quinta-feira, 18 de junho de 2009

Redes de resistência (2)


A matéria abaixo trata de um assunto paroquial: a greve na USP. Entretanto, chamou-me a atenção a aparição de uma nova forma de organização, horizontal e não-hierarquizada, desafiando o cenário, "o palco", a pauta de discussões e os paradigmas impostos tanto pela autoridade (Estado) como pelas organizações estudantis tradicionais, hierarquizadas e dominadas por partidos políticos.

18/06/2009 - 07h47


Alunos criam fóruns paralelos ao movimento estudantil para protestar contra greve na USP

Por: Ana Okada

Após ver uma discussão de alunos da USP (Universidade de São Paulo) na rede de relacionamentos Orkut, que pedia a possibilidade de os estudantes votarem pela adesão à greve sem o intermédio de assembleias, Anderson Siqueira, estudante do curso de sistemas de informação, resolveu fazer uma enquete virtual. "Fiz a primeira versão em alguns minutos e, em duas horas de votação, quase 300 pessoas votaram; hoje, já estamos com mais de 5.000 votos", diz o criador.Apenas estudantes da USP podem votar.

Para garantir a segurança do processo, é preciso informar, no momento da votação, o nome e o número de cadastro na instituição. Segundo Siqueira, o propósito é mostrar que uma votação mais "isenta" pela greve é possível: "Se, em 5 dias, consegui fazer a pesquisa e ter 5.000 votos, por que não seria possível fazer isso de maneira oficial?".

Para ele, participar das assembleias do DCE (Diretório Central dos Estudantes) para expressar a opinião "não adianta". "Se existem pessoas contra a vontade do DCE, a assembleia é cancelada, e, sinceramente, uma reunião que é marcada para às 8h da noite, em frente à reitoria, não pode ser levada a sério", diz.

Apesar de a greve não afetar os estudos de Siqueira, em sua opinião, o movimento afeta a faculdade: "Os grevistas usam o nome USP [como se representassem totalmente a universidade], mas, pela votação que está sendo feita, isso não é verdade. Não acho justo a mídia sair divulgando que estamos em greve. A USP não está em greve", afirma.

A reitoria da universidade afirma que apenas a FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), a FE (Faculdade de Educação) e a ECA (Escola de Comunicações e Artes) foram afetadas com a greve. Nesta quinta-feira (18), estudantes, funcionários e professores grevistas marcaram um ato na avenida Paulista com passeata até o Largo São Francisco para pedir democracia na universidade.

Enquete

Até as 20h desta quarta-feira (17), a enquete recebeu 5.260 votos. Destes, 4.812 foram considerados válidos. Quase 80% dos participantes são contra a greve e cerca de 50% são a favor do posicionamento da USP sobre a PM (Polícia Militar). As unidades que mais tiveram votantes foram a Poli (Escola Politécnica da USP) e a FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas).

Dos participantes da Poli, 90% são contra a greve; na FFLCH, 60% dos alunos que opinaram na enquete não apoiam o movimento. Quanto à ação da PM no campus, as duas unidades têm opiniões diferentes: na primeira, cerca de 70% concorda com a ação dos policiais; na segunda, mais de 60% são contrários.

Plebiscito

O Grêmio Politécnico (Associação dos Alunos da Escola Politécnica da USP) realizou nesta semana um plebiscito para decidir o posicionamento da faculdade diante dos últimos acontecimentos. Dos cerca de 600 votantes, 81% aprovaram uma moção de repúdio ao "trancaço". A maioria dos estudantes também aprova a presença da PM no campus e metade concordou com a ação da Força Tática no confronto entre estudantes e policiais, ocorrido em 9 de junho.

Para Caio Gaia, representante do grêmio, o resultado mostra falta de representatividade do DCE. Ele diz que o grêmio não é a favor da ação que a polícia teve no dia 9/6. "Houve exageros de todas as partes. Não deve haver radicalismo nem da polícia nem dos estudantes", afirma. A moção deve ser divulgada até o final da semana.

Abaixo-assinado

O estudante Rodrigo Pasqua, da Poli, teve ideia semelhante à dos demais. Após discussão com colegas, propôs a criação do movimento auto-intitulado CDIE (Comissão para Defesa dos Interesses Estudantis da USP), com o objetivo de mostrar "a vontade dos alunos". O grupo criou um abaixo-assinado para estudantes "insatisfeitos com a representatividade do DCE em relação a esta greve e contrários à posição do DCE e à greve".

O documento foi passado em diversas unidades da universidade e teve cerca de 3.000 assinaturas. Para Pasqua, a adesão ao abaixo-assinado é mais representativa do que as assembleias de estudantes - mesmo que os 3.000 nomes estejam longe de alcançar os 80 mil alunos de graduação e pós-graduação que a universidade tem. "Na assembleia da greve devia ter umas 1.500 pessoas... é realmente errado o que eles estão falando [sobre a adesão dos estudantes à greve]", afirma.



Fonte: http://educacao.uol.com.br/ultnot/2009/06/18/ult105u8244.jhtm

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