sexta-feira, 5 de outubro de 2007

O "Filme" da pós-modernidade

Reproduzi abaixo, apenas a título de ilustração, 3 pequenas notícias, quase tiradas a esmo, publicadas entre ontem e hoje. Nos moldes do que ocorre no cinema – onde a seqüência de imagens permite ao espectador conferir um sentido coerente – a “montagem” abaixo estabelece um quadro que suscita uma reflexão acerca da pós-modernidade.

A quarta notícia permitiria uma esperança, porém uma reflexão mais atenta se faz necessária, pois demonstra, na verdade, que a luta, o antagonismo em uma sociedade alienada já se dá em um terreno previamente demarcado; na "sociedade do espetáculo", todos brigam por um pedaço do palco, não questionando o próprio teatro (em ambos os sentidos).

A solução ?

Não há soluções “prontas”, mas acredito e sinto que uma pista se encontra na postagem mais abaixo (vide “O Gosto da Liberdade”)

04/10/2007
09h49
Senado francês aprova teste de DNA para imigrantes

O senado francês aprovou, na noite desta quarta-feira, um polêmico projeto de lei que prevê o uso de testes de DNA em imigrantes que querem entrar na França alegando ter parentes morando no país.A proposta do governo, que já foi aprovada pelos deputados no mês passado, prevê que pessoas com mais de 16 anos que desejam emigrar para a França, façam testes de DNA em seu país de origem. Segundo as novas regras, o candidato deverá demonstrar conhecimentos da língua francesa e dos "valores" da República, além de comprovantes de renda e de documentos que atestem que a família tem condições de recebê-lo.O projeto do governo do presidente Nicolas Sarkozy teve de ser alterado na última hora para conseguir a aprovação dos senadores.Uma das mudanças prevê que o governo francês vai arcar com o custos dos testes, uma forma de evitar acusações de discriminação contra os requerentes que não têm dinheiro para pagar o exame. A outra alteração prevê que serão testados apenas o DNA materno para evitar possíveis disputas por testes de paternidade. O governo francês planeja aplicar os exames de maneira experimental durante de 18 meses.O projeto tem sido alvo de críticas da oposição e de grupos de direitos humanos, que acusam o governo de racismo e questionam o uso da genética nas regras de imigração.O governo acredita que os testes vão acelerar a entrada de imigrantes que provarem relações de parentesco e argumentam que outros 12 países europeus já adotaram medidas semelhantes. O projeto agora volta para a Câmara dos Deputados antes de virar lei.

05/10/2007
05h55
Tribunal dos EUA multa mulher por pirataria na internet

A indústria fonográfica americana ganhou nesta quinta-feira uma de suas maiores batalhas na luta contra a pirataria de músicas pela internet.Um tribunal do estado de Minnesota decidiu que Jammie Thomas, uma mãe solteira de 32 anos, deverá pagar uma multa de US$ 220 mil (R$ 400 mil) por ter baixado e compartilhado ilegalmente 24 músicas usando a rede de computadores. As seis gravadoras que estão processando Thomas cobraram US$ 9,250 (R$ 17 mil) por cada música pirateada, mas a multa poderia ter chegado a milhões de dólares, pois segundo as empreas ela teria compartilhado até 1.700 músicas pela internet. O advogado de Thomas, Brian Toder, disse que a mulher chorou ao ouvir o veredicto e que ela poderá ter um quarto de seu salário comprometido para o resto de sua vida. O advogado das gravadoras, Richard Gabriel, disse que o veredicto foi importante porque "alerta as pessoas para as conseqüências de se infringir a lei". Para o Los Angeles Times, a vitória é um passo importante na campanha lançada há quatro anos pela indústria fonográfica contra pirataria.Até agora, a Associação Americana da Indústria fonográfica (RIAA, na sigla em inglês) já entrou com 26 mil processos contra indivíduos acusados de compartilhar músicas pela rede, mas esta é a primeira vez que uma disputa vai parar no tribunal. Mais de 10 mil processos já foram resolvidos, depois que os acusados concordaram em pagar até US$ 5 mil (R$ 9 mil) por infringir as leis de direitos autorais.

5/10/2007
A exclusão é a regra da cibercultura e não a inclusão, afirma especialista

"O mercado exige dromoaptidão, ou seja, a capacidade de ser veloz. O mercado está cada vez mais dromocrático. Essa exigência cumpre a função de seleção. Mas é uma violência, porque sobrepesa aos conhecimentos que já eram exigidos. E é pantópica, vem de todos os lados." A afirmação é de Eugenio Trivinho, autor do livro "A Dromocracia Cibercultural" recém-lançado pela Editora Paulus. O autor foi entrevistado por Jorge Felix e a entrevista foi publicada pelo jornal Valor, 4-10-2007.

Eis a entrevista.

Ainda é possível viver fora da lógica da velocidade?
Não, desde que se considere que o indivíduo necessita, para integrar-se ao mercado de trabalho, estar em sintonia com a época. Pela sua sobrevivência e para integrar-se também aos produtos de lazer, os games. A época exige um domínio das chamadas senhas infotécnicas de acesso. Deixa para aqueles que não entraram, não têm necessidade de entrar ou saíram do mercado de trabalho a prerrogativa de rescisão a esse domínio dos instrumentos, das linguagens ou dos conhecimentos. No entanto, há muito pouca brecha para escape. A tecnocracia é a mais penalizada. Os executivos certamente não desfrutam do privilégio concedido pela época de não precisar responder a todas as exigências dromo- cráticas. Apenas o tecnófobo pode dizer "não".

Quais são as conseqüências desse fenômeno para a qualificação profissional?
A primeira é a inexorabilidade da sobrecarga civilizatória. O indivíduo deve dominar essas infotécnicas, mesmo para funções nas quais esse conhecimento sequer é um requisito. Isso faz parte da incorporação da violência típica desta época. O mercado exige dromoaptidão, ou seja, a capacidade de ser veloz. O mercado está cada vez mais dromocrático. Essa exigência cumpre a função de seleção. Mas é uma violência, porque sobrepesa aos conhecimentos que já eram exigidos. E é pantópica, vem de todos os lados.

É nesse aspecto que a dromocracia revela-se típica de uma época violenta?
A cibercultura não é apenas uma época. É um processo civilizatório e busca sua perpetuação no tempo. É a fase atual do capitalismo tardio. Há um sobrepeso aos ombros de todos, embora a época estipule quem domina as novas senhas e quem não deve dominá-las, porque a seleção é econômica ou cognitiva. Esse sobrepeso se faz com requintes. Ela aponta para o horizonte sem definir o rumo. Existe uma cobrança para o domínio do ciberespaço, mas é doce, sutil, uma pressão social invisível. Diz: "Você deve dominar essas senhas, que prometem 'garantir' sua inclusão na cibercultura".

Essa promessa é de fato cumprida?
É apenas um discurso. Vive do caudal publicitário das megaindústrias do ramo. Mas desse processo fazem parte governo, terceiro setor, provedores de acesso e também a massa de consumidores que aderem sem reflexão aos produtos. A lógica da cibercultura vive dessa dinâmica da reciclagem info-tecnológica estrutural. Não basta dominar uma senha. É necessário que esta senha esteja sempre atualizada. Mas, para esse acompanhamento há a necessidade de formação de capitais econômico e cognitivo.
E a mudança é cada vez mais rápida.
O coração desse movimento é a reciclagem estrutural, a passagem de uma "mais potência" para outra. Do hardware 486 para o Pentium 1, por exemplo. Ou seja, não basta qualquer senha. O tempo de reciclagem hoje é de seis meses para todos os componentes. Nunca tivemos taxa de reciclagem tão alta para outras modalidades de objetos tecnológicos, como carro e televisão.

Os indivíduos, empresas ou governos conseguem acompanhar?
Esta é a síntese da lógica da reciclagem: a violência. Invisível. As indústrias do ramo têm necessidade de fazer girar o capital. O capitalismo cibernético tem necessidade de reprodução. Todos, governos, empresas, nações, todos devem se vergar à lógica da mais potência. É um ódio valorativo ao que estava vigorando antes, como se o 4.0 fosse melhor que o 3.0, como se o Windows 98 fosse melhor que o 95. Isso é uma falácia. A lógica nos convence que status é ter acesso a senhas atualizadas.
E, como mudam rápido, cada vez criam mais excluídos.
A equação da época, com seus requintes sutis, diz: é necessário desenvolver um domínio privado, a partir do dromo, com computador em casa, pleno, com todas as senhas info-técnicas atualizadas, e capital cognitivo para ter lugar ao sol da cibercultura. Aí começa o drama do nosso processo civilizatório. Esse domínio não é dado a todos. Abre-se, portanto, o fosso que separa uma elite, a nova, elite tecnológica, e aquela massa dromoinapta que não o é porque quer, é porque o processo é darwinista. Aí ocorre uma super exclusão. A exclusão é a regra da cibercultura e não a inclusão.

É um desafio para a política de inclusão digital?
Pensar na inclusão digital, como forma de inclusão social, é utopia. A inclusão digital só pode assim ser pensada como meta a ser cumprida no âmbito civilizatório. Sistema escolar, governos, fundações, ONGs podem trabalhar para saldar uma dívida. A escala é civilizatória. Não é localizada nem reduzida a uma época. A civilização tenta se desdobrar porque as necessidades comparecem e a sociedade tem que dar conta. Nós sabemos que o Estado, o capital, o terceiro setor, ao falarem de acesso universal, fazem apenas um discurso. A época exige acesso privado pleno. O discurso deixa entender que o acesso universal já inclui socialmente. Essa filigrana é que precisamos notar. Sem isso, caímos numa ingenuidade política de que apenas a popularização dos equipamentos vai flexibilizar o acesso. É bom lembrar que o barateamento ocorre para os equipamentos defasados, quando a mais potência já se deslocou para categorias que têm capacidade econômica e cognitiva para acompanhar a reciclagem estrutural. É essa diferenciação interna da dromocracia cibercultural que marca a complexidade da exclusão.

31/8/2007
O garoto do iPhone

George Hotz, um garoto de 17 anos morador de Nova Jersey conseguiu, com a ajuda de 4 amigos, desbloquear o seu iPhone. Ganhou as manchetes de todo mundo. A façanha de George Hotz – nova geração de “entusiastas da abertura, da liberdade e da divisão do conhecimento” - é comentada pelo economista Ricardo Cianciaruso em seu blog, “É Nóis” – portal do sítio Época negócios, 29-08-2007.

Eis o comentário.

Vale explicar que a Apple fechou um acordo de exclusividade com a operadora de telefonia AT&T. Só os clientes da AT&T poderiam falar no iPhone. Mas o plano de celular do garoto era da T-Mobile. E aí ele foi à luta. Precisou de mais de 500 horas de trabalho para fazer o seu iPhone funcionar na T-Mobile. Seu blog oferece um guia, passo a passo, de como fazer o mesmo (olhar na coluna da direita).

Além de ser mais uma prova do poder do consumidor na Era Digital, razão de existir desse blog, o episódio me diz que acordos como os da Apple com a AT&T estão com os dias contados. Para mim esse tipo de acordo é um jeito antigo de fazer negócios. É antipático. Pode até ser um bom negócio para Apple no curto prazo, mas acho que não tem vida longa. Mais cedo ou mais tarde garotos como o George Hotz descobrem uma saída que rapidamente se espalha no boca a boca digital.

Mas o maior prejuízo nesse caso é para a imagem da Apple. Uma empresa moderna, antenada e inovadora não deveria obrigar as pessoas a abrir uma conta na At&T para usar seu iPhone. Minha opinião. Isso mostra uma faceta antiquada da empresa. Não combina com o Zeitgeist dessa nova geração, que você vê nas propagandas da Apple usando seus iPods.

Como já escrevi, em referência a uma coluna do El Pais, “essa geração não compactua com o individualismo típico dos anos 90. Essa turma das comunidades virtuais, da Wikipedia e dos blogs tende a ser mais solidária, mais participativa e mais ativa que a geração passada. Nutrem a convicção, e a ilusão, de que ao agir dessa maneira podem ajudar a construir um mundo melhor. São entusiastas da abertura, da liberdade e da divisão do conhecimento”. Essa é a geração de garotos como o George Hotz.

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