Por: Walter da Silva Barbosa (*)
Poder é a expressão máxima do Ser, de nossa condição divina, também se definindo como Vontade. Amor e Sabedoria são os pilares do Poder, fazendo assim com que esse atributo seja exercido de maneira resoluta pela Vontade, mas também com doçura e compaixão pelos homens que alcançaram a condição de santos ou iluminados. Em especial, esse poder - às vezes chamado de "Presença" - não fere nem obriga ninguém.
Tudo o que é divino reflete-se no mundo humano, onde aquelas virtudes vão germinar e se expandir em cada criatura. Nas limitações desse mundo, porém, o poder vira dominação, o amor descamba para a sensualidade e a sabedoria se conforma com as tinturas do intelecto.
A vida no mundo humano é feita de relacionamentos, onde o poder transfigurado em dominação exerce a sua tirania. Para haver um tirano, tem que haver um "tiranizado", situação que pode estar sendo vivenciada pelas duas partes com ou sem consciência. Por que uma pessoa se submete a outra? A resposta mais fácil é: "Por ser dependente ou indefesa". Na condição de uma criança ou de um doente o argumento pode ser irretorquível. E fora daí?
Bem conhecidos são os jogos do poder, onde os pares se apóiam mutuamente na expectativa de recompensas futuras. Noutra escala, a fraqueza de caráter aliada à ganância faz com que uma pessoa se aninhe servilmente à sombra de alguém, para se servir das migalhas que respingam do banquete. Em corações mais sensíveis, contudo, estados de dominação e manipulação podem estar envolvendo relações que a pessoa não quer enxergar, fraquezas que poderiam ser superadas se ela pudesse abrir os olhos para "aquilo que é".
Temos uma grande dificuldade de nos entregar ao que "é", de nos abrir para o reconhecimento de uma limitação pessoal ou de um abuso, de perceber que tudo poderia mudar num estalar de dedos se a consciência da situação realmente ocorresse. Evitamos esse confronto, resistimos a ele, por medo das conseqüências. Enquanto isso, o sofrimento nos consome.
Falando da entrega que poderia mudar esse quadro - a entrega "ao que é" - Eckart Tolle (Praticando o Poder do Agora, Editora Sextante) diz: "Se a sua situação de vida é insatisfatória ou mesmo intolerável, somente através da entrega você vai conseguir quebrar o padrão inconsciente de resistência, que permite a permanência dessa situação".
Sair de determinada situação, porém, não significa "reagir" a ela, assim como a "entrega" não significa conformar-se a ela. Reagir ou conformar-se são maneiras de alimentar o jogo dos opostos, fugindo da percepção da realidade, da percepção do poder de sua Presença. Quando você sai de uma situação pelo caminho da fuga, a tendência é cair em situação semelhante logo depois, porque nesse caso a lição não foi aprendida, não gerou consciência.
"Somente alguém inconsciente vai tentar usar ou manipular os outros, mas a verdade é que somente as pessoas inconscientes podem ser usadas e manipuladas. Se você reage ou se opõe ao comportamento inconsciente dos outros, também fica inconsciente", diz Tolle.
Entregar-se significa permitir a si mesmo "ver as coisas como elas são". Esse "ver" tem o sentido de observar a situação atual pelos fatos que ela acarreta (as imagens de uma submissão vivida, por exemplo), assim evitando-se os rótulos gerados pelo pensamento. Novas imagens podem então ser criadas em nosso campo mental, para que as mudanças almejadas aconteçam. Veja a si mesmo na situação nova, sinta-se dentro dela, lembrando que tudo começa na mente. Aí já não haverá reação, mas sim a ação decorrente de um impulso novo, de um "insight".
A consciência, como faculdade espiritual, encontra-se além dos processos de pensamento, expressando-se como "Luz da Presença", como manifestação de nosso próprio poder. Diante desse poder nenhuma submissão real pode continuar existindo, ainda que a situação externa não mude de imediato, até por nossa própria escolha. Nesse caso, porém, ela não deve mais gerar sofrimento, pois será uma opção consciente de nossa parte.
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(*) Walter da Silva Barbosa é professor, economista, membro do Conselho Nacional da Sociedade Teosófica e diretor da Associação Educacional Annie Besant, em Campo Grande - MS
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