segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A terceira revolução industrial e a crise ambiental



Entrevista com Jeremy Rifkin

Na semana decisiva para o futuro do pacote sobre o clima europeu, o professor Jeremy Rifkin está em Bruxelas. Nesta terça-feira, 09, o guru da Terceira Revolução Industrial, já consultor de Merkel e de Zapatero, acompanhado de uma dezena de administradores delegados de grandes sociedades, encontrou o vice-presidente da Comissão, Gunther Verheugen, para estabelecer um plano de ação em vista ao próximo salto qualitativo em matéria de clima e de energia, que está previsto para 2050. “Estamos prontos para colaborar também com a administração Obama – explica Rifkin – mas a Europa é o carro-chefe da terceira revolução industrial. E esta semana será crucial se ela quiser continuar a sê-lo”.
A reportagem é de Andrea Bonanni, publicada no jornal La Repubblica, 09-12-2008. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Por que crucial, professor?
Porque, sobre a mesa dos chefes de governo europeus, cruzam-se três crises de época estreitamente ligadas umas a outras: a crise do clima por causa do efeito estufa, a crise energética e a crise econômico-financeira.

De que modo elas estão conectadas?
Porque todas as três são produto do declínio da segunda revolução industrial, baseada sobre a exploração da energia fóssil e nuclear. Essa era chegou à linha final quando o petróleo alcançou os 147 dólares por barril e o sistema foi contra o muro. E, com a segunda revolução industrial, a globalização também declina.

Não lhe parece ser um pouco drástico?
Não. Não acho. Esse modelo de relações econômicas e produtivas não pode ser retomado: faltam os recursos energéticos e faltam os capitais. O ingresso da China e da Índia na era da globalização levou ao colapso.

Mas e o plano de restauração americano? E o europeu?
São migalhas. O crescimento dos últimos anos que a globalização produziu foi alimentado pelo forte consumo dos americanos. Agora, este acabou. Sabe a quanto chega o endividamento das famílias americanas? Treze bilhões e quinhentos milhões de dólares! Não se resolve um buraco dessas dimensões injetando umas poucas centenas de milhões. Os quatro furacões que atingiram as costas americanas neste ano custaram, sozinhos, a metade do pacote de financiamento da Casa Branca. Entre energia, clima e finanças, combinaram-se os elementos de uma “perfect storm”, uma tempestade perfeita. Estamos frente a uma mudança de época. E são precisos anos para sairmos dela.

E então o que se faz?
É preciso um plano estratégico de longo prazo. É certo manter o corpo exânime do velho sistema vivo artificialmente, pelo menos até que sejamos capazes de dar a luz ao filho da terceira revolução industrial. Mas para obter esse resultado, também é preciso investir muito dinheiro nos quatro pilares dessa revolução: energias renováveis, construção e alta eficiência energética, hidrogênio, sistemas de transporte elétricos baseados em pilha combustível. Segundo os nossos cálculos, para iniciar esse processo, é necessário ao menos um trilhão de dólares para os EUA, assim como para a Europa.

Estamos longe também dos objetivos mais ambiciosos da próxima cúpula?
Sim. Mas a União Européia hoje é a única que tem um projeto que compreenda todos os três mecanismos necessários para dar o salto. Há um pacote energético para reduzir 20% das emissões, para aumentar em 20% a eficiência energética e, sobretudo, para aumentar em 20% as energias renováveis, que é um primeiro esboço da terceira revolução industrial. Além disso, há uma estratégia de longo prazo baseada no corte de 50% até 2050. Enfim, há um programa de restauração da economia.

Mas a Itália ameaça vetar?
Sim. Nesse quadro, a Itália está dando o pior exemplo. E francamente isso me deixa atônito. Porque Berlusconi é um homem de negócios capaz, e não entendo como ele não vê as enormes oportunidades de negócios que esse programa comporta.

Será que não ameaçamos o veto porque estamos atrás há pelo menos dez anos com relação a países como a Espanha e a Alemanha e tememos não conseguir superar isso?
Sim, é verdade. A Itália está atrasada. Mas permanece sempre como a sexta potência econômica. Se a Espanha conseguiu, vocês [italianos] também podem conseguir. E depois não há alternativas. Se a Itália não se mexe agora para recuperar o tempo perdido, dentro de dez anos, onde ela estará? E as crianças italianas de hoje, que futuro terão?

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