sexta-feira, 25 de maio de 2007

Situacionismo...novas considerações (2)

A crítica ao fetichismo somente pode ser pensada dentro da reflexão sobre a linguagem. Ou, seja, para Debord, ambas as reflexões são uma só, o que implica dizer que a reificação se dá dentro e a partir dos mecanismos da linguagem. O espetáculo é o momento em que a mercadoria ocupa integralmente a vida social e pode ser entendido como o contrário do diálogo (do "antagonismo", na acepção de Zizek - podemos estabelecer aqui também um diálogo com Habermas). Debord afasta-se, entretanto, das vanguardas artísticas, na medida em que, para ele, o inconsciente no pós-modernismo, perde a negatividade (conforme Jameson, "inconsciente colonizado").
"Daí a necessidade de se proceder à "elaboração consciente do desejo" e de um novo horizonte com base no qual a crítica da reificação precisa ser feita: uma nova linguagem comum, o diálogo nprático, uma nova comunicação." (in Reificação e Linguagem em Guy Debord - João Emiliano Fortaleza de Aquino)
A superação do fetichismo, da reificação e da alienação tem como pressuposto a recuperação do "jogo criativo e prático da comunicação e do diálogo" que tem no espetáculo seu antagonista mais acabado.
Debord também pensa a Sociedade do Espetáculo como aquela que põe fim à linearidade do tempo e à noção de progresso, que ele localiza ter sido fundada, dentro do Ocidente, na Grécia antiga. Se as sociedades agrícolas eram regidas pela noção de tempo cíclico, os "senhores de Atenas" promoveram uma ruptura, pois, assumindo o poder e tomando para si seus próprios destinos - o que pressupõe uma vida autônoma e fundada no diálogo - puderam pensar suas prórpias histórias (individuais e coletiva). Portanto, Debord considera que a própria noção de história finca sua raízes na possibilidade do diálogo. E é nesse sentido que o espetáculo inaugura um pseudo-tempo cíclico (fim da história, fim da política, percepção de que nada vai mudar etc.).

Situacionismo...novas considerações

Em outra mensagem, havia levantado a questão acerca do caráter simbólico da existência moderna e suas formas de contestação, também voltadas para a dimensão cultural.
Gostaria de acrescentar novos elementos a essa indagação.
O situacionismo é uma resposta ao problema do fetichismo (Marx), reificação (Lukacs) e da alienação. Para outros autores não marxistas (Weber, por exemplo), esse problema também assume uma posição central, quando chamam a atenção para a racionalidade crescente – que subtrai o sentido da vida – para a especialização dos saberes e a crescente autonomia das esferas da ação social (por exemplo, da arte), que se movem por lógicas próprias. Em, Simmel, o mesmo fenômeno guarda implicações quase transcendentais, pois sua análise trata da oposição entre os “impulsos vitais” e as “formas” pelas quais esses impulsos se manifestam.
Pois bem, essa temática é também o cerne dos movimentos artísticos de vanguarda do início do século XX: o futurismo (1909), o dadaísmo (1916) e o surrealismo (1924). Para esses movimentos de vanguarda, trata-se de unir a arte à vida, buscando-se a superação da separação entre as “esferas” (numa linguagem weberiana), retomando e conferindo um sentido à própria vida e suas manifestações (cultura). De uma certa forma, a proposição é negar a própria arte – como até então esta era concebida – fazendo com que “vida” (cotidiana) e “arte” sejam uma só: é a superação da existência alienada e da reificação. Esse é o cenário em que o impulso situacionista ocorre. No pós-II Guerra Mundial, as vanguardas (ou melhor suas manifestações, os signos por estas elaborados ou, numa linguagem “à la Simmel”, suas “formas”) são apropriadas ou integradas pelo sistema ideológico. Os situacionistas iniciam suas reflexões nesse momento, ao recusar essa integração: buscam a retomada do projeto vanguardista, porém em um outro registro. A reflexão estética irá assumir contornos cada vez mais políticos...
"A arte será assim ultrapassada, conservada e superada numa atividade mais complexa.(...)Seus elementos poderão se reencontrar aí parcialmente, mas transformados, integrados e modificados pela totalidade." (IS, n.4)