada pelo parasitismo e a
hipertrofia militar, resultado da sua dinâmica imperialista marchando em
direcção ao abismo enquanto boa parte do resto da humanidade ignorava
esses factos. <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[1]</strong></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Violência e decadência sistémica</strong></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O
fenómeno sobredeterminante é a decadência, demonstrada por numerosos
indicadores como o declínio a longo prazo (desde os anos 1970) da taxa
de crescimento económico global activada pelo arrefecimento tendencial
do crescimento dos países centrais e a seguir pelo acompanhamento desta
tendência por um processo de hipertrofia financeira que se articula com
um aparelho parasitário sem precedentes: consumista, militar e
burocrático.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Encontramo-nos diante de sociedades imperiais tão decadentes que já não podem mobilizar militarmente a sua juventude como no <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">século XX</strong>,
ainda que a sua capacidade financeira e os seus avanços tecnológicos
lhe permitam contratar mercenários em substituição das forças operativas
tradicionais (a oferta de lumpens proveniente de todos os continentes é
directamente proporcional ao progresso da decadência), utilizar armas
como os drones e outros artefactos mortíferos super refinados que
estabelecem um fosso técnico descomunal entre agressores e agredidos e,
finalmente, esmagar com manipulações mediáticas suas vítimas directas e o
resto do mundo.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Estas
"vantagens" são ao mesmo tempo expressões de poder e de fraqueza, de
capacidade destrutiva mas também de descontrole ideológico das suas
próprias sociedades, da ilegitimidade interna das suas operações, o que
somado à sua deterioração económica impede-os de passar da destruição à
reconstrução colonial dos territórios conquistados.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">As transformações burguesas das sociedades europeias haviam gerado, desde os fins do século <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">XVIII</strong>,
a possibilidade de integrar o conjunto da população às suas diferentes
aventuras militares. Desse modo, o cidadão-soldado e a guerra de massas
substituíram o mercenário e os exércitos das aristocracias. Os
assassinos a soldo cederam lugar aos assassinos voluntários ou forçados
que entregavam a sua vida não por dinheiro e sim pela defesa da
"pátria", da "liberdade", etc.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Mas a decadência do capitalismo e a sua transformação, depois do aggiornamento burguês da China e do derrube da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">URSS</strong>,
em sistema único (ou seja, em dominação planetária, visivelmente amoral
das elites parasitárias) deitou abaixo os mitos, as legitimações que
permitiam aos estados fabricar causas nobres para enviar à morte o
cidadão comum.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A
perda de legitimidade do aparelho militar ocidental surge como um traço
decisivo da decadência, mas a reprodução imperialista continua e o
exercício da violência contra a periferia retoma a velha tradição dos
exércitos mercenários.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Agora
a propaganda do poder junto às suas populações não tem como objectivo
arrastá-las ao campo de batalha (operação inviável) e sim, antes, obter a
sua aprovação passiva ou diluir a sua recusa diante de aventuras
fisicamente distantes apresentadas como fenómeno virtual, como um
elemento mais do entretenimento brindado pela televisão e outros meios
de comunicação.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O desdobramento bélico foi teorizado pela chamada <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Guerra de Quarta Geração</strong> ,
resultado das reflexões no alto nível militar dos Estados Unidos
posteriores à derrota do Vietname, visualizada como "guerra assimétrica"
onde a força inimiga com baixo nível tecnológico e reduzida potência de
fogo, mas bem integrada à população, pôde derrotar o exército imperial
possuidor de um elevado nível tecnológico e um gigantesco poder de fogo.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A
nova doutrina militar aponta não para a simples destruição da força
militar inimiga e sim, principalmente, para o conjunto da sociedade que a
sustenta. A desintegração social (económica, moral, cultural,
institucional) passa a ser o objectivo procurado e esse processo pode-se
dar ou não com intervenções directas e sim, antes, com combinações
variáveis de intervenções externas (militares, mediáticas, económicas,
etc) e acções de desestabilização interna.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Estabelece-se
assim uma ampla variedade de cenários de agressão. Num extremo podemos
localizar as guerras do Afeganistão e Iraque, numa zona intermédia a
Líbia, a Síria ou a Jugoslávia e, no outro extremo, as chamadas
intervenções suaves ou revoluções coloridas como no Paraguai, Honduras
ou Ucrânia. Todas elas implicam o desenvolvimento intenso de acções
violentas no começo da operação, em algum momento da mesma ou como
resultado da vitória imperialista. Mas estas guerras de configuração
variável não resolvem o problema da dominação colonial da periferia, o
caos instalado entorpece, encarece ou por vezes torna impossíveis os
saqueios sistemáticos.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O atalho da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Guerra de Quarta Geração</strong> aparece
como o que realmente é: o máximo possível de agressão num contexto de
debilidade estratégica do agressor cujo resultado é não só a caotização
periférica como também a degradação interna. As operações mafiosas em
direcção ao exterior acabam por consolidar práticas mafiosas dentro do
aparelho dominante do Império, onde se propagam as camarilhas
parasitárias, as tendências irracionais, as loucuras elitistas, as
rupturas das regras de jogo institucionais.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Começo do fim: o mundo depois de 2008-2013</strong></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O
sexénio 2008-2013 marca a transição entre o declínio relativamente
suave e controlado do sistema, iniciado no princípio dos anos 1970, e a
sua degradação geral de que estamos a presenciar os primeiros passos.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A
crise desencadeada entre fins dos anos 1960 e princípios dos anos 1970
não foi superada como as anteriores, através de uma grande onda
depressiva destruidora de empregos e empresas que, reduzindo salários e
concentrando a produção e a procura solvente, disparava um novo ciclo
ascendente da economia. A era das "crises cíclicas", descritas por <a href="http://www.ihu.unisinos.br/outros-testemunhos/507410-karl-marx-14-de-marco" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Marx</a>, havia concluído. Ainda que <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Marx</strong> explicasse
que essas crises recorrentes iriam acumulando desordem no sistema – até
que as forças entrópicas adquirissem uma dimensão tal que já nenhuma
reconstrução capitalista seria possível. Ficava assim prognosticada a
crise geral do capitalismo, o esquema teórico decorrente da lógica da
sua dinâmica de acumulação O que de modo algum podia ser prognosticado
era o seu desenvolvimento histórico concreto, seus tempos, seus
protagonistas de carne e osso, os atalhos e inovações sociais que
permitiram adiar ou precipitar o desenlace.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A avaliação prospectiva de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Marx</strong> era
um cenário muito geral que dava cabimento a uma ampla gama de futuros
possíveis. Não se tratava de uma profecia apocalíptica na qual se
estabelece uma data ou como calculá-la, descrições precisas de actores e
coreografia, etc. Mas esse esquema teórico permitia a <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/505607-marx-2020" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Marx</strong> e <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Engels</strong></a> explicar,
por exemplo, que "dado um certo nível de desenvolvimento das forças
produtiva, surgem forças de produção e de meios de produção tais que nas
condições existentes provocam catástrofes, já não são mais forças de
produção e sim e destruição" <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[2]</strong> , o que abria a reflexão acerca do carácter auto-destrutivo da civilização burguesa na sua etapa decadente mais avançada.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">E
isso começou a ser inegável em torno de 2008-2013, ainda que muito
antes desse período fossem aparecendo sinais de alerta a respeito –
quase sempre ignorados pelos grandes meios de comunicação e pelas
ciências sociais. Quando se referiam a possíveis desastres ambientais,
sanitários ou políticos atribuíam-nos a manejos irracionais corrigíveis
no interior do sistema. A isso apegaram-se "a partir da esquerda" alguns
adoradores masoquistas do capitalismo, propondo uma espécie de
eternização dos seus ciclos, tentando destacar na crise em curso os
sinais da próxima recuperação do sistema. Mas esses sinais eram puras
fantasias ou então ladainhas conservadoras baseadas em que "sempre" o
capitalismo havia conseguido superar suas crises, naturalmente à custa
dos trabalhadores – o que normalmente entristecia o auditório (e não
muito o orador).</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Dentre
os variados factores da decadência destacam-se dois que são decisivos: a
degradação (e hipertrofia) financeira e a degradação (e hipertrofia)
militar.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A partir de 1990 (aproximadamente), enquanto o <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-arquivadas/17089-a-%60desfinanceirizacao%60-da-economia-global" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Produto Mundial Bruto</a> vinha
decrescendo suavemente em progressão aritmética (desde os anos 1970), a
massa financeira começou a crescer em progressão geométrica. Os
produtos financeiros derivados, sua espinha dorsal, que nos fins dos
anos 1990 representavam umas duas vezes o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">PBM</strong>, em 2008 passaram a representar umas 12 vezes o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">PBM</strong> – mas a partir daí a expansão estancou e tendeu a decrescer pouco a pouco.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Durante a sua ascensão a especulação financeira foi a muleta parasitária que permitiu aos consumidores, empresas e estados do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Primeiro Mundo</strong> continuarem
a gastar e investir apesar de os rendimentos marginais da avalanche
financeira serem decrescentes em termos de crescimento do produto bruto
dos países centrais. Cada vez era precisa mais droga financeira para
obter cada vez menos expansão económica – até que finalmente, em 2008, o
mecanismo quebrou: o peso financeiro tornou-se insustentável e
desencadeou-se um rodopio de auxílios estatais ao sistema financeiro a
fim de impedir a sua derrocada.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Mas
estes auxílios não reactivavam a economia. Apenas travavam a derrocada
financeira, fazendo aumentar as dívidas públicas até o ponto de o estado
norte-americano ter estado duas vezes à beira do incumprimento
(default), enquanto as dívidas públicas mais as privadas do Japão
chegaram em 2013 a 520% do<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> PIB</strong>, a 510% na Grã-Bretanha, etc. A partir daí, os auxílios esgotaram-se e o<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> Primeiro Mundo</strong> entrou
no que, no melhor dos casos para ele, poderia ser descrito como um
longo período de estancamento, recessões e crescimentos anémicos que não
devem ser pensados como um planalto de arrefecimento estável da
produção, do consumo e do emprego e sim como um tobogã descendente.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O
crescimento zero ou o declínio, ainda que suave, significam o aumento
tendencial do desemprego e em consequência a entrada num complexo
fenómeno de desintegração social.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Por sua vez, a militarização dos Estados Unidos não terminou com o fim da <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/519238-pacem-in-terris-uma-enciclica-para-o-fim-da-guerra-fria" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">guerra fria</a>.
Após um breve estancamento em fins dos anos 1990 recomeçou a expansão
das despesas militares. Foi de tal modo que em 2012 o seu volume real
(somando todas as verbas com finalidade militar do estado, não apenas as
do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Departamento da Defesa</strong>) chegou a um número equivalente a cerca de 9% do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Produto Interno Bruto [3]</strong> .
Aquilo que poderíamos considerar como área militar e de segurança
deslizou do passado "clássico", povoado por militares e agentes
profissionais de tipo tradicional adstritos directamente à administração
pública, para uma nova etapa com participação crescente de mercenários,
estruturas privadas contratadas pelo estado e uma multidão de
organizações públicas e privadas informais oscilando entre a legalidade e
a ilegalidade, misturadas com negócios clandestinos (drogas,
prostituição, tráfico de armas, etc). <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Guerra de Quarta Geração</strong>,
lumpen-burguesia financeira e lumpen-militarismo converteram-se no
núcleo duro ideológico físico de uma elite imperial degradada que alguns
autores assinalam como lumpen-imperialista <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[4]</strong> .</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Mas
assim como a mega bolha financeira primeiro escorou o funcionamento do
sistema e a seguir converteu-se num salva-vidas de chumbo, a degeneração
militarista-mafiosa e sua doutrina nova surgiram como a tábua de
salvação de estruturas militares e de inteligência ineficazes diante de
uma periferia aparentemente pronta a ser devorada mas que lhes escapava
das mãos. Contudo, essas esperanças eram ilusórias. A única coisa que
conseguiram foi destruir países, fracassar na tentativa ou ambas as
coisas ao mesmo tempo, acumulando despesas e défices fiscais: a
criminalidade converge com a estupidez.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A
"transição 2008-2013" significou uma mudança fundamental nas formas da
guerra (sua degradação radical) que deixou a descoberto o carácter da
mutação em curso do conjunto do capitalismo. Em meados dos anos 1950 e
fazendo referência à então recente prática bélica nazi, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Johan Huizinga</strong> assinalava
que historicamente a guerra sempre havia feito parte das civilizações
ou culturas "uma vez que uma comunidade (em guerra) reconhecia a outra
(contra a qual fazia a guerra) como humana... e separava claramente e de
maneira expressa a guerra da paz, por um lado, e da violência
criminosa, por outro. A teoria da guerra total – destacava o historiador
– renunciou ao último resto lúdico da guerra (ou seja, a toda regra de
jogo) e com isso à cultura, ao direito e à humanidade em geral" <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[5]</strong> .</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">No
meu entender, a ruptura hitleriana em relação à prática e à teoria da
guerra, ou seja, a "guerra total" e seus genocídios, foi uma
antecipação, um primeiro ensaio em plena crise capitalista do que
actualmente surge como <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Guerra de Quarta Geração</strong>.
No primeiro caso tratou-se de uma monstruosidade precoce, pioneirismo
"alemão" mas com antecedentes na cultura mais reaccionária dos Estados
Unidos. Autores como <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Domenico Losurdo</strong>estabeleceram de maneira rigorosa as evidentes raízes ideológicas estado-unidenses do nazismo<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> [6]</strong> .
Esse desastre exprimia a doença de uma civilização que ainda dispunha
de reservas sistémicas (morais, produtivas, institucionais, etc) para
recompor-se e que ainda não havia sofrido uma metástase geral. O tumor
hitleriano foi extirpado parcialmente e o mal pôde sobreviver
ocultando-se nas sombras à espera de uma nova oportunidade. Nos
julgamentos de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Nuremberga</strong>,
os crimes de guerra (a violação das regras do jogo da guerra moderna)
foram condenados selectivamente da maneira difusamente contida.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Em fins dos anos 1930 <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Hermann Rauschning</strong> escreveu
uma obra essencial para entender o funcionamento do fenómeno: "La
revolución del nihilismo". O autor acertou ao assinalar que "a essência
da dominação nazi é o niilismo", a negação simultaneamente criminosa e
suicida da realidade humana, mas equivocou-se completamente quando
prognosticou que "esse fanatismo produzido e difundido pela maquinaria
do poder é tão vazio, tão artificial e inautêntico que todo esse
gigantesco aparelho poderia ruir de um dia para o outro por causa de um
só acontecimento sem deixar qualquer rastro de vida autónoma"<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> [7]</strong> . <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Rauschning</strong>não
soube (ou não quis) aprofundar o bisturi até o fundo, se o fizesse
teria sido obrigado a colocar no banco dos réus o conservadorismo
burguês no seu conjunto e, a partir daí, os aspectos destrutivos (e
auto-destrutivos) da civilização ocidental à qual se orgulhava de
pertencer.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Agora,
quando vemos o cancro fascista propagar-se tranquilamente por toda a
Europa ao ritmo da crise, desde o avanço irresistível da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Frente Nacional</strong> em
França até a vitória neonazi na Ucrânia, passando pela Holanda,
Bélgica, Croácia, Hungria, os países bálticos, Grécia, etc, não podemos
deixar de constatar o enraizamento profundo do mesmo não só na tragédia
dos anos 1920-1930-1950 como também em histórias muito mais antigas, em
fanatismos religiosos, em genocídios coloniais e outras práticas sociais
de grande crueldade (o nazismo clássico não era superficial nem
inautêntico, fundia suas raízes na longa trajectória criminal do
Ocidente).</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Mas
o mais significativo e terrível foi a reinstalação sem maiores
escândalos da doutrina hitleriana da guerra total, rebaptizada<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> Guerra de Quarta Geração</strong> e
por vezes adocicada como "golpes gentis" ou "suaves" ou sob a delirante
apresentação de guerras ou bombardeamentos "humanitários". Agora já não
se trata de uma experiência pioneira e em certo sentido menos
surpreendente, "anormal", e sim de um vale-tudo aceite pelo conjunto das
elites imperialistas. O facto de que a forma capitalista de fazer a
guerra haja sofrido tal transformação está estreitamente vinculado à
(faz parte da) transformação do capitalismo num sistema destruidor de
forças produtivas estendendo-se ao contexto ambiental com suas terras,
mares, montanhas, animais, etc a apontarem para a aniquilação de todo o
património histórico da humanidade, de toda a acumulação de
civilizações.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Retorno à origem?</strong></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Poderíamos estabelecer paralelos entre a conjuntura actual e as origens da modernidade.<a href="http://www.ihu.unisinos.br/outros-testemunhos/511723-robert-kurz-18-de-julho-" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Robert Kurz</a> pôs em evidência as origens militares do capitalismo. Por volta do século XVI, segundo <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Kurz</strong>,
"não foi a força produtiva e sim, pelo contrário, uma contundente força
destrutiva que abriu o caminho à modernização, a saber, a invenção das
armas de fogo. A produção e mobilização dos novos sistemas de armas não
eram possíveis no plano de estruturas locais e descentralizadas que até
então haviam marcado a reprodução social, requeriam sim, em diversos
planos, uma organização completamente nova da sociedade. As armas de
fogo, sobretudo os grandes canhões, já não podiam ser produzidas em
pequenas oficinas, como as pré-modernas armas de ponta e gume. Por isso
desenvolveu-se uma indústria de armamentos específica, que produzia
canhões e mosquetes em grandes fábricas"<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> [8]</strong> .</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Um bom exemplo disso é a presença em pleno século XVI do célebre <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Arsenal de Veneza</strong> ,
fábrica militar muito admirada na sua época, provavelmente a primeira
indústria moderna, que inspirou muitos empreendimentos militares e civis
posteriores e cuja organização produtiva baseada numa divisão eficaz de
tarefas esboçava o modelo que vários séculos depois, no início da
revolução industrial, foi descrito por <a href="http://www.ihu.unisinos.br/outros-testemunhos/512418-adam-smith-16-de-agosto" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Adam Smith</a>.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Foi
efectivamente em torno dos desenvolvimentos militares que se foram
gerando redes comerciais e financeiras que permitiam aos príncipes e
demais senhores da guerra lançarem suas aventuras.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">As
mesmas estavam destinadas às lutas intestinas das aristocracias e à
repressão das massas camponesas. Contudo, o seu objectivo principal era a
pilhagem da periferia, o que disparou decisivamente e alimentou durante
séculos a emergência e consolidação do capitalismo, seus mercados
centrais, sua ciência, sua arte e sua expansão industrial e tecnológica
(existe, por exemplo, uma abundante literatura quanto à incidência da
inundação de ouro e prata proveniente das colónias americanas na
transformação burguesa da Europa)<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[9]</strong> .</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Foi
a aliança militar-parasitária, entremeada de mercenários, aristocracia
militarizada, comerciantes-bandidos, usurários de alto nível, etc que
constituiu a plataforma de lançamento da conquista da periferia,
permitindo que uma relativamente pequena economia guerreira realizasse
uma pilhagem desmesurada em relação à sua dimensão inicial. No século
XVI o produto bruto do Ocidente apenas superava os 10% do que poderíamos
considerar como produto bruto mundial, contra 23%-24% para a China ou
27%-28% para a Índia <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[10]</strong> .</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Houve uma primeira tentativa: as <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Cruzadas</strong>,
quando aproximadamente nos séculos XII e XIII os ocidentais lançaram
uma sucessão de invasões ao rico Oriente Próximo, ocupando parte do seu
território <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[11]</strong> .</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Mas
essa colonização fracassou apesar da enorme crueldade aplicada. Os
povos invadidos dispunham de uma capacidade militar que lhes permitiu
expulsar o invasor por meio do que poderíamos chamar guerra de longa
duração. A disparidade militar entre invasores e invadidos não foi
suficientemente grande para garantir a derrota definitiva das vítimas.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A
situação foi-se alterando a partir do século XV e experimentou uma
grande viragem no século XVI, quando o Ocidente adquiriu uma
superioridade técnico-militar decisiva sobre o resto do mundo.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">batalha de Lepanto</strong> (1571) provou a superioridade técnica ocidental sobre o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Império</strong><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Otomano</strong>. A eficácia do<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> Arsenal de Veneza</strong> esteve por trás dessa vitória<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> [12]</strong> . Meio século antes os espanhóis haviam utilizado sua esmagadora superioridade técnica para arrasar o<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Império Asteca</strong>, que não conhecia a pólvora nem as armas metálicas.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Essa
superioridade militar do Ocidente não foi produto do acaso, apoiou-se
no vertiginoso desenvolvimento da sua ciência militar. Durante os
séculos XV e XVI, a engenharia militar esteve no centro no <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Renascimento</strong> europeu,
herdava a engenharia militar medieval que por sua vez mantinha vínculos
com a ciência militar da antiguidade greco-romana. <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Bertrand Gille</strong>relata que "quando em 1328 <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Felipe V de Valois</strong> concebeu o projecto de partir para as cruzadas, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Guy</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">de Vigevano</strong> converteu-se
no seu conselheiro militar e escreveu para o rei um tratado sobre
máquinas de guerra ... que pode ser considerado como um dos principais
antecedentes da ciência militar posterior". <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Gille</strong> destaca
que "certas ilustrações do tratado apresentam analogias surpreendentes
com algumas imagens de antigos manuscritos gregos e romanos" que, junto
com outros desenvolvimentos medievais, demonstram segundo o autor uma
clara continuidade científico-técnica no tema militar desde a Grécia e
Roma até chegar aos séculos XV e XVI<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> [13]</strong> .</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A continuidade histórica da "procura" (o militarismo) para essa ciência remonta primeiro à<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Idade Média</strong> europeia.
Uma das suas características principais foi o sobredimensionamento dos
seus dispositivos bélicos, a excessiva proliferação de organizações
militares conduzidas por príncipes aspirantes a imperadores e titulares
de "impérios" como <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Carlos Magno</strong>,
passando por senhores da guerra de toda dimensão, bandos de
mercenários, etc. Militarismo feudal entrelaçado historicamente com a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Antiguidade</strong> europeia guerreira e imperialista, constatemos só que, como observa <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">James O'Donnell</strong> em relação ao império romano já em decadência: "depois de chegar ao trono no ano 284 o imperador <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Diocleciano</strong>e
seus sucessores puderam restaurar as fronteiras romanas e a ordem
romana multiplicando por cinco ou dez o número de soldados e
funcionários. <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Diocleciano</strong> aumentou o número de soldados para 400 mil e mais tarde chegou a alcançar os 650 mil" <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[14]</strong> .</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">No seu livro <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">"Matança e cultura" [15]</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Victor Hanson</strong> desenvolve a longa trajectória belicista do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Ocidente</strong> e, ao referir-se às suas vitórias militares do século XVI, assinala que "o dinamismo militar europeu era um contínuo da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Antiguidade clássica</strong>, não uma consequência casual da idade da pólvora e do descobrimento do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Novo Mundo</strong>...
desde a Grécia até o presente... as afinidades demonstradas pelas
sociedades ocidentais na sua forma de fazer a guerra tornam-se
assombrosamente duradouras" e acrescenta a seguir: "as falanges
macedónias, tal como o exército de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Cortes</strong>, a frota cristã que combateu em <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Lepanto</strong> e a companhia de fuzileiros britânicos que defendeu <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Rorque's Drift</strong> (1879,
África, as tropas coloniais foram derrotadas pelos zulus) dispunham de
um armamento muito superior ao dos seus adversários".</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Não
se trata só de superioridade técnica e sim da extrema crueldade na sua
"forma de fazer a guerra", o que leva o autor (apesar da sua admiração
para com o Ocidente) a assinalar que: "alguns estudiosos equiparam <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Alexandre Magno</strong> a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">César</strong>... ou a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Napoleão</strong>,
com os quais compartilhava sua vontade de ferro, seu génio militar
inato e a busca de um império mais poderoso do que os recursos naturais
da sua terra nativa permitia. <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Alexandre</strong>, com efeito, mantém afinidades com eles, mas com ninguém se parece mais que com <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Adolf Hitler</strong>".
O paralelo inevitável entre as falanges gregas, as legiões romanas, os
cruzados, as tropas coloniais espanholas, inglesas, francesas e os
exércitos hitlerianos estabelece o fio condutor "ocidental" de uma longa
sucessão de guerras, conquistas e matanças.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A
acumulação primitiva do capitalismo baseou-se, com êxito, no saqueio
desmesurado da periferia e com recursos naturais gigantescos,
relativamente "infinitos" dado o nível técnico e a capacidade de rapina
dos imperialistas europeus daquele tempo. Mas essa desmesura é
impossível actualmente, o planeta é demasiado pequeno para as
necessidades do que seria um novo processo de acumulação capaz de
potenciar o parasitismo ocidental até gerar uma espécie de
super-capitalismo global.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">As
potências centrais são suficientemente grandes para destruir o planeta
(o que significaria sua auto-destruição) e é por isso, por causa do seu
gigantismo, que não se podem salvar, iniciar um novo ciclo ascendente
devorando recursos humanos e naturais, ainda que para sobreviver como
império precisem alimentar-se das suas vítimas. Isto assinala uma
diferença qualitativa essencial com o que ocorreu há cinco séculos.
Agora a violência imperialista não é a de um monstro vigoroso, na sua
infância ou juventude, e sim a de um monstro velho e obeso.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Ocidente</strong></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">É
preciso associar conceitos artificialmente dissociados como
"civilização ocidental", "civilização burguesa", "Império" (ocidental) e
"capitalismo". O capitalismo surge como um fenómeno histórico com
raízes geográficas ocidentais bem delimitadas que carregavam uma pesada
herança cultural específica. O <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Ocidente</strong> emergiu
como um empreendimento imperialista colectivo, agrupando vários
estados, expandindo-os globalmente e ao mesmo tempo envolvidos em
ferozes disputas intestinas. A unificação chegou, após um longo percurso
de muitos séculos, no final da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Segunda Guerra Mundial</strong> sob o comando de uma super-potência não europeia: os Estados Unidos.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O
irromper da guerra de 1914, mas especialmente a ruptura russa de 1917,
assinalou o início do declínio ocidental – ainda que a tendência tenha
parecido reverter-se nos anos 1990 com o derrube da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">URSS</strong> e
em certo sentido, antes, a partir da reconversão capitalista da China.
Mas não foi assim, da desintegração soviética após uma década de
desastres surgiu a Rússia como potência militar-energética cada vez mais
autónoma ainda que mantendo laços comerciais e financeiros estreitos
com o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Ocidente</strong> e
do aburguesamente chinês não nasceu um país subdesenvolvido dócil aos
interesses norte-americanos como a Índia ou o México e sim uma potência
periférica também com importantes margens de autonomia.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A
deterioração geral da dominação ocidental, da sua hierarquia
imperialista, ou seja, do capitalismo como sistema mundial, engendrou o
fenómeno da despolarização, do descontrole periférico. A China e a
Rússia mas também o Irão, e os jogos mais ou menos independentes de
alguns estados "progressistas" da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">América Latina</strong> ilustram
o processo. Os bárbaros do século XXI organizam-se sem tutela romana ou
a negociarem com a Roma moderna já não como simples vassalos, mas essa
Roma não pode reproduzir-se como tal, seu parasitismo não pode
sobreviver sem os tributos crescentes dos seus súbditos periféricos,
necessita cada vez mais sangue das suas vítimas (petróleo barato, lítio,
ouro, cobre, salários miseráveis, maiores vantagens comerciais,
mega-transferências financeiras, etc) enquanto as vítimas vão
encontrando caminhos para reduzir a pilhagem graças precisamente ao
enfraquecimento do parasita (o que não impede em certos casos que
bárbaros pilhem-se entre si).</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Algumas precisões podem nos ajudar a entender melhor o que está a ocorrer.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Em
primeiro lugar, o facto de que a consolidação dos estados burgueses
centrais tem estado (e continua a estar) estreitamente associada à
expansão e consolidação colonial, à extracção maciça de riquezas da
periferia, permitiu e continua a permitir a integração das sociedades
centrais e a permanência do seu guardião estatal-militar. O fim ou o
enfraquecimento grave da referida exploração assinalaria o eclipse
desses estados e das suas bases sociais.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Em
segundo lugar, a comprovação de que o capitalismo é um sistema baseado
num encadeamento de hierarquias fortemente autoritárias, desde a empresa
em ascensão até chegar ao centro do poder mundial através de uma
complexa articulação de estados, grupos económicos, instituições
internacionais, meios de comunicação, etc. A hierarquia imperialista do
capitalismo é inerente ao mesmo, é a sua forma histórica, concreta, de
reprodução. Nunca foi uma articulação pacífica e sim um conjunto
violento e instável onde a autoridade é ganha e conservada com guerra,
pressões, armadilhas, etc. Mas até ao fim da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Segunda Guerra Mundial</strong> essa
hierarquia jamais pôde estruturar-se em torno de um único centro
estatal, super-imperialista, de poder. Desde o início da modernização e
sua sombra colonial encontramo-nos perante sucessivas rivalidades e
guerras inter-imperialistas.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A
fantasia da globalização regida por uma só potência mundial, apesar de
insinuar concretizar-se nos longínquos anos 1990, foi-se desvanecendo na
década seguinte. A submissão da Europa e do Japão à chefia
estado-unidense continua a basear-se na degradação de ambos os sócios
menores; factos recentes como os da Líbia, Síria e Ucrânia são bons
exemplos disso. Mas acontece que o chefe imperial também se degrada, o
que introduz a incerteza quanto ao futuro dessa convergência central.
Pelo seu lado, a periferia vai-se descontrolando precisamente quando
mais necessário é o seu controle (super-exploração) para a reprodução do
parasita. Em consequência o império enfurece-se, desespera-se, resgata
toda a sua memória racista não só para expulsar ou reduzir à escravidão
os intrusos periféricos que se instalam nos territórios imperiais como
também para converter seus países de origem em zonas de caça livre.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Esta
última etapa ilumina toda a história anterior do sistema, destrói seus
mitos decisivos, deixa a descoberto sua falsidade essencial. Sobretudo o
mito do capitalismo como progresso, como etapa superior na sucessão de
civilizações, ou seja, como a mais potente negação da barbárie.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Boa
parte das ideologias anti-capitalistas dos séculos XIX e XX
apresentavam a superação do capitalismo como uma espécie de continuidade
a um nível superior, de negação inicial, revolucionária, apoiada nos
êxitos "positivos" do velho mundo (o projecto de ruptura albergava
condicionamentos culturais que asseguravam a reprodução de aspectos
decisivos da civilização burguesa).</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Mas
a degeneração em curso desse sistema retira o véu ideológico e mostra o
seu verdadeiro rosto. Os feitos aparentemente positivos da sua
tecnologia (em que o capítulo militar é decisivo) surgem inscritos num
contexto de conquistas coloniais com centenas de milhões de
assassinatos, com liquidações de criações culturais, qualificadas com
desprezo como atraso ou subdesenvolvimento, depredando até à extinção
uma ampla variedade de recursos naturais.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Podemos incluir um pequeno acrescento entre parênteses à célebre expressão de <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/528135-6-de-fevereiro-de-1763-expulsao-dos-jesuitas-da-lousiania-pelo-governo-frances" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Voltaire</a>para
afirmar que a civilização (burguesa) não suprimiu a barbárie e sim que a
aperfeiçoou. O capitalismo não deve ser assumido como uma etapa em
última instância positiva na marcha do progresso humano e sim como uma
desgraça, como um desastre, uma degeneração cuja não existência teria
evitado numerosas tragédias. O balanço histórico da sua evolução é
globalmente negativo, muitos dos seus progressos científicos e
tecnológicos teriam sido obtidos seguindo provavelmente outros ritmos e
caminhos mas em contextos sociais menos terríveis.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Hegel</strong>, nas suas lições de filosofia da história, estabelecia que o desenvolvimento da liberdade, componente da marcha da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Civilização</strong> entendida como encadeamento de civilizações, como a evolução do progresso universal, nascia penosamente no <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Oriente</strong> (ou
seja, na periferia) para realizar-se integralmente no Ocidente com a
vitória mundial da sua civilização, da modernidade burguesa <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[16]</strong> .
A soberba eurocêntrica impedia-o de perceber que a liberdade periférica
(embrionária, em desenvolvimento) havia sido arrasada, abortada,
liquidada por um <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Ocidente</strong> parasitário
e depredador concretizando a maior matança da história humana e sua
civilização sanguinária só podia afirmar-se repetidamente por meio da
força bruta, dos seus dispositivos militares contra os povos oprimidos
da periferia (e quando foi necessário também contra suas próprias
populações como o demonstrou o fascismo europeu do século XX, agora em
pleno renascimento).</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A
subestimação, o desprezo ocidental, sua visão desumanizante das
culturas periféricas, constitui uma peça chave da sua ideologia imperial
estruturada durante muitos séculos de saqueio. A animalização da imagem
do homem do "resto do mundo" fez parte da construção psicológica que
facilitou ao colonizador do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Ocidente</strong> a
realização dos grandes genocídios legitimados como obra civilizadora. A
ignorância ou desprezo das riquezas culturais da periferia, da
criatividade das suas bases sociais, do potencial de autonomia das suas
comunidades camponesas não só armadilhou o cérebros das elites
ocidentais como também uma boa parte dos seus inimigos internos. Foi
assim que <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Gramsci</strong> pôde
chegar a afirmar que na velha periferia pré capitalista "o Estado era
tudo, a sociedade civil era primitiva e gelatinosa" ao passo que no <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Ocidente</strong> existia uma robusta sociedade civil <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[17]</strong> o
que não permite explicar como fizeram, por exemplo, as populações
andinas da América para sobreviver culturalmente ao genocídio inicial da
conquista seguido por mais de cinco séculos de opressão e pilhagem
ocidental, ou outras proezas culturais dos periféricos da Ásia e da
África.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">É
necessário entender que o declínio em curso do mundo ocidental se
converte em degeneração do seu tecido ideológico e económico planetário,
ou seja, do capitalismo como totalidade universal. Desde os anos 1970
sucederam-se as ilusões quanto às emergências capitalistas não
ocidentais, desde o milagre japonês, passando pelos tigres e dragões da<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Ásia</strong> (Coreia
do Sul, Formosa, etc) até chegar à China. Em todos esses casos era
evidente que as expansões industriais exportadoras que lideravam os
desenvolvimentos "milagrosos" se apoiavam nas necessidades dos mercados
ocidentais ou de mercados periféricos fortemente dependentes dessas
procuras. Em consequência, a deterioração dos referidos mercado golpeia
os capitalismos não ocidentais. Além disso, factos como a hipertrofia
globalizada das redes financeiras estabeleciam um só espaço mundial
estreitamente intercomunicado. Portanto, a impossível desfinanciarização
do capitalismo constitui um bloqueio comum do qual não podem escapar
nem o centro nem a periferia. Esta última, além disso, quando embarca na
prosperidade burguesa fica submetida ao modelo consumista, às pautas
ideológicas ocidentais que têm efeito destrutivo devastador (familiar,
comunitário, ambiental).</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Em meados de 2008, em plena explosão financeira, <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-anteriores/18022-vitoria-de-barack-obama-interrompe-a-hegemonia-conservadora-nos-eua" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Richard Haass</a> , presidente do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Council on Foreign Relations</strong> dos
Estados Unidos, publicou um artigo onde lançava o sinal de alarme: a
unipolaridade estava condenada à morte e não tendia a ser substituída
pela multipolaridade, estava começando a emergir um mundo não polarizado
que o autor carregava de imagens caóticas <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[18]</strong> .
Haass percebia que o fim da hierarquia imperialista, unipolar desde
1991 e multipolar em toda a história anterior do sistema (incluído o
período de auge do império britânico) podia chegar a ser uma espécie de
"fim do mundo", de ruir da "civilização", ou seja, de desarticulação do
capitalismo como cultura universal e naturalmente adiantava algumas
medidas correctivas que permitiriam atenuar o suposto desastre.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Haass</strong> tinha razão quando advertia que a não polaridade albergava o fantasma do fim da "civilização" (burguesa). <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">George W. Bush</strong> e depois<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> Barack Obama</strong> tentaram
impedir esse futuro introduzindo correctivos militares que acabaram por
agravar a enfermidade do império propagando o caos onde lhes foi
possível.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Por
sua vez, potências periféricas como a Rússia e a China não estão em
condições de reordenar, no sentido burguês do termo, a desordem causada
pela decadência ocidental através do desenvolvimento de novos espaços
capitalistas hierarquizado em substituição dos velhos espaços
agonizantes. Não são forças negentrópicas do sistema e sim zonas
capitalistas resistentes submersas, também elas, na decadência global.
Tentam travar as bofetadas do império contra os seus interesses, mas ao
resistir, revidar ou avançar sobre os flancos débeis do adversário
contribuem para a "desordem" geral, bloqueiam as tentativas de
recomposição do domínio ocidental do mundo e desse modo agravam a
degeneração global do capitalismo.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">A insurgência global como necessidade histórica</strong></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">As
elites dominantes da China e da Rússia, também as do Brasil, Índia ou
Irão, acreditam na possibilidade de desenvolverem seus capitalismos
nacionais, fazem o que podem para não afundarem no desastre ao qual o
Ocidente as quer condenar. Mas o carácter global, profundamente
inter-relacionado do sistema de que fazem parte, condiciona suas
astúcias.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Todos
esses tropeções e empurrões entre o centro e a periferia contribuem
para criar um panorama global rarefeito que a qualquer momento pode
redundar em guerras e situações pré bélicas a nível regional, ameaçando
por vezes transformar-se em confrontações mundiais como ocorreu em 2013
devido à situação síria e em 2014 com a ucraniana.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/526158-a-teoria-economica-do-papa-francisco-mais-polanyi-menos-marx" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Karl Polanyi</a> descrevia
a longa "pax europea" (salpicada de conflictos menores) que vigorou
desde o fim das guerras napoleónicas até 1914, resultado segundo ele do
papel harmonizador, apaziguador de conflitos, cumprido por alguns
factores ocultos dentre os quais destacava a "haute finance", os
círculos financeiros europeus mais elevados que, pondo-se acima dos
interesses políticos e nacionais, amarravam compromissos, negócios
atravessando países e consequentemente acalmando as disputas
inter-imperialistas <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[19]</strong> .</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Mas <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Polanyi</strong> só
olhava a superfície do fenómeno. Na realidade os negócios da "haute
finance" fundavam-se na vertiginosa acumulação de capitais proveniente
principalmente da rapina imperialista do mundo, um de cujos pilares
essenciais era a acção dos estados ocidentais, o desenvolvimento dos
seus aparelhos militares (fonte decisiva de negócios) e da consequentes
megalomanias "patrióticas" das respectivas burguesias nacionais rivais.<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Polanyi</strong> assinala que "os <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Rothschild</strong> não
estavam sujeitos a um governo; como uma família, incorporavam o
princípio abstracto do internacionalismo; sua lealdade era entregue a
uma firma, cujo crédito se havia convertido na única conexão
supranacional entre o governo político e o esforço industrial numa
economia mundial que crescia com rapidez"<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> [20]</strong> . Na realidade o papel "pacificador" dos <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Rothschild</strong> fazia
parte de um jogo duplo perigoso mas muito rentável. Por um lado
excitavam as bestas alentando suas ambições (e de imediato
entregavam-lhes a conta) e por outro acalmavam-nos quando ameaçavam
fazer um desastre. Mas essa sucessão de excitantes e calmantes aplicadas
a bestas que absorviam drogas cada vez mais fortes terminou como tinha
que terminar: com uma gigantesca explosão (Agosto de 1914).</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Transferindo-nos
para o mundo actual é necessário afirmar que a globalização dos
negócios não estabelece um manto transnacional pacificador e sim
exactamente o contrário, sobretudo nos centros globais de poder
político-militar incentivando megalomanias criminosas.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">É
no interior do sistema global decadente que se desenvolvem as ilusões,
esperanças e rebeldias da periferia. A ilusão de assegurar capitalismos
autónomos sob as bandeiras da restauração da "identidade russa" ou do
"socialismo de mercado" chinês ou de um socialismo a meias como na
Venezuela ou de uma sociedade baseada no islão como no Irão ou de
capitalismos "progressistas" como no Brasil, Argentina ou Equador. Mas
também a resistência ao invasor no Afeganistão ou na Líbia até chegar à
guerra prolongada pelo socialismo das <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/525331--farc-e-governo-colombiano-estao-proximos-de-acordo-sobre-participacao-politica%20" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">FARC</a> na
Colômbia, aos protestos sociais na Europa, etc. Esse grande
quebra-cabeças não constitui uma insurgência global nem muito menos um
movimento em vias de articulação e sim um processo sumamente heterogéneo
onde se apresentam erupções efémeras, ciclos de longa duração,
tentativas de desenvolvimento capitalista relativamente autónomo,
rebeliões anti-capitalistas, etc que podem ser vistos de diferentes
maneiras. Uma delas é a de uma grande turbulência periférica que se vai
expandindo em meio a contradições de todo tipo a anunciarem ao mesmo
tempo cenários futuros de insurgência popular contra o sistema e o seu
contrário: o afundamento em degradações prolongadas.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">É
nesse espaço complexo no qual as potências ocidentais tentam arrasar,
isolar, demonizar, triturar, que se reproduz um gigantesco proletariado
universal, vários milhares de milhões de camponeses, operários,
marginais, comerciantes miseráveis, etc condenados à morte ou à
sobrevivência infra-humana pela dinâmica decadente do sistema.
Constituem uma realidade plural que se opõe naturalmente à
homogeneização escravizante do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Ocidente</strong> tentando preservar e/ou construir identidades, espaços de liberdade, sobreviver, viver dignamente.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Os
próximos anos dirão se a partir dessa massa proletária irrompe a
insurgência global que desdobrando-se na sua pluralidade irá convergindo
na segunda ofensiva contra o império. A primeira ocorreu no século XX a
partir da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Revolução Russa</strong>,
convertendo-se numa rebelião global que se prolongou durante cerca de
seis décadas abarcando desde a China até Cuba, passando pela Argélia,
Vietname, Nicarágua.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Há
meio século estavam na moda na Europa ocidental autores que denunciavam
a perda de hegemonia da região, superada por superpotências
extra-regionais como a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">URSS</strong>, os Estados Unidos ou o Japão. Um desses textos, de grande êxito editorial, foi <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">"El rapto de Europa"</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[21]</strong> de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Luis Diez del Corral</strong>.
Sua tese era que nações extra europeias estavam a roubar à Europa, ou
já haviam roubado, sua maior criação cultural: a modernidade.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Deslumbrado pelo mito grego, o autor não reflectiu o suficiente acerca do seu significado histórico: <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Zeus</strong> rapta Europa, princesa do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Oriente Próximo</strong> enganada
pelo deus que mimetizado como touro a induz a montá-lo, do que se
aproveita para sequestrá-la e levá-la à sua ilha. A origem do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Ocidente</strong> histórico
é o engano e o roubo. Seu próprio nome, Europa, é o de troféu, produto
do roubo. Em última instância, se o mundo não ocidental se apropriasse
da modernidade ocidental não estaria a fazer outra coisa senão recuperar
o capital mais os juros das riquezas que o ladrão lhe havia sacado
durante séculos: ouro, prata, petróleo, cereais, centenas de milhões de
vidas humanas. Na realidade, o planeta hoje está completamente
modernizado. Para uns (o centro do mundo) isso significa desenvolvimento
capitalista, poder, privilégios, ao passo que para o resto do mundo
quer dizer subdesenvolvimento capitalista, miséria, frustrações.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">De
qualquer forma, a "apropriação periférica da modernidade" é um anzol
envenenado, é a ilusão de reproduzir os supostos êxitos culturais da
civilização burguesa de modo independente ou a enfrentar o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Ocidente</strong>.
Quando o escravo imita o amo ou pretende regenerar sua comunidade
adoptado-adaptando seus fundamentos ideológicos, o que consegue é
bloquear a criatividade revolucionária da sua base social. Como o
demonstra a experiência histórica do século XX <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[22]</strong> , quando acredita ter encontrado o fio de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Ariadne</strong>que
lhe permitirá sair do labirinto, aferra-se ao mesmo e marcha
triunfalmente rumo à saída... Na realidade agarrou a cauda do diabo o
qual, astutamente, o conduz rumo a paragens ainda mais sinistras.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Mas
a modernidade entrou no estado de decrepitude e a libertação das suas
vítimas centrais e periféricas só pode ser alcançada por meio da negação
absoluta do capitalismo, sua completa destruição, para a partir das
suas cinzas construir um mundo novo. Nada autoriza a supor que essa
proeza – a maior da história humana – seja inevitável. A regeneração pós
capitalista é historicamente necessária ainda que não constitua um
fenómeno inexorável imposto por supostas leis da história. Trata-se de
uma tarefa que exige um gigantesco esforço voluntarista animado por
ideias resultantes de práticas insurgentes, rebeldias mais ou menos
radicalizadas, ensaios, erros, fracassos, êxitos efémeros ou
duradouros. </span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Notas</strong></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[1]</strong> As
decadências de civilizações anteriores e as reflexões contemporâneas
sobre as mesmas, na medida em que conseguiam uma visão de certa
amplitude associavam as referidas decadências com futuras renovações ou
instalações de novas civilizações no mesmo território. A nível mundial,
enquanto uma civilização decaía outras permaneciam ou emergiam. Agora,
dado o potencial auto-destrutivo do capitalismo global, surge a
possibilidade histórica do "fim da história" não no sentido idílico
(sinistro) do mundo liberal feliz que Francis Fukuyama nos propunha há
algumas décadas e sim como desastre universal.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[2]</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Marx e Engels</strong>, "La ideología alemana", Ediciones Progreso, Moscú, 1974.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[3]</strong> Em 2012 as despesas do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Departamento da Defesa</strong> chegaram
a cerca de US%700 mil milhões. Se às mesmas forem adicionadas as
despesas militares que aparecem integradas (diluídas ou ocultas) em
outras áreas do Orçamento (Departamento de Estado, USAID, Departamento
da Energia, CIA e outras agências de segurança, pagamentos de juros,
etc) alcançar-se-ia um número próximo dos US$1,3 milhões de milhões.
Esse número equivale a 50% das receitas orçamentais previstas ou 100% do
défice orçamental. Essas despesas representaram quase 60% das despesas
militares globais e se lhes somarmos as dos seus sócios da <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">NATO</strong> e de alguns países vassalos <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">extra-NATO</strong> como
a Arábia Saudita, Israel, Colômbia ou Austrália estaríamos entre 75% e
80% da despesa global (Ref: Jorge Beinstein, "Capitalismo del Siglo XXI.
Militarización y decadencia", Ed. Cartago, Buenos Aires 2013).</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[4]</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Narciso Isa Conde</strong>, Estados neoliberales y delincuentes , Aporrea, 20/01/2008,</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[5]</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Johan Huizinga</strong>, "Homo ludens" (1954), Emecé Editores, Buenos Aires, 1968.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[6] Domenico Losurdo</strong>, "Las raices norteamericanas del nazismo", Enfoques Alternativos, nº 27, Octubre de 2006, Buenos Aires.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[7]</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Hermann Rauschning</strong>, "La révolution du nihilisme", Gallimard, Paris, 1980.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[8]</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Robert Kurz</strong>, Los orígenes destructivos del capitalismo , 1997,</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[9]</strong> Em outros textos apresentei um conceito de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Anouar Abdel Malek</strong>, no meu entender essencial para compreender o fenómeno. Trata-se do "excedente histórico" acumulado durante séculos pelo <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Ocidente</strong> em
resultado de um saqueio universal sem precedentes, um património
imperialista baseado na destruição do contexto ambiental e de
civilizações de todos os continentes (Anouar Abdel Malek, "Political
Islam", Socialism in the World, Number 2, Beograd 1978.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[10]</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Angus Maddison</strong>,"The World Economy: Historical Statistics", OECD 2003.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[11]</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">René Grousset</strong> qualificou-a como "a primeira expansãon colonial do Ocidente". Renée Grousset, "Las cruzadas", EUDEBA, Buenos Aires, 1965.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[12]</strong> "O
poder veneziano baseava-se na sua capacidade para fabricar armas de
acordo com os modernos princípios da especialização e da produção
capitalista", assinala <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Victor Davis Hanson</strong>. E acrescenta que "três anos depois de Lepanto o monarca francês <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Henrique III</strong>, que se encontrava em Veneza, visitou o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Arsenal</strong> que, para seu assombro, montou, equipou e lançou uma galera em uma hora!</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Em
condições normais, recorrendo a princípios de construção naval,
financiamento e produção em massa comparáveis unicamente aos do século
XX, o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Arsenal</strong> era capaz de lançar uma frota inteira de galeras no espaço de uns poucos dias",<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> Victor Davis Hanson</strong>,
"Matanza y cultura. Batallas decisivas en el auge de la civlización
occidental", Fondo de Cultura Económica-Turner, México D.F. / Madrid
2006.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[13]</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Bertrand Gille</strong>, "Les ingénieurs de la Renaissance", Herman, Paris 1964.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[14]</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">James O'Donnell</strong>, "La ruina del imperio romano", Ediciones B, Barcelona 2010.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[15]</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Victor Davis Hanson</strong>, op cit.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[16]</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">G.W.F Hegel</strong>, "La Raison dans l`Histoire", Union Générale d`Editions, 10/18, Paris 1965.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[17]</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Antonio Gramsci</strong>, "Cuadernos de la cárcel", Ed. Era, México, 1999.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[18]</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Richard N. Haass</strong>, "The Age of Nonpolarity. What Will Folow U.S. Dominance", Foreign Affairs, Mai/June 2008.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[19]</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Karl Polanyi</strong>, "The Great Transformation.The Political and Economic Origins of Our Time", Bacon Press, Boston, Massachusetts, 2001.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[20]</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">K. Polanyi</strong>, op. cit.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[21]</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Luis Diez del Corral</strong>, "El rapto de Europa", Alianza Editorial, Madrid 1974.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">[22]</strong> Desde
os fantasmas burocráticos da história soviética até chegar ao realismo
burguês dos dirigentes chineses passando pelos diversos nacionalismos
mais ou menos "socialistas" ou capitalistas do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Terceiro Mundo</strong>.</span></div>
</div>
</div>
</div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-72318974161226600432014-07-15T18:14:00.000-03:002014-07-15T18:14:00.520-03:00 Darwinismo 2.0 <div id="bodyContent">
<div>
<div class="headline" style="border: 0px none; color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 12px; line-height: 15px; margin: 0px 0px 10px; outline: 0px; overflow: hidden; padding: 0px; width: 637px; word-wrap: break-word;">
<br /></div>
<div id="texto-aumenta" style="border: 0px none; color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 16px; line-height: 15px; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">
<div class="article_text" style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
"Em um mundo de egoístas, desprovido de governo central, em que condições pode emergir a cooperação?", pergunta <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/519748-situacao-oligofrenica-artigo-de-jose-eli-da-veiga-" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">José Eli da Veiga</a>, professor sênior do<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;"> Instituto de Energia e Ambiente </strong>da<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;"> USP</strong>, em artigo publicado pelo jornal <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Valor</strong>, 24-06-2014.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Eis o artigo.</strong></div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Até
o início dos anos 1980 o darwinismo foi amesquinhado pela concepção de
que a sobrevivência dos mais aptos só decorreria da feroz competição que
caracterizaria a "luta" pela existência. Por oitenta anos foi rejeitada
a desviante interpretação das obras de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Darwin</strong>proposta em <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">"Ajuda Mútua: um Fatr de Evolução"</strong>, livro com argutas observações sobre a extraordinária <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-anteriores/20285-nao-so-competicao-mas-tambem-cooperacao-a-evolucao-vista-por-um-teologo-" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">cooperação</a> que
caracteriza as vidas de abelhas, formigas e vários outros animais,
publicado em 1902, no exílio londrino, pelo sessentão príncipe russo <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Piotr Kropotkin</strong>.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Mesmo
que não tenha havido reconhecimento explícito, a perspicácia desse
expoente do anarquismo começou a ser redimida quando um dos então mais
promissores ramos da matemática - a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Teoria dos Jogos</strong> -
foi mobilizado para solucionar uma das questões que mais intrigava os
pesquisadores, especialmente os das humanidades: num mundo de egoístas,
desprovido de governo central, em que condições pode emergir a
cooperação?</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Resposta original e persuasiva foi dada em 1981 pelo cientista político da Universidade de Michigan, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Robert Axelrod</strong>, que três anos depois lançou o hoje clássico <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">"A Evolução da Cooperação"</strong> <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">(Ed. Leopardo, 2010)</strong>. Um livro que deveria tomar o lugar daquelas bíblias gratuitas achadas nos criados-mudos dos hotéis, diz <a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1521&secao=245" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Richard Dawkins</a>, o célebre autor de<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">"O Gene Egoísta"</strong> em prefácio à edição de 2006.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
A proeza de <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Axelrod</strong> foi
executar inéditas simulações computacionais que confirmaram hipóteses
formuladas na década anterior por biólogos evolutivos: nepotismo e
reciprocidade seriam os dois fatores determinantes da cooperação. Na
ausência do primeiro, ela estaria na dependência de um padrão
comportamental em que cada um dos atores repete o movimento do outro,
reagindo positivamente a atitudes cooperativas e negativamente a gestos
hostis.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Ainda em plena <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-arquivadas/16189-da-guerra-fria-a-guantanamo-e-as-torturas" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Guerra Fria</a>, quando o risco de um "inverno nuclear" exigia a cooperação bipolar entre <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">EUA</strong> e <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">URSS</strong>,
o que poderia fazer mais sucesso do que essa orientação apelidada de
"tit-for-tat", título de uma das populares comédias da dupla "<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">O Gordo e o Magro</strong>"?
Embora seja traduzida por "olho-por-olho, dente-por-dente", essa
expressão está mais próxima do "toma-lá-dá-cá", pois é uma estratégia
que exige prévio arranque cooperativo.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Como
sempre ocorre na ciência, boa resposta a uma grande questão faz com que
pipoquem novas dúvidas. Por exemplo: se por mera razão acidental um dos
atores falhar em fazer o esperado movimento positivo, isso por si só
inviabiliza a continuidade da cooperação? E o que ocorreria quando o
esquema de cooperação envolvesse mais do que dois atores? Foram questões
como essas que alavancaram o fulgurante avanço da biologia matemática
nos últimos vinte anos.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
O padrão "toma-lá-dá-cá" hoje não passa de uma das três modalidades de uma das cinco dinâmicas de cooperação evidenciadas. </div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
O
"tit-for-tat" é manifestação rudimentar do que passou a ser chamado de
"reciprocidade direta". Novas simulações indicaram que eventual passo em
falso pode engendrar uma segunda chance, em estratégia apelidada de
"toma-lá-dá-cá generoso", a origem evolutiva do perdão.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
E
desdobramentos ainda mais sofisticados revelaram a existência de uma
terceira forma de reciprocidade direta, na qual o agente inverte sua
atitude anterior quando nota que as coisas vão mal, mas logo depois
volta a cooperar. Algo que já era bem conhecido na etologia como
comportamento <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">"Win-Stay, Lose-Shift"</strong>, comum entre pombos, macacos, ratos e camundongos.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
O
segundo vetor da cooperação, chamado de "reciprocidade indireta", foi
crucial para a evolução da linguagem e para o próprio desenvolvimento do
cérebro humano, pois se baseia no fenômeno da reputação. Neste caso, o
que condiciona as atitudes dos atores são comportamentos anteriores em
relações com terceiros. A cooperação avança quando a probabilidade de um
agente se inteirar sobre a reputação do outro compensa o
custo/benefício do ato altruísta.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Os
demais determinantes da cooperação são as três formas em que ocorre a
seleção natural, pois, além da já mencionada nepotista (de parentesco),
ela não opera apenas entre indivíduos, mas também entre grupos
(multinível) e nas redes (espacial).</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Mesmo
que as observações acima não sejam suficientes para que se possa ter
uma boa ideia das descobertas da biologia matemática no âmbito da
dinâmica evolutiva, elas certamente permitem notar que o darwinismo
aponta tanto para "luta" quanto para "acomodação" pela existência.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Exposição rigorosa e extremamente amigável desse darwinismo 2.0 está em<a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/44497-a-evolucao-e-altruista" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">"SuperCooperators - Altruism, Evolution, and Why We Need Each Other to Succeed" (Free Press, 2011)</a>, do austríaco <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Martin A. Nowak</strong>, biólogo matemático que está em Harvard depois de ter brilhado em <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Oxford</strong> e <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Princeton</strong>, e que contou com a inestimável ajuda do jornalista científico britânico <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px;">Roger Highfield</strong>.</div>
<div style="border: 0px none; line-height: 20px; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
Esse
sim é um livro que mereceria ser distribuído gratuitamente. Não para
substituir bíblias cristãs, mas para promover o entendimento das origens
naturais dos códigos de ética de todas as grandes religiões.</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-74063482057529714182014-07-13T18:16:00.000-03:002014-07-13T18:16:00.251-03:00Entrevista com Pedro Ekman sobre o Marco Civil da Internet<div id="bodyContent">
<div>
<div class="headline" style="border: 0px none; color: #1a1a1a; font-family: Arial; font-size: 12px; line-height: 15px; margin: 0px 0px 10px; outline: 0px; overflow: hidden; padding: 0px; width: 637px; word-wrap: break-word;">
<div class="headline_info" style="border: 0px none; float: left; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; position: relative;">
<h2 class="contentheading" style="border: 0px none; display: table-cell; letter-spacing: -1px; line-height: 36px; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px 0px 4px; vertical-align: top; width: 637px;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></h2>
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="border: 0px none; clear: both; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<span style="font-size: small;"> </span></div>
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div id="texto-aumenta" style="border: 0px none; color: #1a1a1a; font-family: Arial; line-height: 15px; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<div class="article_text" style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">"A <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/530573-internet-poder-e-democracia" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Internet </a>é
um negócio, contudo não trata-se apenas de um negócio. É um serviço
fundamental como a água, visto que tudo irá passar por ela. Deve-se
garantir o acesso. Há que se investir dinheiro público, porque o mercado
não irá investir na Amazônia, por exemplo, por que não há mercado, mas
há pessoas”. Assim falou<a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/529581-internet-patrocinada-o-comeco-do-fim" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank"> Pedro Ekman</a> (foto), coordenador da <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/530572-intervozes-falta-vetar-um-artigo-mas-marco-civil-e-lei-modelo-para-o-mundo" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Intervozes do Brasil</a>, uma das organizações que impulsionou a sanção da Lei do <a href="http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/516826-marco-civil-da-internet-a-disputa-pela-rede-entrevista-especial-com-sergio-amadeu" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Marco Civil da Internet</a>, na jornada “Espionagem, Transparência e Soberania na Internet”, organizada pelo <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Programa Sul Global</strong> da
Universidade Nacional de San Martín, para analisar o impacto da
Internet em relação aos direitos civis e os alcances geopolíticos de sua
manipulação por parte dos países centrais. Nesta entrevista, <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Ekman</strong> fala
de maneira clara e direta para trazer a luz um tema que atravessa toda a
sociedade e que poucos entendem. A entrevista é de<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"> Sonia Santoro</strong>, publicada por <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Página/12</strong>, 16-06-2014. A tradução é do <a href="http://www.ihu.unisinos.br/cepat/cepat-programacao/527327-introducao-a-giorgio-agamben" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Cepat</a>.</span></div>
<table border="0" frame="box" style="border-collapse: collapse; border-spacing: 0px; border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: left;">
<tbody style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">
<tr style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"><td style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"><br /></td></tr>
<tr style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;"><td style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: right;"><br /></td>
</tr>
</tbody>
</table>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Marco Civil da Internet</strong>,
aprovada em abril deste ano, é uma lei pioneira no mundo. Garante a
privacidade na web e estabelece a neutralidade, isto quer dizer que os
provedores não poderão mais manipular os conteúdos. É produto de um
longo debate promovido pela sociedade civil, que contou com a
resistência das corporações midiáticas. Aqui, o coordenador da
Intervozes, a organização que mobilizou a discussão, explica como foi o
processo, as pressões, as conquistas e o que ainda é necessário
conquistar.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Eis a entrevista.</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">De onde você é Pedro?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Sou
de São Paulo, Brasil. Sou arquiteto, mas trabalho na área da
comunicação. Comecei a trabalhar na televisão e passei a dirigir e
escrever algumas coisas na área audiovisual. Estive discutindo os temas
de comunicação com o grupo Intervozes, que é um grupo amplo de ativistas
pelo direito a comunicação, no qual há jornalistas, advogados, atores,
atrizes.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">O que o levou a aproximar-se deste grupo?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O
que aconteceu é que não havia um espaço no Brasil para discutir a
comunicação como um direito, para formular políticas. Não era uma
prioridade. Assim criamos um espaço de participação política, há pessoas
de diferentes partidos e pessoas sem partidos. O que nos une é o tema, a
luta pelo direito a comunicação, e atuamos contra o governo, com o
governo, não importa, o que importa é que a questão se mova para a área
dos direitos.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Quais são os principais problemas do acesso à comunicação ou em relação à liberdade de expressão no Brasil?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Historicamente, o Brasil, como quase todos os países latino-americanos, tratou o tema da <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-anteriores/27747-os-dilemas-da-comunicacao-no-brasil" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">comunicação </a>como
um simples negócio comercial. É o que vemos em todos os setores, a
radiodifusão ou a Internet sempre foram tratados na América do Sul, por
Estados ou governos, como simples negócios comerciais. No Brasil, são
poucas famílias que controlam a radiodifusão, que é o principal veículo
de comunicação hoje no Brasil. O mesmo ocorre na Internet. O tema
principal é a concentração dos meios de comunicação: a comunicação
comunitária e a comunicação pública como uma comunicação menor e a
comunicação comercial como a natural e a única que pode ser feita. Então
temos que mudar as regras para que a comunicação seja tratada como um
direito. As empresas comerciais são legítimas, têm que ter seu espaço,
mas não apenas elas.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Qual é o alcance que a Internet tem no Brasil?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Uma investigação do <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">CGI</strong>,
um instituído de comunicação para a Internet, diz que mais de 40% dos
lares do Brasil estão conectados a uma Internet fixa, que é a Internet
que tem mais interatividade. A móvel ainda tem uma velocidade muito ruim
e esse dispositivo acaba não permitindo realize muitas coisas. No
norte, esses números chegam a 30% e a velocidade é muito baixa. Nas
classes D e E, as mais baixas, não passam dos 30% os que estão
conectados.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Então,
mesmo que seja um meio mais democrático, mais diverso, não fala para
todos e nem todos o podem usar. A televisão e o rádio ainda são os meios
que chegam a todo o país e estão manipulando a pauta política e
cultural do país.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Na legislação, há algum tipo de limite para a concentração?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O
que ocorre no Brasil é que estamos fazendo o contrário do que está
acontecendo na Argentina. Por uma conjuntura muito específica. </span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Não houve reforma na lei da imprensa, a lei vigente é de que ano?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">É
anterior a ditadura brasileira. Há 50 anos temos a mesma lei. É uma lei
que não regulamentou os principais artigos constitucionais que temos
sobre a comunicação social. Então não há nenhum dispositivo que regule a
concentração de meios de comunicação. Dessa maneira há um ambiente
regulatório para a radiodifusão muito frágil.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Por que começaram pela Internet?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Por
uma conjuntura política internacional. Brigamos por uma lei dos meios
há muito tempo, mas como o poder dos radiodifusores é muito grande nunca
conseguimos que um governo trabalhasse o tema com prioridade.
Juntamente com a lei dos meios, trabalhamos o “marco civil”. O “marco
civil” começa numa reação a um deputado da direita brasileira que fez um
projeto de lei para criminalizar tudo o que os internautas faziam na
rede e que naturalizava tudo o que as corporações queriam fazer com a
rede. Houve então um movimento muito forte contrário a este projeto de
lei e conseguimos retirá-lo da agenda. O chamamos de o AI5 digital, o
AI5 é o Ato Institucional Nº5 da ditadura brasileira, que retirou todos
os direitos. Ele foi chamado assim porque o que estava sendo feito com a
Internet nesse projeto era quase o mesmo que a ditadura fez com os
direitos humanos. Logo que conseguimos tirá-lo da agenda política
pensamos: necessitamos urgentemente de uma lei que garanta os direitos
na rede, porque se não, irá haver outros projetos para criminalizar a
população. Assim começamos. O Ministério da Justiça construiu uma
plataforma digital colocando os projetos. Esta plataforma era
colaborativa e milhares de colaborações de organizações da sociedade
civil fizeram um projeto em conjunto com o governo, mas principalmente
da sociedade civil.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Desde quando trabalham nesse projeto?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Desde
2009. É um projeto de consenso entre a sociedade civil, os empresários
de conteúdos da Internet e, em alguns pontos, com os empresários de
conexão. Então, este projeto não era o programa máximo que nós queríamos
para a Internet, trata-se de um programa consensuado, mas era muito
bom. Contudo, como ocorreu com a lei da imprensa, não havia conjuntura
política para aprová-lo. As empresas de telefonia estavam muito fortes
para que nada ocorresse em relação a esse tema. Também os interessava um
ambiente sem regulação para a Internet, porque assim eles mesmos a
regulariam como queriam, de acordo com suas regras de mercado e seus
interesses particulares.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Até que a <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/530185-dilma-vai-propor-governanca-global-da-internet" style="border: 0px none; color: #e66101; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Dilma </a>deu o OK.</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O que ocorreu é que <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">(Edward) <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/525140-snowden-nos-abriu-os-olhos-afirma-chanceler-equatoriano" style="border: 0px none; color: #e66101; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Snowden</a></strong> disse
que os Estados Unidos estavam vigiando todo o mundo, inclusive a
presidenta Dilma. Isto obrigou que o governo desse uma resposta. Ela foi
às Nações Unidas, disse que tínhamos que mudar a forma de governar a
Internet, tinha o marco civil nas mãos e respondeu ao Brasil e ao mundo
como teríamos que mudar.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Não há nada parecido em outros países?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Não
há uma lei com tantos pontos. Na Europa há uma lei de neutralidade da
rede, no Chile também. Mas privacidade, liberdade de expressão e com
tantas outras questões, apenas esta. Este é para mim um projeto que
seria impossível de ser aprovado no Brasil sem uma conjuntura como esta.
Nunca havíamos conseguido que o Congresso brasileiro o aprovasse.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Como foi o dia da aprovação?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Não
foi um dia, foram meses. Foi uma briga muito forte. Entrava-se e
saia-se, entrava-se e saia-se porque a pressão era muito forte. O que
fez o governo: colocou-a como urgência constitucional. Um dispositivo
que faz com que, quando entra um projeto em caráter de urgência,
exija-se um prazo máximo para que seja aprovado ou não, assim é
necessário que se vote, pois, se não o fizerem até esta data, trava-se a
pauta do Congresso e não se poderá votar nada mais até que isso seja
votado. E, inclusive, através desse dispositivo ele esteve travado por
sete meses. Não se votava nada no Brasil porque não caminhava o projeto
do Marco Civil. E não caminhava porque não havia consenso, uns queriam
uma coisa, outros outra; todos jogos políticos. As companhias
telefônicas pressionavam muito. Houve uma quebra na bancada do governo. A
metade disse que não iria aprovar e então houve a reorganização da
força do governo. Fez-se uma pressão social na Internet, nas ruas, para
que o povo entendesse que esse não era um projeto do governo brasileiro
contrário as corporações ou de um partido para controlar a Internet, mas
que era um projeto da sociedade para que nos defendamos do governo e
das corporações. Porque existem dispositivos que inclusive protegem
nossos direitos de um autoritarismo do governo. Assim conseguimos um
consenso, foi aprovado quase por unanimidade, apenas um partido teve um
voto contrário.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Então nesse dia não houve uma longa sessão.</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Não, mas houve meses de sessões porque não caminhava. E aprovou-se no Senado no dia que iniciou a Cúpula Mundial no Brasil (<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">NetMundial)</strong>. Foi um acontecimento tremendo.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Quais são as principais conquistas trazidas por este marco de lei?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A
neutralidade da rede é o que chamamos de alma, para que a Internet seja
como é hoje, para que não haja uma “separação social”, e para que a
concentração dos meios que há hoje na radiodifusão não ocorra com a
Internet. É disso que trata a neutralidade, que faz com que quem faça o
controle sobre a infraestrutura da rede tenha de ser neutro em relação
aos conteúdos que são disponibilizados.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Por exemplo, as telefonias.</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Sim.
As telefonias que proveem a Internet não podem manipular os conteúdos.
Têm que ofertar velocidade de volume. Não podem dizer “sobre este
conteúdo vou cobrar, sobre este não. Ou este conteúdo será transmitido
mais rápido e este não”. Não podem monitorar, nem filtrar os conteúdos
da rede, porque a tecnologia permite que se faça isso. Porque, por
exemplo, temos aqui uma telefonia que faz um acordo com o Facebook, do
qual eu não irei participar, e que irá me ofertar o Facebook gratuito em
minha conexão.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Então,
por um acordo comercial, o Facebook termina sendo a Internet para
milhões de pessoas. E se, outra rede como a Diáspora ou qualquer outra
que não tem a capacidade comercial de negociar, como tem o Facebook,
nunca irá conseguir fazer uma rede para muitas pessoas. O artigo 09 do
Marco Civil impede isto claramente. Ainda se deve regulamentar este
artigo. Ainda está em discussão. Então a neutralidade da rede serve para
que meus conteúdos sejam iguais a qualquer outro, para enviar e para
receber. As operadoras têm que ser neutras em relação aos conteúdos.
Vendem a velocidade, mas não tocam nos conteúdos.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">E a privacidade?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Não
conseguimos tudo em relação à privacidade. Contudo, o artigo 07 garante
a privacidade como nunca havia sido garantida para a Internet. Nele se
diz que o fluxo privado é inviolável. Que a comunicação armazenada
necessita de ordem judicial para ser monitorada. Não se pode, como com
os telefones, escutar o que estamos falando sem que um juiz o peça. Isto
não resolve a questão totalmente. Ainda temos que pôr isso em prática e
ver como se dará. Mas agora estamos jogando o jogo, antes nem sequer
podíamos jogá-lo. Por exemplo, a cooperação entre corporações de
conteúdo, como <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Facebook</strong> ou <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Google</strong>,
antes da lei nem sequer eram ilegais. Agora isso terá um fim? Não.
Todavia agora é ilegal, então existem mecanismos para controlar. Pode-se
manipular dados, contudo não passá-los a terceiros para qualquer outro
fim. Estes são mecanismos de defesa da privacidade muito fortes.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Aqui
uma ex-modelo iniciou um processo porque seu nome aparecia em um sítio
de busca associada a páginas de pornografia e pediu que essa informação
fosse eliminada. Como seria com esta lei?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Os
principais ataques à liberdade de expressão na Internet é que se
retiram os conteúdos sem chances de defesa. Por exemplo, no Brasil há a <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/510155-o-deboche-das-vadias" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">Marcha das Vadias</a>, que defende os direitos das mulheres – o nome é um sarcasmo –, então no <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Facebook</strong> retiravam
todas as suas fotos e cancelavam todos os perfis porque (suas regras
dizem que) não se pode fazer nudismo. Contudo fotos artísticas de
pessoas nuas não eram retiradas. Havia uma censura política. </span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Também há denúncias em relações a mulheres amamentando...</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Sim, é o mesmo. Isso não é permitido, mas uma foto artística de uma modelo nua sim. Então quem é o juiz? O<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Facebook</strong>?
Ou quem? Outra coisa há um governador não gosta do que um blog está
dizendo sobre ele e pede ao provedor de conteúdos que o retire, pois
caso contrário irá processar o provedor e não a pessoa que está
escrevendo nele. Esta é uma censura muito praticada em toda a rede.
Então o que a lei faz é dizer que os provedores de conteúdos não são
responsáveis por conteúdos de terceiros. Isso é um detalhe muito
importante, porque então, se o<strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Facebook</strong> retira
as fotos dos protestos ou um sítio de busca retira um blog de sua
estrutura, terão que explicar o porquê o fizeram, pois se não é
responsável pelos conteúdos não há ameaça para eles sobre estes
conteúdos. Somente poderão ser retirados com uma ordem judicial. A
retirada de maneira automática será discutida na Justiça. O único
conteúdo que permitimos retirar sem ordem judicial é o conteúdo de nudez
e sexo sem autorização da própria pessoa. Deve ser a própria pessoa ou
seu responsável legal, em caso de menores, quem irá comunicar ao
provedor que retire todas as imagens ou vídeos do referido conteúdo.
Então, por exemplo, uma entidade religiosa não pode fazê-lo dizendo que
vai contra a sua moral. Apenas a pessoa.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Então no caso da modelo argentina...</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">No caso dela não ter autorizado tais fotos, a retirada deve ser solicitada apenas com a comunicação ao <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Google</strong> ou a quem fosse. O Marco Civil não pode controlar se a foto é uma foto pública, não se pode eliminar certas buscas públicas.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">O que conseguiram fazer com a lei do Marco Civil?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Há algo que especialmente a televisão <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/521423-movimentos-de-comunicacao-marcam-ato-na-sede-da-rede-globo-em-sao-paulo" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Globo</strong> </a>não
permitiu, que nos conteúdos protegidos pelos direitos autorais esta
regra não fosse aplicada. Assim podem ser retirados sem ordem judicial,
apenas com uma simples notificação. Então, ainda segue a censura
transvestida de direitos autorais, que não necessariamente está
protegendo direitos patrimoniais. O que acordamos foi que essa questão
passe a ser tratada na lei de direitos autorais e a retiramos da lei do
Marco Civil porque com a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Globo</strong> e as telefônicas juntas contra a lei, não iríamos aprova-las nunca.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Isto quer dizer que agora deve-se trabalhar nessa outra lei...</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Sim, porém ainda estamos estudando, contudo o que ocorre com os direitos autorais? A censura ainda continua. Por exemplo, a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Globo</strong> retira
os vídeos que a criticam, alegando que isto está protegido pelos
direitos autorais. E isso não tem nada haver, porque a mesma lei de hoje
dos direitos autorais permite que usemos pequenos trechos para fazer
críticas, sátiras. O problema é que nossa lei atual não fala sobre a
Internet. Assim continua retirando conteúdos com argumentos
patrimoniais, mas na realidade está censurando o debate. Outro problema é
o artigo 15. As polícias brasileiras fizeram uma forte pressão. No
projeto original, no armazenamento de dados de aplicação, as empresas de
Internet podiam decidir se queriam fazê-lo ou não. Na realidade, o que
queríamos era que não fosse possível armazenar, contudo era impossível
que o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Google</strong>, o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Facebook</strong>,
ou qualquer outra empresa cujo negócio está no armazenamento de dados,
continuassem na Internet e, se o proibíssemos, iríamos fazer com que no
Brasil não houvesse <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Google</strong> ou <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Facebook</strong> e isso não agradaria ninguém.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">O tiro sairia pela culatra.</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Então
decidimos que cada empresa iria decidir. Contudo a polícia obrigou a
todas as empresas que fizessem o armazenamento por seis meses, com fins
de investigação criminal. Tudo. Se alguém carregou uma foto, se comprou
um remédio pela Internet ou um livro, ou enviou uma mensagem, se viu uma
notícia, todos esses movimentos seriam guardados por essas empresas por
seis meses. Para vê-los, devem ser requeridos pela Justiça. Então o que
dissemos é que há dois princípios constitucionais que estão violados
neste artigo. Um, é a presunção da inocência. Estamos considerando
todos como culpados, então armazena-se a informação de toda a sociedade
caso alguém seja suspeito. E é uma medida que viola o princípio de
proporcionalidade, é muito desproporcional. Para que alguém não cometa
um crime vamos vigiar a todos. Isso é um problema. “Ah – dizem –, mas é
apenas com ordem judicial”. Sim, mas como a empresa irá garantir que
esses dados não irão por aí.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">E é difícil provar também que tenham vendido esses dados ou que foram enviados para outros usos.</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">E
se irão armazenar, terão que investir para salvar. Então, por exemplo,
uma livraria que vende livros pela Internet, que não iria salvar nada,
agora tem que salvar. E se vai armazenar, irá comercializar porque tem
que investir. “Ah, mas não pode enviar os dados para outros”. Sim, mas
pode analisa-los estatisticamente e usar essa análise como um dado. Os
metadados. Pode-se fazer uma estatística de tudo o que ocorre e saber
para onde direcionar a publicidade. Então se leva todas as empresas para
um comércio de metadados.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Na regulamentação isto pode ser modificado?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Sim,
vamos tentar que sejam apenas algumas empresas, não todas as que possam
armazenar. Nossa proposta é que as que já salvam sejam submetidas a
este artigo, mas as que não armazenam, não. Também podemos trabalhar em
outra lei, que é a de proteção de dados pessoais. Nesta lei poderíamos
revogar este artigo 15.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">A lei do Marco Civil devolve ao Estado um rol importante em relação à regulação das comunicações...</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Mais
que ao Estado, à própria sociedade. É uma lei da sociedade e não uma
lei que está sendo manipulada pelos interesses políticos de um partido
ou de um governo.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Contudo quem é a autoridade para a aplicação desta lei?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Temos a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Anatel</strong>, que é uma agência do Estado, que regula a infraestrutura de telecomunicações, e temos o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">CGI</strong>,
Conselho Geral da Internet brasileiro, composto por governo, sociedade
empresarial e consumidores, que realiza muitas coisas em relação ao
domínio ponto br. Alguns artigos dizem que a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Anatel</strong> e o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">CGI</strong> têm que ser escutados pelo governo para fazer a regulamentação. Entretanto ainda não há uma agência específica como a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Afsca</strong> daqui, não criou-se nada para monitorar isto. Então a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Anatel</strong> segue exercendo a aplicação do que ocorre na infraestrutura, mas não na camada lógica (a nível dos conteúdos) e o <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">CGI</strong> trata da camada lógica. Agora o Marco Civil o nomeia pela primeira vez em uma lei. Essa é outra vitória.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Na
Argentina há um movimento em relação aos questionamentos sobre
conteúdos discriminatórios por razões de gênero, etnia, orientação
sexual. A lei do Marco Civil diz alguma coisa em relação a este tipo de
conteúdos?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Sim,
fala também com os mesmos princípios. Contudo é um Marco Civil, não
trata de questões penais. Por exemplo, o racismo é um crime no Brasil.
Então pelo Marco Penal não se pode ser racista na Internet. Então o
Marco Civil não necessita tratar desse tema.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Entretanto, um conteúdo sexista, por exemplo, que é simbólico?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Não
há nenhum dispositivo na lei que diga que isto não pode, que será
retirado. Porque aí fragilizamos a lei: quem vai decidir sobre isto.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">O que teria que ser feito então?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Ser
nomeado como um princípio que deve respeitar os direitos humanos,
contudo não há um mecanismo específico que o retire ou o resolva. Então
isto deve ser revolvido na justiça. São necessários juízes especiais
para tratar o tema, um tribunal especial para que não fique junto com
todas as outras questões, visto que deve-se ser mais rápido para
tratá-lo. Isso é nomeado pela lei, mas não está instituído, mas diz que
deve ser feito via tribunal porque é importante para normatizar e
agilizar as coisas.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Também devem ser utilizados outros mecanismos, como campanhas...</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Sim.
E o Marco Civil é uma lei de princípios. É uma lei geral, que desenha
um caminho. É um bom começo, não encerramos nada. E temos um longo
caminho.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Vão aproveitar o Mundial de Futebol para mostrar esta legislação ao mundo?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Não. Isso ocorreu com o <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/530637-netmundial-chega-ao-fim-sem-consenso" style="border: 0px none; color: #e66101; font-weight: bold; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px; text-decoration: initial;" target="_blank">NetMundial</a>, todo mundo viu que é possível aprovar uma lei assim. E ficou indicado que seja feito um <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Marco Civil Mundial</strong>.
Porque as coisas não estão em um país ou em outro, mas estão em todo o
mundo. O mundial é um problema, inclusive para a privacidade, porque
todas as empresas de espionagem estão vindo ao Brasil para monitorar as
redes pelos protestos, devido a tudo que irá ocorrer nesses dias, porque
a <strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">FIFA</strong> impõe coisas tremendas que devem ser garantidas em nome de seus patrocinadores.</span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><strong style="border: 0px none; margin: 0px; outline: 0px none; padding: 0px;">Como a arquitetura foi útil para que você pensasse a comunicação?</strong></span></div>
<div style="border: 0px none; margin: 10px 0px 15px; outline: 0px none; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">É
útil para que eu pense as coisas visualmente. A comunicação não é
apenas a rádio ou a TV, a cidade é um tremendo canal de comunicação.
Também estou desenhando minha casa, que irei construir. Gosto muito.
Contudo sem a comunicação democrática todos os outros temas permanecem
paralisados. Não vamos ter uma educação pública, saúde, a reforma
agrária, nenhuma dessas questões irá ocorrer sem que haja um debate que
ocorra de forma democrática. Então define-se esse como o tema de todas
as disputas. Temos que democratizar a comunicação para que a própria
democracia se concretize.</span></div>
</div>
</div>
<span style="font-size: small;">
</span></div>
</div>
<span style="font-size: small;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="thumbs"></a>
</span><div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-271058138456615409.post-2401753116501960682014-07-08T06:00:00.000-03:002014-07-08T06:00:05.726-03:00Dez teses sobre a ascensão da extrema direita europeia<div id="articleNew" style="color: #1f1f1f; font-family: 'Times New Roman', verdana, arial; font-size: 18px; margin: 0px; padding: 0px;">
<div class="title" style="font-size: 39px; font-weight: bold; margin-bottom: 15px; margin-top: 10px;">
<br /></div>
<div class="fine_line" style="font-weight: bold;">
<div style="font-style: italic; font-weight: normal; margin: 0px 0px 18px ! important; text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O novo fascismo espreita o Velho Continente</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span class="creditart" style="color: #999999; display: block; font-family: arial,verdana,sans-serif; font-weight: bold; margin: 0px;">MICHAEL LÖWY</span></div>
<div class="kicker blue" style="color: navy; font-weight: bold; letter-spacing: 0.3px; text-align: justify; text-transform: uppercase;">
<span style="font-size: small;">RESUMO</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O resultado das eleições para o Parlamento Europeu, no fim de maio,
registrou na prática o fortalecimento dos partidos de extrema direita no
continente. Para sociólogo, discurso com que esquerda explica o
crescimento do fascismo pela via da crise econômica reduz fenômeno e
deixa de lado suas raízes históricas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div class="divisor" style="border-bottom: 1px solid rgb(204, 204, 204); height: 1px; margin: 0px; text-align: justify; text-indent: -9999px;">
<span style="font-size: small;">-</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">1. As eleições europeias confirmaram uma tendência observada já há
alguns anos na maior parte dos países do continente: o crescimento
espetacular da extrema direita. Esse é um fenômeno sem precedente desde
os anos 1930. Em muitos países, essa corrente obtinha entre 10 e 20%.
Hoje, em três países (França, Inglaterra e Dinamarca), ela já atinge
entre 25 e 30% dos votos. Na verdade, sua influência é mais vasta do que
seu eleitorado: ela contamina com suas ideias a direita "clássica" e
até mesmo uma parte da esquerda social-liberal. O caso francês é o mais
grave; o avanço da Frente Nacional ultrapassa todas as previsões, mesmo
as mais pessimistas. Como escreveu o site Mediapart em um editorial
recente: "São cinco para meia-noite".</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">2. Essa extrema direita é muito diversa, podendo-se observar uma
vasta gama que vai desde os partidos abertamente neonazistas --como o
Aurora Dourada grego-- até as forças burguesas perfeitamente integradas
no jogo político institucional, como a suíça UDC (União Democrática de
Centro). O que eles têm em comum é o nacionalismo excessivo, a
xenofobia, o racismo, o ódio contra imigrantes --principalmente
"extraeuropeus"-- e contra ciganos (o mais velho povo do continente), a
islamofobia e o anticomunismo. A isso pode-se acrescentar, em muitos
casos, o antissemitismo, a homofobia, a misoginia, o autoritarismo, o
desprezo pela democracia e a eurofobia. Quanto a outras questões --por
exemplo, ser a favor ou contra o neoliberalismo ou a laicidade-- a
corrente se mostra mais dividida.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">3. Seria um erro acreditar que o fascismo e o antifascismo são
fenômenos do passado. É evidente que hoje não se encontram mais partidos
de massa fascistas comparáveis ao NSDAP (Partido Nacional-Socialista
dos Trabalhadores Alemães) dos anos 1930, mas já nessa época o fascismo
não se resumia a um único modelo: o franquismo espanhol e o salazarismo
português eram bem diferentes do modelo italiano ou do alemão.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Parte importante da extrema direita europeia hoje tem matriz
diretamente fascista e/ou neonazista: é o caso do grego Aurora Dourada,
do húngaro Jobbik, dos ucranianos Svoboda e Pravy Sektor etc.; mas isso
vale também, sob outro aspecto, para a Frente Nacional, o FPÖ (Partido
da Liberdade Austríaca), o belga Vlaams Belang (Interesse Flamengo) e
outros, cujos quadros fundadores tiveram ligações estreitas com o
fascismo histórico e com as forças de colaboração com o Terceiro Reich.
Em outros países --Holanda, Suíça, Inglaterra, Dinamarca-- os partidos
de extrema direita não têm origem fascista, mas partilham com os
primeiros o racismo, a xenofobia e a islamofobia.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Um dos argumentos que demonstrariam que a extrema direita mudou e não
teria mais muito a ver com o fascismo é sua aceitação da democracia
parlamentar e da via eleitoral para chegar ao poder. Lembremos que um
certo Adolf Hitler chegou à Chancelaria por uma votação legal do Reich-
stag (Parlamento alemão) e que o marechal Pétain foi eleito chefe de
Estado pelo Parlamento francês. Se a Frente Nacional chegasse ao poder
por meio de eleições --uma hipótese que infelizmente não se pode
descartar-- o que restaria da democracia na França?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">4. A crise econômica que castiga a Europa desde 2008 favoreceu,
portanto, de maneira predominante (com exceção do caso da Grécia), mais a
extrema direita do que a esquerda radical. A proporção entre as duas
forças está totalmente desequilibrada, contrariamente à situação
europeia dos anos 1930, que via, em diversos países, um crescimento
paralelo do fascismo e da esquerda antifascista.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">A extrema direita atual, sem dúvida, se aproveitou da crise, mas isso
não explica tudo: na Espanha e em Portugal, dois dos países mais
atingidos pela crise, a extrema direita continua marginal. E na Grécia,
ainda que o Aurora Dourada tenha crescido exponencialmente, segue
retumbantemente derrotado pelo Syriza, coalizão da esquerda radical. Na
Suíça e na Áustria, países poupados pela crise, a extrema direita
racista ultrapassa com frequência os 20%. É preciso, então, evitar as
explicações economicistas que a esquerda vem propondo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">5. Fatores históricos têm sem dúvida o seu papel: uma grande e antiga
tradição antissemita em certos países; a persistência de correntes
colaboracionistas desde a Segunda Guerra Mundial; a cultura colonial,
que impregna as atitudes e os comportamentos muito depois da
descolonização --não somente nos antigos impérios, mas em quase todos os
países da Europa. Todos esses fatores estão presentes na França e
contribuem para explicar o sucesso do lepenismo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">6. O conceito de "populismo", empregado por alguns cientistas
políticos, pela mídia e mesmo por uma parte da esquerda, não é de modo
algum capaz de dar conta do fenômeno em questão, servindo apenas a
semear a confusão. Se na América Latina, desde os anos 1930 até os 1960,
o termo correspondia a algo relativamente preciso --o varguismo, o
peronismo etc.--, seu uso na Europa a partir dos anos 1990 é cada vez
mais vago e impreciso.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">O populismo é definido como "uma posição política que está do lado do
povo contra as elites", o que é válido para quase qualquer movimento ou
partido político. Esse pseudoconceito, aplicado aos partidos de extrema
direita, leva, voluntariamente ou não, a legitimá-los, a torná-los mais
aceitáveis, e até mesmo simpáticos --quem não é a favor do povo contra
as elites?--, evitando cuidadosamente os termos que contrariam: racismo,
xenofobia, fascismo, extrema direita. "Populismo" também é utilizado de
maneira deliberadamente mistificadora por ideólogos neoliberais para
amalgamar a extrema direita e a esquerda radical, caracterizadas como
"populismo de direita" e "populismo de esquerda", opondo-as aos
políticos liberais, à Europa etc.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">7. A esquerda, todas as tendências reunidas --com poucas exceções--,
tem subestimado cruelmente o perigo. Ela não viu chegar a "vague brune"1
e, por isso, não achou necessário tomar a iniciativa de uma mobilização
antifascista. Para algumas correntes da esquerda, a extrema direita é
apenas um subproduto da crise e do desemprego, e é contra essas causas
que é preciso lutar, e não contra o fenômeno fascista em si. Esses
argumentos tipicamente economicistas desarmaram a esquerda diante da
ofensiva ideológica racista, xenófoba e nacionalista da extrema direita.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">8. Nenhum grupo social está imune à "peste brune". As ideias da
extrema direita, em particular o racismo, contaminaram um bom
contingente, não só de pequenos-burgueses e desempregados como também da
classe trabalhadora e da juventude. No caso francês, isso é
particularmente chocante. Essas ideias não têm nenhuma ligação com a
realidade da imigração: o índice de votação na Frente Nacional, por
exemplo, é especialmente alto em algumas regiões rurais em que nunca se
viu um só imigrante. E os imigrantes ciganos, que foram recentemente
objeto de uma onda de histeria racista bastante impressionante --com a
indulgente participação do então ministro "socialista" do Interior,
Manuel Valls--, são menos de 20 mil em todo o território francês.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">9. Outra análise "clássica" da esquerda sobre o fascismo é a que o
explica como um instrumento do grande capital para esmagar a revolução e
o movimento trabalhador. Bom, como hoje o movimento trabalhador está
muito enfraquecido e o perigo revolucionário inexiste, o grande capital
não tem interesse em sustentar movimentos de extrema direita, então a
ameaça de uma ofensiva "brune" não existe. Trata-se, mais uma vez, de
uma visão economicista, que não abarca a autonomia própria aos fenômenos
políticos --os eleitores podem escolher um partido que não tem a
simpatia da grande burguesia-- e que parece ignorar que o grande capital
pode se acomodar em todos os tipos de regimes políticos, sem muitas
preocupações.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">10. Não há receita mágica para combater a extrema direita. É preciso
se inspirar, mantendo certa distância crítica, nas tradições
antifascistas do passado; mas é preciso também saber inovar para
responder às formas atuais do fenômeno. Há que saber combinar
iniciativas locais com movimentos sociopolíticos e culturais individuais
solidamente organizados e estruturados, em escala nacional e
continental. É possível chegar a uma unidade pontual de todo o espectro
"republicano", mas um movimento antifascista organizado só será eficaz e
confiável se impelido por forças externas ao consenso neoliberal
dominante. Trata-se de uma luta que não pode se limitar às fronteiras de
um país, mas deve se organizar em escala europeia. O combate ao
racismo, e a solidariedade a suas vítimas, é um dos componentes
essenciais dessa resistência.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">Nota:</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">1. "Vague brune", onda marrom, é como vem sendo chamada, na França, a
expansão fascista. A expressão deriva de "peste brune", praga marrom,
nome dado pelos franceses ao nazismo durante a Segunda Guerra, em
referência à cor do uniforme dos soldados do Reich.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><div class="text_footer" style="font-size: 15px;">
<span style="font-size: small;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;">TRADUÇÃO <strong>ÚRSULA PASSOS</strong></span></div>
</div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Diacrianos: situacionismo, anarquia, filosofia política, poesia, autores como Debord, Baudrillard, Habermas, Zizek, Laclau, Badiou.</div>jhollandhttp://www.blogger.com/profile/05672107062702888774noreply@blogger.com0