sábado, 2 de outubro de 2010

Reinterpretando a História - Parte 1

Erich von Däniken

(artigo extraído do site Obvious...)

Por: Miguel Oliveira



Erich von Däniken



Erich von Däniken pode, para muitos, soar como um louco. Assinalava no entanto André Suarès, pseudónimo de um poeta e crítico francês e um dos quatro pilares da Nouvelle Vague, que “a loucura é o sonho de uma única pessoa [e a] razão é, sem dúvida, a loucura de todos”.

Colocamos questões: que seria da Humanidade se finalmente conseguíssemos chegar ao âmago de Deus, se passássemos a compreender a sua existência, o fundamento dos mitos do divino, se resolvêssemos o paradoxo da sua existência? Inúmeras questões poderiam ser colocadas. Erich von Däniken, escritor suíço, colocou 238 pontos de interrogação no seu best-seller “Chariots of the Gods? – Memories of the Future – Unsolved Mysteries of the Past” (em português chegou-nos com o título: “Eram os Deuses Astronautas?” mas a tradução literal da obra é: “Carruagens dos Deuses? – Memórias do Futuro – Mistérios do Passado por Resolver”). Este é um livro repleto de especulações, assumidas como tal pelo autor, e que a comunidade científica e teológica preferiu encarar como “assunções”/alegações, de alguma forma (talvez propositada ou ingenuamente) descredibilizando-o perante os seus “rebanhos”.

A análise de Däniken sobre o passado do ser humano é densa o suficiente para que não baste uma síntese; passo no entanto, e de qualquer forma, a apresentar uma: os seres humanos terrestres foram “visitados”, num passado longínquo, por seres extraterrestres que influenciaram a sua conduta. Como resultado desta influência surgiram inúmeros avanços científicos, tecnológicos e morais no desenvolvimento da espécie e um emaranhado de mitos e religiões. Poder-se-ia dizer até todas as religiões.

Quando se refere que “fomos visitados” num tempo “longínquo”, temos que considerar que, segundo Däniken, as datações e alcance da ciência estão errados, tendo existido seres humanos muito antes do homo sapiens convencional. Sociedades com um elevadíssimo grau de desenvolvimento e consciência cujas provas da existência ter-se-ão em grande parte perdido devido a catástrofes de diversas ordens (naturais, na maior parte dos casos). As teorias de Däniken vêm colmatar diversas lacunas que ultrapassam os conhecimentos da arqueologia e de outras disciplinas. Assim, os seres que desciam dos céus (o incompreensível transformado em “deuses”, do indo-europeu deiwos : resplandecente, luminoso, o que nos faz lembrar algo) em “máquinas voadoras”, presentes virtualmente em todas as religiões, seriam reminiscências dessas visitas extraterrestres arrastadas até nós em lendas, mitos, orações, imagens, textos, objectos. Transformamos seres altamente tecnológicos em anjos, cujo capacete foi estilizado com o passar do tempo, mantendo-se porém lá, agora sob o formato de auréola. O inexplicável ganha uma nova e surpreendente análise e os arquétipos humanos uma nova compreensão.







Mas então, onde param essas evidências, esses objectos, esses textos, essa tradição? “Neste momento não poderia estar a sentir-me mais céptico”, pensa porventura o leitor. Alto! Van Däniken diz-nos onde encontrá-las, e não poderiam estar mais perto, mais visíveis. As evidências estão por todo o lado, mesmo à nossa volta, só precisamos de abrir os nossos olhos, tornar a nossa mente disponível, libertar a nossa imaginação! Estão presentes nos textos bíblicos, nos textos hindus, nas paredes das cavernas, nas estátuas da Ilha da Páscoa, nas linhas de Nazca, em Puma Punku, no túmulo de Pacal, o Grande. As “evidências” são infindáveis, segundo o autor.

"O Astronauta" - um dos muitos desenhos
pertencente às Linhas de Nazca, no Peru

"A Porta do Sol", Tiwanaku, Bolívia


O que são, para onde olham, por quem esperam estes seres de pedra?





"Moais", Ilha de Páscoa

Antes de vos deixar o documentário sobre esta tese de Däniken (documentário do Canal História, dividido em 10 partes), onde se apresentam muitas das respostas que sustentam estas teorias e se confrontam com a ciência “ortodoxa”, permitam-me uma consideração final em formato de discussão, especulação, reflexão e questionamento.

Haverá evidências desta teoria deliberadamente ocultadas, devido à imprevisibilidade da reacção da população mundial, ao risco da desconstrução dos mitos religiosos, de uma catástrofe de consciência, à inevitável necessidade de reformular a cultura e história humanas se tivermos de aceitá-las? De forma semelhante ao que aconteceu noutras alturas da história, e tal como ainda hoje se conservam sítios e documentos secretos, que não têm carácter militar, vedados ao público? O que é real, o que é verdade? Até que ponto podemos não desconfiar de governos, de sociedades secretas, de grandes instituições? Até que ponto o ceticismo é um exercício saudável, e quando começa a ser uma fantasia ou um acto de paranóia?

De que religião seríamos se acreditássemos na tese dos antigos astronautas extraterrestres? Seríamos o quê? Continuaríamos a acreditar em “Deus”, ou nos “Deuses”?

Existe um problema com o ego do ser humano que pode ser a base da crença ou descrença nestas teorias. Um outro autor, Robert Charroux, opina sucinta e abertamente que seria muito mais interessante para o nosso ego sermos descendentes de alienígenas (termos sido visitados e influenciados por eles, termos copulado com eles) do que de “macacos”. Sem dúvida tem uma certa razão, não obstante a maravilha evolucionista de Darwin. Robert Charroux será tema do próximo artigo desta série de artigos.

Fica assim apresentada a tese de Erich von Däniken - para os cépticos, para os curiosos, para os insatisfeitos, para os loucos. E se tudo for verdade? Quem estará pronto para o “choque dos deuses”, quando um dia eles regressarem?



(“Reinterpretando a História” é uma série de três artigos que apresentam diferentes e peculiares visões de três autores em relação ao passado da Humanidade. Interpretações que diferem da visão científica aceite e que exigem uma mente aberta e uma boa dose de pirronismo face ao senso comum. O presente artigo é o primeiro desta série).


O autor: Miguel Oliveira; possui o cérebro na ponta dos dedos. Pinta palavras em ecrãs de computador com aquilo que sintetiza do mundo e diz possuir um rádio no lugar da cabeça. Saiba como colaborar.



Mais em: http://obviousmag.org/archives/2010/10/reinterpretando_a_historia_parte_1_erich_von_danik.html#ixzz11FpqzaF9