Confúcio foi até Lao-Tsé. A mente de Lao-Tsé é a de um sabío tantrícamente acordado.
Ele nunca soube a respeito da palavra "tantra": a palavra não tinha sentido para ele. Ele nada soube a respeito do tantra, mas tudo o que dizia era tântrico.
Confúcio representa nossa mente. Ele é o arqui-representante. Pensa continuamente em termos de bem e mal, do que deve ou não deve ser feito. Ele é um homem da lei - o maior homem da lei que já existiu.
Ele foi a Lao-Tsé e perguntou:
"O que é o bem? O que devemos fazer? O que é o mal? Defina-os claramente".
Lao-Tsé disse que as definições criam confusão, porque definir significa dividir:
"Isto é isto e aquilo é aquilo". Você divide e diz que A é A e B é B; você dividiu.
Você diz que A não pode ser B; assim criou uma divisão, uma dicotomia, e a Existência é uma só.
O A está sempre se tornando B, está sempre se dirigindo para B
A vida está sempre se tornando morte, assim, como você pode definir?
A infância está se tornando juventude e a juventude, velhice;
a saúde se torna doença e a doença se torna saúde.
Assim, como você pode demarcá-las como separadas?
A vida é um movimento, e, no momento em que você define, cria confusão, porque as divisões são mortas e a vida é um movimento vivo. Portanto, as definições são sempre falsas.
Lao-Tsé diz que definir cria a não-verdade, por isso não defina. Não diga o que é bom e o que é mau.
Confúcio disse:
"O que está dizendo? Então como as pessoas poderão ser conduzidas e guiadas?
Como poderão ser ensinadas? Como poderão aprender a se tornarem morais e boas?"
Lao-Tsé respondeu:
"Quando alguém tenta tornar outra pessoa boa, aos meus olhos está pecando.
Quem é você para conduzir?
Quem é você para guiar?
E quanto mais guias houver, maior a confusão.
Deixe cada um a si mesmo. Quem é você?"
Esse tipo de atitude parece perigoso.
E é! A sociedade não pode ser estabelecida em tais atitudes.
Confúcio continua perguntando e a questão é o que Lao-Tsé diz:
"A Natureza é suficiente. Nenhuma moralidade é necessária.
A Natureza é espontânea. É suficiente.
Nenhuma lei imposta e nenhuma disciplina são necessárias.
A inocência é suficiente. Nenhuma moralidade é necessária.
A Natureza é espontânea, é suficiente.
Nenhuma lei ou disciplina são necessárias.
A inocência é suficiente. O conhecimento não é necessário".
Confúcio voltou muito perturbado. Não pôde dormir por muitas noites. E seus discípulos pediram:
"Conte-nos alguma coisa sobre o encontro. O que aconteceu?"
Confúcio respondeu:
"Ele não é um homem. É um perigo, um dragão. Ele não é um homem. Nunca andem pelo lado em que ele estiver. Sempre que ouvirem falar de Lao-Tsé, fujam do lugar. Ele perturbará completamente suas cabeças".
E isso está certo, porque o tantra está relacionado com o caminho para a transcendência da mente- Ele é feito para destruí-la.
A mente vive com definições, leis e disciplinas. A mente é uma "ordem".
Mas, lembre-se, o tantra não é uma desordem, e este é um ponto muito sutil que deve ser entendido.
Confúcio não pôde entender Lao-Tsé.
Quando Confúcio saiu, Lao-Tsé estava rindo e rindo e seus discípulos perguntaram:
"Por que ri tanto? Que aconteceu?"
Dizem que Lao-Tsé respondeu:
"A mente é uma barreira imensa ao entendimento. Até mesmo a mente de um Confúcio é uma barreira. Ele não pôde absolutamente me compreender, e o que quer que diga sobre mim será um mal-entendido. Ele pensa que vai criar ordem no mundo.
Você NÃO PODE criar ordem no mundo. A ordem é inerente a ele; está sempre presente. Quando você tenta criar ordem, cria desordem".
Lao-Tsé disse:
"Ele vai pensar que eu estou criando desordem e, na verdade, ele é quem a está criando. Sou contra todas as ordens impostas, porque acredito em uma disciplina espontânea que vem e cresce automaticamente. Você não precisa impô-la".
O tantra olha as coisas desta forma. Para o tantra, a inocência é espontaneidade, Sahajata - ser o que se é, sem qualquer imposição -, ser simplesmente o que se é, crescendo como uma árvore: não a árvore do seu jardim, mas a árvore da sua floresta, crescendo espontaneamente; sem direção, porque toda direção é um desvio (para o tantra, toda direção é um desvio); sem ser guiada, guardada, dirigida, motivada, mas simplesmente crescendo.
A lei interna é suficiente; nenhuma outra lei é necessária. E se você precisa de alguma outra lei, isso simplesmente mostra que você não conhece a lei interna. Você perdeu o contato com ela. Portanto, a coisa real não é algo imposto. A coisa real está novamente recuperando o equilíbrio, novamente se movendo para o centro, novamente voltando para casa, a fim de que você ganhe a verdadeira lei interior.
Mas, para a moralidade, para as religiões - as assim chamadas religiões, a ordem é para ser imposta, a bondade deve ser imposta de cima, de fora. As religiões, os ensinamentos moralistas, os pregadores, os papas, todos eles o consideram inerentemente mau, lembre-se disto. Eles não acreditam na bondade do homem; não acreditam em qualquer bondade interior Acreditam que você é mau - e que, a menos que você seja ensinado a ser bom, não pode ser bom; a menos que a bondade seja forçada de fora, não há possibilidade de ela vir de dentro.
Um comentário:
Acho que Ouspensky quis dizer algo semelhante a Lao-Tsé quando disse que somos alimentos por substitutos e que poucos conhecem o sabor genuíno das coisas...
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