terça-feira, 16 de outubro de 2007

A auto-imagem

"O estado natural do nosso ser é a atenção plena: uma atenção que não é voltada para uma dada coisa, mas que é um estado de experiência pura que abrange todas as coisas. Dentro da atenção plena, nossa mente é equilibrada, leve, livre e flexível. Não somos, no entanto, capazes de permanecer dentro dessa atenção plena, pois nossa inclinação imediata é querer saber quem está vivendo o quê. Em consequência, a atenção plena cede lugar à nossa consciência comum, que divide nossas percepções em sujeito e objeto, criando como sujeito uma "auto-imagem", o "eu". Mas o que é, na verdade, este "eu" ? Será que podemos, de fato, encontrá-lo em algum lugar na mente ? Quando olhamos com cuidado, vemos que o "eu" é simplesmente uma imagem que a mente projetou. Este "eu" não tem realidade alguma em si; no entanto, nós o tomamos como real e o deixamos gerir as nossas vidas. O "eu", então, obscurece nossa atenção plena e nos separa da nossa experiência, dividindo-a em um pólo subjetivo e um objetivo.
"Sob a influência da auto-imagem, perpetuamos esta orientação sujeito-objeto. Tão logo nos identificamos, começam as comparações; logo em seguida surgem tendências à posse e ao egoísmo. A mesnte, então, põe-se a fazer discriminações e julgamentos que provocam conflitos. A auto-imagem fornece energia a estes conflitos, e estes conflitos, por sua vez, alimentam a auto-imagem. Desse modo, a auto-imagem perpetua-se a si mesma, tendendo a filtrar as experiências de forma a só permitir espaço para que as suas próprias estruturas rígidas funcionem. Desprovida de abertura e de aceitaçã, a auto-imagem nos aprisiona em bloqueios e limitações. O fluxo natural da nossa energia fica interrompido, e a nossa sensibilidade de rsposta, bem como a pofundidade da nossa experiência, ficam com a amplitude seriamente tolhida.
"A fim de nos libertarmos da interferência da auto-imagem, e para que nosso equilíbrio natural tenha espaço para atuar, precisamos primeiro ver a que a auto-imagem não é uma parte autêntica de nós mesmos, que nós não precisamos dela, e que, de fato, ela obscurece o nosso verdadeiro ser. Uma forma de conseguir isto é dar um passo atrás e observar nossos pensamentos, sempre que estivermos em meio a fermentação emocional.
"Mesmo qundo estamos muito perturbados, é possível nos separarmos da dor da emoção. Recue um pouco e, de fato, olhe para a dor. Com este conhecimento, você pode ver que a perturbação é, na verdade, causada pela auto-imagem. Talvez você até veja que muito de sua infelicdade resultou do fato de a auto-imagem levá-lo a ter expectativas que não poderiam ser preenchidas.
A auto-imagem é, ela própria, um tipo de fantasia, de modo que ela tende a construir um mundo de fantasias.(...)"
(Trecho do capítulo "A auto-imagem" da obra "A Expansão da Mente", de Tarthang Tulku)

4 comentários:

vkitsis disse...

Zé Luis,

Vejo que andas lendo T. Tulku...Conhece o instituto Nyingma, no Sumaré? Lá eles oferecem cursos de meditação e yoga tibetana. Já fiz alguns cursos lá e gostei bastante. O enfoque é na respiração e posso te dizer que tive experências incríveis com essas técnicas. Talvez porque eu não tivesse expectativa - ou conhecimento - prévia do que estava por vir...
Quanto ao livro que v. mencionou - O Outsider - eu não conheço, mas pelo título acho que vou me interessar...
Sim, existe controvérsias em relação à sociedade, dizendo que pró-nazista (uma tremenda bobagem), que é satanista e por aí vai.
bj,
vanessa

jholland disse...

Hehehe...
Vc é mesmo cheia de surpresas, qdo estou indo, vc já foi !
Sim, li o livro e pretendo ler 2 outros livros dele. Realmente, um dos melhores livros q já li ! Estando em sintonia com o "assunto" torna-se melhor ainda, e como todo bom livro, pode ser compreendido em vários níveis...(Aliás, poderíamos trocar uma idéias acerca da meditação !)
Já vi algo do Instituto na Internet, mas nunca fui lá, devo aparecer um dia desses...Atualmente, estou em contato com os ensinamentos do Lama Padma Santem, dentre outras fontes. De qq forma, uma visitinha ao Instituto Nyingma encontra-se dentro do meu "foco" atual !

vkitsis disse...

Zé,

O Padma Santem é aquele lama que é brasileiro, que era professor universitário no RS?
Outra sugestão de post: Stanislav Grof.
Sexta-feira no nyingma tem um filme sobre os monges da linhagem thedavara. Se vc. for depois me conta como foi e aproveitamos para trocar figurinhas "meditacionais".

ps: comecei a frequentar o nyingma em 1992/93. nesta época eu trabalhava no mercado financeiro - pois é...- e estava profundamente insatisfeita. para resumir a história, depois de algum tempo frequentando o nyingma, pedi demissão do meu confortável emprego e fui viajar. Sounds familiar?

bj,
vanessa

jholland disse...

Isso mesmo, ele foi o primeiro Lama brasileiro dessa linhagem. Devo inclusive fazer uma visita na comunidade que ele tem no RS, brevemente.
Aliás, estou planejando realizar uma espécie de "pesquisa de campo" em algumas comunidades auto-sustentáveis...O resultado disso, devo relatar aqui mesmo neste Blog, privilegiando um olhar crítico em face da busca de integração humana, que é a inspirição dessas comunidades
Vou atrás das suas dicas !
Bjs,
José Luiz